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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

08
Dez08

Ilustres Flavienses - Inácio Pizarro - 1ª Parte


 

Aproveitando a data de hoje em que faz precisamente 201 anos em que uma criança com apenas uns dias de idade era baptizado na capela da Casa do Cruzeiro em Bóbeda, vamos até mais um Ilustre Flaviense, pois essa criança veio anos mais tarde a ser quase tão ilustre como desconhecido pela maioria dos flavienses de hoje e, neste caso, não é por falta de literatura, pois há muita e boa literatura do e sobre o nosso ilustre, mas desconhecido sim, porque poucos são os que conhecem a sua obra e a sua vida. Aliás os escritos de sempre que há sobre o nosso ilustre referem isso mesmo: “Poucos homens da envergadura de Inácio Pizarro caíram tão depressa no esquecimento como ele.”  Era assim que em 1908 Eugénio Pimentel se lhe referia num texto que publicou e que à frente reproduzo neste post.

Também a Revista Aquae Flaviae nº 16 de Dezembro de 1996, que é inteiramente dedicada ao nosso Ilustre de hoje, nas Palavras Prévias da revista diz: “…é outro ilustre flaviense que resta hoje no esquecimento dos seus conterrâneos.”

Até a toponímia flaviense que tanta justiça fez com alguns flavienses, embora lhe dedique um largo e uma rua, não o fez na zona mais nobre da cidade e que já todos sabemos que é o Centro Histórico. Ilustre este que até já deu nome à actual Rua Direita durante muitos anos até 1915 e que agora foi remetido para os subúrbios da cidade.

O Grupo Aquae Flaviae já lhe fez a devida homenagem com a Revista Nº 16 numa tiragem de 850 exemplares, que por sinal até esgotou. Tem largo e rua com seu nome e um ou outro interessado pela nossa história vão-se referindo à sua pessoa, mas pela importância do seu nome e obra, Ignácio ou Inácio Pizarro merecia muita mais atenção e dedicação dos seus conterrâneos, principalmente daqueles que têm responsabilidades em Chaves que com tanta gente pensante que tem no seu seio e que até é paga para pensar, concerteza que encontrariam uma forma de elevar o nome deste ilustre à sua grandeza e assim engrandecer também a nossa cidade.

 

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Claro que hoje vamos falar de IGNÁCIO PIZARRO DE MORAES SARMENTO, o Morgado de Bóbeda, que nasceu nesta aldeia em 22 de Novembro de 1807 e faleceu em 17 de Maio de 1870.

É um pouco da sua vida e obra que vai hoje ficar por aqui, iniciando com um texto/homenagem de Eugénio Pimentel, datado de Abril de 1908.

HOMENAGEM A IGNACIO PIZARRO DE MORAES SARMENTO
(in "Ilustração Trasmontana", J.Q Volume (1908), pg. 54)


Poucos homens da envergadura de Inácio Pizarro caíram tão depressa no esquecimento como ele.

E todavia não há ninguém por esse país fora que não tivesse ouvido aos cegos, nas suas vozes roucas e sumidas, cantar trovas de Inácio Pizarro, com esse sentimento que só talvez a cegueira faz assim compreender!

Para glória do poeta trasmontano bastaria o seu Romanceiro, livro adorável onde Pizarro coligiu preciosamente a crónica oral e poética do nosso povo entrelaçando a flor melancólica da xácara com a ridente flor da cantiga descuidosa:

"Vai a lua declinando
Em seu rápido correr,
Os seus raios ocultando
Vai-se no mar esconder.
Como é lindo esse momento
Em que a lua vai sumir-se
Ao cabo do firmamento,
E cc'as ondas confundir-se!"

Apareceu em 1841 o primeiro volume do Romanceiro, esse conjunto de poemas inspirados nas crónicas e na história pátria, romantizando os lances de patriotismo e as aventuras galãs.

Quatro anos depois, animado pelo entusiástico acolhimento que teve o primeiro volume, publicou Inácio Pizarro o segundo da sua obra de amor e cavalaria.
 
Só quem conhece o famoso livro do poeta trasmontano pode compreender o enlevo, o prazer com que as meninas daquela época, da idade em que o primeiro amor desabrocha, não teriam Iido os versos adoráveis do Martim de Lucena!

"Do mancebo a voz sonora
Perdeu-se na solidão;
Silêncio tudo é agora,
Só falava o coração.
N'esse contínuo arquejar
Manda suspiros de envolta,
Suspiros! mudo falar!


