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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

02
Jun18

Outeiro Jusão - Chaves - Portugal


1600-outeiro-jusao (18)

 

Na presente ronda pelas aldeias de Chaves optámos na sua seleção utilizar a ordem alfabética. Já vamos na letra O, e como no anterior sábado tivemos aqui Oucidres, hoje toca a vez a Outeiro Jusão.

 

1600-outeiro-jusao (137)

 

Se é “outeiro” está num alto, e tendo como apelido jusão, deveria estar para baixo. Aparentemente uma contradição, pois jusão significa “para baixo”, “para jusante”, ou seja num alto para jusante, encaixa na perfeição em Outeiro Jusão, isto se tivermos em conta o Rio Tâmega,  a veiga de Chaves e a própria cidade de Chaves, ou seja o outeiro que está ao lado do rio a jusante da veiga e de Chaves, e faz sentido, não só porque o localiza como o diferencia do outro outeiro a montante de Chaves e do rio, ou seja Outeiro Seco, ambas povoações muito antigas. Mas isto sou apenas eu a supor, pois na ausência de documentos que levem à origem do topónimo, penso que posso tomar essa liberdade, mas ainda há mais uma. Fica a seguir à foto e a ser levada em conta, vem contrariar parte daquilo que aqui se diz.

 

1600-outeiro-jusao (92)

 

Pois tendo encontrado algures um documento sobre o badalado e hoje inexistente Convento da Veiga, documento que hoje procurei e não encontrei,  mas que num destes dias quando procurar outra coisa vai aparecer, confiando na memória lia eu então nesse documento a descrição da localização do dito convento, onde dizia ficar próximo da povoação de Outeiro João, junto ao rio Tâmega, a sul de Chaves. Esta ficou apenas como uma curiosidade sobre o topónimo, hoje Outeiro Jusão,  que às vezes também aparece grafado como Outeiro Juzão.

 

1600-outeiro-jusao (22)

 

Pois Outeiro Jusão fica lá no alto a jusante de Chaves e da veiga, como tal, lança olhares privilegiados sobre ambas (cidade e veiga), mas nua sua intimidade vive-se uma autêntica aldeia rural, ou vivia, pois hoje cresceu, passou além da estrada e, embora sem dados, atrevo-me a dizer que trocou grande parte da aldeia rural pela aldeia dormitório, e também nisso é privilegiada, pois a cidade, o grande centro de trabalho e empregos fica ali à distância de uma reta.

 

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Quanto às fotos que vos deixo, se alguém conhecer bem Outeiro Jusão, não estranhe se hoje as coisas não forem bem como estão nas imagens, pois acontece que as fotos já têm 10 anos, e é natural que alguma coisa se tivesse modificado.

 

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Como sempre, aquilo que temos à mão, por ser de acesso mais fácil, vai ficando para trás, pois já sabemos que se necessitarmos é só dar lá um pulo. Mas se for o caso de haver coisas alteradas, o passado ou o “como era”, também tem o seu encanto. Mas um dia destes, quando calhar em passagem, coisa que acontece com frequência, e tivermos tempo, recolhemos por lá mais uns motivos para uma próxima abordagem.

 

outeiro-jus1600-ao (47)

 

No próximo sábado rumamos rio acima com destino ao outro outeiro do concelho de Chaves, o Outeiro Seco.

 

 

 

13
Jul13

Outeiro Jusão, aqui ao lado.



Hoje em dia é rara a pessoa que não anda com uma câmara fotográfica na mão ou no bolso, mas há quem as utilize e quem não utilize. De entre os que as utilizam cada um tem a sua noia nos registos que faz. Pode registar de tudo, mas há motivos que os atraem mais que outros. Sejam florzinhas, paisagens, pores-do-sol, velhinhas … enfim, cada motivo pode ser um motivo de noia de cada um.




Eu também tenho as minhas noias nos registos e, também há uns que me atraem mais que outros. Em tempos, numa das minhas incursões fotográficas numa das nossas aldeias, um dos meus dois cicerones  insistia em mostrar-me as casas novas da aldeia. Pelo caminho ia registando um ou outro motivo. Chegado ao destino penso que não conseguia esconder o meu desinteresse pela “maison” . Insistia em mostrar-me mais uma, e outra, até que o outro cicerone rematou a insistência dizendo para o parceiro – “Não vês que ele só quer casas velhas!”. Confesso que me senti despido perante o desmascaramento, não pelos meus interesses ou desinteresses nos motivos, mas por ao descobrirem a minha noia me sentir incompreendido.




