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Hoje a Feira dos Santos entra na recta final, só lhe resta o dia de hoje. Para, todos os anos, termina em 31 de Outubro, pois dia 1 de Novembro, geralmente, a confusão instala-se na cidade, pois em termos de gente é o seu dia maior. Espanhóis e vindos de todo o lado invadem a cidade (aos milhares). Gente a mais para o meu, por isso, reservo o dia a causas mais nobres ligadas à família.
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Hoje também deixamos a feira de parte, aqui no blog, e vamos até mais uma aldeia, lá do alto da montanha ou do planalto da Serra do Brunheiro – Vamos até Gondar.
Ir até Gondar é ir até mais uma das nossas aldeias de montanha, pequena, bonita e onde o casario tradicional do granito mostra a sua graça. Mas ir até Gondar é ir também até uma das aldeias do despovoamento, onde só os resistentes, resistem.
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Os números costumam dizer tudo, mas até nem são necessários, pois basta passar pela aldeia para ver que a maioria do casario está abandonado e que apenas meia dúzia de casais resistem. Mas vamos aos números dos Censos 2001, sobre os quais já passaram 7 anos.
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Pois em 2001 havia 30 habitantes residentes, dos quais 4 tinham menos de 10 anos e 2 tinham entre 10 e 20 anos. Com mais de 65 anos havia 12 habitantes, ou seja, metade da população de então. Pois passados os tais 7 anos sobre os dados oficiais, ao que parece, no último ano lectivo já não havia crianças em idade escolar.
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A aldeia é pequena, bonita e simpática localiza-se a apenas 500 metros da sede de freguesia, Nogueira da Montanha, que mais parece um bairro de Nogueira, mas apenas parece, pois a separação está perfeitamente definida por terras de cultivo. Terras sem regadio mas férteis, onde a batata é rainha, mas também o centeio e o milho, além de todas as culturas típicas da região, mas em menor quantidade que estas três últimas, ou apenas na quantidade necessária. Tudo que é produto da horta, dá-se por aqui, mas também o naval e a beterraba. Tudo isto se dá num fértil planalto a quase 900 metros de altitude, onde também a floresta (em menor escala) marca presença, com o carvalho e o castanheiro além de outras variedades autóctones em verdadeiro estado selvagem. Pinheiros não entram nesta paisagem.
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Terras ricas mas difíceis, não só pelo clima rigoroso, principalmente o de inverno, mas também por falta de meios de subsistência (para todos) e de políticas acertadas para prender a população jovem, principalmente políticas agrícolas e apoiadas. O mesmo de sempre que cada vez mais me leva a concluir que nunca existiu qualquer política ou interesse por parte dos políticos para com o nosso interior, principalmente o rural. Claro que os malditos números sempre contam em termos de decisões políticas, e quanto menor for o número de habitantes, menor é o número de votos e menor ou nulo mesmo é o interesse político nessas terras, mesmo que esses números estejam associados a uma terra agricolamente rica (mas dividida), como ricas o eram em tradições, usos e costumes, que pouco a pouco se vão perdendo.
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Curiosamente em termos de usos e costumes agrícolas, fui encontrar em Gondar, em plena rua, uma das tradições da terra associada ao cultivo do milho. A secagem e o desgranar do milho, espiga a espiga, com apenas as mãos e uma cesta para logo passar a estendal na eira improvisada, no meio da rua, que era onde melhor acertava o sol. Claro que tal quadro não me poderia passar despercebido, como despercebida não passava a minha presença de máquina fotográfica em punho. Após a troca de cumprimentos com a senhora que estava nas lides do milho, logo se apressou a justificar a eira “ Está no meio da rua, mas por aqui também não passa ninguém” e a minha resposta foi o que saiu, mas sincero “ quem me dera ver assim as ruas todas.