De todos os poemas que compõem o seu Romanceiro, naquele em que Pizarro foi verdadeiramente admirável na grandeza e na naturalidade elegante é sem dúvida o Frei Luís de Sousa que Camilo suscitou o reparo de ter o drama de Garrett aparecido três anos depois.
 
"Quem lesse as oitavas do snr. Pizarro, diz Camilo, sentiria para logo a sublimidade dramática do sucesso; e se o leitor tivesse em si o ecce Deus de Garrett, faria ressaltar do poemeto do snr. Pizarro a formosa tragédia para a qual nunca se hão-de esgotar elogios nem lágrimas".

A obra de Inácio Pizarro é grande. Abordou todos os géneros. O seu primeiro escrito apareceu no Panorama de 1838. Chamava-se Mestre Gil o romance publicado nesse jornal, belo modelo de romance histórico. Compreende os factos essenciais do reinado de D. João II, e ali se descrevem, verdadeiros de terror, os assassinatos dos duques de Viseu e Bragança.

Nesse valioso trabalho o ilustre escritor supriu com verdade as lacunas que no desenho do carácter moral do Príncipe Perfeito o temor dos cronistas nunca deixou preencher.

A esta obra seguiram-se os dramas Lopo de Figueiredo, Diogo Tinoco e

Henriqueta ou o Proscripto, os dois primeiros históricos e conforme as crónicas da época e este último em verso hendecassílabo.

Publicou também uma comédia, A Filha do Sapateiro, cheia de peripécias e de graça portuguesa.

Em 1846 deu à publicidade dois pequenos volumes de um romance O Engeitado, numa pureza de dicção tal que ainda hoje pode servir de modelo.

O Cântaro de Água, outro belo romance entre histórico e fantástico que tem a virtude de prender a curiosidade à maneira que a sua acção se vai desenvolvendo.

Pouco sabemos do que Pizarro foi como político. Tomou parte no movimento popular de 1846 sobre o qual escreveu o Memorandum de Chaves em que reivindica para si honrosamente toda a responsabilidade que lhe cabe em tal movimento, e foi em 1837 eleito deputado da nação ao congresso constituinte. Aqui impugnou e evitou a emissão de papel moeda com que João de Oliveira, depois Conde do Tojal, quisera brindar o país.

Por fim, cansado e convencido de que nada poderia fazer um deputado contra os desatinos de um governo, depôs nas mãos do soberano o seu mandato e nunca mais aceitou procuração a cortes! Hoje, um procedimento destes por parte de um deputado seria singular.

Pouco dissemos do ilustre escritor mas estão aí os seus livros para dizerem tudo.

Porto, Abril de 1908.
EUGÉNIO PIMENTEL

(continua)

 

08
Dez08

Ilustres Flavienses - Inácio Pizarro - 2ª Parte


 

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Inácio Pizarro de Morais Sarmento nasceu a 22 de Novembro de 1807, em Bóbeda, na Casa do Cruzeiro, residência de seus pais, o Marechal de Campo Francisco Homem de Magalhães Quevedo Pizarro, de Bóbeda, e D. Antónia Adelaide de Morais Sarmento Vaz Pereira Pinto Guedes, de Vila Real.

Na capela da Casa do Cruzeiro recebeu o baptismo no dia 8 de Dezembro seguinte.

É Camilo quem nos informa da data da morte de Inácio Pizarro, referindo-se a uma carta dele recebida e que o autor considerou o seu testamento religioso, fazendo de Camilo o seu testamenteiro: "A 8 de Maio de 1865 me enviava estas ingénuas palavras o bom e leal coração que deixou de pulsar no dia 17 de Maio de 1870."

Será altura de tentarmos, hoje, lançar um pouco de luz sobre a vida deste homem que, nascido em Bóbeda, morreu em Chaves, na sua casa da Rua Direita, rua esta que, em tempos, teve o seu nome.

Sendo lnácio Pizarro o único filho varão, e pretendendo-se assegurar-lhe uma educação esmerada, foi, aos quatro anos, levado de Bóbeda, da casa que o viu crescer e da companhia de sua mãe e irmãs, para casa da sua tia paterna D. Luísa Pizarro, casada e residente em Burgães e Vila do Conde.

Aí foi orientado nos primeiros estudos por Philippe Joseph Bellardant, sacerdote francês ali refugiado das perseguições desencadeadas pela Revolução Francesa de 1789.


