Uma merenda quase perfeita
A caminho dos 15 anos de blog, quando chego a esta hora de publicar qualquer coisa cá da terrinha, para não ser repetitivo, a escolha do tema, rua, praça ou lugar, às vezes torna-se complicado. Nas nossas publicações, geralmente, andamos por fora, na rua, mas também vivemos dentro das casas, onde também acontecem coisas, por exemplo a hora da merenda, que se faz entre o meio e o fim de tarde. Então hoje trazemos aqui uma merenda à nossa maneira, quase perfeita.
Claro que temos de deitar mão às nossas coisas, nas quais, em algumas, até temos fama, tal como acontece com o presunto de Chaves, que cada vez mais vai sendo uma raridade, isto quando falamos de presunto de Chaves genuíno. A título de curiosidade, o presunto de Chaves, quando o havia em quantidade, na sua grande maioria, não era de Chaves, mas de toda a região, dos concelhos vizinhos, principalmente do Barroso. Afamou ser de Chaves, porque era aqui que ele era comercializado.
Pois, para quem não sabe, aqui ficam algumas dicas para saber se o presunto é genuinamente de Chaves ou não, mas também a forma, maneira, como deve ser comido e com que acompanhar. O resumo está feito na primeira foto que vos deixo, tem lá quase tudo que faz falta a uma boa merenda, o presunto, as azeitonas caseiras, o pão centeio também caseiro, a cebola, o pimento do vinagre, um bocadinho de queijo para quebrar ou limpar o palato e a caneca de vinho tinto em jarra de barro preto de Vilar de Nantes. Quase perfeito, não fosse esta mesa (que é de uma casa comercial) não seguir as regras caseiras tradicionais de servir.
Pois tradicionalmente o presunto não é fatiado, pelo menos na forma como hoje o fazem, fininho que fica quase transparente. Não senhor, não é assim. A nossa maneira deve ser cortado em nacos e se for fatiado, no mínimo terá de ter a espessura de um dedo mindinho. Na mesa que apresentamos na primeira imagem, também lhe falta mais qualquer coisinha, que podia ser a linguiça ou o salpicão. Se for linguiça, também não é à rodela fininha que se corta, mais sim ao pedaço. Em geral uma linguiça deve ser cotada em três ou no máximo, 4 pedaços. O pão vai-se cortando conforme se come e é cortado com a espessura e da forma que se vê na imagem anterior, e o pimento do vinagre deve ser comido conforme sai da talha, sem cortes, com uma salpicadela de sal grosso, sem cortes, a cebola deve partida em quatro partes, salpicada de sal grosso. Vinho, o necessário, e sempre à temperatura da adega, que deve ser fresca, depois, bom apetite! è tudo para comer, menos as carabunhas das azeitonas!
Por último umas dicas para saber se o presunto é mesmo de Chaves, genuíno. Primeiro o presunto é cortado à vista de todos, deve ter a forma arredondada como o da última imagem. Ganha este formato porque após a matança do porco as articulações são presas com uma corda para não se estenderem e darem o formato esguio (alongado) com que os outros presuntos se apresentam. Desta forma o presunto fica mais alto. Outra característica do nosso presunto, é ser entremeado de carne gorda, a que lhe dá um sabor especial. Se o presunto for só magro, não é de Chaves, pelo menos genuíno, quando muito, é daqui próximo, daquele que se vende na antiga fronteira com a Galiza, em Feces. Por último, para o presunto ser genuino, com vossa licença - o porco, também terá de ser genuíno, isto é, tratado com amor e carinho com todos os pertences da comida caseirinha até chegar a hora de ir ao banco, ou seja, é tratado (quase) como mais um elemento da família.
Um último aviso para o pessoal de fora que ficou com água na boca - Não venham a Chaves para comprar um presunto genuíno, pois os poucos que há não chegam para nós, quando muito, se for boa pessoa e um flaviense lhe dever um favor ou uma atenção, pode ter a sorte de lhe darem um.