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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

25
Jan18

Cidade de Chaves e um biquinho de montanha


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Todos os dias vejo esta imagem, ou quase sempre, pois há dias em que as neblinas não deixam ver o que está em segundo plano, muito menos o que vai para além disso, e, claro, que em dias de nevoeiro nada disto se consegue ver. Mas, em geral, consegue-se ver tudo isto, mas sem ver, olhamos apenas para a “tela” mas não reparamos nos pormenores. Há anos que lanço olhares a este motivo, vi o casino a nascer e crescer até parar. Há anos a lançar olhares e só agora, na foto, é que reparei que lá ao fundo, nas montanhas, lá no cimo,  aparece um biquinho de montanha, e não é uma qualquer, pois trata-se da segunda serra mais alta de Portugal Continental, a Serra do Larouco, mas o meu espanto vai para andar há anos a vê-la, e nunca a ter visto.

 

 

 

15
Jan18

De regresso à cidade com um dia que já vivi...


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Cai a noite, fria,  como sempre nestes dias de inverno. A lareira dá algum conforto enquanto o lume dura, mas é na cama, com o sono, que o corpo se conforta, sono que tal como a lareira, dura enquanto dura. Depois vem de novo o dia, é segunda-feira, dia de fazer o regresso à cidade, lá fora o frio é gelado e com o nevoeiro que invade todo o vale durante a noite, o frio ignora a roupa do corpo e entra-nos nos ossos. Como todas as segundas-feiras é tempo de regressar à cidade, hoje, porque é segunda-feira, não vai ser exceção, mergulhada no nevoeiro, a cidade vai lá estar, escondida, sem céu para ver, sem sol para receber, apenas a sua luz o consegue atravessar, mas chega à cidade muito atenuada, mais cinzenta que branca, mergulhada no nevoeiro a cidade é como se não existisse,  mas o regresso à cidade tem de ser feito, como sempre, todas as segundas-feiras, mas hoje, regresso à cidade com um dia que já vivi, atravesso o vale, subo a encosta da montanha e deixo a cidade para trás, mergulhada no nevoeiro, chegado lá cima, quase no alto da montanha, viro-me para trás, e lá está ele, um mar de nevoeiro, e sim senhor, confirmo, a cidade não existe, apenas um mar de nevoeiro que dá à costa nas montanhas mais altas, por cima o céu e o sol, mesmo que meio encoberto por uma nuvem passageira, está lá, nota-se, sente-se…

 

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Tomada a liberdade de transgredir na rotina dos dias, subo e desço as encostas das montanhas e tal como dizia o pastor, as montanhas nunca acabam, a seguir a uma montanha há sempre outra montanha. Sigo para a mais alta, lá na croa confirma-se, há montanhas e mais montanhas,  mas ao fundo, há uma que é mais alta, nota-se pela brancura da neve que a cobre. A criança que vive sempre dentro de nós,  leva-me até ela, subo e desço novas montanhas, mais baixas, sempre com a brancura da mais alta no horizonte, é ela que me guia até estar debaixo dos meus pés. Está frio, mas aqui não atravessa a roupa do corpo. Sente-se apenas no rosto e nas mãos o que faz com que o calor do corpo saiba bem. Queria subir lá cima, pois queria, mas não pude, e também de nada serviria, o dia já estava e entrar em final de tarde, a neve estava gelada e  com o aproximar da noite as nuvem desciam sobre a montanha passando ao estado de nevoeiro, e não tinha sido para isso que eu tinha ido até lá.

 

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A meio da montanha, desço de novo até aos pequenos vales que a rodeiam, alguns com alguma  neve, outros nem tanto, mas de neve já chegava e a nossa criança já estava satisfeita e o abrigo do popó agradecia-se e dava para recompor o conforto nas faces e nas mãos. Indiferentes,  a nós e ao frio,  pareciam estar os animais nas pastagem. Despidos como sempre, sem abrigos para os proteger, mas com a aproximação, deixámos de ser indiferentes, com o frio deve ser o mesmo, mas em dia de transgressão, não estava muito virado para filosofar sobre o assunto e tirar ou chegar a conclusões… além do mais a noite aproximava-se e era tempo de regressar.

