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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

22
Fev22

Chaves de Ontem - Chaves de Hoje

Um regresso ao ano de 1912


chaves-1912-N339.JPG

Excursão do grupo «Pró Patria» a Chaves. A passagem dos excursionistas, com o povo, na ponte romana. (Fotografia do flaviense Nicolau Mesquita)

ontem-hoje

 

Nesta rubrica do Chaves de ontem e de hoje, vamos regressar no tempo,  um pouco mais de 100 anos, até 1912, em que a, e da, então Vila de Chaves era, e saíam, notícias para todo o país, através da revista nacional semanal “Ilustração Portugueza” em quase todas as suas edições a partir do 8 de julho de 1912, data em que os flavienses deram a machadada final nos resistentes da monarquia, aquando daquela que teria sido a sua última incursão em território nacional, data essa que ficou registada na História de Portugal e que acabou por ficar como o dia do nosso feriado municipal.

 

Ficam alguns momentos que a “Ilustração Portugueza”, o primeiro  da edição do dia 19 de agosto de 1912,  que sempre registava em fotografia. Momentos de celebração quer de agradecimento ao povo de Chaves, com a vinda/excursão a Chaves do grupo «Pró Patria» publicada no nº 339 da Ilustração Portugueza, Pág.255, na primeira foto deste post, quer de outros momentos que mencionaremos a seguir.

 

chaves-1912-N340.JPG

 

Nesta  segunda foto, fica a receção de “OS HEROES DE CHAVES EM LISBOA” publicada no nº 340 da Ilustração Portugueza, do dia 26 de agosto de 1912, pág. 275 onde em legenda se pode ler:

 

1 – Ao meio o clarim A.d’Azevedo, aos lados os soldados Francisco António e Albino Adriano, rodeados por alguns dos sócios do grupo «Pró Patria».

2 – O clarim António d’Azevedo e o seu filho que avisou as forças fieis da aproximação dos realistas.

3 – O clarim António d’Azevedo e os soldados de Cavalaria 6 Albino Adriano e Francisco António em Lisboa, aclamados pelo povo (clichés Benoliel).

 

chaves-1912-N340-A.JPG

 

Por último e no mesmo nº340 da revista, na página 284,  em “Figuras e Factos”,  uma curiosa notícia de um duelo em Chaves entre o capitão Filipe de Souza e o Dr. António Granjo, com a fotografia dos dois intervenientes,  onde em legenda se diz: “ 1 e 2 – Srs. Capitão Filipe de Sousza e o deputado Antonio Granjo, que, depois d’uma polemica d’imprensa ácêrca do combate de Chaves, se bateram em duelo n’esta vila, ficando ambos feridos.

 

 

28
Jul17

Discursos sobre a cidade - Por Gil Santos


GIL

 

Nota Prévia

Passando os olhos por um pequeno livro, esquecido, na estante de uma biblioteca pouco frequentada, dei com os olhos em dois textos que falam da nossa terra.

 

Trata-se de um livro da autoria de Fernando António Almeida, intitulado “Estórias de Portugal” editado pela Âncora em 2001.

 

A páginas 53 e seguintes, o primeiro texto fala-nos de um cerco à nossa cidade, no longínquo século XIV. O segundo dos sete filhos de Maria Mantela.

 

Por se tratar de duas “estórias” da nossa cidade e porque isto das estórias me é particularmente caro, reproduzo o primeiro texto, na íntegra, neste espaço privilegiado dos “discursos”.

 

O segundo fica para depois.

 

A RENDIÇÃO DO ALCAIDE

(O Cerco de Chaves)

 

Em 14 de Agosto de 1385 travam-se de razões em Aljubarrota os exércitos português e castelhano. Vitorioso no confronto, D. João I dirige-se ao Norte do país, a Guimarães, em romaria a Santa Maria da Oliveira, por cumprimento da promessa que fizera antes que entrasse em batalha. Aqui, prepara uma incursão a Trás-os-Montes, para ocupar alguns castelos que se mantinham fieis a D. Beatriz, a filha de D. Fernando e mulher de D. João I de Castela. Era o começo do Inverno.

 

E partiu El-Rei dali com suas gentes e muitos carros com engenhos e mantimentos e com outras coisas pertencentes à guerra. E entrou em Vila Real. E ali juntou a sua hoste e levou caminho de Chaves com intenção de cercá-la. E a festa de Natal teve-a El-Rei numa aldeia chamada São Pedro de Agostém, que é uma légua de Chaves.

