Gosto disto...
Penso que a primeira vez que vi o mar a sério, tinha eu 7 anos. Geralmente o pessoal de Chaves tinha como seu mar o da Póvoa de Varzim. Para mim também não foi exceção, o mar da Póvoa, também foi o meu primeiro mar. Lembro que quando lhe pus os olhos a sério, com a brisa a passar-me nas faces, o cheiro a entrar-me nas narinas e o rebentar das ondas na areia a povoar todos os sons, fiquei durante uns minutos extasiado com o despertar de todos os sentidos na imensidão do mar. Ainda hoje, quando depois de alguma ausência, volto à beira mar e, embora mais breves, tenho as mesmas sensações, principalmente se o mar é o da Póvoa ou, um pouco mais acima ou pouco mais abaixo, se o mar é o mar do norte. Talvez reminiscências de infância.
Comecei pelo mar porque acabei de fazer uma breve visita a esse mar do Norte, um pouco mais abaixo que o da Póvoa, mas um mar igual. O Coelho não me deixou ir mais longe nem por mais tempo. Não compreendi ainda muito bem porque, mas também estou de castigo, mas isso são contas de outro rosário, pois estando eu num daqueles momentos de reflexão, rodeado de areia e só com a imensidão do mar à minha frente, em apreciação mais uma vez, e por muita beleza que tivesse o momento, dei-me conta de que o mar e a sua poesia não é tudo, faltam-lhe as minhas montanhas, a minha gente, o cheiro da terra e o calor da nossa terrinha. Veio-me então à lembrança uma visita que fiz há uns meses atrás a uma aldeia em encontrei por lá um dos poucos jovens habitantes (vinte e poucos anos) e quando lhe perguntei o que era feito do pessoal da idade dele, ele respondeu-me : “abalaram todos pra fora”. Então e tu? Perguntei-lhe, e a resposta foi pronta: “eu… eu gosto desta merda” .
Pois eu também, gosto disto, e enquanto me deixarem, continuará a ser a terra aonde sempre regresso, para as minhas longas temporadas e apenas interrompidas por breves dias em outras paragens, que também sabem bem, ó se sabem, mas também é nessas breves ausências que as coisas que aqui não têm importância nenhuma, ganham toda a importância do mundo.