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Hoje, descaradamente, vou fazer publicidade, mas antes quero contar uma pequena história pessoal, para compreenderem uma das razões que me levam a tal.
No meu tempo de estudante, teria eu os meus 18, 19 anos, no tempo das vindimas juntávamos um pequeno grupo de amigos e ia-mos até Espanha, junto à raia, ganhar algum a vindimar. Num dos anos, depois de duas semanas a vindimar, aventurámo-nos e fomos um pouco mais Espanha adentro a procura de mais vindimas. Chegamos até Villa Franca del Vierso. Acabados de chegar a Villa franca, fomos à procura de poiso, num Hostal à beira da estrada. O Hostal era mais uma casa de família que propriamente Hostal, e a proprietária, senhora dos seus sessenta e tal anos, antes de nos dar dormida, quis primeiro saber quem éramos, de onde vínhamos, o que fazíamos e o que andávamos por lá a fazer. Respondemos religiosamente ao inquérito, com a verdade, pois nada tínhamos a esconder, mas já sabemos que palavras são palavras e valem o que valem. Estivemos por aquele Hostal uns bons 15 dias, jantávamos com o casal proprietário e acabamos mesmo por fazer amizade. No fim, já na hora da partida, a proprietária confessou-nos que só nos tinha dado dormida porque tinha reparado nas nossas mãos de trabalho, que estava reflectido nos cortes e unhas sujas de duas semanas de vindima. Foi mais uma lição na minha vida.
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Pois uma das razões, senão a principal de hoje vir aqui fazer publicidade, foram precisamente as mãos do casal de proprietários do Hotel Rural Casas Novas, que inaugura no próximo dia 28 de Junho, mãos de muito trabalho, que demonstram também a tenacidade de gente lutadora e simples, aventureiros também, amigos e com gosto, ou seja, gente que trabalha e leva a efeito uma grande aventura e sonho sem qualquer cagança - é mesmo este o termo mais correcto a aplicar aqui.
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Conheci-os há uns meses atrás, misturados entre os trabalhadores da obra e fiquei logo rendido, não só à sua simpatia, mas também ao seu ser empreendedor e às suas mãos, que merecem toda a sorte do mundo nesta nova vida que agora iniciam.
Outra das razões porque merecem honras neste blog é pela razão de recuperarem um dos solares mais bonitos do concelho e que há muito estava em ruínas. Um solar que faz também parte do meu imaginário de criança, do tempo em que desde as carreiras do Magalhães de Braga, observava desde a estrada aquela grande e bonita casa de príncipes, quando passava a caminho de Montalegre ou mesmo de Braga. Era já então o casarão mais bonito que eu conhecia.
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Há ainda mais razões, que poderão descobrir pelas fotografias que hoje vos deixo e pelo decorrer deste post.
Vamos então até ao Hotel Rural Casas Novas, que como o nome indica fica em Casas Novas, a 10 quilómetros de Chaves e a apenas 2 ou 3 quilómetros do nó da auto-estrada de Curalha.
Antes de irmos ainda ao empreendimento que agora vai abrir portas, vamos contar um pouca da história do casarão, o Solar do Conde de Penamacor ou do Visconde do Rosário.
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Sem dúvida que na aldeia e arredores, até mesmo no concelho e concelhos vizinhos, é um dos edifícios com grande destaque neste género de construções – os solares.
Trata-se de um antigo Solar com uma antiga e relevante História. Foi o Solar do Conde de Penamacor e desde sempre conhecido pelo Solar do Visconde do Rosário ou simplesmente pelo Solar de Casas Novas.
No inicio do século XIX, o Solar era propriedade o 2° Conde de Penamacor, António de Saldanha de Albuquerque e Castro Ribafria, nasceu a 3 de Novembro de 1815 e morreu a 15 de Maio de 1864. Era filho do alcaide-mor de Sintra e de D.Maria Teresa Braamcamp e terá sido ele que mandou gravar a pedra de armas que se encontra na fachada do Solar, outras fontes apontam como responsável desta gravação o seu pai, João Maia Rafael Saldanha de Albuquerque e Castro Ribafria.
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Em Casas Novas, o nome Albuquerque do terceiro quartel foi substituído por Pereira, apelido e armas do pai da avó paterna do 2° Conde.
O título de Conde de Penamacor tem uma história curiosa e invulgar. O rei D. Afonso V, em 1475, concedeu-o ao seu valido e Camareiro Mor D. Lopo de Albuquerque, que foi embaixador do Rei de Castela e Leão. Este 1° Conde, tendo sido considerado culpado na conspiração dos Duques de Viseu e Bragança contra D. João II, receando o castigo deste, fugiu do país. Depois de uma vida aventurosa acabou por morrer no exílio, em Sevilha. Por isso o título não foi renovado e assim se manteve durante mais três séculos, embora os seus descendentes tivessem regressado a Portugal e prestado relevantes serviços em sucessivas gerações.
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A associação das armas referidas deve-se à seguinte linha de sucessão: D. Luís de Albuquerque, neto do primeiro conde, casou com uma filha do grande Vice-rei D. João de Castro. Desse casamento nasceu uma filha, D. Luíza de Castro, que casou com André Gonçalves Ribafria, alcaide-mor de Sintra, filho de Gaspar Gonçalves Ribafria.
