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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

19
Jul22

Chaves de Ontem - Chaves de Hoje

o 8 de julho de 1912 - notícias da época


tamega.JPG

ontem-hoje

 

Há poucos dias, mais precisamente no dia 8 de julho, a cidade de Chaves celebrou o seu feriado municipal. Para quem não sabe, o dia 8 de julho foi escolhido para feriado municipal pela importância dos acontecimentos que ocorreram no dia 8 de julho de 1912 em Chaves, onde se deu a batalha final entre os monárquicos comandados por Paiva Couceiro e os republicanos, naquela que foi a última incursão autárquica, iniciada na Galiza em direção ao Norte de Portugal, onde estiveram envolvidas um pouco todas as localidades fronteiriças desde Valença até Vinhais, mas também um pouco mais para o interior, com alguns acontecimentos também importantes em Cabeceiras de Basto, com militares e civis a combater de ambos os lados, isto já dois anos após a implantação da República Portuguesa, o que dá aos acontecimentos de Chaves uma importância nacional, que ao contrário do que tinha acontecido nas Invasões Francesas 100 anos antes (1809),  em que os poucos militares e civis flavienses foram poucos para conter os franceses, e 8 de julho de 1912, os poucos militares e civis flavienses foram suficientes para acabar de vez com as invasões monárquicas.

 

vila verde.JPG

 

Poderão pensar que este post teria ficado bem na fotografia se tivesse sido publicado no passado dia 8 de julho, mas só hoje o fazemos e propositadamente, pois nos acontecimentos de 1912 ainda não havia televisão, nem computadores, nem telemóveis, nem satélites, nem outros meios para poder das notícias e imagens no próprio dia, na hora ou mesmo em direto. As notícias e imagens só chegaram à imprensa nacional nos dias seguintes, e a Ilustração Portugueza, semanário nacional da época, só deu as primeiras notícias e imagens dos acontecimentos no dia 15 de julho, na sua edição nº334 e nem sequer é notícia de primeira página, só lá pro meio da edição é que se fala das incursões monárquicas, e só no número seguinte, na sua edição nº335, de 22 de julho, é que aí sim, é notícia de primeira página e dedica quase a totalidade da edição às invasões monárquicas, com grande destaque e muita imagens dos acontecimentos de Chaves, duas edições que partilhamos hoje, aqui, na integra, com a mesma demora que então demoraram a sair a público, basta clicar nas imagens que ficam a seguir (capas da ilustração portugueza) para ter acesso a todo o documento/edições da Ilustração Portugueza  nº334 e nº335.

 

Clicar nas imagens para copiar os ficheiros:

capa 334.JPG

capa 335.JPG

 

 

22
Fev22

Chaves de Ontem - Chaves de Hoje

Um regresso ao ano de 1912


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Excursão do grupo «Pró Patria» a Chaves. A passagem dos excursionistas, com o povo, na ponte romana. (Fotografia do flaviense Nicolau Mesquita)

ontem-hoje

 

Nesta rubrica do Chaves de ontem e de hoje, vamos regressar no tempo,  um pouco mais de 100 anos, até 1912, em que a, e da, então Vila de Chaves era, e saíam, notícias para todo o país, através da revista nacional semanal “Ilustração Portugueza” em quase todas as suas edições a partir do 8 de julho de 1912, data em que os flavienses deram a machadada final nos resistentes da monarquia, aquando daquela que teria sido a sua última incursão em território nacional, data essa que ficou registada na História de Portugal e que acabou por ficar como o dia do nosso feriado municipal.

 

Ficam alguns momentos que a “Ilustração Portugueza”, o primeiro  da edição do dia 19 de agosto de 1912,  que sempre registava em fotografia. Momentos de celebração quer de agradecimento ao povo de Chaves, com a vinda/excursão a Chaves do grupo «Pró Patria» publicada no nº 339 da Ilustração Portugueza, Pág.255, na primeira foto deste post, quer de outros momentos que mencionaremos a seguir.

 

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Nesta  segunda foto, fica a receção de “OS HEROES DE CHAVES EM LISBOA” publicada no nº 340 da Ilustração Portugueza, do dia 26 de agosto de 1912, pág. 275 onde em legenda se pode ler:

 

1 – Ao meio o clarim A.d’Azevedo, aos lados os soldados Francisco António e Albino Adriano, rodeados por alguns dos sócios do grupo «Pró Patria».

2 – O clarim António d’Azevedo e o seu filho que avisou as forças fieis da aproximação dos realistas.

3 – O clarim António d’Azevedo e os soldados de Cavalaria 6 Albino Adriano e Francisco António em Lisboa, aclamados pelo povo (clichés Benoliel).

 

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Por último e no mesmo nº340 da revista, na página 284,  em “Figuras e Factos”,  uma curiosa notícia de um duelo em Chaves entre o capitão Filipe de Souza e o Dr. António Granjo, com a fotografia dos dois intervenientes,  onde em legenda se diz: “ 1 e 2 – Srs. Capitão Filipe de Sousza e o deputado Antonio Granjo, que, depois d’uma polemica d’imprensa ácêrca do combate de Chaves, se bateram em duelo n’esta vila, ficando ambos feridos.

