Há algum tempo que vejo trabalhos no Jardim das Freiras, naquilo que chamam uma remodelação do dito. Coisa que agradou a quem sempre contestou a obra de antes e a indiferença perante outros tantos. A unanimidade é sempre difícil e nos dias que correm, quase tanto como a razoabilidade.
Aqueles a quem a notícia encheu de júbilo, por certo, não esperam que o Largo das Freiras regresse ao postal antigo que já foi. Assim como também não volte a ser frequentado como o foi no passado.
Depois da conversa nos cafés próximos e eram quatro, as pessoas retomavam-na no jardim, aproveitando para esticar as pernas e as tertúlias prolongavam-se a desoras. Nas estações do ano mais amenas, o interior dos cafés repleto de frequentadores na maior parte do tempo, despovoava-se e trasladava-se para as esplanadas. Os estudantes mais velhos do Liceu marcavam a diferença em relação aos mais novos e nos intervalos das aulas davam voltas ao rectângulo irregular do jardim, pois o pátio da escola já não era para eles, assim como os calções.
Eu sei que a remodelação tem mais finalidades do que um simples jardim e também é certo que, parte dessas finalidades eram já asseguradas por outros locais, como o Jardim Público – o coreto ainda lá está e espaço não falta – ou o Largo do Arrabalde, para a intervenção pública.
Chaves, cidade, não é o que anteriormente foi e por mais que isso pese aos saudosistas, não poderia ser. Seria mau que assim fosse. Mas, em abono daqueles que suspiram pelo passado, devo dizer que também sinto nostalgia pelo centro da urbe habitado, com um comércio pujante, policiado, tranquilo e limpo. E nesse sentido, o Jardim das Freiras contribuía… em muito.
Agora, o que também não pode deixar de ser dito, é a repetição das causas a que está por trás desta remodelação. Exige-se mais sensatez, estudo e estabilidade nas decisões públicas. Apenas, deixar de “começar a casa pelo telhado”…
Encerram-se as termas para obras. Obras que demoram mais de dois anos, excedendo todos os prazos da empreitada… inaugura-se o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso. Depois de concluída a obra do edifício das Termas Romanas, detectam-se problemas… remodela-se o Jardim das Freiras…
Numa destas noites sonhei com a minha avó materna, Luísa, de seu nome. Foi um sonho bonito… como se costuma dizer. Curiosamente na manhã que se seguiu, li uma publicação de Xavier Alcalá, escritor galego que muito prezo e de quem sou amigo desde as primeiras horas no “facebook”.
Xavier é escritor de nomeada e desconheço se por passatempo ou coisa mais séria, recolhe obituários, normalmente, por causa da castelhanização dos nomes e apelidos galegos. Na maior parte das vezes, os nomes vêm seguidos do apodo pelo qual o defunto era conhecido.
Isto é, vem o nome em castelhano e depois a nomeada em galego, do qual resultam notas pícaras de Xavier Alcalá, que é um defensor à outrance do idioma galego.
Pois bem, nesse obituário identificava-se o falecido e por baixo vinha o que segue:
- “que a avó (…), te cuide, como gostava, das feridas desta vida”
Faço votos que assim suceda… aliás, como Xavier Alcalá comentou, e a mim, que a minha avó Luísa sare as minhas feridas, de preferência, nesta vida.
Mário Esteves