Hoje há feijoada com ferro e betão
Sempre que aos fins-de-semana este blog vai até uma aldeia, é sempre aqui referido o despovoamento das mesmas, o abandono do casario antigo e o envelhecimento da população e tudo isto ligado ao êxodo das populações rurais, cujas causas são mais ou menos conhecidas e que, já por si, são difíceis de contrariar, tanto mais quando não há políticas interessadas em que tal aconteça.
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O destino das populações rurais tem sido as cidades e, se antes do 25 do Abril o destino desse êxodo era a emigração para o estrangeiro, a partir dessa data o destino também passou a ser o das nossas cidades, incluindo a nossa de Chaves.
Assim, um "boom" na construção era mais ou menos previsível. A cidade de então não suportava tanta gente, eram necessárias novas habitações e, elas começaram a surgir e da pior maneira, ou seja, em torres de betão … mas deslumbra, a população flaviense assistia à chegada da modernidade…
O problema é que nem sempre o crescimento e modernidade das cidades são sinónimo de progresso, principalmente quando esse crescimento é feito sem regras e medidas que aliado a um agressivo interesse imobiliário e outros interesses, semeio betão e com ele é semeado também o atabalhoamento e a desorganização, mas pior ainda, com custos para todos nós.
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Infelizmente a cidade cresceu sem qualquer planeamento e, se algum houve, não foi de parte das autoridades responsáveis e interessadas, mas dos agentes económicos ligados ao interesses imobiliários e da construção, que fizeram de Chaves uma mina de ouro com custos reduzidos.
Todo este boom da construção seria aceitável se integrado numa cidade planeada, não só em termos de ocupação do solo mas também em termos de necessidades e limitações que estão ligadas ao crescimento das cidades, como infra-estruturas básicas e outras ligadas à saúde, ao ensino, ao ambiente, aos transportes e comunicações, ao lazer e bem estar, mas também e ainda outras tão ou mais importantes e que estão ligadas ao aspecto social, como o trabalho, a cultura e juventude, a velhice e infância.
Planeamento para uma cidade em crescimento exigia-se, mas não o houve e, infelizmente continua a não haver.
Claro que por aí ainda há quem fique deslumbrado com este crescimento, principalmente para quem confunde crescimento com progresso e não se dê conta que todo este crescimento só serve para enriquecer meia dúzia e empobrecer-nos a todos, incluindo a autarquia, que neste capítulo, perde muito mais do que aquilo que ganha e, a ganhar, só em problemas, investimentos e custos, que deveriam ser suportados ou comparticipados pelos senhores do crescimento. Custos para a autarquia e o mesmo será dizer, custos para todos nós e com a agravante de a nossa qualidade de vida piorar.
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As contas e os custo do crescimento até são fáceis de fazer, bastava contabilizar os investimentos que a autarquia e o estado fez em paralelo ao crescimento com a construção de novas vias, pontes, escolas, centros de saúde, hospital, redes de saneamento básico, abastecimento de água, recolha e tratamento de lixos, etc. Mas contabilizar também o investimento e custos que se fez nos anos do crescimento em quase uma centena de escolas nas aldeias e que agora estão fechadas e num hospital que não funciona, por exemplo.
Mas o que mais custa no meio disto, para além dos custos que nos sai do bolso a todos, são os incómodos que provocam, principalmente na falta de infra-estruturas de apoio como uma rede de transportes públicos que não existe, a falta de lugares de estacionamento ou mesmo de paragem onde mais são necessários e aqui saliento alguns locais onde o caos se instala todos os dias, como junto ao Centro de Saúde nº2/GNR/Escola Profissional onde há uma concentração de serviços e instalações e não existe um único parque de estacionamento. Tal também acontece junto às principais escolas, principalmente as que estão mais próximas da cidade (Estação, Santo Amaro, Nadir Afonso, Caneiro, Júlio Martins) onde nas horas de ponta, são as vias de circulação que servem de paragem e estacionamento, chegando mesmo a bloquear o trânsito, como no caso da Nadir Afonso.
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Mas também outros males estão ligados ao crescimento e um deles é o abandono habitacional do Centro Histórico que por sua vez leva à deterioração dos prédios, deixando muitos deles em tão mau estado que não andará longe a ameaça da ruína.
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Mas para além de tudo isto que foi abordado há algumas perguntas que se impõem: Todas estas novas construções estão habitadas? Quantas habitações existem no concelho? Quantas habitações existem na cidade? Quantas famílias existem no concelho? Porquê se continuam a construir habitações? O que vai acontecer com estas torres de betão daqui a 40 ou 50 anos?
Os dados existem e são acessíveis a todos. Seria bom que fossem estudados e analisados.
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Claro que há desculpas para todos os problemas e um deles, que muitas vezes os responsáveis apontam, é o de não haver meio de travar estes problemas porque a legislação os permite. Mas isto é um bocadinho como o gato quando se lembra de andar atrás da cauda, pois quem faz a legislação e os regulamentos são os próprios responsáveis que depois acabam por se queixar dela e depois há os contornos às Leis, mas também aqui, tal como os “chicos espertos” a contornam, também os responsáveis a podem contornar, e tudo dentro da legalidade como convém. É sabido (por exemplo) que em Chaves os loteamentos de terrenos para construção de moradias, praticamente não existem, embora existam. Os terrenos individuais (prédios), tal como as pessoas, também se reproduzem e dão lugar a novos indivíduos, com tudo direitinho, com registo na conservatória e tudo. Pois tal como nas pessoas, agora também não há terrenos zorros. É sabido que caso um processo de loteamento seja tratado como deve ser, ao loteador cabe executar as infra-estruturas necessárias e levar até esses terrenos as infra-estruturas necessárias. Não sendo loteado legalmente, os terrenos vendem-se na mesmo ao preço de loteado, sem infra-estruturas iniciais, mas que mais ano menos ano, a Câmara, EDP, Telecom e outros, lá as farão chegar, a custo zero para o loteador. Um bom negócio que toda a gente conhece e do qual todos se aproveitam e que também todos acabaremos por pagar.
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Também aparentemente parece não haver forma de parar o crescimento (sem progresso). A lei e outros interesses permitem-no. Mas sem inventar nada, pois a fórmula já existe e é aplicada em países ditos civilizados (e também cá quando interessa), pode-se travar legalmente este crescimento atabalhoado. Como!?, simplesmente comprando os terrenos que não interessam urbanizar. Aparentemente mais caro, sairia na maioria dos casos bem mais barato à autarquia.
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Mas enfim, enquanto uma velha cidadade vai morrendo, uma nova vai nascendo, mas por cá, toda a gente parece estar contente com a nova modernidade sem progresso de uma cidade que cresce em betão e que nos sai bem cara, a todos! Mas só alguns lucram com ela.
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