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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

02
Nov10

Pedra de Toque - O Circo


.

O Circo

 

 

 

 

O circo sempre exerceu sobre mim encantamento, fascínio, sedução.

 

E ao invés do que se passou com outros, esse gosto pela festa do perigo, da luz, da alegria, da música, tem-se mantido através da idade.

 

As novas técnicas substituíram o ritmo a sublinhar os números interpretados pela brilhante orquestra em cima do tablado.

 

O artista do circo começou por me surgir como super-homem, capaz de coisas irreais, insólitas, mágicas, e hoje continuo a admirá-lo e a respeitá-lo pela forma como arrisca a vida com arte, coragem, talento, quase sempre como Marlene, trabalhando sem rede.

 

Quantas palmas bati acompanhando a grande bota do palhaço, cara pintada soprando no cantador saxofone. Quanto espanto, quanto deslumbramento de olho arregalado e boca aberta, dirigi para a pista receando a queda do trapezista, o desequilíbrio do rapaz do rolo, o osso partido da contorcionista, o falhanço do rapaz do trapézio voador.

 

Ah, e os animais …

 

Desde os grandes, com os seus roncos ensurdecedores e selvagens na luta desigual com o homem civilizado fechado na jaula, num ápice montada, enquanto o Esparguéti e o Coquinhas, com pachouchadas mantinham a sequencia e vivacidade da função, só interrompida ao intervalo para possibilitar uma bebidinha e a rifa para a boneca a sortear,…

 

Até aos pequenos, como os amestrados cães dos Cardinalli, dançando enroupadas sevilhanas, ou as pombas da Madame Clara, girando na roda metálica, bonitas e brancas!

 

O circo, os seus artistas, o meu espanto, a minha fascinação. E também o respeito, a revolta pela falta de protecção a que a arte circense e seus interpretes têm sido votados neste país comunitário.

 

.

.

 

Mas nesta crónica pretendia manifestar-vos a minha repulsa contra os artistas da vida, que se contorcem, se dobram, fazem piruetas, chegam a dar saltos mortais, não para ganharem o pão de cada dia, mas na mira da cotação social, na busca do penacho, do dinheiro fácil, traindo tudo e todos (amigos, princípios, ideologias …), numa de oportunismo inesperado e execrável.

 

Eu sei que o poder da brita, digo, da guita, da grana, do dinheiro, ainda é deveras forte.

 

Mas ao intelectual que se propala sério, não pode haver brita (queremos dizer guita) que corrompa.

 

Espécimes destes, apesar de raros, ainda aparecem.

 

São palhaços, não no sentido dos clowns que provocam gargalhadas francas e abertas, que divertem miúdos e graúdos. São palhaços dos outros, dos que se despersonalizam na presença do poderoso, face ao déspota, que na vez da gargalhada limpa, originam o sorriso de escárnio, a rejeição que arrepia.

 

Estes artistas tiram as máscaras, por vezes, em períodos eleitorais.

 

E são tantas as contorções, tão arriscados os equilíbrios, tão complicadas as piruetas que depois, mais cedo ou mais tarde, caem na pista, estatelados com fracturas na alma, de cura difícil.

 

E quando se salvam, lá vão divagando no circo da vida, aos olhos dos outros, sempre incapazes e aleijados.

 

 

 

António Roque

 


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