 

 

08
Jul20

Crónicas Estrambólicas

Crónicas de um Primeiro-Ministro sobre o Barroso - 10


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Cornos do Barroso

estrambolicas

 

Crónica de um Primeiro-Ministro sobre Barroso 10

 

Mais uma crónica do antigo Primeiro-Ministro António Granjo, um ilustre flaviense. É a uma das 15 crónicas sobre Barroso publicadas no jornal A Capital em 1915. A crónica está escrita como foi publicada, no português da altura, incluindo gralhas tipográficas.

 

Como esta crónica é quase toda sobre o ataque do Paiva Couveiro a Chaves e tem pouco sobre Barroso, vou pedir ao Fernando que faça uma introdução sobre este tema[i]. Só faço o reparo seguinte. Esta batalha em Chaves foi ganha pelos de Chaves, sabendo-se que um dos cabecilhas era o Granjo. Reparem como o Granjo descreve a batalha mas nunca diz que esteve lá ou faz referência ao general do comando de Chaves. Não se vangloria de nada, deixa para os outros esse trabalho, como deve ser. É este tipo de pormenores que mostram a grande classe deste ilustre flaviense.

Luís de Boticas

 

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Serra do Gerês

 

AS LÁGRIMAS DE COUCEIRO

Onde chorou o paladino quando da incursão de 1912

 

Depois de ter desvendado as Alturas, face granítica que se offerecia sob o sol oleoso e para beijar a qual parecia que todas as grandes serras se comprimiam n'um circulo de grandes vagas immoveis, tinha de fazer o circuito de Barroso — transpor o Larouco, internar-me no chamado Alto Barroso, estabelecer contacto com o Gerez, admirar as fechas (cascatas) de Pitões e do Outeiro, passar pela Borralha, tocar na Roca da Ponteira e encher os olhos, cançar os olhos, da visão apocalíptica do Regabão visto da Lomba de S. Bento, quando o sol descambava e tudo se desfazia em luz.

 

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Cascata de Pitões das Júnias

 

O que vou contar vae porventura ser tido como o producto de uma  exhuberante phantasia de meridional ou d'uma paixão regionalista exagerada até à obsecação c à mentira. No entanto, a phantasia mais exaltada era incapaz de crear e dar forma a tanta coisa admirável.

 

Às cinco horas, n'este mez de Setembro, é noite. É pouco mais ou menos, eu sei, ahora de o lisboeta se deitar, perdidas as suas últimas ilusões; mas é a hora em que por cá se levanta quem tem alguma coisa que fazer. Pois às cinco horas estava organizada a caravana, e sob luz palpitante das estrelas, marchavamos pela ponte romana das Caldas, seguindo a antiga via militar de Aquae Flaviae a Bracara Augusta.

 

Nas Casas dos Montes começos a alvorecer, O castello de Monforte projectava-se no fundo purpura do nascente como uma espécie de viseira calada. A casaria do velho burgo flaviense emergia da sombra. Um clarim tocava à alvorada.

 

Em Valdanta, o sol abria já a sua corola d'oiro. Uma ténue neblina alongava-se por sobre o cio Tamega, esgarçando-se nos amieiros. As videiras, as hortas reverberavam.

 

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Amanhecer no alto de Soutelo com a veiga de Chaves de fundo

 

Paramos para comer o almoço frio, acima de Soutelo, no meio d'um lanço vial milagrosamente conservado das iras do tempo e das unhas dos homens. Os carvalhos ladeiam a via; a vinha cobre as encostadas; é na veiga, desde Soutelo de Valdanta, entre as batatas do tarde e os milhos, lavradores gritam aos bois, premindo o arado celta ou guiando pelos corregos o carro Romano.

 

Passa-sa a hora da sesta em Calvão, photographa-se um dolmen à entrada de Castellãos e avista-se Soutelinho da Raia, fim da primeira étape, ainda com sol.

 

O Larouco, para o norte, parece um phantastico saurio com a cauda rastejando pelas Limias e a enorme cabeça, o Larouquinho, solevantada, como uma ameaça, para Montalegre.

 

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Serra do Larouco vista desde Soutelinho da Raia

Foi à entrada de Soutelinho, à sombra prásaga dos castanheiros que rodeiam o cemitério, que Paiva Couceiro acampou no dia 7 de Julho de 1912 quando marcava, certo do triumpho, sobre Chaves, e foi onde, logo no dia seguinte, outra vez acampou, esmagado sob o peso da irremediável derrota. Um pouco à direita, fora das tapadas e do baldio onde os seus soldados rouquejavam as raivas dos vencidos ou curavam as feridas, fica o castanheiro debaixo do qual se diz que Paiva Couceiro se sentou depois da derrota e, com a cabeça escondida nas mãos, chorou o seu sonho perdido.

