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“ERA O QUE MAIS ME FALTAVA!...”
Recebi uma carta [não, não é de condução, de caçador ... ou de chamada], bem, tenho de ser mais claro, não foi e-mail ou sms, como se chama agora a correspondência que veio substituir telegramas, telexes, faxes, postais, cartas, o “Código Morse” e o “Código Navajo”.
O Inverno está a empurrar com força a Primavera para o Verão.
Já há muita gente com férias marcadas e pronta a partir para elas.
Tinha recomendado a um casal amigo que fossem conhecer a NOSSA TERRA, CHAVES.
Surgiu-lhes a oportunidade e, ala morena, lá foram pela CREP-A41 até encontrarem o Casino de VALDANTA, segunda pista para saberem entrar na cidade.
Só quando sentiram o vento de Espanha é que deram conta do sinal de “Chaves”.
“OS de CURALHA” já não são o que eram doutro tempo.
Deixaram que lhe roubassem o comboio e a Estação.
Consentem nos maus tratos ao “CASTRO”.
Perderam o gosto na marginal do Tâmega até à cidade - “a Estrada de Braga”.
Parecem mais envergonhados da sua linda terra que os presidentes de Câmara que tem havido desde o aparecimento da Auto-Estrada - nesta não existe uma placa a indicar «SAÍDA» para CURALHA nem para CHAVES! Parece quererem empontar os viajantes para Boticas e Carvalhelhos, como se CURALHA ficasse “no cu de Judas” ou entrada em CHAVES, pela “FONTE NOVA” fosse uma vergonha!
Realmente, os meus amigos, depois de Vidago, nunca mais encontraram «seta» para a cidade.
Assustaram-se na rotunda, julgando que a avenida para o Casino é que era o portão de entrada.
Deram meia volta e lá viraram pela ruela que os levou à porta do “Quartel”.
Rolaram por uma avenida com o chão coberto de folhas e pararam em frente aos portões de um cemitério, a pensar se seria para a frente, para o lado ou para trás que deveriam ir.
Estranharam ainda não ter encontrado um polícia, fosse ele de ronda, de trânsito ou de folga.
Desceram os vidros da janela do carro e perguntaram, a uma senhora que lhes pareceu simpática, onde ficavam as CALDAS.
Na ponte do Ribelas, em Santo Amaro, apeteceu-lhes mesmo parar: o casario e os quintais, de um lado e doutro da ponte mostraram-se-lhe sugestivos.
Na rotunda pareceu-lhes mais acertado seguir para a esquerda.
Junto ao Posto de Abastecimento perguntaram a um automobilista que ia entrar no carro estacionado onde ficava o Hotel de Chaves e onde podiam desougar-se dos “Pastéis de Chaves”, que um amigo lhes recomendou para o pequeno-almoço do meio da manhã e a que ele chama pomposamente «a hora do pingo».
- Logo à frente encontrarão uma esplanada, mesmo em frente à Farmácia. Os pastéis aí são quentinhos e bons. O Hotel é logo na grande rotunda, à frente, - informou
O casal meu amigo entrou no “Carbela”. E, seguindo a minha recomendação, pediu um pastel (não disseram «de Chaves» de propósito, para ver a reacção da servente, perdão, da «auxiliar-técnica-de-engenharia-de-restauração-e-concomitantemente-afins-e-correlativos».
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Só que as “Meninas de Chaves” são «guichas». E, com a meia de leite para ela e o café para ele, trouxeram dois “Pastéis de Chaves” douradinhos e quentinhos. Mas, topando que eram visita noviça (mas não «nabiça», ó marotões!), a “Menina de Chaves” avisou para terem cuidado porque por dentro estavam muito quentes.
Eles. Os do parzinho meu amigo, já iam avisados. Mas a “Menina de Chaves” salvou-os do se terem esquecido.