Uma bisneta destes casou com Manuel de Saldanha Távora, Capitão-mor das Naus da Índia. É um bisneto destes que se liga pelo casamento a Casas Novas. O título foi renovado em 1844 por D. Maria II num neto deste último que assim veio a ser o 2° Conde de Penamacor. A ascendência do 2° Conde em Casas Novas, tendo um percurso Histórico completamente diferente, é um bom e curioso exemplo da mobilidade social que caracteriza a sociedade portuguesa. Ademais, revela-nos um notabilíssimo flaviense que está completamente esquecido.
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Este solar foi mais tarde vendido pela família, passando para a posse de uma filha do Visconde do Rosário. Mais tarde foi doado por esta à Santa Casa da Misericórdia de Chaves.
Falemos agora desta família, como foi dito, a casa foi habitada pela Viscondessa do Rosário, Maria Clementina Conde Saraiva. Era filha do Visconde do Rosário, Manuel José Conde, e de D. Eufrosina Ermelinda do Nascimento, natural da Bahia. Casada com António Teixeira de Morais, adoptou a cidade de Chaves como sua terra. Faleceu em 21 de Dezembro de 1935.
O seu marido António Teixeira de Morais, era natural de Casas Novas, e faleceu em Lisboa em 6 de Junho de 1887. Esteve no Brasil durante muitos anos. A Câmara de Chaves dedicou-lhe uma rua urbana na freguesia de Stª Cruz/Trindade pelo facto de ter doado à Santa Casa da Misericórdia da cidade, a quantia de 40 contos (em moeda brasileira), destinada a cuidar dos pobres da sua freguesia. Além da avultada importância em dinheiro, doou também a sua quinta de Casas Novas, com 12 hectares, e respectiva casa solarenga, brasonada, aos mesmos fins.
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A Santa Casa da Misericórdia, ao que apurei na aldeia, durante alguns anos ainda utilizou o solar como casa de acolhimento de rapazes órfãos ou abandonados. Não sei qual a razão, mas abandonou o solar deixando-o entregue a si próprio ou seja ao abandono. Em meados de 80, não sei qual a razão, mas eu próprio visitei o solar, já então fechado e em estado avançado de degradação. Quando os actuais proprietários adquiriram o solar, estava praticamente em ruínas.
Vamos então para a nova casa, o Hotel Rural Casas Novas levado a efeito no Solar Visconde ou Viscondessa do Rosário, onde se aproveitou e preservou (e bem) tudo que foi possível preservar, mantendo a dignidade do antigo solar e onde a nova construção ou construção nova anexa e adjacente ao solar está perfeitamente integrada sem por em causa a visibilidade e notoriedade do antigo solar, incluindo a adega da quinta, foi recuperada para restaurante e bar, preservando todo o conjunto de lagares e lagaretas, condutas em granito e acessórios utilizados na feitura do vinho, incluindo algumas das gigantescas pipas (que no momento ainda se encontra a ser recuperadas por especialistas tanoeiros.
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Também a cidade de Chaves e a região fica mais rica a partir deste momento com a oferta que o Hotel Rural Casas Novas põe à disposição de quem as queira utilizar, principalmente turistas, pois além da oferta do próprio Hotel, não poderemos esquecer o interesse das aldeias rurais e de outro casario também de interesse na própria aldeia como nas aldeias vizinhas.
Mas em termos de oferta, o Hotel dispõe de 5 suites no edifício do antigo solar, onde funciona também a recepção, a biblioteca, um bar, sala de estar e restaurante mais intimista. Na ala nova possui 21 quartos. Piscina exterior, piscina interior aquecida, jacuzzi, sauna, banho turco, sala de massagens, ginásio, polidesportivo ao ar livre (ténis, basquetebol, voleibol, futebol, etc.), salão multiusos com capacidade para 400 pessoas, adega e lagar regional com música ao vivo todas as sextas-feiras.
Além de Hotel Rural é um espaço também aberto a toda a comunidade e eventos, casamentos, reuniões e conferências, onde para o pessoal cá da terrinha se poderá aconselhar o restaurante e o bar regional para utilização diária, além das outras ofertas que também estão abertas à comunidade (Salão, polidesportivo, piscinas, etc.).
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E para finalizar vamos aos créditos que vão inteirinhos para a simpatia e trabalho dos seus proprietários, o Sr. Fernando Moura, 42 anos e D.Salete Moura, ex-emigrantes em França e Estados Unidos, que embora barrosões (da zona do Barracão), encontraram em Casas Novas o empreendimento das suas vidas, quem sabe se não é também um dos sonhos do seu imaginário de crianças, quando desde as mesmas carreiras do Magalhães de Braga, avistavam tão belo Solar.
O empreendimento ronda os 3.500.000 Euros de investimento, ou seja mais de 700.000 Contos em moeda antiga.
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Para o Sr, Fernando e a D.Salete, desejo toda a sorte do mundo para este empreendimento que (este sim) dignifica a história do solar e honra o concelho e a cidade de Chaves com mais um espaço hoteleiro em ambiente rural e que pela certa irá deliciar todos quantos o procurem como poiso.
Fica também o sítio na net do Hotel Rural que poderá ser visitado em www.hotelruralcasasnovas.com e também o local onde poderá fazer as suas reservas para desfrutar deste espaço: reservas@hotelruralcasasnovas.com
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A partir de dia 28, próximo Sábado, está de portas abertas. Parabéns e felicidades sinceras deste blog que aprecia o que de bom e bem se faz para e por este concelho.
Até amanhã.