Os redactores de Life recusaram as fotos de Adré Kertész[1] quando ele chegou aos Estados Unidos, em 1937, porque, segundo afirmavam, as suas imagens «falavam demasiado». Pois as minhas noias fotográficas podem não falar demasiado mas, quando passo por elas, chamam-me sempre para um clique e eu nunca resisto ao chamamento, agora os porquês, ficam para uma próxima oportunidades.

 

Hoje ficam três olhares que resultaram de três chamamentos em Outeiro Jusão.



[1] Adré Kertész (1894-1985) de nacionalidade húngara foi um dos grandes fotojornalistas do século passado.

10
Out10

Mosaico da Freguesia de Samaiões


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Mosaico da Freguesia de Samaiões

 

 

 

Localização:


A sede de freguesia, ou seja a aldeia de Samaiões, fica a 5 quilómetros de Chaves, no entanto a freguesia confronta com as freguesias da Madalena e de Stº Maria Maior, ou seja, fica colada à cidade. Mais à frente, nas suas particularidades, explico isto melhor.

 

Confrontações:


Confronta com as freguesias da Madalena, Vilar de Nantes, Nogueira da Montanha, S.Pedro de Agostém, Valdanta e Santa Maria Maior.

 

Coordenadas: (Largo da igreja de Samaiões)


41º 42’ 03.39”N

7º 27’ 58.34”W

 

 

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Altitude:


Variável – acima dos 349m e Abaixo dos 750m, embora a maioria do seu território esteja abaixo da cota de 400m.

 

Orago da freguesia:


Nossa Senhora da Expectação.

 

Área:


7.63 km2. Em território encontra-se entre as 10 freguesias mais pequenas.

 

Acessos (a partir de Chaves):


– Uma vez que a freguesia se encontra encostada às freguesias urbanas, quase todos os acessos da cidade vão dar à freguesia. Em termos de Estradas Nacionais, as mais importantes passam pela freguesia, ou seja a E.N.2. a E.N. 103 e a E.N. 314, ficando ainda a escassa dezena de metros da E.N.213.

 

 

Aldeias da freguesia:


- Izei

- Outeiro Jusão

- Samaiões

 

Sem serem consideradas aldeias mas com núcleos consolidados importantes, há a acrescentar o Campo da Roda, à Várzea, Quase toda a recta do Raio X e penso que (não tenho a certeza) as Campinas. Logo que possível, confirmo.

 

População Residente:


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Em 1900 – 655 hab.

Em 1920 – 698 hab.

Em 1940 – 978 hab.

Em 1960 – 1346 hab.

Em 1970 – 1355 hab.

Em 1981 – 1118 hab.

Em 1991 – 694 hab.

Em 2001 – 1353 hab.


 

Muitas vezes digo por aqui que, quase para todo o concelho, existe um gráfico tipo do comportamento da população residente das freguesias. Salvo raras excepções, o ano de 1920 e 1960 registam descidas ou linha descendente nos gráficos das respectivas freguesias, assistindo-se a uma descida vertiginosa a partir de 1960 até aos nossos dias. Pois o gráfico do comportamento da população de Samaiões é único e atípico, pois em 1920 quase nem regista descida de população e 1970 consegue ter mais população (apenas 9 habitantes) que 1960. De 1970 a 1991 regista uma descida vertiginosa e apenas em 10 anos (2001), dobra a sua população e fica a apenas 2 habitantes dos valores máximos de população registados em 1970. Confuso, mas consultem o gráfico para compreender estas palavras.

 

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Aparentemente este comportamento desde 1960 até 2001 não encontra uma explicação lógica, mas se esmiuçarmos em pormenor o seu território, poderemos verificar que tal é possível, como também deve ser possível, em 1991, haver um erro de recenseamento da totalidade da sua população. Mas mesmo sem erros possíveis, o comportamento da população residente pode ser explicado, pois também esta freguesia é um misto de freguesia rural e urbana onde, o seu lado rural manteve ou perdeu população, mas o seu lado urbano, cresceu consideravelmente, principalmente nas Campinas, Recta do Raio x, Campo da Roda e Várzea. Mas vamos esperar pelos Censos do próximo ano (pois suponho que serão em 2011 se a crise ainda os permitir) para tirar algumas dúvidas.