A minha amiga e o meu amigo, levantando um pouco a sobrancelha a esquerda, ela, a direita, ele, olharam um para o outro, como a querem avisar-se para se porem finos.
Confessaram-me que os Pastéis (de Chaves) lhes meteram logo muita cobiça.
Trincaram.
Provaram.
Beberam um gole de café e de café-com-leite.
Trincaram.
Comeram.
E entre duas dentadas, enquanto de derretiam de prazer com a massa e a carne (de vitela) picada, acenaram para uma das “Meninas de Chaves” e pediram mais dois “Pastéis”.
Fizeram não ter dado conta, mas bem viram que as «Meninas de Chaves», ali estavam para os atender (bem, a moda é: «em que posso ajudar», porque pronunciar um «posso ajudar» transmite ao ego um ar de «poderosidade» (poder e superioridade) que não contém o «atender».
Garantido o alojamento, no Hotel, pediram à recepcionista a indicação do “Leonel”. Iam almoçar um «pernil fumado», por recomendação, disseram.
No Campo da Roda ficaram de barriga cheia e contentes.
No meu roteiro, mandei-os subir até ao Miradouro de S. Lourenço.
O dia estava bonito. Aí chegados, tiveram de inventar uma «táctica» (um método) de se “consolar com o que os seus olhos viam”, disseram-me.
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Olharam tudo à sua volta depressa, logo à primeira vez. Depois outra vez, mais devagar. Depois, ainda outra vez, mais devagarinho. Então combinaram dividir todo aquele horizonte em fatias. Nem deram conta do tempo passar. Queriam ir merendar mais uns “Pastéis de Chaves” e estava mais na hora do desejo e do apetite do que na hora da tarde. Mas ainda tinham de ir à “Ribeira de Sampaio” ver o destino que estão a dar à ponte e às margens do ribeiro.
Colhido o desgosto e desencanto com o desprezo dado àquele encanto, voltaram à estrada, e meteram pelo estradão do “Castelo”, em busca do «Cruzeirinho» das Eiras.
Já lhes crescia água na boca, só de se lembrarem dos Pastéis.
Voltaram em direcção à cidade. Procuraram o “Catonho Tonho”. Estacionaram e saíram para entrar noa “Loja do Bom Paladar”. Conforme lhes recomendei, perguntaram pela “Alice da Granginha” (era para causar «suspense»).
Aí, pegaram no telemóvel, ligaram-me e ralharam comigo, ameaçando que «tens de dizer à Luisinha para trazer remédios para o «colesterol» e o «emagrecimento»!).
Iam aos Pastéis e ficaram perdidos com a doçaria!
Não tiveram outro remédio senão alternar “Pastéis de Chaves” com os bolos da Alice da Granginha, acusaram-me!
Refastelados, foram para o Hotel, preparar-se para o jantar e a noite.
Tinham de descobrir o carreiro que dá para o adro de Santo Amaro, o sítio onde se faz uma boa, que não a última, ceia - O “Aprígio”!
E nessa primeira noite lá foram até ao Casino.
Bem dormidos, e com sonhos de fazer inveja a serafins e querubins, disseram-me, passaram pelas CALDAS, beberam um copo daquela água bem-fadada.
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Decoraram o sítio do “João Padeiro”, contornaram a Muralha e, vá lá, conseguiram lugar para o carro, no “Largo do Anjo”.
Procuraram a portinha dos “Prazeres na Loja”.
O cheirinho a Pastéis fresquinhos e quentinhos (que bem lhes fica este contraste!) logo orientou os meus amigos para o nº 14.
A “Suzy” recebeu-os com aquele lindo sorriso das retintas “Meninas de Chaves”.
- “Estamos aqui mandados…”
D.Helena do Jorge, da Abobeleira, juntou o seu sorriso de “Menina retinta de Chaves” ao da “Suzy” e atalhou-os:
- “Já sei quem são e ao que vêm. A encomenda do fumeiro está prontinha”.
