Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

28
Mar20

Vila Verde da Raia - Chaves - Portugal

Aldeias do Concelho de Chaves


1600-vv-raia (63)-video

 

Nesta nova ronda que temos feito pelas aldeias de Chaves, temos seguido a ordem alfabética, já vamos no V nas Vilas Verdes. No último fim de semana tivemos aqui a Vila Verde de Oura, hoje fica a Vila Verde da Raia.

 

1600-vv-raia (165)-video

 

E tal como o topónimo indica  é uma Vila da Raia, da fronteira, ia dizer da raia seca, mas não o é propriamente, pois em toda a sua extensão de fronteira com a Galiza há um pequeno riacho, a Ribeira de Feces, que em tempo de chuvas até tem um certo caudal, mas em nada impeditivo de ser atravessado a pé.

 

1600-vv-raia (162)-video

 

Ora se é uma aldeia da raia e que em tempo tinha fronteira e alfândega, também foi terra de contrabandistas e guardas fiscais, daí ter surgido mesmo na raia com a Galiza um pequeno aglomerado de construções, umas destinadas às instalações da guarda fiscal, alfândega e da PIDE, enquanto esta existiu, mas também algumas habitações para os guardas e suas famílias. Contrabando e contrabandistas que embora não fizessem do trelo um modo de vida, servia como um complemento à economia das famílias, sendo também uma forma de contribuir para o povoamento das aldeias da raia.

 

1600-vv-raia (155)-video

 

Daí, a abolição das fronteiras, não ter sido muito apreciada pelas aldeias da raia, para quem na prática a fronteira nunca existiu, acabando-lhe com o tal complemento económico e levando muitas aldeias ao despovoamento quase total, não sendo o caso de Vila Verde da Raia, precisamente por “ser verde”, por ter uma fértil veiga ao seu dispor mas também por ter bons acessos à cidade de Chaves, como também à Galiza, com Feces ali ao lado.

 

1600-vv-raia (166)-video

 

Penso que o topónimo está de acordo com a realidade da aldeia, Vila das antigas villas, da Raia porque de facto tem raia com a Galiza e Verde pela verdura do que lhe toca na Veiga de Chaves.

 

1600-vv-raia (94)-video

 

Vila Verde da Raia que para além do contrabando ficou também conhecida por ser um dos pontos de passagem de “peles”, sobre as quais há peças de teatro, canções  “Em Vila Verde da Raia, no dia tantos e tal, passou a pulo a fronteira…”, filmes, documentários, etc. Para quem não sabe o que eram as “peles”, nome de código, fiquem com uma passagem do Diário de Miguel Torga, que também um apontamento sobre Vila Verde da Raia, ficam ambos já a seguir:

 

1600-vv-raia (130)-video

 

Chaves, 18 de Setembro de 1964

 

Onde pode chegar o aviltamento humano!

— Entregas-me as peles em Mairos.

— A que horas?

— Às onze.

As peles eram emigrantes clandestinos.

 

Miguel Torga, in Diário X

 

1600-vv-raia (160)-video

 

Vila Verde da Raia, Chaves, 25 de Setembro de 1961

 

Fixo atentamente a linha fronteiriça, enquanto a voz erudita vai zumbindo:

— Por aqui entraram os castelhanos, os franceses, os trauliteiros…

E não consigo ver nada! Os montes, a veiga, o rio e os amieiros continuam impassíveis, a ser, a correr e a crescer. A história nunca abrange a natureza. Felizmente. A paisagem fica sempre de fora dos acontecimentos.

 

Miguel Torga, in Diário IX

 

1600-vv-raia (47)-video

 

 Sim, de facto foi terra de passagem e escaramuças de castelhanos, franceses, trauliteiros e “peles”, mas também um pouco de todos os flavienses, quer legalmente pela fronteira, quer ilegalmente pelos trilhos do contrabando e de atravessamento da Ribeira de Feces, que de verão, dada a escassez de água no seu leito se atravessava com um pulo ou umas poldras improvisadas com duas ou três pedras e de inverno, havia sempre por lá alguém com galochas de gola alta para atravessar o pessoal às carracholas. Passagens que eram conhecidas e facilitadas pelas autoridades de ambos os lados da fronteira, que só intervinham no caso de haver abuso no contrabando ou dos contrabandistas serem profissionais.