 

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Principal actividade:


- A agricultura mas também outros sectores de actividades se registam na freguesia, como a indústria (cerâmica e construção civil), comércio e similares de indústria hoteleira e hotelaria, serviços, etc.. Claro que a agricultura serve de ocupação principalmente às populações de Samaiões e Izei, já as restantes actividades se desenvolvem desde Outeiro Jusão até à proximidade da cidade

 

Particularidades e Pontos de Interesse:


Pois se no comportamento da população se apresenta como uma freguesia atípica, também no território que ocupa não o é menos, senão vejamos:


- É uma das poucas freguesias que divide o seu território entre a Serra do Brunheiro, com a aldeia de Izei implantada em plena serra, e a veiga de Chaves, com Samaiões a ocupar parte dela. Mas se aqui é acompanhada neste pormenor por mais três ou quatro freguesias, já há num pormenor em que é única, pois é a única freguesia cujo seu território se desenvolve em ambas as margens do Rio Tâmega, pois embora a grande parte do seu território se desenvolva na margem esquerda do rio (Izei, Samaiões, Outeiro Juzão, Campo da Roda, Raio X e Campinas) da margem direita tem hoje em dia um núcleo habitacional importante – pois desde a Várzea (incluída) até S.Fraústo, há uma faixa de terreno (mais ou menos paralela ao rio e à EN 103) que também são território  da freguesia de Samaiões.

 

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- É também pelas razões atrás apontadas que leva a outras tipicidades únicas, pois penso ser a única freguesia que comunga aquilo que verdadeiramente é rural e urbano, talvez só mesmo a freguesia da Madalena se assemelhe um pouco. Pois Samaiões e Izei são aldeias tipicamente rurais, já o seu restante território funciona mais como dormitório ou subúrbios da cidade, mas também com uma forte componente de indústria, hotelaria, similares de hotelaria, comércio e serviços, como se de plena cidade se tratasse, estando mesmo em seu território uma ou duas das mais importantes indústrias, uma delas de há longos anos, ou sejam a indústria da cerâmica mas também do leite. Também no comércio automóvel tem a sua importância, na restauração (com alguns dos bons e tradicionais restaurantes no seu território) mas também na hotelaria, com um Hotel Rural que está entre os hotéis rurais de referência do concelho e região. Resumindo, tudo que se encontra ao longo da recta do Raio X, ou melhor da estrada Nacional 2 e dos inícios da E.N.314, é na prática e comummente confundida com a cidade de Chaves.

 

 

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Mas deixemos estas particularidades actuais e entremos um pouco nas suas particularidades que marcam algumas páginas também na história, quer no passado longínquo que noutra, mais ou menos recente. Comecemos por esta.

 

Muitos flavienses sabem, às vezes até os dizem flavienses de “gema” embora só o fossem por afinidade e amizade, ou seja, também flavienses, o casal Carmona era habitual no nosso concelho, ou seja, o 10º Presidente da República Portuguesa, que o foi até à sua morte em 1951, sendo sucessivamente reeleito até 1949, sendo também durante os seus mandatos que se institucionalizou o regime Salazarista. Mas as suas ligações a Chaves não se deviam à sua pessoa, pois o Marechal Carmona nasceu em Lisboa. As suas ligações são feitas por via da sua mulher, a Madame Carmona (como lhe costumam chamar) ou a Maria do Carmo Ferreira da Silva Fragoso Carmona,  natural de Chaves 1879, tendo falecido em Lisboa em 1956. Esta questão do seu nascimento em Chaves não é pacífica, pois há quem defenda que ela tenha nascido no concelho de Valpaços, agora oficialmente ela Nasceu em Chaves em 1879. Mas isso (embora importante) para o assunto que a trás aqui até é pouco importante, pois (e quanto a isso não há dúvidas) a Madame Carmona era uma amante de Chaves e do concelho, e entre os seus poisos e visitas habituais ( Hotel Palace em Vidago, Solar dos Montalvões em Outeiro Seco)  o casal Carmona também era habitual em Izei, numa das casas solarengas que ainda hoje existem.

 

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Também os pasteis de Chaves devem muita da sua fama à Madame Carmona, pois dizem que era uma das suas iguarias preferidas.

