₮ Duas ou três colheres de “Chá de Urze com flores de Torga” ₮
LETREIRO
Porque não sei mentir,
Não vos engano:
Nasci subversivo.
A começar por mim
(Meu principal motivo
De insatisfação),
Diante de qualquer adoração,
Ajuízo.
Não me sei conformar.
E saio, antes de entrar,
De cada paraíso.
(Miguel Torga)
TORGA foi um português, um Transmontano estranho, esquisito.
Como tantos outros.
Apenas mais famoso.
Deixou uma obra literária enorme.
Para muitos dos seus pares da escrita foi enorme.
Para alguns seus pares da poesia, uma incómoda insignificância.
Tenho lido algumas (bastantes) considerações acerca de TORGA.
Se o seu feitio desagrada, a sua escrita encanta.
Perante este aparente paradoxo, tenho contido o meu entusiasmo de deixar duas ou três palavras na Caixa de Comentários do meu BLOGUE Favorito: “CHAVES – olhares sobre a cidade”, da autoria de um Flaviense distinto, Fernando Ribeiro.
O fim de “Chá de Urze com flores de Torga”, tomado sempre com tanto paladar, leva-me ao atrevimento, respeitoso e humilde, de deixar aqui, num cantinho de uma casa que me tem acolhido, uns alinhavos paradoxais (que pretendo levemente redundantes e suavemente contraditórios) acerca de MIGUEL TORGA.
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MIGUEL TORGA “andava sempre com a telha”.
Entendeu que a vida foi desde sempre demasiado dura e madrasta com ele.
Tinha veneração pela Natureza. Mas não «gramava» as pessoas.
A amizade era um sentimento que detinha enquanto lhe durasse a conveniência do amigo. E essa conveniência resumia-a ao essencial, ao imediato.
Tinha medo de alimentar esse sentimento, pois considerava-o um sentimento nivelador, igualizador, e ele, TORGA, prezava profundamente a diferença, e, até, a originalidade.
Aborrecia-o a proximidade das pessoas.
Só aceitava a presença delas se estivessem de passagem apressada.
Todavia, a distância entre ele e a gente contraditava o sentimento de aspereza e de desdém da proximidade.
À distância, TORGA via as pessoas como entes que a Natureza criou para com a sua dor e sofrimento, o seu trabalho e canseira, o seu suor e as suas lágrimas, o seu canto e sorriso, a sua veneração e humilhação, o seu sacrifício e poesia, se sentisse glorificada.
TORGA era um fingidor.
Julgou-se a realização da profecia bíblica dum tal Isaías: ser semente saída de Jacob (Jacó) e o herdeiro dos montes, vindo de Judá!
Jorge de Sena, em correspondência com Eduardo Lourenço, escreveu, 1955, «olhe que o Torga é, para mim, a imagem do que a poesia não deve ser!».
MIGUEL TORGA «desviava-se», quanto a mim, da moda literária «em moda».
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“Só os homens livres são
muito gratos uns para os outros”
Poucos lêem TORGA; menos, os que reflectem no que ele escreve; quase ninguém quer aprender com ele.
Custa-me a indiferença com que os Flavienses tratam vizinhos ou visitantes que tanta e tão prestimosa afeição demonstram pela «cidade», pela Região, pela NOSSA TERRA.
MIGUEL TORGA ainda não foi celebrado em CHAVES como tanto merece.
Para os «ignorantes», para os distraídos, para os «esquecidos» e para os ingratos, neste Blogue tem o seu autor vindo a lembrar uma «obrigação» mais do que justa e digna.
Mas, com gente-gentalha, medíocre, inculta, mal-agradecida, e que faz da impostura e da cretinice o seu modo de vida, a dirigir os destinos do Município, não admira a inconsequência da verdade.
Se, aí por CHAVES, pela NORMANDIA TAMEGANA, há corações reconhecidos a MIGUEL TORGA, também abundam, aí por CHAVES, pela NORMANDIA TAMEGANA (e um ou dois, já seria uma «abundante abundância»!) algumas mentes obscenas, iconoclastas, videirinhas, para quem TORGA só merece lembrança e surdo aplauso quando lhes convém, para adorno da sua biliosa e estéril vaidade e disfarce da sua tremenda hipocrisia e imposturice.
TORGA, Pessoa e Saramago estão na moda de muita, demasiada, gentinha e gentalha medíocre, mas tão lesta em fingir de super-sumo da intelectualidade, da cultura, das Artes e das Letras, usando e abusando de chavões e «adverbialices» como se tivessem descoberto a equação definitiva da “Teoria de Tudo”, como se fossem alguns dos raros a compreender o último Teorema de Fermat.
Então, a um peralvilho altamente conceituado, nómada por todos os territórios que lhe cheirem a unto ou a margarina, perito na insinuação, afinal um dos «cromos» mais exemplares deste «jardim à ….», que, daí ou de qualquer lugar, faz estação ou cais de embarque para as suas surtidas tão narcisistas quão impostoras, só lhe falta mesmo proclamar, com paráfrase: "Tenho uma demonstração maravilhosa da magnificência, da imortalidade e da importância de Miguel Torga, para a Região (não escreve NORMANDIA TAMEGANA porque não vai a tempo de atribuir-se o neologismo, como tanto se tem aproveitado em fazer com outros) que esta margem é demasiado estreita para conter."
Há por aí um pivete baboso, espertalhão - não fosse ele o exemplar perfeito do «gosmista», do impostor, do falso amigo, do «amigo da onça», e do hipócrita - que, por ter dado boleia a TORGA até Monterrey, já se considera «o maior» conhecedor de TORGA!
Este e outros que tais, bem que se mordem sempre que neste Blogue aparece, habitualmente, às 4ªs feiras, “Chá de Urze com flores de Torga”: é que eles não são capazes, não sabem mostrar, ou demonstrar, um sentimento de gratidão, de reconhecimento, de admiração por quem lhe sé superior.
A soberba fá-los ter por si próprios uma opinião «mais vantajosa que o que seria justo acerca de si mesmos», e, consequentemente, a inveja, que transportam jung(u)ida à soberba, entristece-os com a felicidade e o prestígio de TORGA, e de Outros!
Em TORGA, como em Camões e em Pessoa, encontramos nos seus poemas a força sobrenatural que justifica o orgulho de «ser Português»!
Na poesia e na prosa de TORGA encontramos toda a profundidade da alma e do coração dos Portugueses!
Bastar-nos-ão as carinhosas e eloquentes palavras escritas no seu Diário, e que no Blogue “CHAVES – Olhares sobre a Cidade” têm vindo a ser reproduzidas, para que, na “Cidade de Trajano”, uma justa homenagem lhe fosse feita a MIGUEL TORGA.
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E com este «sim e não», ou aparente «não e sim», um e outro aparentes do que é aparente, pequenino esforço meu para espreitar o que toda a gente sabe sobre TORGA, e de quase toda (essa) gente se esquece, e eu, timidamente, ando a aprender, deixo o meu agradecimento a quem comunga da minha gratidão a quem honra e prestigiou, e prestigia e honra, a NOSSA TERRA, a NORMANDIA TAMEGANA, TRÁS-OS-MONTES e PORTUGAL.
Liberdade
— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
{Miguel Torga]
M., Um de Junho de 2016
Luís Henrique Fernandes