 

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Soutelinho da Raia

 

Reconstituo esses momentos. Paiva Couceiro tinha entrado por Sendim e seguido a estrada velha, por Gralhas e Solveira acampára depois do meio dia em Soutelinho. O sol ostentava pelos outeiros o seu manto de glória; do céu cahiam bençãos; as cotovias elevavam-se no ar translúcido entoando os seus himnos triumphaes; os carvalhos pendiam para as bordas dos caminhos, offerecendo-se os combatentes. Pouco depois de ter acampado, Couceiro recebia a notícia de que se organisára em Chaves a columna mixta, composta das melhores forças da guarnição, de quasi todos os cavallos e toda a artilharia, a fim de marchar sobre Sapiães com o objectivo de impedir a junção das suas forças com as duas centenas de labregos que se haviam levantado em Cabeceiras às ordens do Padre Domingos. Couceiro devia ter sorrido, os seus olhos deviam-se ter iluminado da fé viva no Triumpho: O seu como esguio devia já sentir-se levado nas azas da victória.

 

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Ao fundo, Sendim por onde Paiva Couceiro entrou com as suas tropas, vindos da Galiza

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Planalto da Serra do Larouco que Paiva Couceiro teve de percorrer para chegar a Chaves com as suas tropas, passando por Gralhas, Solveira e Soutelinho. Ao fundo, lado esquerdo, avista-se a Serra do Brunheiro.

 

O acampamento Ievantou-se e a marcha começou, sem o regular serviço de segurança. Para quê? Chaves ia cahir de madura. Era um fructo delicioso que estava apenas à espera dos seus dentes. Pelo caminho, os soldados cantavam. As grevas de panno, as amas em bandoleira, davam-lhes um cento aspecto de salteadores. Alguns antegosavam a entrada triumphal na antiga praça forte, maquinavam a sua vingançasinha, delíciavam-se porventura na ideia do saque.

 

De madrugada chegaram ao alcance de Chaves sem encontrarem uma patrulha. Os primeiros soldados da República que os monarchistas encontram são os da carreira de tiro que o commando havia esquecido e deixado entregues à sua sorte. O cabo que commanda esses soldados, surpreendido, arma-se e apparece no cimo do Espaldão. Na guarda avançada vinham alguns desertores da infantaria 19. Estes chamam-n'o pelo nome, cumprimentam-n'o riem-se. E é esse cabo, sósinho, que do Espaldão começa o fogo.

 

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Espaldão  - Chaves, onde começou o combate do 8 de julho de 1912 entre os republicanos de Chaves e os realistas de Couceiro.

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António Granjo, ao centro na imagem (Clicar na imagem para ver post do Blog  Chaves Antiga relacionado com a mesma)

 

Fazem-se os preparativos do assalto, as flechas couceiristas chegam quase às muralhas. A companhia do capitão Tito Barreira faz refluir a onda, o combate trava-se.

 

Paiva Couceiro olha fixamente um ponto. Os solados perguntam uns aos outros, inquietos, porque não apparece a bandeira branca. A resistência prolonga-se e sobre o ponto fixo que Couceiro olha cruzam-se as balas. Mas então Chaves não se rende'? Então vieram mette-los n'um matadouro? No hospital de sangue os feridos accumulam-se; os moribundos contorcem-se pelas terras centeeiras; os mortos levantam para o ceu os olhos parados n’uma supplica derradeira e suprema.

 

A tropa fandanga encolhe-se atraz dos pinheiraes das paredes, das penedias. Paiva Couceiro olha ainda o ponto fixo, mas o seu rosto contrahido, os seus olhos apagados, denunciam a sua agonia.

 

O official de antilharia, que dirige o fogo das duas peças, e a quem a derrota já certa enlouquece, manifesta o propósito de despejar sobre a villa um montão de granadas incendiárias. Couceiro oppõe-se. Conta-se, mesmo, que para pedir a realização de tal propósito, atirou com o cavalo para frente das peças.

 

Estava tudo perdido. Paiva Couceiro ordena a retirada.

 

1600-couceiro.jpg

Gravura/Postal retratando a retirada de Couceiro

A retirada faz-se tranquilamente. Couceiro não se pode queixar da perseguição das tropas republicanas. E à noite, sob as mesmas árvores presagas, ouvindo o gemer dos feridos, as coleras da turba-multa vencida, Paiva Couceiro procura aquele sítio ermo, em que possa chorar todas as suas illusões desfeitas em poeira e sangue. Ali, se terá revoltado silenciosamente contra os cúmplices que faltaram, contra a cobardia d'aquelles que o cercaram de incitações e de promessas e que ficaram detraz das janellas a verem deslizar o curso dos acontecimentos.

 

Acaso, n'esse instante, Couceiro perguntaria a si próprio se, em vez do paladino nun'alvaresco que queria ser, não estaria apenas desempenhando papel de cavalleiro da triste figura; e acaso, vendo passar junto dos seus pés a fronteira hespanhola, perguntaria a si próprio se não estava sendo instrumento da ambição castelhana e se promovendo a desordem na sua Pátria a História lhe não applicaria na face o ferrete de traidor...

 

Antonio Granjo

 

 

 

[i] - Nota do Blog Chaves: O post anterior, "Cidade de Chaves - Feriado Municipal - O 8 de Julho e António Granjo", serve para a  introdução solicitada pelo Luís.

 

 

 

 

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