É o próprio Inácio Pizarro que, na carta dirigida a Camilo e acima referida, nos fornece esta indicação, afirmando ainda: "aprendi a ler pela bíblia portuguesa e pela francesa o francês.
A bíblia francesa era ilustrada por magníficas gravuras, que ele me explicava ao passo que eu lia a página correspondente, e não me deixava ver as gravuras seguintes sem primeiro ter lido o texto. Com que ansiosa curiosidade eu desejava ver as gravuras todas! E era tanta a paciência daquele santo confessor, que quando me levava a passear às praias do oceano, com a ponta da bengala desenhava na areia o esboço da gravura que eu tinha visto na última lição.
 

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Brasão da família pintado no tecto do Solar de Bóbeda

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Ainda me lembro com as lágrimas nos olhos de um desses desenhos na areia: a morte de Saul.

Este sacerdote não completou a minha educação, porque me mandaram aos oito anos para o Colégio dos Nobres, de Lisboa, porque me destinavam à  universidade e ele pronunciava o latim à francesa."

Por esta razão, cremos nós, ou também porque a admissão ao Real Colégio dos Nobres constituísse a garantia de uma educação privilegiada para os trinta colegiais que, de entre todos os candidatos, obtivessem o efectivo acesso a essa instituição; na verdade, o Real Colégio dos Nobres funcionava, de certo modo, como uma ante-câmara da corte ...

Ináciocio Pizarro apresentou em, 10 de Setembro de 1815, o seu processo documental de candidatura, através de seu pai, na qualidade de procurador.

Assim, com oito anos que completaria duas semanas depois, a criança retirada aos quatro anos do convívio materno e do meio bucólico de Bóbeda, volta a ver-se levada de um ambiente familiar, para dar entrada no Colégio dos Nobres.

Todas as referências ao Real Colégio de Nobres (como múltiplas vezes era chamado), se justificam, em nosso entender, pela profunda influência que teria a vida na instituição, em regime de clausura, durante vários anos e numa idade decisiva para a formação da personalidade e dos comportamentos.

Na verdade, nos primeiros anos de vida não pudera Inácio Pizarro receber o carinho nem o acompanhamento de seu pai, já que este estivera envolvido, desde a primeira hora, nos acontecimentos da primeira invasão francesa e até ao final da Guerra Peninsular.

Mas foi seu pai que em 1815 levou o novo aluno do Real Colégio dos Nobres ser

ali levado por seu pai, de cuja convivência não deverá ter voltado a gozar, dado que em 1816 Francisco Pizarro seguiu para o Rio de Janeiro, integrado, ao que supomos, na expedição de 5000 homens que iriam bater-se na Guerra do Rio de Prata. Desta região onde se notabilizou e onde recebeu a promoção a Marechal de Campo (1817) é Francisco Pizarro mandado conduzir, em 1818, na corveta Voador, para a Corte do Rio de Janeiro, acompanhado dos ajudantes de campo, ao que tudo leva a crer, em virtude do seu grave estado de saúde.

É durante a sua permanência no Rio de Janeiro que recebe sucessivas honrarias, sendo também nomeado Governador do Maranhão; em 27 de Agosto de 1818 recebe a autorizarão de EI-Rei para deslocar-se a Portugal e demorar-se aí por tempo de um mês e meio.

Regressando a Portugal no Outono desse ano chega a Bóbeda, depois de uma tormentosa viagem pelas Alturas de Barroso; não voltará ao Brasil para o exercício do novo cargo, porque morre na sua casa, em Bóbeda, a 6 de Janeiro de 1819, vitimado pela tuberculose.

Resulta, assim, que foi mais do que breve o convívio de lnácio com seu pai.

Portanto, depois de cinco anos quase completos vividos no Colégio dos Nobres, quando ia completar treze anos saiu para continuar os seus estudos na universidade.

Visto que nessa altura já morrera seu pai, com quarenta e dois anos de idade, e muitos de incessantes combates, seria o padrinho e tio paterno, Gaspar de Souza Quevedo Pizarro que, por vontade expressa no testamento de Francisco Pizarro deveria tomar-se o encarregado da educação do órfão.

Dando realização ao projecto de entrar na universidade segue, em Julho de 1821 para Coimbra onde, em virtude dos seus treze anos, será confiado aos cuidados de um sacerdote da sua família e de quem o próprio lnácio Pizarro diz ser o modelo dos padres.

Da época passada em Coimbra são muito escassas as informações de que dispomos. Os registos da universidade provam que se matriculou na Faculdade de Matemática e na de Filosofia em Novembro de 1821. Matricular-se-á em Direito no Outubro seguinte.

Faltando quaisquer outras informações na sua ficha, concluímos que os seus estudos não terão sido prosseguidos com empenhamento.