 

s.pedro-agostem (358)-1.jpg

 

E dali iam alguns escaramuçar a vila, nas quais escaramuças morreu um cavaleiro que chamavam Álvaro Dias de Oliveira que atolou o cavalo com ele e, não podendo sair, ali o mataram. Mas neste mesmo dia, um João Gil Sapo matou por sua mão três da vila na ponte do lugar, pelo que foi muito louvado.

 

Este lugar de Chaves é uma vila de Portugal na qual estava um bom e honrado fidalgo português chamado pelo nome de Martim Gonçalves de Ataíde. À sua mulher chamavam Mecia Vasques Coutinha, irmã de Gonçalo Vasques Coutinho que esteve na batalha de Trancoso. No lugar estavam cerca de oitenta lanças de bons escudeiros e um número razoável de besteiros e de homens de pé. E tinha vindo também para a vila um cavaleiro galego da terra de Ourense que chamavam Vasco Gómez de Seixas, com trinta lanças e homens de pé e bons besteiros, de jeito que havia assaz de gente para a defesa do lugar. E tinham um trom pequeno e uma cabrita de lançar pedras. Tinham mantimentos em razoável quantidade. Já a água que nascia na vila era enxofrada, como água de caldas, mal-azada para beber, que a boa era a do rio que vai por fora dos muros.

 

Ponte_romana.jpg

 

Como Martim Gonçalves recusou entregar a vila, El-Rei cercou-a e pôs arraial sobre ela. E mandou armar os engenhos e atirar aos muros da vila e ao castelo e quebraram grande parte de duas torres que estavam perto do rio Tâmega. E El-Rei mandou fazer uma bastida, junto da ponte, para defender aquela água e combater a vila, bastida que tinha três sobrados e a que antigamente chamavam castelos de madeira. E a bastida estava forrada de caniços e carqueja, para guardar-se das pedras, e havia nela homens armados e besteiros, de tal maneira que os da vila não podiam tomar água do rio. E por isso El-Rei mandava dar cada dia um cântaro de água a Mécia Vasques, mulher do alcaide do lugar, por amor de seu irmão Gonçalo Vasques.

 

Sendo a bastida guardada daqueles que dela tinham cargo, acertou um dia que era à guarda de Vasco Pires de Sampaio. E estando ele ao serão ceando descansado no arraial, que era um bom pedaço dali, saiu do lugar muita força de gente, muitos com fogo, cada um fazendo o melhor que podia, e apesar dos que a guardavam, antes que os do arraial pudessem acorrer, que era longe dali, puseram-lhe o fogo e a bastida ardeu toda. E dali em diante tomaram os da vila livremente quanta água podiam e queriam.

 

E, vendo como seria má de guardar uma bastida que ali pusesse, mandou El-Rei fazer outra, mais perto do arraial, cerca duma das portas da vila onde estava uma boa torre, mas não tão chegada a ela que lhe pudesse fazer dano. E a bastida era tão forte, assim forrada de traves e caniços e coiros crus, que ainda que um engenho que tinham os de dentro lhe tenha atirado numa noite trinta pedras, de que vinte e sete deram nela, nenhuma lhe pôde fazer dano. Desta bastida, que era mais alta que o muro, não cessavam de atirar com bestas e pedradas àqueles que queriam andar por ele, de maneira que ninguém ousava por aí andar, nem nele estar. Enquanto isso, os engenhos de dentro da bastida atiravam amiúde, de dia e de noite, e derribavam no castelo e na vila muitas casas, e matavam gente e faziam muito dano. Os da vila atiravam com as bestas e com aquele trom e engenho que tinham, mas não era coisa que aos do arraial fizesse dano, ainda que muitas vezes houvesse feridos de uma parte e da outra.

