Professor José Henrique - “Reconhecer o Génio de Nadir Afonso – Diálogo(s) Sobre a Obra”
Eu sei que hoje deveria trazer aqui um pouco da Feira dos Santos do dia 30 de outubro, mas ontem, nem todos os caminhos se dirigiam à feira. Assim, optei por outro caminho que me levou até ao Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, onde Nuno Dias ia fazer o lançamento do livro “Reconhecer o Génio de Nadir Afonso – Diálogo(s) Sobre a Obra” , e a opção deste caminho foi pela autoria dos diálogos serem de José Henrique e fui lá em jeito de homenagem a esse autor que um dia, felizmente, se atravessou no meu caminho como professor de português no Liceu de Chaves.
Eu sei que nestas coisas há sempre quem apareça porque é “politicamente correto” aparecer, porque parece bem… principalmente para quem quer fazer nome na praça intelectual, mas acredito que a maioria dos que lá estiveram presentes, estiveram lá em jeito de homenagem, porque conheceram o Professor José Henrique. Não é que eu seja um prosador, mas na minha modesta e sincera prosa, com aquela que sei e à qual às vezes, despretensiosamente, recorro, gosto de reconhecer e agradecer àqueles a quem estou reconhecido e agradecido. Para o provar deixo-vos aqui as referências que este blog fez ao Professor José Henrique:
Quinta-feira, 19 de Janeiro de 2012
Duas imagens e um poema
No meu percurso estudantil tive a sorte de ter um professor que me despertou para a poesia. Nunca até então tinha lido verdadeiramente um poema. Até aí a poesia era uma sucessão de palavras com algum sentido, outras vezes sem sentido nenhum e que tanto rimavam, como não, onde se brincava com as palavras que se apresentavam sempre de uma forma esguia que saíam fora do formato normal de um texto de prosa. Com esse professor aprendi que a poesia não deveria ser olhada e muito menos lida com essa leviandade. Com ele, aprendi que a poesia é a verdadeira arte da palavra e do dizer, que pode até ter o poder e mais força que a de um verdadeiro exército, ou, como diria o José Carlos Ari dos Santos – a palavra é uma arma – e eu até aí não sabia.
Gosto sempre de deixar os créditos das fontes, dos despertares e daqueles que verdadeiramente me ensinaram. O professor a que me refiro chamava-se José Henrique e tenho-o como uma referência do Liceu de Chaves.
Tudo isto a respeito das duas imagens de hoje, que são a mesma, mas não o são. Numa há a tal poesia colorida, cheia de música e rima que encanta pela forma e pela luz doirada. É um cliché feito com um olhar leviano sobre um entardecer, apenas isso, mas, se apurarmos o olhar veremos que há muito mais que entardeceres doirados, que há muitas imagens, sentimentos e até um porto de partida ou chegada onde alguém espera ou se despede de um momento que nunca mais irá acontecer.
Mais tarde, a propósito da Linha do Corgo, a Associação de Fotografia Lumbudus publicou um livro onde contribuímos com um texto que trouxemos ao blog em:
Terça-feira, de de fevereiro de 2016
(…)
a Linha do Corgo, da Régua a Chaves, depois da regueifa e dos rebuçados de açúcar torrado, era feita na varanda do comboio, mas há uma viagem, a última, que nunca mais esquecerei, não por saber que era a última, pois não sabia então que passado pouco tempo, traiçoeira e irrefletidamente a linha iria ser encerrada, mas porque nessa viagem tive uma companhia inesperada à varanda, uma companhia que a família (mulher e filhos) tinha deixado na estação da Régua para apanhar o comboio para Chaves, uma companhia que eu há anos já admirava e da qual tinha saudades, sobretudo da sua sabedoria, do seu amor à poesia e do seu conversar. Era o meu antigo professor de português do Liceu, o Dr. José Henriques, que ainda antes do 25 de abril de 74, através da poesia e dentro das quatro paredes da sala de aulas nos falava da liberdade. Foi a minha última viagem na Linha do Corgo e a última conversa com o meu antigo professor, espaçada de silêncios, explicados pelo êxtase da apreciação da paisagem ou pela apanha e descarga de passageiros nas estações e apeadeiros.
(…)
Fica agora a notícia do lançamento do livro “Reconhecer o Génio de Nadir Afonso – Diálogo(s) Sobre a Obra”, apenas isso, pois ainda não o lemos, mas pela certa que futuramente teremos oportunidade de trazer aqui algumas coisas deste livro.