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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

02
Fev16

4 - Chaves, era uma vez um comboio…


800-texas

 

O Texas do Corgo

 

Este texto deveria ser um poema, pois é na poesia que costumo chorar a dor, o amor, as paixões, as perdas, as saudades… mas sob revolta, nunca os consegui escrever.

 

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 CP0012 – Locomotiva: CP E205, Data: Não datado, Local: Chaves, Portugal, Slide 35mm

 

Desde sempre pensei que a Linha do Corgo se deveria chamar Linha do Tâmega, coisas minhas mas também da lógica das linhas ferroviárias estarem associadas à proximidade dos rios e de “correrem” ao longo da sua corrente, e daí, se o Rio Tâmega que nasce nas proximidades de Chaves desagua no Rio Douro, também a nossa linha que nascia junto ao Rio Tâmega, deveria assumir o seu nome ao desaguar na linha do Douro. Mas, repito, isso eram coisas minhas mas nunca lhe dei grande importância, pois a linha adotou o nome de outro rio ao qual também estou sentimentalmente ligado, quase desde que nasci - o Corgo - mais propriamente a Parada do Corgo, ali mesmo juntinho à nascente do rio, terra dos meus avós paternos e do meu pai e, é graças a essa aldeia que,

 

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  CP0138 – Locomotiva: Não identificada, Data: 1977, Local: Veiga de Vila Pouca de Aguiar, Portugal, Slide 35mm

 

também desde que nasci, comecei a ser um passageiro frequente do nosso comboio, o “Texas”, como carinhosamente o alcunhávamos. No entanto a minha primeira recordação do comboio remontará aí para os meus cinco anos de idade, precisamente quando no apeadeiro de Parada do Corgo comecei a ver ao fundo da reta de Zimão uma barulhenta bola de fumo negro e que, ainda por cima, apitava, e quanto mais se aproximava, o fumo aumentava, os barulhos tornavam-se mais intensos, os apitos mais fortes e estridentes até que uma montanha andante de ferro, com um nariz vermelho, estava ali, mesmo em cima de nós. Escusado será dizer, que lá no fundo nos meus cinco anitos, fiquei borradinho de medo, agarrado à saia da minha mãe.

 

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 Apeadeiro de Parada do Corgo (ou Aguiar)

 

Com o tempo fui-me habituando àquele monstro amigo que me levava a visitar os meus avós e me trazia de regresso à casa de Chaves. Depois também foi através dele que vi pela primeira vez o mar e fui pela primeira vez à nossa praia (Póvoa de Varzim), tudo de comboio, depois paras as piscinas de Vidago e das Pedras Salgadas. Fui e vim da tropa de comboio, e já nos anos oitenta, quase até ao dia da sua morte, fazia viagens frequentes a Lisboa e se para lá ia de autocarro direto, o regresso fazia-o quase sempre na comodidade do comboio, e quer fosse de verão ou inverno, a Linha do Corgo, da Régua a Chaves, depois da regueifa e dos rebuçados de açúcar torrado, era feita na varanda do comboio, mas há uma viagem, a última, que nunca mais esquecerei, não por saber que era a última, pois não sabia então que passado pouco tempo, traiçoeira e irrefletidamente a linha iria ser encerrada, mas porque nessa viagem tive uma companhia inesperada à varanda, uma companhia que a família (mulher e filhos) tinha deixado na estação da Régua para apanhar o comboio para Chaves, uma companhia que eu há anos já admirava e da qual tinha saudades, sobretudo da sua sabedoria, do seu amor à poesia e do seu conversar. Era o meu antigo professor de português do Liceu, o Dr. José Henriques, que ainda antes do 25 de abril de 74, através da poesia e dentro das quatro paredes da sala de aulas nos falava da liberdade. Foi a minha última viagem na Linha do Corgo e a última conversa com o meu antigo professor, espaçada de silêncios, explicados pelo êxtase da apreciação da paisagem ou pela apanha e descarga de passageiros nas estações e apeadeiros.

 

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  CP0012 – Locomotiva: CP E209, Data: Não datado, Local: Não identificado, Portugal, Slide 35mm

 

Tenho saudades da Linha do Corgo, do comboio, de viajar à varanda e, só lamento, revoltado, que os de Lisboa nos o tivessem roubado, ou pior ainda, assassinado, sem o mínimo respeito pela sua história e pelas populações que servia.  

 

Fernando DC Ribeiro

 

 

In “Memórias de uma Linha – Linha do Corgo – Chaves”, Agosto de 2014

Edição Lumbudus – Associação de Fotografia e Gravura

 

Fotografias – Propriedade e direitos de autor de Humberto Ferreira (http:outeiroseco-aqi.blogs.sapo.pt)

Gentilmente cedidas para publicação neste post.

 

 

 

19
Mar12

Dia do Pai, duas imagens para o meu


 

Hoje é dia do Pai e embora eu não embarque muito em dias comemorativos ou com dedicatória, adiro a eles sem qualquer custo pela homenagem e reconhecimento que esses dias podem ter, embora, como neste caso, dia do pai sejam todos os dias em que eu sou filho, todos os momentos em que esteve presente, todos os momentos em que esperava por ele, todos os momentos em que me despedia dele, todos os momentos em que partilhava comigo os seus saberes, todos os momentos em que me educava ou repreendia, todos os momentos em que partilhávamos a mesma mesa, o mesmo lar, a mesma dor as mesmas alegrias e vitórias… dia do pai é todos os dias em que somos filhos, mesmo depois da inevitável e derradeira partida ele continua presente num gesto ou num saber que dele aprendemos ou herdamos.

 

 

E como este blog só existe porque o meu pai existiu,  ficam duas imagens da terra que ele amou acima de todas as outras, imagens da sua terra, da sua aldeia, das suas e também minhas origens. Eu sei que ele iria gostar de as ver aqui -  Chama-se Parada do Corgo ou Parada de Aguiar, ali mesmo ao lado de Vila Pouca de Aguiar.

 

 

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