 

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Tempo de regressar para de novo esperar pelo cair a noite, fria,  como sempre nestes dias de inverno. A lareira, em casa,  dar-nos-á algum conforto enquanto o lume durar, mas vai ser na cama, com o sono, que o corpo se vai confortar, sono que tal como a lareira, vai durar enquanto durar. Depois vem de novo o dia, já será terça-feira, dia de regressar de novo à cidade, lá fora o frio vai estar gelado e com o nevoeiro que invade todo o vale durante a noite, o frio irá ignorar a roupa do corpo e entrar-nos-á nos ossos. Como todas as terças-feiras é tempo de regressar mais uma vez à cidade, e amanhã, porque é terça-feira, não vai ser exceção, pela certa irá estar mergulhada em nevoeiro, a cidade vai lá estar, escondida, sem céu para se ver, sem sol para se receber, apenas a sua luz o conseguirá atravessar, mas chegará à cidade muito atenuada, mais cinzenta que branca, mergulhada no nevoeiro a cidade vai ser como se não existisse,  mas o regresso à cidade terá de ser feito, como sempre, em todas as terças-feiras, mas amanhã, vou ficar lá… a liberdade também tem limites.

 

E com esta me bou!

 

 

04
Jun17

Barroso e Larouco


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Hoje ainda vamos ter por aqui a habitual rubrica dos domingos de “O Barroso aqui tão perto” com mais uma aldeia do Barroso de Montalegre.  As imagens já foram selecionadas, mas ainda falta o texto, assim, só lá para o final da noite é que aqui estará, mas não só, pois hoje também temos uma missão a cumprir em terras barrosãs. Para já fica mais uma imagem do Barroso tendo de fundo a Serra do Larouco, imagem captada desde a aldeia que hoje teremos aqui.

 

Até logo.

 

 

27
Nov16

O Barroso aqui tão perto... Com neve


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Serra do Larouco com a aldeia de Gralhas nas suas faldas

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Hoje temos neve fresquinha, de ontem, que daqui tão perto só poderia ser do Barroso. Não tanta como há dois dias (sexta-feira), pois a chuva apagou-a das cotas mais baixas, mas não com força suficiente para a apagar da Serra do Larouco e das aldeias mais altas, como Padornelos e Sendim.

 

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 Serra do Larouco

 

Deveríamos ter ido  pela manhã, mas não deu, assim ficou para a tarde e mal chegámos a Soutelinho da Raia, de onde se começa a avistar o Larouco, deu logo para ver qual era o nosso destino, se tal fosse possível, pois as notícias cá em casa recebidas pela televisão, eram as de que o Larouco estava fechado ao trânsito, mas mesmo assim arriscamos a ida.

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Serra do Larouco

 

Pelo caminho deu ainda para mais uma vez apreciar a aldeia de Gralhas vista desde a estrada, com o Larouco a servir-lhe de fundo, que na hora apenas deixava ver as partes mais baixas.

 

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Padornelos

E lá fomos, pelo menos tínhamos a garantia de que até Padornelos iriamos conseguir chegar, e chegámos. Dada que a estrada ainda não era aí interrompida, continuámos por ela acima, até onde pudéssemos ir.

 

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 Padornelos

 

Mas tal como se adivinhava desde Gralhas, o Larouco a partir do meio estava encoberto de névoa cerrada, pelo que decidimos aproveitar o pouco que restava de luz para a aldeia de Padornelos e um pouco mais se pudesse ser.

 

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 Padornelos

Em Padornelos repetimos alguns motivos que tínhamos tomado nas últimas visitas e que até já deixámos aqui no seu post, mas as imagens de hoje são a versão de Padornelos com neve, e aí sim, era também novidade para nós.

 

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 Padornelos

 

Gente na rua havia alguma, pouca, pois embora até nem estivesse muito frio, acredito que à lareira se estaria bem melhor, mas mesmo assim ainda tivemos oportunidade de retribuir o cumprimento a quem nos recebia, e que mesmo descalços nas suas quatro patas, não aparentavam terem frio.