 

1600-acude-video

 

O Açude

Hoje uma mera preza a encaminhar água para o canal de regadio da veiga de Chaves, foi durante muitos anos a praia dos flavienses, principalmente quando entrou na moda ir para o Açude, no pós 25 de Abril e enquanto a água do rio Tâmega ainda mantinha a sua transparência de água não poluída. Nos dias quentes de verão, todos os caminhos iam dar ao açude, centenas de jovens e menos jovens, piqueniques, acampamentos, sol e sombra conforme as preferências e muita algazarra feliz, de felizes dias que lá se passaram, com a obrigatória ida a Feces, para lanchar, para a Coca-Cola (que em Portugal demorou a entrar) a laranjada uns chocolates e delicioso caramelos e às vezes umas calças de ganga da marca Lois ou umas alpergatas.  

 

1600-vv-raia (28)-video

 

Ai Açude, Açude, que saudades desses tempos feito de coisas simples, com tanta estória para contar, tanta, que se fosse um bom argumentista fazia um filme. Aliás já lá foi rodado parte de um filme, bem conhecido por sinal, o “Cinco Dias, Cinco Noites”, baseado num romance que Álvaro Cunhal escreveu sob o pseudónimo de Manuel Tiago.

 

1600-vv-raia (14)-video

 

Esta nova ronda pelas aldeias, inicialmente, pretendia apenas deixar aqui três imagens, uma a cores, uma a P&B e outra artística, no entanto foi evoluindo e deu nisto, num post mais que completo, com imagens mais recentes e outras mais antigas que escaparam à primeira seleção, um vídeo com todas as imagens,  mas também deu lugar a deixar por aqui descobertas mais recentes, como foi o caso da ponte romana sobre a ribeira de Arcossó.

1600-ponte vvr (12)-video

 

Há muito que andava para ir à descoberta desta ponte[i], que suponho dê nome à ribeira, pelo menos a julgar pelo significado de Arcossó – “Do baixo-latim arcosuolo, 'arcozinho', talvez referente a algum arco memorial da época romana”.

 

1600-ponte vvr (3)-video

 

De facto é mesmo um arcozinho, pelo menos em largura, e muito curiosa, tal como se pode ver nas imagens, com apenas um arco e nada mais que o próprio arco, quero com isto dizer que o habitual acesso ao arco, para vencer a sua curvatura, aqui não existe, pelo menos em termos estruturais (de pedra), pois esse acesso é feito em terra. Foi uma agradável descoberta, e também uma aventura, mas essa, fica para outra altura.

 

1600-vv-raia (12)-video

 

Agora sim,  para rematar, fica o vídeo com todas as imagens de Vila Verde da Raia publicadas até hoje neste blog.

 

 

 

Post do blog Chaves dedicados à aldeia de Vila Verde da Raia:

 

https://chaves.blogs.sapo.pt/256544.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/fronteira-de-vila-verde-da-raia-1621051

https://chaves.blogs.sapo.pt/acude-e-fronteira-de-vila-verde-da-raia-1406592

https://chaves.blogs.sapo.pt/476982.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/180767.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/153610.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/84914.html

 

As nossas consultas:

 - Arcossó in Dicionário infopédia de Toponímia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2020. [consult. 2020-03-28 23:29:07]. Disponível na Internet:  https://www.infopedia.pt/dicionarios/toponimia/Arcossó.

 

 

[i] Como a ponte fica no limite/fronteira de duas freguesias, Vila Verde da Raia e Santo Estêvão, suponho que ambas as freguesias a reivindiquem como sua, ou a meias, aliás a ponte serviu ao longo dos tempos para atravessar a ribeira (claro) mas também para ligar estas duas povoações.

 

 

 

30
Dez17

Fronteira de Vila Verde da Raia - Chaves - Portugal


1600-fronteira (29)

 

Aos sábados reservamos este espaço às aldeias do concelho de Chaves e hoje trazemos aqui a fronteira de Vila Verde da Raia. Eu sei que fronteira não é propriamente uma aldeia, nem nunca foi, mas é como se fosse, ou melhor, é como se tivesse sido, daí estar aqui. De facto, durante o tempo em que existiram fronteiras no espaço da União Europeia, abolidas com o Acordo de Schengen em março de 1995, mas principalmente até ao 25 de Abril de 1974 poder-se-ia considerar uma aldeia do Estado, onde havia os serviços de fronteira, tais como a Alfandega, a Guarda Fiscal e também a polícia política do Estado a PIDE, mas também havia algumas vivendas onde viviam os Guardas Fiscais e respetivas famílias.

