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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

06
Abr14

Uma descida até ao Mousse


 

Ali para os lados das terras de S.Vicente da Raia, Roriz e Cimo de Vila da Castanheira, por entre o mar de montanhas, desliza um pequeno rio que dá pelo nome de Mousse. Não corre com muita pressa, contorna tudo que tem a contornar e, se preciso for, volta para trás para logo que possa, seguir a sua suave marcha.

 

 

Descer até ao Mousse é como descer às entranhas de todo aquele mar de montanhas que se avista desde Roriz ou desde Argemil da Raia e, se não fosse o incêndio de há uns anos atrás, suponho que seria entrar um pouco no reino das sombras e de alguma escuridão, em terra quase ingrata para ter vida humana a residir, e ainda bem, pois é essa mesma ingratidão que transforma aqueles fundos sombrios em lugares de encanto, quase virgens, onde a beleza acontece misturada com a melodia dos sons puros e selvagens, sem nada urbano ou humano que os incomode ou perturbe.

 

 

Lá de baixo, o céu tem outra luz, o azul é mais intenso. Estamos ao nível do pormenor, à escala natural das coisas, da descoberta, tem-se uma sensação de prazer e medo, talvez medo em despertar toda aquela magia, o medo da vez primeira, o medo da desfloração, e o prazer de todas estas coisas acontecerem.

 

 

Os alfaiates a deslizarem na superfície do Mousse ignoram-nos,  andam na vida deles, não lhes interessamos, aqui e ali umas restas de vida antiga, onde só o moleiro e o burro desciam com a grão para depois subirem com a farinha, mas já há muito deixaram de descer e subir e, o tempo, encarrega-se de devolver à natureza aquilo que o homem transformou, o mesmo acontece com as encostas, que teimosas se vestem, quem sabe se para um novo incêndio as despir de novo, e no meio daquilo tudo, uma flor… como se fosse necessária.

 

 

28
Out12

Castelo do Mau Vizinho - A Descoberta - Uma Agradável Desilusão


 

Pois cá estamos no post prometido, o tal que deveria ter sido publicado ontem para dar continuidade à primeira imagem de uma descoberta recente que me fez descer até ao mundo dos alfaiates, que agora já posso revelar, do Rio Mousse.

 

O post foi ligeiramente adiado porque com ele queria deixar algumas palavras referentes à agradável desilusão da tal descoberta, cuja história se conta em meia dúzia de palavras.



Quem acompanha este blog sabe que ao longo dos anos da sua existência já demos algumas voltas por todo o concelho, aldeias e lugares,  ou quase todo o concelho, pois há alguns locais que se têm apresentado de difícil acesso, embora sejam até muito conhecidos, ou falados, ou referenciados. Um desses locais é o do Castelo do Mau Vizinho que me trazia remoído de curiosidade, pois o difícil acesso e a dificuldade em encontrar gente disponível que lhe conhecesse o paradeiro, foi adiando a sua descoberta. Mas descobri-o recentemente com a tal agradável desilusão.



Mas falemos um pouco do Castelo do Mau Vizinho e daquilo que dele conhecia até há uns dias atrás, passando pelo que se diz dele em vários locais da especialidade, como por exemplo na página dos monumentos portugueses (www.monumentos.pt) onde se observa ser classificado como monumento nacional registado sob o nº PT0117003090014, onde no registo da descrição se pode ter acesso aos seguintes dados:


Categoria

Monumento

Descrição

Castelo roqueiro defendido por uma linha de muralha construída com blocos de xisto, unidos por argamassa, com grandes silhares de granito nos cunhais, encontrando-se o penedo que o coroa com a superfície desbastada e limitado por encaixes para assentamento da estrutura defensiva de um possível torreão central. Além da primeira muralha regista-se, exteriormente a esta, diversos encaixes na rocha, de assentamento de estruturas perecíveis relacionados com uma segunda linha defensiva.

Acessos

Estradão desde Cimo de Vila da Castanheira na EM Cimo de Bolideira - Roriz, a partir do km 186 da EN 103

Protecção

IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 1/86, DR, 1.ª série, n.º 2 de 03 janeiro 1986

Grau

2

Enquadramento

Rural, isolado, outeiro destacado coberto com carvalhos, de difícil acessibilidade, na zona terminal de encosta sobre o vale encaixado do Rio Mousse.

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Marco histórico-cultural: castelo

Propriedade

Pública: estatal



Afectação

Sem afectação

Época Construção

Idade Média

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Idade Média - Construção.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.



Materiais

Muralha de blocos de xisto e granito, argamassa.