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 Padornelos

 

Não nos quisemos demorar por lá, pois a tarde já ia adiantada, o céu estava cerrado e a luz começava a escassear, pelo menos para a fotografia e ainda tínhamos em mente Sendim. E foi para lá que nos dirigimos.

 

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 Padornelos

 

Chegados ao desvio para Sendim, optámos por ir até à fronteira com a Galiza como quem vai ver se os marcos estão no sítio, e estavam, bem como a receção à Galiza onde a tradicional placa azul rodeada das estrelas da União Europeia colocadas na fronteira entre estados, em vez de anunciar Espanha, anuncia Galiza.

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 Padornelos

Não chegámos a entrar na Galiza pois antes, nas proximidades de Sendim,  tínhamos visto cavalos na sua liberdade possível, que pela certa davam um bom motivo para fotografar e deram, embora a luz aí já estivesse mesmo na hora da despedida, obrigando-nos já a elevar os ISOS e as aberturas da câmara, ainda para mais com a brancura da neve a enganar os fotómetros.

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Mas mesmo assim ainda não seria a nossa última imagem do dia, pois ainda tínhamos de fotografar a vista geral de Padornelos com o Larouco de fundo.

 

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E já sem luz fiável ainda deu para mais duas imagens. Uma já no regresso a Chaves, antes de Solveira, com uma vista para o Larouco, que continuava semi-coberto de névoa ou nuvens baixas, que lá em cima é a mesma coisa, e por último um entardecer que nos chamou a atenção, esta já em Meixide e que acabou por seu a última imagem do dia, com a cereja em cima do bolo.

 

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E como de costume ficam os Links para anteriores abordagens do Blog Chaves a localidades e temas do Barroso, hoje sem bibliografia para mencionar, pois não foi necessária:

 

A Água - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-a-agua-1371257

Amiar - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-amiar-1395724

Cepeda - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-cepeda-1406958

Donões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-donoes-1446125

Fervidelas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-fervidelas-1429294

Fiães do Rio - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-fiaes-do-1432619

Frades do Rio - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-frades-do-1440288

Gralhas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-gralhas-1374100

Lapela   - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-lapela-1435209

Meixedo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-meixedo-1377262

O colorido selvagem da primavera http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-o-colorido-1390557

Olhando para e desde o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-olhando-1426886

Padornelos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padornelos-1381152

Padroso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padroso-1384428

Paio Afonso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-paio-afonso-1451464

Parafita: http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-parafita-1443308

Paredes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-paredes-1448799

Pedrário - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-pedrario-1398344

Pomar da Rainha - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-pomar-da-1415405

São Ane - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sao-ane-1461677

Sendim -  http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sendim-1387765

Solveira - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-solveira-1364977

Stº André - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sto-andre-1368302

Tabuadela - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-tabuadela-1424376

Telhado - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-telhado-1403979

Travassos da Chã - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-travassos-1418417

Um olhar sobre o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/2016/06/19/

Vilar de Perdizes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1360900

Vilar de Perdizes /Padre Fontes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1358489

Vilarinho de Negrões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilarinho-1393643

São Pedro - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sao-pedro-1411974

Sendim -  http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sendim-1387765

Solveira - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-solveira-1364977

Stº André - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sto-andre-1368302

Vilar de Perdizes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1360900

Vilar de Perdizes /Padre Fontes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1358489

Vilarinho de Negrões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilarinho-1393643

Xertelo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-xertelo-1458784

01
Mai16

O Barroso aqui tão perto... Padornelos


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Como já vem sendo hábito nos últimos fins de semana, aos domingos damos uma voltinha pelo Barroso, que está aqui tão perto. Começámos a nossa incursão barrosã a partir do concelho de Chaves em direção a Montalegre, via Vilar de Perdizes. Já por aqui passaram Meixide, Vilar de Perdizes, Solveira, Stº André Gralhas e Meixedo, curiosamente todas aldeias das proximidades da raia que faz fronteira com a Galiza mas também todas elas da proximidade da Serra do Larouco. Exceção para Meixide que embora próxima da raia já fica mais distante do Larouco e exceção também na abordagem que fizemos à aldeia, pois foi muito breve, pelo que fica a promessa de uma abordagem a sério, mas ainda não será hoje.

