Pedra de Toque - Os Avós
OS AVÓS
São pais (e mães) duas vezes.
É um dito popular, que ainda por vezes se ouve, com imenso significado.
Efectivamente os avós, sobretudo aqueles que têm a felicidade de verem os netos crescerem perto, dedicam-lhes enorme carinho, afecto e ternura e preocupam-se com o seu crescimento e a sua educação, como se de filhos se tratassem.
Eu conheci um avô e duas avós.
Pessoas profundamente diferentes por quem eu tive sempre grande admiração e estima e a quem devotei enorme respeito.
O meu avô era homem alto e forte, uma figura, para mim miúdo, imponente com um ar severo, que eu temia no sentido de me merecer quási veneração.
O que ele opinava de cima dos seus cinquenta e tal anos (uma idade provecta para a época) era como se fosse lei.
O seu relacionamento com as filhas era de autoridade a que elas correspondiam com total deferência e educação.
Esse meu avô deixou-nos tinha eu cerca de quinze anos.
Lembro-me de o ver no quarto, o último reduto, devorando livros policiais esperando que a gangrena favorecida pela diabetes e iniciada numa perna, o mirasse até à morte que chegou serena graças à morfina injectada.
Tenho muito presente a imagem dele majestática e venerada por nós os netos, a quem ele dedicava por vezes, temperadamente, momentos bonitos de ternura.
Quando o víamos, ele passava temporadas no Porto, beijávamos-lhe a mão, e ele agradecia com uma ligeira carícia, que nos sabia muito bem, nas nossas cabeças.
Eram outros tempos, é certo
Mas o respeito ainda hoje é muito bonito.
António Roque