Intermitências
O Arquipélago
Existe uma ilha onde devo chegar, mas desconheço-lhe o paradeiro. Sei da sua existência, mas nunca ninguém lá esteve para me indicar a direcção que devo seguir para encontrá-la. Desde que desconfio que ela seja o meu lugar neste mundo, procuro incessantemente o caminho para lá chegar.
Por enquanto, continuo a percorrer o arquipélago. Navego sem fim à vista, enfrento tempestades, sigo rotas erradas, por vezes naufrago e devo reconstruir outro barco, mas sei que não posso abandonar esta viagem e regressar ao porto seguro. À chegada, está o meu destino e a minha razão de ser.
Ilha Terceira, Açores, Janeiro 2016 - Foto de Sandra Pereira
Esta ilha está dentro de mim mesmo. Esta ilha sou eu. Esse território é um mundo, o meu mundo, aquele onde sou. Alguns chegaram muito longe nas suas explorações, muitos ficaram às suas portas, a maioria desconhece que existe um território assim. Eu vagueio pelo arquipélago, sulcando cada onda com paciência. Em cada naufrágio, a minha fé é a minha única tábua de salvação. Desconheço o paradeiro da ilha onde devo chegar, nem sei se algum dia a alcançarei, mas já ter chegado a este arquipélago é a minha bonança.
Sandra Pereira