 

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Hoje vamos continuar com a metodologia que aplicámos até aqui, com aldeias da raia e das proximidades da Serra do Larouco ou mesmo já em pleno Larouco, como é o caso da nossa aldeia de hoje que dá pelo nome de Padornelos. A única exceção é que deixámos de nos dirige a Montalegre para tomar a direção contrária.

 

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Padornelos já é uma antiga conhecida nossa. Sempre foi um nome sonante e muito badalado, começando logo em casa dos meus pais, a quem a minha mãe se referia amiúde e o meu aproveitava sempre para nos dizer que era a terra do romance “Terra Fria” de Ferreira de Castro. Mas não só, pois nos meus tempos de liceu apareceu por lá um puto castiço da minha idade, muito extrovertido e que vestia com orgulho o ser barrosão e que por coincidência tínhamos amigos de Montalegre em comum. De nome Afonso, tinha uma especial sensibilidade para as coisas da arte – pintura e escultura – com a particularidade de recorrer a materiais naturais, como tintas extraídas da cor das flores ou objetos/esculturas feitos a partir de raízes de urze e outros arbustos ou arvores, entre outros.

 

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Ao Afonso tinha-o encontrado pela última vez há coisa de vinte e tal anos com uma tenda na feira de artesanato que então se fazia no Jardim Público de Chaves. Cada vez que passava nas proximidades ou por Padornelos lembrava-me dele e perguntava sempre – que será feito do Afonso de Padornelos. Das últimas vezes que fui por lá em recolha de imagens, resolvi perguntar por ele. Pois que sim, que vivia lá com os pais, mas que ainda devia estar a dormir. Artistas! E a um artista nunca se incomoda o seu descanso. Contudo da última vez que lá estivemos, perguntámos mais uma vez por ele. Por coincidência quase em frente à casa dele. Eram 16 horas e a resposta foi a mesma – ainda deve estar a dormir, mas eu ligo-lhe a ver se atende – e atendeu e logo apareceu. Que ficara ali pela aldeia, agora com a mãe viúva e lá ia fazendo as suas coisas (esculturas). Coisas e Afonso que um dia traremos, com mais tempo, a solo, pois sou um dos fãs da sua arte.

 

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E se sou fã da arte do Afonso também o sou de Ferreira de Castro. Quis a sorte que nos meus tempos de liceu, numa fase poética, me tivesse dado para escrever umas coisas. Escrevi e um dia calhou ganhar o Prémio Ferreira de Castro, que, para além da medalha e do certificado, me ofereceu a obra completa de Ferreira de Castro. Não tardei muito e começar a lê-la.

 

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Claro que comecei pelo tão badalado romance “Terra Fria”. Além do próprio romance é impressionante como Ferreira de Castro nos faz sentir a própria aldeia onde a ação se passa, Padornelos, ao fazer-nos sentir a dura realidade da sua vida. Recordemos que o romance foi publicado em 1934 em que Ferreira de Castro observou in loco as aldeias barrosas, e em particular Padornelos, traçando-nos um retrato da vida do povo, evidenciando o sofrimento, a luta quotidiana e o modo de vida quase medieval que se fazia sentir nos inícios dos anos 30 do século passado.

 

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A aldeia de hoje já nada tem a ver com o Padornelos dos anos 30 do século passado. Alguns vestígios do que poderia ter sido, apena isso, do cenário atual já não há Leonardos  a lutar dia a dia pelo sustento da sua família. Ele a mulher, ainda sem filhos, procura em trabalhos esporádicos e principalmente no contrabando, ganhar algum dinheiro enquanto sonha para se estabelecer por conta própria com uma venda. É neste contexto que Ferreira de Castro nos descreve a atividade do contrabando, que então era o pão nosso de cada dia de contrabandistas a calcorrear o Larouco e Guardas-fiscais atrás ou à espera deles. Mas Ferreira de Castro vai mais longe. De volta a Padornelos um homem que havia estado emigrado nos Estados Unidos, o «americano» como ficam apelidados todos os que regressavam de terras americanas. Depressa começa a mostrar a sua riqueza que o leva a ser considerado um dos homens mais importantes e influentes da aldeia e é ele que dá origem ao drama que irá assolar a aldeia.