 

1600-fronteira (23)

 

Com o 25 de Abril a PIDE desapareceu, mas mantiveram-se ainda durante alguns anos a Guarda Fiscal e os Serviços da Alfandega. Com a abolição das fronteiras, a fonteira ficou despovoada e mais tarde os edifícios foram vendidos a privados, mantendo-se até hoje tudo fechado.

 

1600-fronteira (24).jpg

 

Com a construção da nossa autoestrada e a posterior ligação da autoestrada galega à nossa, para além da população local os de proximidade (galega e portuguesa), raros são os que usam a antiga fronteira para entrar ou sair de Portugal.

 

Quanto às edificações do Estado que por lá ficaram, não sei bem qual seria o melhor destino. Da minha parte tinha algumas ideias e até alguns sonhos para o destino a dar-lhes, penso que fosse qual fosse esse destino, teria sido bem melhor que ter caído na mão de privados, abandonado, em constante degradação, a meter dó e sem fazer qualquer justiça à história da fronteira.  

 

1600-fronteira (8)

 

Já agora só mais uma achega para a sinalização que está na entrada de Portugal com os limites de velocidade nas vias portuguesas (fot anterior), bem poderiam acrescentar mais uma informação sobre a circulação nas rotundas onde ficasse bem claro que a via mais à direita nas rotundas portuguesas,  é só para utilizar imediatamente antes da saída pretendida, isto para ver se os nossos vizinhos galegos, os nossos emigrantes e outros estrangeiros deixam a via direita das rotundas livre para os fins a que se destina. Claro que a Lei atual também deveria exigir uma melhor sinalização das próprias rotundas, pelo menos nas entradas tal como foi feito na rotunda da Praça do Brasil junto à entrada do Hotel (pena não acontecer o mesmo na do Raio X), mas também a verdade-verdadinha sobre esta Lei,  é que ela foi feita pelos de Lisboa a pensar nas grandes rotundas como a do Marques ou da Boavista no Porto, embora nesta última já tivessem feito o trabalho de casa e quem entrar na via da direita é mesmo obrigado a sair na próxima saída. O problema na maioria das restantes rotundas, quase todas de pequenas dimensões, é que nem sequer há espaço ou tempo para cumprir devidamente a Lei, quanto mais pensar em sinalizá-la.   

 

 

 

02
Jul16

Açude e Fronteira de Vila Verde da Raia - Chaves


1600-acude (89)

Imagem de arquivo

Na minha memória, e penso que na memória de todos os flavienses da minha geração, existe uma pasta com o nome de Açude guardada num armário que por fora tem uma etiqueta onde diz: “Boas recordações de sempre”. Os mais novos nascidos após anos 70/80 do século passado pela certa que não entenderão o porquê desta memória porque nunca viveram a magia do Açude, mas a rapaziada do meu tempo entender-me-á na perfeição.

 

Férias de verão, dias de calor com a cidade a ser pouco mais que o centro histórico, as avenidas novas e os bairros periféricos, ainda sem computadores, sem telemóveis e outras coisas tais. Como a sombra da esplanada do Sport não chegava para todos nem interessava a todos, o rio e as sombras dos amieiros convidavam naturalmente ao convício entre os jovens. A mítica galinheira, o tronco e outros locais idênticos rio acima ou rio abaixo, iam sendo preenchidos pelo pessoal do costume da proximidade, com os outro, a grande maioria, a optar pelo açude de Vila Verde da Raia, mesmo em cima da fronteira com a Galiza. Era para aí que rumavam de bicicleta, motorizadas, de carro, à boleia ou de carreira as largas dezenas e às vezes centenas de flavienses, principalmente os mais jovens.