A “Suzy”, ao ouvir isto, foi logo buscar dois “Pastéis de Chaves”. Par «prorβarem», disse.
Pois! «Proβar”!
Lá se vai a dieta, o colesterol e a elegância!
Meteu-nos numa boa, o Luís! - disseram um para o outro.
Virando-se para a Lena (D. Helena) do Jorge, da Abobeleira, o meu amigo (para admirar, mais guloso que a cara-metade), disse:
- Este foi apenas uma amostra. Faça o favor de me trazer outro, que é para provar.
Perdida de riso, (e que lindo o tem!), a “Suzy” trouxe mais dois “Pastéis de Chaves”.
-Ai a nossa vida! – exclamou a minha amiga cara-metade do meu amigo.
E o almoço?!
Vou segredar-vos: Eu já tinha telefonado para VILELA do TÂMEGA, à sucessora da D. Helena, a D. Maria do Céu, para ter preparado um «Arroz de Cabidela», para almoço destes meus amigos. Pior (melhor) ainda: recomendei-lhe para sobremesa uma (Uma! Duas ou três!) das suas compotas!
Imaginai!...
Almoçados, de VILELA foram fazer uma sesta no Hotel.
A meio da tarde, já tanto a Alice da Granginha, do “Bom Paladar”, como a Lena, dos “Prazeres na Loja”, lhes haviam falado da Freguesia de VALDANTA - da Barragem Romana d’Abobeleira, de “Outeiro Machado” e da CAPELA da GRANGINHA - meteram-se pelos Aregos acima e chegaram à Abobeleira. Com alguma perícia, deram com o monumento dos romanos. Em Valdanta, tiram um retrato ao “Forno do Povo”, junto à estrada, e seguiram as indicações que a minha afilhada Alice lhes deu para acertarem com “OUTEIRO MACHADO”.
Espreitaram a “Barragem”, atravessaram o CANDO e chegados ao “Largo do Carvalho”, na GRANGINHA, perguntaram ao XICO, da Srª Prazeres, onde ficava a CAPELA da GRANGINHA.
A zeladora mostrou-lhes aquela relíquia histórica e monumental.
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Claro que tiveram de entrar na casa da D. Nídia (bem, da Nídia, minha amiga e comadre - somos ambos padrinhos da Alice que indicou o “OUTEIRO MACHADO”).
E os que tiveram a sorte de visitar a GRANGINHA já sabem o que acontece naquela casa: - Uma boa merenda (almoço ou ceia) e… uma boa pinga.
O sol já estava pra lá da Serra d’Ardãos e o casal turista desceu pela «Barje» (Várzea).
Antes da chegada ao Hotel ainda pararam para olhar a “Azenha do Agapito”.
Aperaltaram-se para o Jantar e noitada, e foram comer ao “Faustino”.
Provaram uma linguiça assada, petiscaram um arroz de tomate e comeram um prato de orelha.
Na sobremesa, ela ficou-se pelo «Toucinho do céu», e ele, pelo “leite–creme”.
O meu amigo, disse-me, rematou com uma (não vale mentir: DUAS) «Geropiga”!
Desceram, a pé, Stº António, foram até meio da Ponte Romana, voltaram, meteram pela Rua do Tabulado, em direcção às CALDAS.
Havia por ali animação. Antes da «deita», frequentaram três dos Bares.
O Hotel ficava a dois passos. Amanhã era novo dia.
E remataram a missiva (palavrinha que se usava «intigamente» para significar «carta») com a promessa de me contarem as aventuras dos dias seguintes, no próximo correio.
- “É pra não te fazermos mais «imbeija», como dizeis aqui por CHAVES, ou julgas que não estamos a aprender?!” – terminava.
Uma carta destas!
E mandei eu estes dois marmanjos à NOSSA TERRA!
Era o que mais me faltava!....
M., 16 de Maio de 2015
Luís da Granginha