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A não ser que seja conversa acabada, todas as conversas têm continuidade. Ultimamente tenho andado pelas margens do rio e a sua recuperação para a cidade como um espaço público, ou seja, de todos.
Hoje é dia de coleccionismo de temática flaviense, e de entre as minha colecções, surgiu-me o pin da Nossa Senhora das Brotas e quem fala nesta santa (em Chaves) obrigatoriamente fala na sua festa e no Forte de S.Neutel, pois é lá que se insiste em realizar os festejos e o local onde existe a sua capela de devoção.
No que diz respeito à continuidade da conversa dos dias anteriores, surge-nos o Forte de S.Neutel, uma das maravilhas de Chaves e até de Portugal, onde se tem investido dinheiros públicos e comunitários, primeiro com o anfiteatro e sala de espectáculos ao ar livre e recentemente com o arranjo da envolvente e interior. Um largos milhões de escudos e euros foram gastos naquele espaço, já vai com a terceira “revitalização” mas nem por isso ganhou vida e, insiste (mesmo sendo um monumento maravilha) em manter as suas portas fechadas para a cidade e, para turista e visitante ver. Claro que para turista, com tão poucas referências que há à sua existência, também será difícil encontrá-lo, a não ser (às vezes) por mero acaso ou um visitante que vem à bola, mas mesmo assim de pouca adianta, pois as suas portas só abrem duas a três vezes por ano.
Às vezes, embora até seja distraído, também paro um bocadinho para pensar e, nestes casos como o Forte de S.Neutel, interrogo-me se valerá a pena investir tanto dinheiro na sua recuperação para depois o manter como um espaço morto e esquecido, embora bonito, por enquanto.
Mas hoje o coleccionismo leva-nos mais uma vez até à Nossa Senhora das Brotas, aquela que na memória mais recente já tinha tradição de festa da cidade (deixando de parte as verdadeiras festas da cidade que o são a Feira dos Santos), e ainda antes de inventarem os festejos do 8 de Julho, que continuam sem tradição e sem significado relevante na história da cidade ( e sou republicano). Pois é, mas enquanto se perdem e se vão deixando morrer tradições e festas (por muito que meia dúzia de carolas a tentem manter de pé para outra meias dúzia de saudosistas, entre os quais me incluo, pois não dispenso a minha visita anual à festa), há outras que são recuperadas da memória de tempos longínquos, porque alguém se lembrou que há 100 anos se fazia por cá uma festa, religiosa, da Nossa senhora da Conceição, que se vai realizar neste próximo Domingo.
Nada tenho contra esta recuperação da memória, aliás até a acho interessante porque chama a si a participação das freguesias dos seus santos e padroeiros. É uma tarde diferente a ver desfilar santos e santas, fiéis e o orgulho das aldeias no seu santo(a) e padroeiro(a), mas apenas isso, pois desmontada a procissão desmonta-se a mobilização e o ar de festa popular e, como que por encanto, as ruas da cidade retomam o seu despovoamento, pois é fim-de-semana e nem sequer tem cheiro a festa pimba com banda no coreto e arraial na praça principal.
Estamos em meados de Setembro, a pouco mais de um mês das nossas festas da cidade que o são e sempre foram por excelência a Feira dos Santos. É nessa festa que os xerifes da cidade têm de concentrar a sua atenção, pois é a única que tem tradição e que traz a Chaves gente de fora (ainda milhares de pessoas) e filhos da terrinha e que no entanto tem sido tratada ao longos dos anos sempre deficientemente como uma feira que se faz por si própria, improvisada, sempre a mudar de poiso e sem nunca ter sido verdadeiramente pensada, nem em poiso nem em oportunidades de lançar Chaves e mostrar Chaves como a verdadeira capital das terras do Alto Tâmega e arredores. Responsabilidade que Chaves nunca soube assumir e que cada vez mais perde importância em relação aos concelhos vizinhos que eram, porque sempre o foram, uma mais valia para Chaves. Birrinhas, alheamentos, politiquices, espertezas saloias e falta de alguma luz sobre as suas cabeças, que são pagas para pensar os nossos destinos, do concelho e da região, fazem que todos os anos se discuta o assunto, enquanto Chaves (também distraída), vai perdendo uma região que sempre esteve fortemente ligada a nós. Valha-nos a Feira dos Santos, cuja tradição é mais forte que todas as distracções dos rapazes que um dia se lembraram que era na política e outras associações que estava o seu emprego e o garante do seu futuro.
Chaves, pela sua história milenar, merecia muito mais, mesmo assim, é nesta terrinha que lançamos sementes e ganhamos raízes, da qual gostamos e da qual tantos nos custa a desprender, por isso, teimosos como eu, não a abandonamos, porque é a nossa grande casa, que gostamos e amamos e na qual, sempre temos esperança que um dia Chaves retome a sua importância. Nem há como ser sonhador ou ainda não ter desistido de ter opinião sobre a cidade!
Até amanhã, com mais um discurso sobre a cidade.