Bibliografia

AZEVEDO, Pedro A. de, Extractos archeologicos das Memorias Parochiaes de 1758, O Archeologo Português, 7 (2 - 3), Lisboa, 1902, p. 76; COSTA, António da Eira e, O Castelo do Mau Vizinho, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 22 (3), Porto, 1973, p. 345 - 351; MARTINS, João Baptista, Inventário de sítios com interesse arqueológico do concelho de Chaves, trabalho dactilografado, Chaves, 1984, nº 15; SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues dos, FREITAS, Adérito Medeiros, COSTA, António da Eira e, Campanha de Trabalhos. Castelo do Mau Vizinho. Cimo de Vila da Castanheira - Chaves, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 24 (2), Porto, 1982, p. 293 - 320; IDEM, O Santuário do Castelo do Mau Vizinho, Revista de Guimarães, 99 (2), Guimarães, 1989, p. 368 - 410; SILVA, Armando C. F., A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal, Paços de Ferreira, 1986, p. 301; TEIXEIRA, Ricardo e AMARAL, Paulo, Levantamento Arqueológico do Concelho de Chaves, relatórios anuais de actividades, Chaves, 1985 - 1992.

Intervenção Realizada

1981 - Trabalhos de limpeza e esquematização, sob a orientação de J. R. dos Santos Júnior, Adérito Medeiros Freitas e António da Eira e Costa; 1988 - trabalhos de limpeza e esquematização, sob a orientação de J. R. dos Santos Júnior, Adérito Medeiros Freitas, António da Eira e Costa e Norberto dos Santos Júnior.

Observações

Tradicionalmente considerado como santuário pré-romano, não apresenta, contudo, o mesmo tipo de estruturas, caso dos recipientes rituais registados noutros locais de culto desta área, como os de Pias dos Mouros (Valpaços), Vilar de Perdizes (Montalegre) ou Panóias (Vila Real), embora os dados apresentados na publicação da intervenção arqueológica, não sejam elucidativos quanto à ocupação crono-funcional do local. O espólio desta estação é constituído por fragmentos de cerâmica medieval.

Autor e Data

Isabel Sereno e Paulo Amaral 1993

Além da informação e bibliografia atrás citada, se fizermos uma pesquisa na INTERNET veremos que desde o IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico ao Instituto Português de Arqueologia, passando pela Wikipédia e outros 400 000 lugares (pesquisa Google),  há referencias ao Castelo do Mau Vizinho. Pois! E claro que contra tanta “literatura” não há argumentos, mas mesmo assim, e correndo o risco de não ser politicamente correto, cheguei ao tal local do Castelo do Mau Vizinho e, suponho que a minha ignorância,  não me permitiu ver  nenhum castelo, nem vestígios,  e daí, eu desde o início desde post dizer que esta descoberta  foi uma agradável desilusão. Explicada que está a desilusão passemos à parte do agradável.



Sempre que vou para terras de S.Vicente da Raia, depois de passar Travancas e Argemil, há por lá um alto onde paro sempre para contemplar o mar de montanhas que nasce aos nossos pés e se estende pelo horizonte adentro em direção a nascente. Um mar de montanhas que com os meios que tenho se torna proibido de navegar. Assim, são para mim terras virgens, ou quase. Depois de demorar uns anos a chegar a S.Gonçalo, onde o Rio Mousse termina a sua caminhada penetrando o Rio Mente, faltava-me subir  um pouco mais o Mousse para chegar  ao Castelo do Mau Vizinho. Sabia que ficava por alí junto ao Mousse, mas nunca o tinha conseguido localizar desde a praia do mar de montanhas. Imaginava o sítio interessante e de beleza igual ou superior à do S.Gonçalo e, não me enganei. O local é interessante e quanto a beleza, tem a sua beleza quase  selvagem onde a mão




 do homem ficou registada em alguns caminhos toscos e três moinhos que se esconde por entre o serpentear do Rio Mousse. O dito Castelo do Mau Vizinho  é um morro, outeiro ou cabeço que nasce quase perpendicularmente, deste serpentear do mousse, com “gigantes” lâminas de xisto como se fossem facas a desafiar o céu azul que,  desde o Mousse, de tão profundo que corre ali entre montanhas, faz que o azul do céu pareça muito mais azul.  Apetece ficar por lá, esquecido, abandonado, sem telemóveis, eletricidade, novas tecnologias. Apenas natureza e muita sombra resultante das montanhas que o sol não consegue atravessar.  Uma estranha paisagem engolida pelas montanhas onde o único horizonte alcançável é o céu e as lâminas de xisto do tal Castelo do Mau Vizinho, sem torres, ameias ou muralhas, apenas a natureza que se ergue como um castelo beijado por um pequeno rio que dá pelo nome de Mousse onde os alfaiates insistem em patinar contra a corrente.



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