Crónicas Ocasionais - Pedincheiros & Putanhintes
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“PEDINCHEIROS & PUTANHINTES”
Na época do Natal, que antigamente durava uma semana antes do NOITE DE CONSOADA e terminava - depois de cantadas umas boas “Janeiras” às portas (e Adegas) dos bons amigos!) - no dia seguinte à Noite do CANTAR DOS REIS, notava-se uma especial alegria entre todas as pessoas, da ALDEIA ou da CIDADE, pois a tradicional celebração do nascimento de (um tal) Menino Jesus era como um lufo de esperança de dias melhores, na saúde, no trabalho, nas colheitas e em todos os amores, no Ano Novo logo se seguia.
Ia-se a Feces buscar o Polvo e «o trigo (ou cacête» para as rabanadas.
E junto ao «Pinheirinho de Natal», a proteger o Presépio, feito com musgo arranjado em entusiasmadas e selectivas buscas pelos muros e chão dos pinhais, só a miudagem punha o sapatinho, a soca ou o soquinho (alguma, as alpergatas) para a recolha das prendinhas do Menino Jesus.
As Avós, as Mães, as Tias, as Primas, as Madrinhas, as Irmãs mais velhas lá davam uma filhó a provar, ou faziam que ralhavam deixando roubar um bolinho de bacalhau.
Ah! Nesse tempo era o verdadeiro tempo dos verdadeiros «bolinhos de bacalhau«!
Oh! Se eram!
E logo à saída da Missa do Galo - a da Meia-Noite - se começava a cumprimentar, APRESSADAMENTE, toda a gente, dizendo:
- “BOAS FESTAS, M’ HÁ -DES DARE OS REIS!”
Depois chegou «rápido e depressa», quase sem se dar por ela, a modernidade e as modernices.
As cores e as luzes de fora e lá de fora, num repente, ensombraram as cores e as luzes de dentro e de cá de dentro.
O Natal, a Feira do Natal, começa logo mal acaba a Feira dos Santos.
Jornais, Revistas, Rádios, Televisões, Panfletos, Montras e Espectáculos deram um pontapé no cu do Menino e promoveram a “Rei da Festa” um palhaço vestido de vermelho e com um carapuço à tralaró, a meter-se pelos olhos dentro a torto e a direito, sem pedir licença a ninguém, e com toda a habilidade, mezinha e falcatrua do mais refinado «mãos-leves» fazendo «buracos financeiros» na bebedeira consumista do Zé Pagode e «enchendo a mula» aos «agentes económicos», aos virtuosos do «empreend’dorismo», e aos sagazes subversores da”Hierarquia das Necessidades” .
Na época dos «Bens coloridos: laranja, amarelo e vermelho», com moda copiada para os «avisos» de Altas Autoridades Da Meteorologia e Afins, crescem, de ano para ano, as hordas de PEDINCHEIROS a atravancarem as Entradas dos mini, super e hipermercados; as portas dos Hospitais Centrais, das UBS’s, UFB’s - Salvam-se as U P S’S - pudera!; as portas de Centros de Óptica, das Estações dos Correios, de Capelas e Igrejas; atrapalhando o trânsito regulado por semáforos, «chateando» condutores, passageiros e peões; entrando de enxurrada nos «Cafés» a pôr em cima das mesas, malcriadamente, uns papeluchos, com imagens de «santinhos» ou duas tretas dactilografadas, à chegada, e ditando o custo, insultuoso, à partida.
Todos os Balcões de «Pão-Quente» exibem uma caixinha com ranhura a sublinhar uns gatafunhos a quererem dizer : “…rinhónho, …Boas Festas”
E a última novidade que nos foi revelada aconteceu com mais espanto do que um milagre de Santa Isabel:
- Entrámos numa Loja de Télélés para fazer um carregamento.
Entregue a nota, a «menina» passa-nos o recibo e ordena:
- «Já agora, “faxavor» de meter VINTE (20) cêntimos aqui na caixinha, que é para nós”!
Despertámos!
Para além do cinismo do Presidente da República e do Primeiro Ministro, ao virem manifestar a sua preocupação com a Pobreza, desde pequeninos (claro que «Parvos (latinos)» como são, tratam «A piolheira» como micróbios!), deparámos - com licença dos verdadeiros, autênticos e reais putanheiros e pedintes - com o novo reino dos PEDINCHEIROS E PUTANHINTES!
“Homesta porra”!!!
Luís Fernandes