 

A respeito das passagens de Madame Carmona pelo solar dos Montalvões (Outeiro Seco) e não só, o blog Velharias deixa uma reportagem sobre o assunto, com alguma documentação fotográfica, como por exemplo neste post:

 

http://velhariasdoluis.blogspot.com/2010/04/velhas-historias-do-solar-dos.html

 

Blog Velharias que em breve teremos oportunidade de ter por aqui com o post dedicado a Outeiro Seco, pois através deste blog faz-se também muita da história de Outeiro Seco e em particular a do Solar dos Montalvões.

 

Mas vamos continuar com outras particularidades históricas.

 

J.B.Martins, um historiador local, referia que provavelmente teria existido nas redondezas de Izei um fortificado castrejo, apoiando-se nessa teoria no topónimo “Castelo dos Mouros”. Claro que muitas destas deduções dos historiadores locais valem o que valem, mas não há vestígios de que tal fortificado tivesse existido, no entanto, sem argumentos para contrariar as probabilidades levantadas, vamos também dizer que é provável que sim, pois toda a nossa região era rica nesses fortificados.

 

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Destacam-se e essas ainda existem, são os solares e as casas e solarengas que existem na freguesia e na sua envolvência. A Casa de Samaiões (também conhecida por Casa dos Barros) que pertenceu à família dos Barros Teixeira Homem, hoje transformado em Hotel Rural, passando a ser conhecida por Quinta de Samaiões,  é um exemplo desses solares, encapelado e armoriado. Embora haja (como se vê atrás) denominações a mais para uma só casa, o Solar terá a sua origem no Século XVIII e “graças a Deus” que foi transformada em Hotel Rural, pois caso não tivesse acontecido, hoje seria mais um dos solares moribundos ou em ruínas que não faria jus aos seus antigos habitantes, como o Capitão Francisco de Barros de Morais Araújo Teixeira Homem, com uma importante carreira militar e diplomática, com títulos como o de Marechal de Campo dos Reais Exércitos (1791), Governador da Ilha de Stª Catarina (1778) e primeiro Comissário de Divisão para as demarcações dos domínios portugueses  e espanhóis em todo o continente da América (1779).

 

 

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Também em Izei existem duas casas ou quintas que têm a sua importância solarenga, sendo uma delas a tal que dava poiso (não sei se foi propriedade) do casal Carmona e a outra ligada ainda à família de um dos primeiros automobilistas da cidade de Chaves, o conhecido “Taveira de Izei” ao qual são atribuídas algumas anedotas automobilísticas conhecidas em Chaves. No post dedicado a Izei, estão

 

Quanto à história das aldeias da freguesia, nem há como passar por aquilo que já aqui foi escrito acompanhado das respectivas imagens de cada uma delas, palavras e imagens para as quais deixo link no capítulo seguinte.

 

Fotograficamente falando, hoje além do habitual mosaico, ficam também algumas fotografias actuais de território urbano da freguesia, que por não serem aldeia, não tiveram direito a um post.

 


Linck para os posts neste blog dedicados às aldeias da freguesia:

 

- Izei - http://chaves.blogs.sapo.pt/243529.html

- Outeiro Jus(z)ão - http://chaves.blogs.sapo.pt/346433.html

- Samaiões - http://chaves.blogs.sapo.pt/245343.html

 

 

 

 

 

 

 

 

 

04
Jan09

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Com um olho na cidade e outro na ruralidade, é assim Outeiro Juzão ou Jusão.

 

Vamos começar pelo seu topónimo.

 

Desde sempre que esta aldeia foi e é o hall de entrada da cidade de Chaves, pois quando vindos pela estrada mais longa do país e que liga Portugal de Norte a Sul (EN2) que chegar a Outeiro Juzão é chegar à cidade. Disse Outeiro Juzão, pois era esse o nome que constava na placa e ainda consta numa placa da estrada antiga. Durante longos anos foi Outeiro Juzão. Mas isto são coisas das gentes de Vila Real onde sempre esteve afecta a antiga JAE e por lá mandavam pintar as placas. Desde sempre que os de Vila Real vão decidindo por nós, até os nomes e topónimos das nossas aldeias e este não era, nem é, caso único, pois nas placas indicativas algumas vezes a freguesia é esquecida em detrimento de uma outra aldeia da freguesia ou então impõem topónimos como o de Lama de Arcos em vez de Lamadarcos. Não sei em que livros vão eles buscar estes topónimos, mas nos nossos não são de certeza. Aliás da antiga JAE actual Estradas de Portugal Chaves já está habituada às suas asneiras e disparates, basta ver o esbanjar de dinheiro que agora estão a desperdiçar na estrada Chaves- Valpaços para apreciar a têmpera dos que de fora ditam os nossos destinos, ou impõem, sem sequer sermos ouvidos. Mas se os de cá também o consentem, nada há a fazer.

