Pecra de Toque - A Música
A MÚSICA
Paixão antiga que perdura até aos dias de hoje e sei que não deixará de perdurar até sempre.
Gosto, melhor sempre gostei, dos mais diversos géneros musicais.
O fado, a canção portuguesa que ouvia nas passeatas em noites cálidas no Jardim Público de outrora que transmitia a velha cabine sonora, os boleros de Gatica, as canções de Marino Marini, as baladas de Adamo, e todo a música de compota a que chamávamos também de música para constituir família, que dançávamos enamorados nos bailes tradicionais e nas verbenas de Verão.
Nessa altura estavam na berra os conjuntos de Shegundo Galarza, de Mário Simões, de Pedro Osório, de Tony Hernandez, que são aqueles que a memória me facilita no momento.
Quase e todos atuaram com aplauso em grandes e solenes bailaricos na nossa cidade.
Depois em 1961 e nos anos seguintes, na Lusa Atenas tive o privilégio de ouvir José Afonso, Adriano, Góis, Bernardino e outros rouxinóis cujas vozes motivavam o silêncio, a emoção e o gosto pelo fado coimbrão.
Vieram logo após as baladas com a bênção do patriarca (Zeca Afonso), e o talento de José Mário Branco, do Sérgio Godinho, do Fausto e demais que, para além da beleza das melodias que permanecem no ouvido, nos deram a importância das palavras que poeticamente nos ajudaram a abrir caminhos.
A música anglo-saxónica e os geniais Beatles e os que lhe seguiram foram sucesso, estrondoso êxito em todo o mundo e no nosso país.
Certamente esqueci muita da música ligeira que já passou no percurso longo que já vivi.
A memória é pródiga em trair.
Reitero, no entanto, e aqui sublinho a importância que a música tem e teve na minha vida.
Ouvi-la dá-me prazer imenso, dançá-la enleva-me, proporciona-me momentos felizes.
Sentado bato pé quando a escuto, gingo na cadeira ao balanço do ritmo.
Nos últimos anos quando escrevo, leio, ou estudo, não prescindo do respaldo dos concertos e sinfonias dos génios da música dita clássica com especial preferência por Beethoven, Mozart e Liszt.
É a música que tantas vezes me inspira, me serena, me arrebata, me extasia.
Começo a acreditar que dentro de mim para além de água (70%), proteínas, lípidos, glícidos e sais minerais,
Também está lá um cibinho de música que me ajuda a adoçar a solidão, e a minorar a velocidade alucinante com que os anos inevitavelmente passam.
António Roque