No entanto, a existência de recibos de dinheiro enviado para Coimbra prova que se manteve nesta cidade até cerca de 1826.

Os interesses do poeta que já viveria nele não se poderiam esgotar nos limites de um qualquer curso, nem este significaria para Inácio Pizarro a busca de um título académico de que esperasse, como tantos, um modo de ganhar a vida e/ou a promoção social.

Fim da 2ª Parte
(continua)
 

 

 

08
Dez08

Inácio Pizarro - 3ª Parte


 

Brasão de Família do Solar de Bóbeda

 

 

Ainda em vida de seu pai, e por consideração aos serviços deste, recebera Inácio Pizarro de D. João VI, então no Rio de Janeiro, a mercê de Cavaleiro Fidalgo da Casa Real.

Em 1820 e, do mesmo modo, certamente por se terem presentes os sacrifícios do pai, recebeu Inácio Pizarro a Comenda de Santa Marinha de Lisboa, da Ordem de Cristo e o hábito de Cristo.

Em 1824 Inácio Pizarro foi armado cavaleiro da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo

Em 1825, tendo dezoito anos, Inácio Pizarro fica órfão de mãe.

A partir do falecimento de sua mãe, Inácio Pizarro viu-se obrigado a deixar Coimbra e Lisboa para tomar a seu cargo a administração de sua Casa, o que lhe impunha a residência em Bóbeda e Chaves.
 
O jovem Inácio Pizarro enfrenta pois, a partir dos seus dezoito anos, o peso da herança de seu pai que envolve também a condição de 22 Morgado de Bóbeda.

Além da administração dos bens de que o morgadio o tomava herdeiro universal, terá de assumir a protecção das suas três irmãs, Maria Delfina, Henriqueta e Maria Luísa.

A partir desta época vai ter inicio uma constante correspondência entre Inácio Pizarro e o seu tio do mesmo nome, e residente em Lisboa.

O tio vai tentar negociar um bom casamento para este sobrinho e dirige as suas tentativas no sentido de uma prima direita de Inácio Pizarro.

Porém, visto que os pais da jovem Maria Henriqueta escolheram para genro um outro pretendente, o tio sugere ao sobrinho a união com uma senhora de Lisboa, D. Inês de Castro da Cunha de Eça Castelo Branco e Melo que, no seu dizer "era bonita e tinha com que jantar."

Esta senhora, filha do Coronel de Engenheiros e lente da Real Academia de Fortificação e Desenho, Lourenço Homem da Cunha de Eça, era de alta linhagem, descendendo em linha recta de D. Pedro I e D. Inês de Castro.

O casamento realizou-se em Lisboa, em Dezembro de 1832.

Deste casamento, ao que tudo leva a crer, nasceram sete filhos mas só dois atingiram a idade adulta: José Homem de Sousa Pizarro e Lourenço Homem de Sousa Pizarro.

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Corresponde a este período o início da produção literária de Inácio Pizarro, sendo publica das as seguintes obras:

  1. -Mestre Gil, romance histórico surgido na revista Panorama, de Lisboa, em 1838.
  2. -D. Lianor de Mendonça, romance em verso publicado no Porto em 1838.
  3. -D. Lianor, romance também em verso, referente à figura de Leonor Teles, saído a público no mesmo ano de 1838.
  4. -Memórias do dia 28 de Dezembro de 1838, obra de que nada mais se conhece além do título.
  5. -Lopo de Figueiredo ou A Corte de D. João II, drama histórico em três actos, publicado em 1839, no Porto, pela Tipografia Comercial Portuense. Foi o primeiro drama em prosa escrito por Inácio Pizarro.
  6. -Diogo Tinoco ou A Corte de D. João 2º em 1484, drama histórico em três actos, escrito em prosa como o anterior, foi "representado pela primeira vez no Teatro da Rua dos Condes, na noute de 11 de Maio de 1839." Foi editado pela Tipografia Comercial Portuense, do Porto, em 1840.
  7. -Henriqueta ou o Proscripto Drama em três actos escrito em verso hendecassílabo, 1839.
  8. -O Romanceiro Português ou Colecção de Romances de História Portuguesa  - Na opinião de Camilo Castelo Branco, de todas as Obras de Pizarro, O Romanceiro devia ter sido o livro dilecto do autor. E acrescenta: “ Nenhum livro, em língua portuguesa pátria e de coisas nossas, foi lido com tanto amor” – 1841.
  9. -Cenas da História  Contemporânea - 1841
  10. -O Romanceiro,  Parte Segunda, 1846
  11. -O engeitado – Romance, 1846
  12. -O Cântaro de Água – Romance, 1844
  13. -Memorandum de Chaves, livro de memórias relativas aos acontecimentos em Chaves, durante a revolta de Maria da Fonte. – 1846.
  14. -A Filha do Sapateiro, comédia.
  15. -O Órfão – Poema publicado na revista Miscellanea poética, do Porto, 1851


É esta a última obra publicada por Inácio Pizarro.