 

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Mas desabafos à parte vamos outra vez até Outeiro Juzão ou Jusão. Pois tudo indica e aliás é esse o nome oficial que consta no município que o topónimo correcto é Outeiro Jusão e faz sentido que assim seja, se olharmos à origem da palavra e ao seu significado. Há que fazer jus ao seu nome. Jus de jus ou jusante e faça-se justiça então. Jusante da geografia que é o lado contrário ao da nascente e para onde correm as águas. Se tivermos as águas do grande vale do Tâmega por referência, é precisamente em Outeiro Jusão que têm o seu jusante. Mas isto são apenas teorias minhas, pois segundo os entendidos evocam Viterbo para dizer que o termo Jusão, significava antigamente “de baixo” e daí advir o topónimo de Outeiro Jusão que seria o mesmo que dizer Outeiro de Baixo. Pois que seja, de cima ou Juzão é que não é.

 

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Partimos assim que o termo correcto é Outeiro Jusão.

 

Iniciava eu a dizer que Outeiro Jusão tinha um olho na cidade e outro na ruralidade e de facto assim é. Quem conhece a aldeia só de passagem e vista da estrada, aparenta ser mais um bairro da cidade do que propriamente uma aldeia. Se abandonarmos a estrada e entrarmos no seu núcleo e no abstrairmos da sua localização geográfica de proximidade da cidade, podemos acreditar até que estamos numa aldeia de montanha, pois segue e tem todas as suas características e as características de uma aldeia, com o seu núcleo antigo e que quase sempre se desenvolve à volta da Igreja ou Capela, com as suas construções típicas da arquitectura rural onde o granito e a madeira são reis e senhores, o contorno das ruas ajustado ao contorno das casas, a intimidade do núcleo a desaguar num largo principal e sobretudo as gentes, as pessoas que vivem no seu seio durante o também contorno dos dias. Mas também na sua vida comunitária se vive o verdadeiro termo de aldeia, ainda com vizinhos a viver em “comunidade” em que os mais jovens se juntam ao abrigo de outro termo a que chamam “associação” e que até produzem cultura, para consumo próprio, como ainda recentemente foi notícia nos jornais da terra, com uma peça de teatro que levaram a cena na aldeia. Associação que agora está mais ou menos parada, mas que promete voltar à actividade, pois ficou o gostinho de fazer para os seus, e com arte e teatro.

 

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Respira-se ruralidade nesta aldeia bairro da cidade que é também seu dormitório, não começasse a cidade a seus pés, a montante do seu jusante, mas ruralidade ainda nos seus campos agrícolas aos quais uns ainda se dedicam, mas terra de juventude e de gente interessada no seu rincão e na sua aldeia.

 

Este blog já fez uma abordagem (muito passageira) da aldeia e então recebi alguns recados dos seus filhos, mais propriamente da Vera Azevedo, do Celso Silva, do Filpe Pires e do José Silva, que na altura deixaram os seus recado nos comentários. Não os esqueci, nem esqueci o que prometi então de trazer aqui novamente Outeiro Jusão num post alargado, e aqui está ele, com algumas correcções e também com as suas dicas, começando pela quadra do seu hino e que a Vera então por aqui deixou:

 

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Outerio Jusão terra linda

Meu doce torrão Natal

Jardim de flores mimosas

Como tu não há igual.

 

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Fiquei a saber então que o padroeiro da aldeia é o S.Martinho, com “festa”celebrada em 11 de Novembro, mas que o santo mais adorado pela população é o S. Cristóvão com a sua festa no mês de Agosto, quando Outeiro Jusão recebe todos os seus filhos ausentes.

 

Por sua vez o Celso confirmava que o topónimo Jusão tinha origem precisamente no Jusante do Rio Tâmega.

 

O Filipe dizia-me então que aquele “pedaço de terra que tão grande beleza encerra, em me digno pertencer, vou amá-la sempre mesmo muito «depois de morrer» e fazi um convite a todos para visitar a aldeia, que eu também reforço, pois como já disse, para se conhecer Outeiro Jusão, não basta passar na estrada, há que entrar na aldeia, no seu núcleo, no seu coração.