 

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“Terra Fria” é um romance que nos faz sentir uma constante solidão. Somos assaltados por imagens de uma terra desoladora, fria, onde a pobreza é a única condição conhecida e onde o rico julga ter todo o poder sobre o pobre que faz sentir em nós um sentimento de revolta. Ferreira de Castro para além de evidenciar a pobreza do Portugal profundo, neste caso o do Barroso, lança aqui uma crítica feroz ao abuso de poder do regime caracterizado no «americano» e na sua forma de agir.  Romance “Terra Fria” que passou a fita de cinema com um filme realizado por António de Campos em 1995 e protagonizado por atrizes como Alexandra Lencastre, Ana Bustorff  e Alexandra Leite, entre outra(o)s. Para quem gosta do Barroso, há dois livros que eu recomendo como de leitura obrigatória. Um é precisamente este,  “Terra Fria” de Ferreira de Castro. O outro, é do há pouco falecido Bento da Cruz, “O Lobo Guerrilheiro” . Diferentes, mas ambos muito reais quanto à vida do Barroso do século passado. Aliás as estórias que dão origem ao “Lobo Guerrilheiro” são todas elas estória reais do Barroso, e sei-o, porque antes de chegarem a livro, já eu as conhecia por serem contadas nos serões à lareira de casa dos meus pais.

 

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Mas vamos a Padornelos de hoje, sem Leonardos (que eu saiba), sem contrabandistas, sem guarda-fiscal mas com o Larouco sempre presente e com uma vida muito mais fácil que nos tempos do romance, mas ainda com o rigor dos frios ingratos de inverno, que embora os barrosões estejam habituados a ele, não deixa de ser frio, mesmo o da neve que para muitos é uma atração, para Padornelos é uma realidade que obriga os seus habitantes ao recolhimento forçado.

 

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Na página oficial na NET do Município de Montalegre, sobre Padornelos pode-se ler:

“É a referência lógica à terra fria barrosã, desde os tempos de Camilo, muito antes de Ferreira de Castro! Mas Padornelos goza de outras referências bem mais importantes (ou devia gozá-las)! Importa recordar que lhe foi concedido um foral autêntico, por D. Sancho I e confirmado, a 5 de Outubro de 1266, por D. Afonso III. Foi ‘’conselho sobre si’’, isto é, gozava dos privilégios que aos grémios municipais se concediam: “Os homens de Padornelos devem meter juiz e serviçal e mordomo e clérigo” E assim, por este documento que substituía o de Sancho I, se conferia existência jurídica ao rudimentar concelho, com magistraturas próprias. Dessas glórias antigas (foi depois uma das honras fronteiriças de Barroso) sobeja ainda o facto de ter direito a capitão residente para poder arregimentar homens, dos 18 aos 60, para a defesa nacional, sempre que Portugal fosse acossado.”

 

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Por sua vez no Arquivo Distrital de Vila Real sobre Padornelos pode-se retirar a seguinte informação:

“A freguesia de Padornelos esteve anexa à freguesia de Santa Maria de Montalegre, tornando-se depois reitoria independente.

Foi-lhe concedido foral por D. Afonso III, a 5 de Outubro de 1205.

Em 1839 surge na comarca de Chaves e, em 1852, na de Montalegre.

Freguesia do concelho de Montalegre composta pelos lugares de Padornelos e Sandim.

A paróquia de Padornelos pertence ao arciprestado de Montalegre e à diocese de Vila Real, desde 22 de Abril de 1922. O seu orago é Santa Maria.”