 

1600-acude (70)

 Imagem de arquivo (as árvores já não existem)

Sem qualquer infraestrutura de apoio, a água do açude (então ainda decente para banhos), um pequeno areal na base do açude, muita sombra e um pequeno relvado lá para os fundos onde se davam uns toque de futebol, eram tudo e não era pouco. Bebidas e qualquer coisa para comer, quando havia dinheiro, atravessava-se clandestinamente o rigueiro que servia de fronteira entre Portugal e a Galiza e ia-se a Feces de Baixo, alguns de propósito para beber coca-cola, isto no tempo em que ainda não a havia em Portugal. Ao fim da tarde, o regresso fazia-se à cidade com o desejo de voltar no dia seguinte. E foi assim durante muitos anos e os da minha juventude.

 

1600-acude (84)

Imagem de arquivo

 

Aí por finais dos anos oitenta, num verão em que já eu trabalhava e sem férias grandes de verão para gozar, numa passagem qualquer a caminho da Galiza, lembrei-me dos meus tempos de açude e fui lá deitar uma vista de olhos. Desilusão total – nem alma viva havia por lá. Nos anos noventa a autarquia lembrou-se de reinventar o local, dotando-o de um parque de merendas, um parque infantil, instalações sanitárias e alguns grelhadores, coisas que tanta falta faziam quando então íamos por lá, mas que depois de existirem ninguém lá levou. O açude estava morto e não ressuscitou. Para agravar a coisa, após a construção do tal parque de merendas ou de lazer, o Ministério do Ambiente colocou lá uma placa que dizia: “Zona de recreio e lazer – É desaconselhada a prática balnear neste lugar”. Tudo isto faz-me lembrar um pouco o que se passou com as nossas aldeias, ou seja, quando eram povoadas por muita gente, ainda com crianças e jovens, a grande maioria não tinha rede de água pública, nem saneamento básico e muitas delas sem acessos pavimentados, incluindo as próprias ruas das aldeias. Quando o pessoal começou a abandonar as aldeias, canalizaram-lhes a água, fizeram-lhes o saneamento básico e pavimentaram-lhes os acessos. Quando terminaram, a maioria das aldeias já não tinham crianças, nem jovens e a maioria dos casais tinha partido.

 

1600-fronteira (50)

 

Voltando ao açude, ou ao lado, e já que estamos a falar de abandonos, a duas ou três centenas de metros de distância, onde antes de Portugal entrar para União Europeia havia a fronteira oficial entre Portugal e Espanha, com instalações da Guarda-Fiscal e Alfandega, rodeadas de casas de habitação de apoio aos guardas-fiscais que aí faziam serviço. Pois abertas as fronteiras, a Guarda-Fiscal e a Alfandega retirou-se do local e fecharam as instalações. Instalações fruto da arquitetura oficial do Estado Novo, por sinal das poucas coisas de jeito que se fizeram nesse período e que na maioria são belíssimos edifícios com obras-primas de cantaria, como no caso, que eram pertença do estado, que deveriam ser preservados e neles mantidos serviços públicos de apoio à população, mas em vez disso, foram simplesmente abandonados e vandalizadas, e neste caso dando uma triste imagem para quem entra em Portugal, ou entrava, pois agora a maioria passa ao lado.  

 

Sobre mim

foto do autor

320-meokanal 895607.jpg

Pesquisar

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

 

 

20-anos(60378)

Links

As minhas páginas e blogs

  •  
  • FOTOGRAFIA

  •  
  • Flavienses Ilustres

  •  
  • Animação Sociocultural

  •  
  • Cidade de Chaves

  •  
  • De interesse

  •  
  • GALEGOS

  •  
  • Imprensa

  •  
  • Aldeias de Barroso

  •  
  • Páginas e Blogs

    A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    H

    I

    J

    L

    M

    N

    O

    P

    Q

    R

    S

    T

    U

    V

    X

    Z

    capa-livro-p-blog blog-logo

    Comentários recentes

    • LUÍS HENRIQUE FERNANDES

      *Jardim das Freiras*- De regresso à cidade-Faltam ...

    • Anónimo

      Foto interessante e a preservar! Parabéns.

    • Anónimo

      Muito obrigado pela gentileza.Forte abraço.João Ma...

    • Anónimo

      O mundo que desejamos. O endereço sff.saúde!

    • Anónimo

      Um excelente texto, amigo João Madureira. Os meus ...

    FB