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Beba Água! Olhe por si!
Numa das Assembleias Municipais do nosso concelho, já neste mandato autárquico, foi afirmado que “sempre os flavienses trataram a água como um bem comum, um recurso natural regenerável que não conhece fronteiras nem limites de propriedades, cujo acesso é, para todos nós, um direito humano inalienável.”
Como se propõe a Câmara defender este direito? O que pode fazer a autarquia, e não faz, para o garantir?
Na minha opinião, em primeiro lugar, em vez de enterrar a cabeça na areia como a avestruz, a câmara deve conhecer o nível de deterioração da rede e, para isso, torna-se necessário conhecer a atual extensão, severidade e natureza da mesma.
É aceitável que a entidade responsável pela construção de uma rede (a própria câmara) não a conheça? Não sei! Não deveria ser possível.
É aceitável que a Câmara nem cartografia tenha para registar por onde passa a rede? Essa é que é a verdade.
Bem sei que a Fundação Nadir Afonso (ou renomeada Museu Nadir Afonso) e muito mais importante! A dezena de milhões aplicados para se estar agora a encher de mofo é outra fonte de glória que não a água potável, é uma medalha de boa gestão municipal. Mais, mesmo que a água se perca e o prejuízo nos seja surripiado à força dos bolsos, a Fundação é assunto mais “Fino”, assunto de elegância e civilização! Ora, ora! Upa, Upa! Caso sem dúvida para afirmar que o supérfluo supera, pela vaidade, o essencial.
Não deixa de ser interessante registar que a nossa rede de água é ainda constituída muita por tubaria dos anos 80 (ou mais velha) e, como não se sabe bem como é, resta-nos pensar que é adequada a transportar água para consumo humano pois todos sabemos que nessa altura se usava tubaria de uma espécie de porcelana que, não raras vezes, possuía amianto na sua composição.
O que fazer nestas circunstâncias?
Parece-me razoável que se proponham ações concretas que reduzam a taxa de deterioração e, caso já não seja possível sustê-la, efetuar a substituição das seções deterioradas. Lógico?
Durante algum tempo o que pareceu lógico foi usar o dinheiro da venda da água aos flavienses para fazer a Fundação Nadir Afonso sem assim pedir autorização para efetuar empréstimos. O lógico foi não pagar ao fornecedor de água, para que a dívida acumulada venha agora a constituir-se como pretexto para que este se venha a apossar do que é nosso desde o tempo em que o nosso primeiro rei expulsou os mouros e os espanhóis. Sim, porque a água é um bem comum!
Lamentavelmente a atual gestão não assume erros crassos e à vista de todos. Não assume que uma parte da questão das perdas, que geram o diferencial de valor entre o que se compra e o que se vende, está relacionada com falta de investimento na exploração e manutenção da estrutura de distribuição de água e saneamento da cidade nos últimos 15 anos.
Esta gestão, como a anterior, não quer abandonar a estratégia que atribui (tacitamente) o controlo da distribuição ao consumidor. Assim, tem-se pedido que este se ocupe de identificar as faltas de água e as ocorrências de má qualidade da água, os vazamentos etc. Esta função não compete antes à câmara municipal?
Ora, se é competência da autarquia, esta não deve continuar, nesta matéria, a agir com passividade e algo tardiamente, sob pena de continuar pouco eficaz e dependente dos alertas que cheguem ou não.
É urgente iniciar uma nova fase centrada no controle operacional do serviço, tendo em vista a redução de perdas já que a fase dos projetos e investimentos concentrados na ampliação da capacidade de produção e distribuição, não fazem sentido. A aposta em projetos megalómanos, que desviam recursos para o que não é essencial levam à redução da população residente, pelo que os atuais sistemas são já suficientemente capazes de garantir o abastecimento e o tratamento dos afluentes líquidos. A rede é que está uma miséria!
O estado de ineficiência atual do abastecimento de água já não decorre de problemas relacionados com a satisfação das necessidades dos consumidores em termos de quantidade ou mesmo de qualidade da água, mas do preço cobrado às pessoas pelos serviços de fornecimento de água e saneamento.
Já agora! A autarquia não deveria explicar aos flavienses as razões para não baixar o preço de venda da água às famílias, quando hoje a compra mais barata do que no passado? É legítimo perguntar para onde vai o ganho?
Está a fazer o mesmo que as empresas de venda de combustível pois, estas, mesmo baixando o preço do barril do petróleo, recusam baixar o preço da gasolina e, no final do ano, apresentam sempre lucros maiores.
Não há crise que lhes pegue!
Para terminar, gostaria de me inquietar convosco, pois não sei quando é que as perdas de água na rede de abastecimento vão ser enfrentadas.
Ficam algumas interrogações:
Quando se vai saber a dimensão dos erros de medição ou fazer a manutenção de contadores de água, por forma a melhorar a sensibilidade dos medidores a vazões muito pequenas? Nada sabemos da precisão dos contadores, métodos de medição escolhidos e registo;
Quando se esclarece a dimensão dos fornecimentos não-faturados por uso clandestino ou viciado ou ainda por consumidores sem contador de água.
Qual a dimensão dos vazamentos em ramais e adutoras sem manutenção?
Como se justifica que uma questão tão importante como a do controle de pressão na rede, que permitiria reduzir de imediato o volume de água perdido, reduzindo não só a frequência de rebentamentos de tubagens e consequentes custos de reparação como também os perigos causados aos automobilistas em ruas e estradas, não tenha ainda um plano de ação elaborado?
Mais poderia dizer, mas penso que já compreenderam que temos motivos para andar preocupados com a nossa cidade.
É possível fazer melhor, trabalhando a pensar no bem comum!
Francisco Melo