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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

21
Ago19

Crónicas de assim dizer


cabecalho-assim-dizer

 

 

No exílio

 

A liberdade conduz-nos à escravidão. Pássaros numa gaiola com a porta aberta que não ousamos transpor. Temos pouco mais que um corpo nu. Arranjamos nele um pequeno espaço para uma alma incinerada. Emprestamos os dois, corpo e alma, a uma vida sem sentido. Atravessamos um caminho sem verdadeiramente o termos percorrido. Não pertencemos a ninguém nem a nenhum lugar. Órfãos, quase sempre órfãos. Temos colado a nós, o desconforto de estar sempre longe de casa. A própria dor tranquiliza mais, porque a sabemos temporária!

 

Tivemos um pai que nos criou, Deus, que depois nos abandonou como se não fossemos dignos da concretização do seu sonho. Deu-nos a "liberdade" ao incutir-nos o pensamento de que estávamos acima do bem e do mal, mas acima disso não há nada. Subverteu, descaradamente, o ideal do sonho. É fácil perceber que se realmente tivesse querido, podia ter feito muito melhor. Não quis. Fez ainda pior: permitiu que descobríssemos a verdade.

 

Foi-nos dando tarefas para nos criar a ilusão de que éramos capazes, mas a cada uma que nos dava, tinha outra escondida para nos dar a seguir: uma de que não seríamos capazes. Deixou estas para o fim, para quando estivéssemos velhos, doentes e cansados, não fosse o diabo interceder a nosso favor e conseguirmos o que ele não previu. Que destino daria então à humanidade?

 

Enganou-nos desde o início.  Deu-nos tudo o que era preciso para chegarmos cedo à conclusão de que éramos mortais e deixou-nos o resto do tempo para viver com isso.

Vingou em nós, nos seus próprios filhos, as suas frustrações. Que culpa é que nós temos das guerras que perdeu, das vitórias sobre os homens que não conseguiu? Teria ele próprio uma revolta contra o Criador e queria através de nós fazer justiça?

 

Desarmados e desamparados, fez de nós o seu brinquedo como uma criança mimada faz as suas birras quando tem à sua volta adultos que lhe satisfazem todas as vontades. Os adultos éramos nós, reféns, mais que de um amor, de uma gratidão por nos ter dado a vida: se não fosse ele nós não existíamos!

 

Podíamos ter sido cão ou gato... mas porque é que ele achou que era melhor sermos homens? Para melhor o servir! Então não é pela obra feita que se destaca o artista? Acaso nos foi perguntado, aquando da criação, o que queríamos ser? Foi essa a liberdade que ele nos deu? Depois de decidir por nós, decidirmos nós o resto, condicionados ao que somos, ao como e ao onde nascemos? Poderíamos, se o quiséssemos, ser todos reis e senhores, senão do mundo, da nossa própria existência? Por quanto tempo? É este o seu conceito de eternidade, é esta a grandiosidade da sua obra?

 

Houve alguém, não me lembro quem, que justificou o facto de Deus nunca nos ter aparecido à frente por não saber responder às questões que previsivelmente lhe colocaríamos! É uma boa desculpa.

 

Esqueçamos o resto, para simplificar, e concentremo-nos nisto: qual é o ser, onipresente e omnipotente que cria um ser finito? Foi por causa disto, mãe, que eu nunca acreditei que morresses. Porque Deus me iludiu.

 

 

Cristina Pizarro

 

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