Pedra de Toque - Pai
PAI
O teu dia são todos os dias.
Hoje, devido à efeméride, estás mais presente porque a saudade aumenta.
Não é fácil descrever por palavras o amor que sentias pelos teus filhos.
A todo o momento constatava-se isso, mesmo nas lágrimas de arrependimento que choravas, na presença da nossa mãe quando te excedias ligeiramente num beliscão a penalizar a tolice.
Lembro o beijo que na meninice te dava na mão, respeitosamente, quando te via pela manhã.
Não esqueço o orgulho espelhado nos teus olhos quando me acompanhaste a Coimbra para iniciar a carreira universitária e quando me visitaste, na companhia de outros familiares, à Lusa Atenas na semana da Queima das Fitas.
Como ficavas feliz sempre que te elogiavam os filhos.
Já escrevi pai, como sabes, eu e meus irmãos “quedamo-nos orgulhosos e ufanos por termos nascido filhos de um homem simples, honesto e com um coração enorme”.
Dói-me ainda hoje, por não poder ter contribuído mais para te proporcionar uma velhice serena e tranquila, como merecias, depois de tanto ano de trabalho intenso.
A tua morte extremamente dolorosa coartou-me essa possibilidade.
Partiste demasiado cedo.
Como a saudade não morre, envio-te as lágrimas que, dolorosamente, marejam nos meus olhos.
António Roque