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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

25
Jun13

Pedra de Toque



MILETE

 

Maria Isolete da Costa Gonçalves era a sua graça.


Mas era pelo diminutivo Milete que era conhecida e tratada por familiares e amigos.


Estudou em Chaves e em Vila Real onde cursou a Escola do Magistério Primário vindo a lecionar na sua aldeia natal, Vila Verde de Oura, aqui ao lado de Vidago, durante algumas décadas.


A Milete era minha prima direita e na adolescência e juventude convivi e conversei muito com ela.


Mais nova 5/6 anos, unia-nos o gosto antigo pelas coisas da literatura, nomeadamente pela poesia.


Era uma mulher muito lúcida e extremamente sensível.




Lia imenso e jovem ainda apaixonou-se pela arte de versejar tendo-nos legado três livros notáveis.


Destaco o primeiro que intitulou “ Paraíso Sonhado”, prefaciado pelo conhecido escritor e insigne professor universitário Urbano Tavares Rodrigues.


Este livro, recheado de belos poemas, já refletia a sua autora como uma mulher inteligente e apaixonada.


Cedo, no entanto, começou a desencantar-se com a vida, abrindo portas a fobias, desamores, medos e fantasmas que lhe coartaram a possibilidade de ter criado uma obra muito mais vasta e lhe atormentaram o quotidiano que se despenhou, antes da última morada, numa cama de hospital, em debilidade extrema.


Urbano lucidamente refere no dito prefácio “ o erotismo sublimado, a nostalgia de uma pura e ardente adolescência perdida”.


Era a Milete autêntica, genuína que o Urbano, perspicaz, extraiu do Paraíso Sonhado.


Já então a poetisa se lamentava: “ Fantasmas de um mundo tão distante, porque me atormentais ainda agora?”.


Para sofredora acrescentar: “O meu desterro quando terá fim?”.


Emociona-me quando a releio.

                       

“Prisioneira sem estar presa,

Cativa sem ter algemas,

A não ser as que me prendem

A ti, a quem sempre amei”.

                       

Cedo começou dolorosamente a sofrer com as suas angústias, as suas decepções e desilusões que lhe percorreram a vida mas que belamente espelhou em versos.

                       

“Tudo na história humana está errado.

Os homens erram com perseverança edificante.

Eu não sou mais que um erro crasso”.

 

O amor infeliz que a perseguiu e torturou está bem patente nos últimos versos do seu soneto Recordação.

 

 “Não mais verei teu rosto junto ao meu,

Não mais contemplarei o fim do dia,

Sentindo as tuas mãos a me afagar

 

Em vão, desejo agora um beijo teu,

Perdi-te… E a minha única alegria

Consiste apenas em te recordar”.

                       

Milete apagou-se de frágil, de débil, docemente serena, há pouco mais de um mês.


Com medo da vida, foi-se libertando, definhando sem a dor que não queria, envolvida nos seus receios, mas numa paz celeste.


Escolheu o seu repouso e como queria, levou só flores brancas, a cor dos seus poemas, dos que nos deixou, e dos muitos que levou consigo.

 


Querida prima, permanecerás etérea, lívida e em paz, certamente muito acariciada pelos teus versos.

 

António Roque


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