Vivências
O que muda em 5 gerações?
Entre a geração das minhas filhas, nascidas na primeira década deste século, e a geração dos seus tetravôs, nascidos no último quartel do século XIX (a referência mais antiga que tenho na árvore genealógica da família), cabem quase 150 anos de história e 5 gerações. Não é, obviamente, possível efetuar comparações entre estas duas gerações - como poderíamos comparar uma aldeã analfabeta a trabalhar num campo algures em Trás-os-Montes ou na Beira Baixa e que, provavelmente, terá saído uma ou duas vezes da sua aldeia, com uma adolescente que estuda numa grande cidade, domina as novas tecnologias, viaja com os pais e ambiciona conhecer o mundo? Estamos a falar de contextos, vivências e expectativas completamente diferentes. Mas, não sendo possível a comparação, é, no entanto, importante conhecer e compreender o muito que se passou neste intervalo de tempo na família, em Portugal e no mundo (e aconteceram muitas coisas...).
Nas nossas famílias, nasceram filhos, morreram pais e avós, uniram-se famílias, construíram-se casas, compraram-se e venderam-se propriedades, fizeram-se partilhas, zangaram-se muitas comadres e souberam-se muitas verdades, contaram-se histórias à lareira, alimentaram-se namoros à janela, trabalharam-se terras de sol a sol, encheram-se celeiros e adegas, choraram-se colheitas, misérias e vidas perdidas…
Em Portugal e no mundo, mudámos duas vezes de século, derrubámos a Monarquia e instaurámos a República, atravessámos duas guerras mundiais, levámos o Homem à Lua, perdemos as colónias e ganhámos a liberdade, entrámos na Europa, perdemos o Escudo e ganhámos o Euro (o da moeda, primeiro, e o do futebol, depois).
Em 150 anos e 5 gerações cabem muitas histórias, muitos dilemas, muitas escolhas, muitos erros, em suma, muita vida e muitas vidas… E, quer queiramos quer não (e sem fazer quaisquer comparações ou juízos de valor), foram essas vidas que nos trouxeram até aqui e àquilo que hoje somos…
Luís Filipe M. Anjos