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De facto, a eira estava numa das poucas e por isso principais ruas da aldeia, mas também era verdade que à excepção da casa da eira, todas as outras estavam abandonadas, infelizmente, pois também são as casas mais interessantes que por lá existem em termos de arquitectura tradicional do granito.
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Sem o ter perguntado a ninguém, adivinha-se, como aliás acontece em toda a freguesia, ser uma aldeia de emigrantes, que talvez ainda venham à terrinha no verão, mas que não optaram pela aldeia para fixarem residência futura. É o que está a acontecer nos últimos anos com a grande maioria dos nossos emigrantes e que contrariam a tendência dos primeiros emigrantes que nos anos 70 e 80 construíam as suas casas nas aldeias de origem, casas essas, que actualmente e maioritariamente estão desabitadas.
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E sobre Gondar pouco mais há a dizer, para além de vos deixar por aqui como se pode ir até lá. Aliás como se pode ir até toda a freguesia, pois são todas aldeias do planalto e embora a freguesia em território até nem seja pequena (com 16.43 km2), entre aldeias da freguesia a distância máxima é de 2 km, ou seja, mal se sai de uma aldeia, já estamos a entrar noutra.
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Pois para terras de Nogueira da Montanha, entre as quais a nossa aldeia de hoje, temos que seguir pela famosa Nacional 314. Eu por aqui refiro-me sempre a Nacional, mas embora (penso) que ainda mantém o nome de nacional, é estrada com estatuto de estrada municipal, ou seja, não está debaixo da alçada da EP (ex JAE) mas sim do Município. Pois seguindo pela 314, no Peto de Lagarelhos vira-se à esquerda (ou seja continua-se pela 314) e logo a seguir a Lagarelhos podemos virar à esquerda até Santiago do Monte (1,9 Km), e aí vira-se à direita em direcção à Alanhosa (1.3 km) para logo a seguir termos Gondar (1.3 Km). Podemos optar por seguir via 314 até antes ou depois de France, pois ambas as estradas à esquerda vão dar a Gondar. A primeira via Capeludos, Sobrado, Nogueira da Montanha e a segunda via Santa Marinha, Amoinha Velha e de novo Nogueira da Montanha. Pode parecer confuso e até o é. Mas se houver algum engano nos desvios, não é grave, pois tudo isto é feito em pequenas distâncias e por via das dúvidas, nem há como perguntar a alguém em que aldeia está e onde fica Gondar, isto se tiver a sorte de encontrar alguém na rua, pois em algumas, entra-se e sai-se sem se encontrar alma viva.
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Quanto ao topónimo de Gondar, dizem ser de origem árabe e ao que consta, é também um topónimo utilizado na vizinha Galiza. A arquitectura da aldeia é na sua maioria a tradicional de granito, que se desenvolve toda a aldeia em redor de duas ou três ruas e dois largos, formando um pequeno núcleo onde há uma pequena e bonita capela em honra de Nossa Senhora da Conceição (num dos largos) e a escassa dezena de metros o outro largo, com um cruzeiro coberto. Não há casas isoladas ou solarengas e pouca construção nova, à excepção de uma no largo da capela, ainda em fase de obras, mas também abandonada, pelo menos há dois ou três anos.
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A cerca de quilómetro e meio de distância são visíveis vestígios da civilização castreja no denominado Castelo dos Mouros. A respeito desse castro, conta a lenda que uma cabra desapareceu nos fossetes, através de uma galeria, perceptíveis no local, para depois aparecer em pleno castro de Vila Nova, do concelho de Valpaços, com os chifres cobertos de ouro.
Falta mesmo e só o elogio ao fio azul, que também abunda nas mais diversas aplicações, mas mais uma vez, também aqui notamos, que o fio laranja, embora em pequena escala, também marca presença.
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E por terras de Gondar é mesmo tudo. Brevemente regressaremos de novo à freguesia, mas com outra aldeia.
Até amanhã, com mais um Ilustre Flaviense.