 

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Ora cá estão mais uma vez as contradições da História. Neste caso não é que seja importante, pois o essencial é historiado corretamente, que no caso é o foral que foi concedido a Padornelos.  Noutros casos a coisa é bem mais séria e altera a realidade dos acontecimentos. Mas para apoiar aquilo que eu digo, reparem que no sítio oficial na NET do Município de Montalegre se diz que o foral foi concedido por D. Sancho I e confirmado a 5 de Outubro por D. Afonso III, enquanto no Arquivo Distrital diz que o foral foi concedido por D. Afonso III, no mesmo dia 5 de Outubro, mas 61 anos antes, em 1205. Isto foi um pequeno aparte só para reforçar que nem tudo que está reproduzido na história está correto, e vem-me sempre à lembrança daquilo que a história diz sobre o Silveira e o Pizarro nas Segundas Invasões Francesas em Chaves.

 

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Por muita palavra que aqui se deixe sobre os locais que visitámos, a realidade, o viver estes locais ao vivo é outra coisa. As palavras têm a força que têm e as imagens, idem, aspas, mas ainda não há palavras nem imagens para fazer sentir os sons , os aromas e o tempero do ar a deslizar  nas nossas faces, principalmente estando na terra fria onde o ar é sempre diferente.

 

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E como o post já vai longo vamos ficar por aqui, para já, pois será sempre com gosto que regressaremos a Padornelos, não só pelo cozido à portuguesam, que isso é outra história, mas pelo ambiente, pela Serra do Larouco, pelo forno do povo, a igreja, a capela, a caso do sino ou do boi, pelo casario típico que ainda mantém a sua integridade e pela tais coisas que as palavras e a imagem das fotografias não conseguem transmitir e também para revisitar os amigos como o Afonso de Padornelos e a sua arte.

 

Como  de costume ficam os sítios da net consultados para recolha de informação:   

http://digitarq.advrl.dgarq.gov.pt/details?id=1066822

http://www.cm-montalegre.pt/

http://www.jfmeixedo.com/

 

Anteriores abordagens deste blog a aldeias ou temas do Barroso:

A Água - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-a-agua-1371257

Gralhas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-gralhas-1374100

Meixedo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-meixedo-1377262

Solveira - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-solveira-1364977

Stº André - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sto-andre-1368302

Vilar de Perdizes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1360900

Vilar de Perdizes /Padre Fontes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1358489

 

 

01
Out15

Discursos (emigrantes) sobre a cidade


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Crónica do reencontro

 

A nossa terra é sempre um ponto de encontro para partilhar momentos felizes ou tristes. É aqui que os grandes momentos, os acontecimentos que nos marcam verdadeiramente nesta vida vão sempre dar. As raízes! Sempre voltamos a elas.

 

E é tão bom podermos partilhar esses momentos, tanto os felizes como os tristes, com as pessoas que melhor nos conhecem, saber que, nestes momentos, temos alguém que se alegra connosco ou nos limpa as lágrimas com reconforto. Tão bom sentirmos a necessidade de regressar quando estamos longe para partilhar esses momentos com as pessoas e os lugares que sempre fizeram parte da nossa vida. Podermos aí sermos realmente quem somos e sentir-nos completos.

 

O emigrante que regressa num relâmpago à terra, regressa inteiro e de coração. Dá e recebe uma alegria genuína. Transforma o momento e o sentimento do reencontro em algo grande, belo, extraordinário e inesquecível. Saboreia cada momento, cada minuto, cada lugar, pois sabe que tem partida marcada, sabe que será um momento único e irrepetível durante muito tempo. A saudade – e a “matança” da mesma – é uma das coisas mais bonitas do mundo. Intensifica a vida e os sentimentos.