 

chaves-med.jpg

 

E sabei como este cerco que El-Rei ordenou de pôr a Chaves foi bem proveitoso a muita gente desta comarca porque os mais deles estavam à míngua de mantimentos, por causa da guerra passada no tempo d'El-Rei D. Fernando e da vinda de D. Henrique de Castela ao reino. Assim que muitos, por sua vontade, se iam para El-Rei naquele cerco para haverem mantimento. E El-Rei mandava muito amiúde a forragem e entravam pela Galiza oito e dez léguas, à terra de Porqueira e de Sandiães e de Alhariz e outros lugares daquela comarca, com bons capitães à guarda das azêmolas, que sempre iam bem duas mil e às vezes mais. E vinham carregadas de pão e de carne e de castanhas e de nozes e doutros mantimentos e algum pouco de vinho, porque não é terra em que haja muito. E uma vez foram à forragem à terra de Viana de Bolo e quando vinham para o arraial caiu muita neve na serra e tanta que matou muitos homens e moços com frio.

 

Com tantas contrariedades, D. João I teme não conseguir fazer subjugar Chaves, ficando-lhe hostis outros castelos de Trás-os-Montes, como Bragança, Vinhais, Outeiro de Miranda, e outros ainda. Teme-se também que, estando tão perto da fronteira, o rei de Castela decida tentar vir, descercar Chaves. Considera D. João I que deve reforçar o seu exército. Apela então aos principais concelhos do país para que o auxiliem. De Lisboa e Sintra chegam reforços. Pede também auxílio a Nuno Álvares Pereira que se lhe junta em Chaves.

 

Enquanto estas coisas se passavam e algumas outras que não vale a pena dizer, os engenhos não paravam de atirar, de noite e de dia, fazendo muito dano ao lugar. E os da bastida também já começavam a derribar a barbacã desde abaixo e queriam picar o muro. E além disso ordenou El-Rei uma escada de tal maneira como na Espanha nunca antes tinha sido vista para pôr no muro da vila, de que todos se espantavam.

 

Martim Gonçalves, vendo todas estas coisas e receando ser entrado pela força, pois não se podia bem defender, ajustou então que lhe fosse dado o prazo de quarenta dias para que comunicasse com El-Rei de Castela. E, não lhe vindo resposta até esse tempo, lhe entregaria a vila e o castelo e eles sairiam com suas bestas e armas e haveres. E pôs-lhe Martim Gonçalves um seu filho por refém, em como se até aquele dia não fosse socorrido que lhe entregasse o lugar. E mandou à pressa recado a El-Rei de Castela de tudo o que se passava e em como se tinha ajustado.

 

Chaves Medieval.jpg

 

O escudeiro de Martim Gonçalves chegou a Zamora onde El-Rei de Castela estava e chegou tão alta noite que El-Rei repousava já na cama com a rainha sua mulher. El-Rei, como lho disseram, sem embargo de que já repousasse, levantou-se da cama. E, entrou o escudeiro na câmara e contou a El-Rei o cerco e o que acontecera e quanto havia passado Martim Gonçalves até que se ajustara. E El-Rei respondeu que não estava em tal ponto que lhe pudesse acudir como cumpria e que lhe quitava a menagem uma e duas e três vezes. E no outro dia escreveu El-Rei suas cartas a Martim Gonçalves, como lhe quitava a menagem e que se fosse para seu reino, onde lhe faria mercês e daria terras para que vivesse honradamente.

 

Tendo chegado o escudeiro com o recado, Martim Gonçalves, naquele dia em que se acabou o prazo, mandou dizer a El-Rei de Portugal que lhe queria dar a vila e o castelo, havendo já cerca de quatro meses que El-Rei o tinha cercado. Mas, antes disto, tinha ele já mandado sua mulher e filhos para um lugar que chamam Monterrey, que era dali a três léguas. Vasco Gómez de Seixas, que estava com Martim Gonçalves, veio falar a El-Rei à tenda onde estava e despedir-se dele. Martim Gonçalves não lhe quis falar. E no dia seguinte depois do prazo partiram ambos armados e os seus a pé, pois que alguns que tinham bestas tinham-nas fora do lugar. E os homens de pé e os moços davam vozes e apupos, escarnecendo deles, segundo é costume fazerem aos que saem de lugar cercado.

 

São_nun'alvares_pereira.jpg

 

Entrou depois D. João na vila de Chaves e no seu castelo, de que tomou posse. Ouviu missa. Armou cavaleiros. Deu a vila a Nuno Álvares Pereira, que com ele estava. O objectivo era agora Bragança e a ocupação dos outros castelos que ainda tinham voz por D. Beatriz e pelo seu marido, o rei de Castela.

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