Fim da 3ª Parte
(continua)

 

 

08
Dez08

Ilustres Flavienses - Inácio Pizarro - 4ª e últipa parte.


 Gravura de Inácio Pizarro nos últimos anos da sua vida

 

Depois de terem vivido em Lisboa os primeiros anos do seu casamento, Inácio Pizarro e D. Inês haviam feito uma tentativa no sentido de fixarem a resincia em Chaves e Bóbeda, onde os solicitavam quer as preocupações relativas à administração do seu património, quer as da "tutela" de suas irmãs.

 

Porém, esta tentativa não resultou por muito tempo e o casal regressa a Lisboa, onde julgamos terá permanecido por alguns anos mais.

 

Depois disso, Inácio Pizarro terá, definitivamente, decidido residir em Bóbeda ou Chaves, ficando sua mulher em Lisboa.

 

A partir de então, Inácio Pizarro, no auge da popularidade que lhe conquistara a publicação do Romanceiro, terá procurado em Chaves o convívio social de que sentiria a falta.

 

Vivendo quase sempre nas suas terras de Trás-os-Montes, indo à capital somente para se não afastar completamente do movimento literário e da convivência social. Era muito estimado em Lisboa e no Porto. Camilo Castelo Branco prestou homenagem ao seu carácter e talento, no estudo que lhe consagrou e que vem publicado nos seus Esboços de apreciações literárias.

 

Sem dúvida alguma que só pela sua carreira literária Inácio Pizarro é digno de ser um Ilustre Flaviense, mas também um Ilustre Português, principalmente e nem que fosse apenas pelo “Romanceiro Português”, sendo mesmo considerado por Camilo Castelo Brannco um dos maiores nomes da Literatura Portuguesa.

 

Mas para terminar este já longo post, apenas porque já vai longo, pois sobre Inácio Pizarro haveria muito mais a dizer, não posso terminar sem referir também a sua acção política.

 

Eleito deputado às Cortes, com 29 anos apenas, renunciou ao mandato quando se viu impotente para evitar os desmandos do Governo em matéria tributária. Mais tarde, em 1946, quando populares secundaram a revolução Maria da Fonte e António Carvalhal, foi por seu intermédio que a tropa os não atacou e concedeu o valioso apoio às justas reivindicações dos rebeldes.

 

 

Inácio Pizarro de Morais Sarmento, faleceu em 17 de Maio de 1870 e se nas efemérides centenárias do seu nascimento e morte ninguém (flaviense responsável) se lembrou dele, pode ser que lá para 2070, quando fizer 200 anos que morreu alguém se lembre de uma homenagem digna e o fazer um pouco de história à sua vida e à sua obra. Há que ter esperança.

 

De entre o convívio entre Inácio Pizarro e Camilo Castelo Branco, num dos regressos a Chaves, numas das viagens penosíssimas, no cume do Inverno a dobrar montanhas, com frio, vento e chuva, relatava assim a Camilo, em verso uma dessa viagens:

 

Quisera ver aqui ministros

Mettidos numa liteira

Ouvindo os guizos sinistros

Na descida da Gralheira.

Quisera vê-los transidos

Se susto, horror e frio,

Numa liteira mettidos

Atravessando o Mezio.

Quisera ver despenhada

A liteira… Oh! Isso não!

Bastava vê-la atolada

E elles na lama…onde estão.

 

Engraçado como estes versos ainda mantêm actualidade no sentimento de alguns flavienses….

 

Até amanhã!

 

Bibliografia e fontes documentais:

 

- Firmino Aires, Toponímia Flaviense, Chaves, 1990;

- Francisco G. Carneiro, Excertos de temas flavienses;

- Grupo Cultural Aquae Flaviae, In Memoriam Inácio Pizarro, Revista nº 16, Dez.1896

- Eugénio Pimentel, in Ilustração Transmontana, 1º Volume (1908);

- Tombo Heráldico do Nordeste Transmontano, Volume Primeiro, J.G. Calvão Borges, Lisboa, 2000.

 

- Maria do Sameiro Pizarro Bravo Soares Pinto;

- Fernando Pizarro Bravo.

 

 

 

 

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