Larouco.JPG

 Serra do Larouco

Quando não vive na terra, ele sente-a tanto como quem lá vive. Lá fora, o emigrante fala dela e dá-a a conhecer a todos os que não a conhecem. Trata-a com tanto valor, admiração, amor e respeito, que todos sentem vontade de conhecer esse “Portugal” para além da típica visita turística de postal a Lisboa. E, a determinado momento, eles trazem à terra pessoas de terras longínquas e culturas bem diferentes, com novos olhares, que de outro modo, se nunca se tivessem cruzado com eles, nunca viriam por si sós. Chegados ao “verdadeiro” Portugal, os estrangeiros espantam-se, vivem e saboreiam as pequenas coisas e prazeres, aqueles que os que aí vivem todo o ano nem notam.

 

E aí a magia do reencontro torna-se ainda mais especial, pois o apreço dos visitantes ocasionais enche-nos a todos de orgulho, tanto aos que habitam a terra como aos que ela habita nos corações.

Sandra Pereira

 

02
Ago15

Por terras de Soutelinho da Raia e Barroso


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Imagem de arquivo (2011)

Tal como deixei aqui documentado no blog, na sexta-feira passada fui dar uma volta pela volta a Portugal em bicicleta que andava aqui por estas bandas, com meta final na Serra do Larouco. Pois sempre que vou até terras do Barroso via Soutelinho da Raia, após esta aldeia, paro por lá num alto onde há um grande penedo à beira da estrada e desde onde se avista a Serra do Larouco com toda a sua grandeza, por um lado, e do outro avista-se o conjunto, toda a aldeia de Soutelinho da Raia.

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Imagem de arquivo (abril de 2015)

A paisagem entre esse tal penedo e a Serra do Larouco e Soutelinho da Raia resume-se a uma vegetação rasteira e autóctone constituída à base de urze vermelha (também conhecida por torga vermelha cujo nome científico é a erica australis da família das ericaceae), carqueja ( baccharis trímera) e giestas (Cytisus striatus), entre outras espécies mais pequenas e de onde os saberes populares fazem a recolha das ervas medicinais para chás e outras mezinhas de tratamento das suas maleitas.

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Claro que este tipo de vegetação não tem o valor monetário das florestas, principalmente aquelas que “se fazem depressa” para transformação em pasta de papel ou outros fins, mas têm o seu valor paisagístico e de espécies autóctones que embora algumas voltem a nascer, suponho que outras se perderão para sempre quando os incêndios as invadem sem dó nem piedade.

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Pois há dias quando parei neste ponto de paragem obrigatória foi um cenário de terra queimada, desolador, que tinha à minha volta. Um cenário que revolta sempre. Uma revolta dupla, a primeira a da terra queimada e a segunda, a do negócio dos incêndios.

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Sim, negócio dos incêndios, pois ninguém me convence do contrário com o dinheirão que se gasta no combate aos incêndios que, com bem menos, estou convencido disso, se poderiam evitar se houvesse uma aposta séria na prevenção, e mesmo que se gastasse o mesmo, seria um bom investimento, pois poupavam-se as florestas além de outros benefícios para as populações locais.

 

 

01
Ago15

Uma voltinha pela Volta a Portugal em Bicicleta


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A chegada dos primeiros

Então vamos lá dar uma voltinha pela Volta a Portugal em Bicicleta 2015, em terras transmontanas, mais propriamente a 2ª etapa da volta entre Macedo de Cavaleiros e a Serra do Larouco, com passagem por Chaves, e que decorreu ontem por estas bandas.

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 A chegada dos primeiros

Nem por isso sou lá muito ligado ao desporto, mas esta prova, em particular, gosto de a acompanhar, sem nunca a ter praticado. Talvez sejam coisas que ficaram desde puto, do tempo em que em Chaves havia muitos praticantes desta modalidade e também do tempo em que Chaves era final de uma etapa e partida de outra.

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Os restantes

Hoje em dia a volta passa por cá, e a grande velocidade, tanta que nem sequer teve honras de televisão na reportagem do dia da volta, quase parecendo que desde Mirandela passou diretamente para Boticas, com grande realce para as terras de Barroso, onde terminou a etapa bem lá no alto da Serra do Larouco. Às vezes vale a pena apostar nestas coisas…

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A volta em plena Serra do Larouco

Pois então como fã confesso da prova mas também das terras do Barroso e do “deus” Larouco, vi a volta a entrar em Chaves, mais propriamente a sua passagem por Nantes, vitima que fui do tempo dos relógios que não me deu tempo para apanhar a estrada aberta para a cidade. Mas serviu de emenda e mal a volta deixou Chaves e passou a confusão do trânsito acumulado, rumei logo à Serra do Larouco para esperar pela Volta lá bem na croa da serra, onde até o helicóptero da prova se via por baixo de nós.

