Pecados e Picardias - Por Isabel Seixas
Cemitérios vivos…
Ao Poeta
Sempre que alguém se despede recebemos a visita da saudade …
Um lamento mudo vem na impotência das flores, derradeiro aceno onde uma aura do que não foi feito ou dito ultima o meter a última mão na consciência para sentir o que faltou…
Os Poetas de cada um só adormecem em sonos leves ou profundos flanando dos versos evocados pelos tempos e contratempos, despertam das figuras de estilo traduzindo as emoções de quem as sente e acha que são sentidas assim, por esses caminhos de palavras acordando os seus poetas nesse acordo, no do consenso das palavras com o estado de espirito.
Deixemos o poeta falar o que sente ,respeitemos as suas estrofes que no futuro farão presente, os poetas não se despedem ficam em verso ora dormindo ora acordando quando são precisos.
Manuel António Pina (1943-2012)
Não o Sonho
Talvez sejas a breve
recordação de um sonho
de que alguém (talvez tu) acordou
(não o sonho, mas a recordação dele),
um sonho parado de que restam
apenas imagens desfeitas, pressentimentos.
Também eu não me lembro,
também eu estou preso nos meus sentidos
sem poder sair. Se pudesses ouvir,
aqui dentro, o barulho que fazem os meus sentidos,
animais acossados e perdidos
tacteando! Os meus sentidos expulsaram-me de mim,
desamarraram-me de mim e agora
só me lembro pelo lado de fora.
Manuel António Pina, in "Atropelamento e Fuga"
Lembremos as mensagens que dão vida ao poeta, a sua obra.
Os maiores pecados da vida são as formas de morte, que só encontram eco no esquecimento…
Isabel Seixas