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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

21
Dez13

Do livro " Chaves, Olhares Sobre a Cidade"


 

Palavras do rio invisível

 

Por entre as margens recebemos da fonte e damos esta água que nos criou

E por nos criar assim nos separou…

 

Aqui, outrora, pé ante pé, encurtaram-se os lados,

Saltitando entre as pedras duras adormecidas sobre as águas

Além, depois, uniram-se as margens e o rio desapareceu…

 

Por entre as margens recebemos da fonte e damos esta água que nos criou

E por nos criar assim nos separou…

 

Agora, aqui, sentado, vejo o rio e o tempo passar

Vejo da fonte as memórias e o sonho da foz

Onde a água nasce e depois se perde na imensidão

E pelo meio nos criou e por nos criar assim nos separou

 

Depois, trouxe comigo esta memória e o sonho

E também um pedaço do rio neste pedaço de papel

Tornando sempre visível a quem um dia

Um dia do rio se separou…

 

Paulo Chaves

 

 

 

Ulmus procera, in memoriam

 

 

Já foi mais acolhedora de gentes, esta praça – também as outras, direis vós, pois sim, vos asseguro eu, que as recordo a todas sombreadas de frescura e alegradas de passaredo, mas é nesta que fixo agora a teia dos pensamentos… – nem todos podeis lembrar-vos, pela idade, já se vê, de quando o velho negrilho punha una altiva nota de nobreza e eternidade em frente do Hospital, onde sarandeavam atarefadas batas brancas, que tanto botavam ao mundo a muita canalha que as mulheres então pariam como fechavam os olhos aos que a vida resolvera substituir neste vale de lágrimas e trabalhos. Tinha até uma cercadura em ferro forjado, aquela velha árvore, como é costume fazer de roda dos monumentos, para que se soubesse que a sua sombra, grande como só a das árvores grandes, costumava resgatar dos séculos as lembranças, que depois sussurrava aos ouvidos atentos dos muitos passantes que nela se acolhiam. Porém, o tempo, que é coisa que não existe, mas que nós persistimos em medir e adorar como deus inexorável e impiedoso, resolveu pôr fim à vida longa daquele ulmeiro que já não sabia a idade. E vieram os machados e as picaretas, ao abrigo de um despacho autárquico, fórmula menos digna de sentenciar à morte quem apenas cometia o crime de estorvar o devaneio urbanístico de um decisor mais afeiçoado à aridez estéril das pedras picadas. Sabemos todos que, quem é grande em vida, também costuma mostrar grandeza na morte, mesmo a que é feita de cruel impiedade – assim que as suas raízes começaram a ser desentranhadas da terra que lhe dera vida toda a vida, jorraram delas moedas às centenas, cunhadas com as efígies desgastadas dos romanos cruéis que as tinham feito extrair das escuras minas de Jales ou das Freitas, ensopadas em suor lamentoso de escravos, para que depois fossem acumuladas avaramente durante milénios e acabassem a despertar a cobiça basbaque de um grupo excursionista que por ali passava, talvez em busca de memórias de um tal Luís que escrevera versos para uma aventura e que agora dava nome àquela praça, sem que ninguém arriscasse garantir que também ele poderia ter brincado aos soldados, à sombra daquele negrilho, ou, quem sabe, para confirmarem bisbilhotices velhas sobre a verdadeira paternidade dos sete filhos da Maria Mantela, que aquelas paredes mostram de redor dela, ou apenas seguindo um roteiro singelo e óbvio, de cicerone local, entre os restos de um castelo e as fontes fervilhantes das caldas, onde se curavam reumáticos e se depenavam galinhas…

 

 

Pouco tempo depois, outra vez o tempo que tudo resolve, veio a Ophiostoma novo-ulmi, grafiose dos olmos,e acabou por matá-los a todos, oferecendo uma oportunidade desculpante ao malfadado despacho autárquico – ‘se não tivesse sido cortado e arrancado, teria morrido da doença…’ É assim a pequena história dos povos, sempre a justificar os erros e a reconstruir os factos.

 

Herculano Pombo

 

 

03
Jul13

Leituras de um olhar


 


 

 


Linhas cruzadas

 

Sob estas linhas que nos conduz

Ao destino desejado,

Tao certinho, tão livremente

Há um passo cruzado,

Que desafia constantemente

O destino tão desejado

 

Um novo rumo se apresenta

E cada passo é uma nova descoberta.

Por aqui, por ali, por além,

O destino nunca foi tão incerto

Que decerto se faz em cada passo



Fotografia de António Tedim - Texto de Paulo Chaves

 

 

 

27
Jun13

Leituras de um olhar


 


 

 

 

Arte Madura

 

Quanta arte, quanto engenho

Das mãos já calejadas

Na procura do sustento

 

Mas quando nem só de esforço e arte

A Arte assim se alcança

Há espaço e tempo

E lugar para a esperança

 

E com a esperança

Vem o tormento da espera

A incerteza e a dúvida

Mesmo para quem tem

A arte por madura.

 

E se do sorriso disfarçado

Surge certa a tristeza,

Ela pouco dura:

Lança a rede novamente

Quem tem a arte por madura.



Fotografia de António Tedim - Texto de Paulo Chaves



19
Jun13

Leituras de um olhar


 


 

 

A vida como um jogo

 

Neste jogo da vida,

Como eu jogo, como eu vivo,

E assim de descontraído

O tempo foi e vai escrevendo na pele

A minha idade.

 

Já não penso no tempo ido,

Que saudade,

Nem imagino o tempo que virá,

Qual esperança,

Como as cartas recolhidas

E aquelas que vou jogar

Estou aqui no meio descontraído

A ver o tempo passar



Fotografia de António Tedim - Texto de Paulo Chaves



29
Mai13

Leituras de um olhar


 


 

 

Longe e tão próximo

 

Ali, onde se perde o olhar,

Como se ali fosse o infinito,

Distantes os braços esguios

Se abraçam apenas no olhar

 

Apontam um rumo natural

Como se o céu beijasse

E ao longe  de quem vê

Aproxima quem é distante

 

Assim, olhar o infinito

Encurta a visão

Porque o tempo não pára.

 

 

Fotografia de António Tedim - Texto de Paulo Chaves

22
Mai13

Leituras de um olhar


 


 

 

Amizade

 

Ele, perdido por achar

Escondido no alto do monte:

Quem à claridade o vê

Confunde-o com o vento,

Quem na escuridão o escuta

Quer ver a luz e o rumo

 

É pequeno, à luz do dia

E grande na vastidão da noite…

 

Também poderia ser assim

Mas sucumbe-me o desejo:

Só quando o Mar bravo afasta e atormenta

Quer ele encontrar um porto seguro

Quando manso e claro

Por mais alto que esteja é ignorado



Fotografia de António Tedim - Texto de Paulo Chaves



08
Mai13

Leituras de um olhar


 


 

 

Edificar

 

Construções construímos humanas

Tão desumanas, coração de pedra

Procuramos em vão, em redor

Em cima e por baixo, tanta dor

Como ainda nos enganas,

Ó construtor

 

Tudo muito junto, tudo muito perto,

Mas é certo tão certa a nossa solidão

 

Obra grande ou grande obra, qual certeza:

Enorme encanto e beleza

Ou uma clara escuridão

 

 

Fotografia de António Tedim - Texto de Paulo Chaves

 

 

 

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