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Local também onde as esperas são sempre agradáveis, de tão perto que estamos do céu, de onde a leitura da paisagem nos faz compreender melhor porque estamos no “Reino Maravilhoso”. Mas voltando à prova, local também onde além de podermos estar na chegada íamos desfrutando do movimento da prova nos últimos 10 quilómetros, ou seja desde a Vila de Montalegre até à croa do Larouco, de onde também se podia apreciar quem tinha perninhas para a subida.

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E, claro, não sou o único a gostar destas coisas da Volta e de subir ao Larouco. Aliás até as donas do alto, as vacas que por lá pastam livremente, sentiram curiosidade e aproximaram-se da estrada para dar uma vista de olhos, mas por pouco tempo, pois os agentes da Lei destacados no local depressa as encaminharam para longe do pessoal da pedal.

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Mas voltemos ao Barroso e às vistas desde a Serra do Larouco de onde tudo se avista, desde o vale de Xinzo de Limia do lado galego, às montanhas de Chaves, Valpaços, Vinhais, Gerez com vistas privilegiadas para as barragens dos Pisões e de Tourém. E claro já que estávamos por lá fomos fazendo alguns registos fotográficos à margem da prova de ciclismo.

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Agora a verdade, a verdadinha – sou fã da Volta a Portugal, mas não tanto para andar atrás dela – digamos ante que a volta foi um pretexto para mais uma vez ir até terras do Barroso e mais uma vez subir à croa do Brunheiro. Desta coisa de subir à croa dos montes, isso sim, sou mesmo fã e verdadeiro.

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Para terminar, a imagem de um dos corredores da equipa alemã do Team Stuttgart, o último da prova, que cortou a meta 39 minutos depois do vencedor da prova. Se não era o último, era dos três últimos, pois com tanta confusão no final e a roulotte de serviço à nossa espera, não deu para perceber se era mesmo o último, mas era um dos últimos que aqui no blog tem honras de imagem e a minha solidariedade pelo esforço de chegar ao fim, que não deve ser pera doce, pois as línguas de fora demonstravam bem a dureza da subida. Aliás esta última imagem dá bem para perceber o que tiveram de subor nos últimos 5 quilómetros.

 

11
Fev15

Chá de Urze com Flores de Torga - 67


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Chaves, 12 de Setembro de 1982

 

A tarde inteira a percorrer dentro de Espanha a fronteira com Portugal, desde Verin ao Lindoso, a confirmar a minha velha certeza de que os vizinhos só nos deram tréguas quando nos viram encostados à parede. Até onde havia terra arável, nenhuma paz possível. E por aqui nos deixaram entrincheirados nas serras, a roer fragas, enquanto eles se banqueteavam nas veigas ubérrimas do Tâmega e do Lima, e rezavam nas igrejas de Santa Comba de Bande e de Xunqueira de Ambia, raridades que mais uma vez admirei, sempre no mesmo embaraço de me ver confrontado com um génio criador que excede em tudo todas as medidas. Génio de um povo fanático e altivo, que nunca poderá compreender o nosso apego à liberdade, certamente por nele pressentir a herética afirmação dum paganismo congénito e o escandalizar também a estultícia dum orgulho patriótico pedinte.

Miguel Torga, in Diário XIV

 

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 Vale do Rio Lima, Galiza - Visto desde a Serra do Larouco

 

Chaves, 13 de Setembro de 1982

 

A raia do Barroso vista do lado de cá. A nossa independência está alicerçada na capacidade que temos de resistir à miséria. É uma espécie de direito pobreza ou uma pobreza livre por teimosia.

 

Miguel Torga, in Diário XIV

 

 

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