Pedra de Toque - Filhós de Jerimum
Filhós de Jerimum
Têm o sabor do Natal, a cor das achas crepitando na lareira, a doçura da família reunida.
Julgo que são iguaria transmontana.
Noutras províncias desconhecem-lhe o sabor delicioso cuja origem assenta na abóbora amarela, amassada com outros condimentos, pelas mãos fadadas das nossas cozinheiras.
A minha mãe primava em fazê-las como ninguém.
No último ano, antes de nos deixar, como todos os anos, colocou-mas no prato e açucarou-as.
Diga-se ainda, que ninguém cuidava meu prato, quando vazio, como Ela.
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Vai ser mais uma noite de Natal com minha mãe fisicamente ausente.
A saudade morderá no centro do peito.
Esbaguará no canto dos olhos, quiçá.
No dia 24, no entanto, do país frio e branco onde se encontra, com muita ternura nas palavras, vai como sempre telefonar directamente para os meus sentimentos e dizer-me:
- “Meu filho, estou em paz. O meu pensamento está contigo, com os teus irmãos, com toda a nossa família.
Nesta noite não te magoes, ougando.
Em minha memória, come filhós de jerimum. O teu prazer torna o meu repouso mais feliz”.
Quero sempre, comovido, agradecer-lhe, mas a chamada, inevitavelmente, acaba sempre por cair…
António Roque