Já sabem que desde a última segunda-feira, o post deste dia é dedicado a Ilustres Flavienses. Se o Mestre Nadir Afonso foi escolha fácil para a abertura desta rubrica, a escolha dos restantes ilustres já não é assim tão fácil. Mas há que dar continuidade a esta empreitada e assim, sem qualquer critério na ordem e importância, passarão por aqui durante alguns meses, os Ilustres Flavienses dos quais eu consiga juntar alguma documentação, principalmente alguns dos ilustres que fazem parte da nossa toponímia que dão nome a ruas e avenidas e dos quais a maioria dos flavienses, principalmente gerações mais jovens, nada sabe. Também eu penso aprender mais um bocadinho sobre os nossos ilustres flavienses, a maioria de nascença, mas também os flavienses adoptivos que dedicaram parte das suas vidas e saber à actual cidade de Chaves ou à antiga vila de Chaves.
Pela certa que algumas das vezes ficarão surpreendidos por alguns nomes que vou aqui trazer e, por outros, que embora se considerem ilustres, não vou trazer aqui, principalmente porque são ilustres pela negativa, a maioria ainda no reino dos vivos. Digamos que por aqui desfilarão os verdadeiros ilustres flavienses vistos pelo meu olhar.
Nadir Afonso aparte, um dos maiores ilustres flavienses de sempre, hoje recomeço com o General Ribeiro de Carvalho, um dos meus ilustres, nem que fosse e só pelo «Chaves Antiga», livro onde ainda hoje se vai beber muito do passado de Chaves.
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AUGUSTO CESAR RIBEIRO DE CARVALHO (1856-1940)
Descendente de uma família de militares ilustres iniciou uma carreira notável como voluntário do Regimento de Infantaria 13 em 29-09-1876, na altura aquartelado em Chaves. Foi promovido a Alferes em 9-1-1884, a capitão em 19-11-1897, a major em 19-05-1909,.
Foi um dos chefes militares no combate de 8 de Julho de 1912 contra as incursões de Paiva Couceiro que surpreendeu a então Vila de Chaves, pois as tropas republicanas de Chaves, supuseram erradamente que o itinerário dos monárquicos passava, vindo de Montalegre, por Sapiãos e para ali se deslocaram. Entretanto Paiva Couceiro entrava sem resistência e até com recepção afectuosa da população, por Soutelinho da Raia e Vila Verde da Raia, com artilharia, metralhadoras e cerca de 500 homens. Às 8 horas da manhã do dia 8 de Julho de 1912, Paiva Couceiro estava às portas da Vila de Chaves, tendo tomado o espaldão da carreira de tiro. Com o grosso das tropas republicanas em Sapiãos, Ribeiro de Carvalho teria ficado em Chaves com pouco mais de 200 homens distribuídos pela Cavalaria 6, infantaria 19 e Guarda Fiscal e seria com eles e com o apoio civil organizado pelo Dr. António Granjo, na altura deputado da Vila de Chaves, que conseguiram aguentar a tomada da Vila de Chaves até à chegada da artilharia e cavalaria vinda de Sapiãos. Dizem os vários escritos existentes que o “pequeno exército” improvisado dos defensores locais da então Vila de Chaves, se bateram com valentia e heroicidade. Foram estes os acontecimentos que ditam hoje o nosso feriado municipal de 8 de Julho. Disse Carlos Malheiro Dias, nos escritos de «O Estado Actual da Causa Monarchica» P.33, que Paiva Couceiro reconhecia a derrota dizendo “éramos o exército de Lilliput na palma da mão do Gulliver republicano”.
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Copia do juramento de fidelidade à República datado de 16 de Outubro de 1912
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Mais tarde, em 1918 e 1919, já como Coronel e comandante da 6ª Divisão do Exército também intervém novamente contra a revolta monárquica que ficou conhecida como a Traulitânia do Norte, com lutas em Chaves e Vila Real, em que Ribeiro de Carvalho manteve sempre afastados da vila os monárquicos da Traulitânia. Lutas que se vieram a travar até 13 de Fevereiro de 1919, em que oficialmente os republicanos e as suas forças acabam de vez com a revolta monárquica da Traulitânia do Norte.
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cópia da Ordem do Exército (do Arquivo Histórico Militar; A.H.M., cx. 2620) da nomeação a General de Ribeiro de Carvalho
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Augusto César Ribeiro de Carvalho foi promovido a General em Janeiro de 1920
E todos os escritos que se lhes referem dizem que se distingui sempre pelo seu valor e coragem.
Foi condecorado com a Comenda da Ordem de Torre e Espada e distinguido com outras honras e condecorações nacionais e estrangeiras.
Mas este ilustre flaviense não se viria a destacar apenas como militar. Aliás a sua promoção a General acontece já, quando Ribeiro de Carvalho estava na situação de reserva como coronel e desempenha o cargo de Presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Chaves para o qual tinha sido nomeado pelo Governador Civil de Vila Real em 2 de Julho de 1919, cargo que desempenhou até 27 de Dezembro de 1922.
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Cópia da última acta em que o General Ribeiro de Carvalho presidiu à Câmara Municipal em 27-12-1922
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Foi-lhe reconhecido por todos o papel importante que teve na obra notável de promoção da vila no decorrer destes anos.
Foi também o grande impulsionador dos festejos do Centenário da Tomada de Chaves aos Franceses (1909) e mais tarde um prestimoso colaborador na organização do lº Congresso Transmontano.
Embora de férrea convicção politica salientou sempre a sua independência partidária, afirmando-se um cidadão pronto a lutar pela República e pela sua Terra.
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Rua Direita nºs 149 a 151 - Casa onde viveu o general quase durante 50 anos
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Um apaixonado também pelo estudo da História, principalmente da História de Chaves, escreveu um livro que ainda hoje é exemplar - «Chaves Antiga» onde ainda se vai beber muito da história de Chaves. Colaborou também durante vários anos e vários jornais locais e nacionais uma extensa e fecunda obra histórica e literária, onde fez também o retrato de alguns dos nossos ilustres debaixo do pseudónimo de Augustus Flavius.
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Foi ainda um inspirado autor de numerosas operetas, dramas e comédias que foram estreadas em Chaves e depois repetidas em vários palcos do país, sempre com o maior êxito.
A toponímia flaviense dedicou-lhe uma avenida e uma travessa com o seu nome, ou seja a avenida paralela à Avenida Nun’Álvares e uma travessa que liga ambas as avenidas.
Também em 1 de Julho de 1957 um grupo de admiradores fez colocar uma placa na casa onde viveu quase durante 50 anos, na Rua Direita, nºs 149 e 151 onde consta a seguinte inscrição:
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“Nesta casa, sua propriedade, residiu cerca de 50 anos e faleceu em 26 de Julho de 1940 o general Augusto César Ribeiro de Carvalho, valoroso chefe militar, liberal indefectível, distinto homem de letras, autor da história antiga, e devotadíssimo flaviense, que por seus feitos e obras, deixou o seu nome prestigioso, indissoluvelmente vinculado à história de Chaves moderna.
Homenagem dos seus admiradores em 1 de Julho de 1957, data do 1º Centenário do seu nascimento.”
Por toda a sua vida, carreira militar e civil penso não haver qualquer dúvida e ser digno de um reconhecimento de todos os flavienses como um Ilustre Flaviense.