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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

22
Out11

Recordando visitas antigas


 

Traído pelo tempo (dos relógios) não tenho dado as minhas voltinhas de fim de semana pelo nosso mundo rural flaviense. Assim sendo vou-me valendo do arquivo e vou percorrendo virtualmente, em imagem, as voltas que fui dando nos últimos anos.

 

 

Hoje comecei em Pereiro de Selão e tal como quando as voltas eram reais, de repente, dava-me na veneta e mudava de rumo. Às vezes uma luz, um cheiro, um pormenor, uma fala ao acaso levava-me até aos campos da memória, de algo que me despertava de visitas anteriores.

 

 

De Pereiro de Selão depressa passei para às Assureiras de Cima em busca de um pormenor, que no entretanto a paisagem retratada logo deixou esquecido. Gostei do que vi, daquilo que os meus olhos alcançavam e por isso, o clique. Clique que desperta sempre outro clique e o segundo (que já é terceiro), tal como nos passeios reais, levou-me até Dadim mas com olhar posto em Cimo de Vila da Castanheira que ficou, no entanto, retido na Igreja Românica.

 

 

13
Mar10

As varandas da memória - Chaves Rural


E porque hoje é Sábado, vamos mais uma vez até ao mundo rural de Chaves e as suas varandas, bem mais abundantes nas aldeias do que na cidade, pois a varanda era um elemento importante das casas e com muitas mais funções do que a simples passagem gradual do interior das casas para a rua ou exterior.

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Casa com varanda, em Loivos

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De facto tem além dessa função de passagem entre ambientes, outras funções. Servia, por exemplo, de recolha e local de sequeiro de alguns produtos agrícolas, principalmente o milho e o feijão, mas também de recolha, guarda e secagem das capas de chuva, sócos ou do guarda-chuva, embora este, até fosse ou seja pouco usado no mundo rural, pois ocupa as mas que são tão preciosas para o trabalho ou para transporte de outros utensílios em que o guarda-chuva era um luxo que só incomodava.

 

Era também à varanda, que o milho depois de seco, no vagar do anoitecer se ia desgranando (popularmente também se dizia “degranhar” ou “desgranhar”).

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Casa com varanda, em Pereiro de Selão

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Mas de todas as funções atribuídas às varandas, havia as mais nobres em que ela funcionava como mais um compartimento da casa, uma sala de visitas ou de receber e estar no exterior, principalmente nas noites acaloradas de verão, onde, apenas em família, ou com a companhia dos compadres, amigos ou vizinhos, se ia fazendo serão enquanto o interior da casa ia “arrefecendo” um pouco para uma merecida noite de sono. Noites memoráveis em que se falava de tudo, da vida da casa, da vida dos outros, contavam-se estórias, davam-se conselhos, reprovavam-se ou elogiavam-se atitudes, mas tudo num tom sereno, quase num murmúrio de palavras que a própria varanda abafava e pouco deixava desviar para além do silêncio, quando este, não era total. Um silêncio total que apenas o era em palavras nos corpos serenos e quase inertes, como se anestesiados, pelo cantar das cigarras e dos grilos quando o calor apertava ou, em silêncio de encanto, quando os rouxinóis impunham as suas melodias e se desafiavam na distância da noite, ainda frescas de primavera.

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Casa com varanda, em Soutelinho da Raia

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Tenho no meu imaginário de criança muitas destas noites de varanda, com sons mágicos que para sempre ficaram registados na memória dos silêncios e músicas da noite, com muitos rouxinóis que felizmente ainda hoje os oiço, mas também e sobretudo, com a música das flautas que fluíam de bem longe e me diziam ser dos pastores… pura magia que só acontecia no recolher de uma varanda…

 

(…)

E por que não galgar sobre os telhados,
os telhados vermelhos
das casas baixas com varandas verdes
e nas varandas verdes, sardinheiras?
Ai se fosse o da história que voava
com asas grandes, grandes, flutuantes,
e poisava onde bem lhe apetecia,
e espreitava pelos vidros das janelas
das casas baixas com varandas verdes!
Ai que bom seria!
Espreitar não, que é feio,
mas ir até ao longe e tocar nele,
e nele ver os seus olhos repetidos,
grandes e húmidos, vorazes e inocentes.
Como seria bom!

Descaem-se-me as pálpebras e, com isso,
(tão simples isso)
não há olhos, nem rio, nem varandas, nem nada.

 

In “Poema da Memória” de António Gedeão

 

As varandas, algumas,  ainda existem e resistem, hoje tristes e abandonadas.

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