Chá de Urze com Flores de Torga - 13
TORGA VISTO POR ISOLINO VAZ E CARLOS CARRANCA
O retrato a carvão de Miguel torga, acima reproduzido, encontra-se em exposição na Casa Museu Miguel Torga, residência do poeta em Coimbra, na parede que, por si, lhe havia destinado. Ali permanece há mais de quarenta anos, mais precisamente, desde 1961. Está logo á entrada da casa, do nosso lado direito.
O seu autor é Isolino Vaz que, nos anos 60, o retratou.
Eis o que Carlos Carranca, autor da obra «Casticismo em Unamuno e Torga», da Editorial Minerva Coimbra, 2012, diz a propósito deste retrato, no final do trabalho que serviu de tese do seu doutoramento:
“(...) o dos olhos incisivos, perscrutadores, capazes de alcançar a nossa alma. O da boina basca enterrada até às orelhas, ligeiramente puxada para a sua direita; o do nariz aquilino, semelhante às águias da sua terra do Marão; o da cara angulosa como a paisagem que o viu nascer. Desse homem vestido de casaco e sem gravata, calçado com chancas transmontanas, sentado sobre uma rocha, também ela esquinada, onde, por detrás, limitando o horizonte como um destino, se vê o mar universal. Nas mãos ossudas, fortes pousadas sobre os joelhos, completa-se a imagem.
É o retrato de alguém que soube permanecer fiel às suas origens rurais, eterno cavador de espírito, castiço por fora e por dentro, nunca renegando as suas origens sociais, geográficas e cívicas, ampliando essas raízes ao extremo da Ibéria, no simbólico uso da boina basca da pátria pequena de Unamuno.
Não encontramos registo mais fiel ao ser de Torga do que este de Isolino Vaz. Nele, nada foge à verdade. Os olhos que nos invadem são o de alguém habituado a descer ao fundo na procura da essência de cada homem, da sua própria intra-história. Aquelas mãos são as do trabalho de quem vive a pegar na rabiça da caneta. As botas são as de quem palmilhou montes e vales, fiel ao seu destino de artista, cumprindo-o na condição de homem de verdade”.
António de Souza e Silva