 

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Por fim o José Silva também vem reforçar que o topónimo Jusão, deriva de Jusante do Tâmega e a aldeia ser um Outeiro a jusante do Tâmega, mas vai mais longe e dava-nos a conhecer o Grupo de Teatro Amador criado na aldeia em 2008 que tinha como principal objectivo tirar a aldeia do marasmo a que foi remetida pelos sucessivos representantes legais. 

 

Pois meus caros, já na altura agradeci a vossa intervenção no blog e hoje agradeço de novo e é com gosto que o faço, pois só demonstra que ainda há espírito de aldeia e vizinhança em Outeiro Jusão e que é muito mais aldeia do que aquilo que se vê apressadamente para quem passa na estrada.

 

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E agora um pouco da sua história, pois tanto quanto consta na documentação que encontrei a respeito da aldeia, é de povoamento antigo e que deve remontar pelo menos à altura da ocupação romana, assim o ditam os achados encontrados aquando das escavações para construção de algumas habitações, pela quantidade e beleza dos achados, acredita-se que por ali tivessem habitado gente rica e importante da ocupação romana. Entre os achados, uma pedra perpetua o nome de Claudios Flavios.

 

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Ainda na aldeia, na sua periferia em terrenos que foram pertença da Cooperativa Agrícola e que hoje são da Câmara Municipal existe uma pequena capela com edifício adjacente, que embora humildes na construção e na traça, na fachada principal da capela tem um brasão. Procurei em tudo quanto é sítio referências à história desta capela e do brasão (incluindo no levantamento de brasões do concelho de Chaves feito por J.G.Calvão Borges no Tombo Heráldico do Noroeste Transmontano) , mas nada encontrei. Não sei se existe documentação escrita sobre estas construções e de quem foi pertença, mas embora com a sua humildade eram merecedoras de uma reconstrução e também de ser feita a sua história. Uma vez que agora é propriedade da Câmara Municipal, vamos esperar que esta faça a devida recuperação do existente e também um pouco da sua história, porque afinal, agora, é património de todos nós flavienses. Entretanto se alguém souber alguma coisa sobre esta capela e o brasão, este blog agradece que deixem essas informações nos comentários.

 

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Quanto a números da população, não tenho dados para deixar por aqui, mas dada a sua proximidade da cidade e das novas construções que por lá existem, estou em crer que não é uma aldeia que tenha perdido população, antes pelo contrário, mas também como todas as aldeias da proximidade de Chaves, suponho que também os seus novos habitantes pouco tenham a ver com a vida e história da aldeia, pois essa (penso eu), resume-se ao seu núcleo histórico e antigo da povoação.

 

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Dada também a proximidade da cidade e a sua privilegiada localização junto a uma das estradas mais importantes de acesso à cidade de Chaves, também ao longo da estrada têm nascido as mais diversas actividades comerciais, industriais e de hotelaria ou similares, transformando assim a aldeia na sua dupla ou até tripla personalidade de aldeia em si, com a sua história, a sua vida e o seu núcleo de vizinhos e gente da aldeia com origem nela, uma segunda aldeia de novas construções e novos habitantes que nada têm a ver com as origens da aldeia e fazem dela uma aldeia dormitório da cidade e uma terceira aldeia que se desenvolve ao longo da estrada com as suas actividades laborais de comércio, indústria e hotelaria.

 

É, tal como dizia no início, uma aldeia com um olho na ruralidade e outro na cidade, não só fisicamente e geograficamente falando, mas também na sua vida em si.

 

Espero ter cumprido para com a aldeia de Outeiro Jusão, que fica a apenas (oficialmente) a 3 quilómetros da cidade, mas que na prática está ligada fisicamente a ela pela conhecida recta do Raio X. Digamos que é uma aldeia que faz parte já da “grande” cidade da margem esquerda do Tâmega e que vista à noite, desde o miradouro de S.Lourenço, é parte integrante da “grande” cidade cuja iluminação emerge da escuridão do vale.

 

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Quanto à recolha fotográfica, é o costume e aquilo que em mim mais desperta o click. O tradicional, o diário das aldeias, o antigo e o quotidiano de sempre e que faz com que cada aldeia tenha a sua singularidade e a torne diferente, embora tão igual a outras aldeias tradicionais do concelho. Excepção para a última foto, com os alunos da escola de outeiro Jusão de 1938 e  que me foi gentilmente cedida pelo filho da professora.


 

 

 

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