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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

01
Fev18

A Pertinácia da Informação


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De pôr-do-sol a pôr-do-sol

 

Não reparo bem na casa, mas fico com a sensação que há uma mistura de casa antiga com algum cimento nas paredes e alguns azulejos. O conjunto é desarmonioso. A organização do espaço, salvo raras exceções, como por exemplo quando não há autonomia para o organizar, reflete a maneira de estar das pessoas que o ocupam ou das que o possuem.

 

Não é importante a comodidade para além daquela lareira e dos velhos escanos.

 

A cara está enrugada e a pele escurecida, mas, à medida que a conversa se prolonga, consigo vê-la com nitidez e bem definida: uma personalidade vincada.

 

A Fé. A Fé é algo forte, uma crença à medida de cada um. Que mal tem? Que mal tem se nos faz bem? Ela diz que a nossa Senhora de Fátima a ajudou durante a operação e, por isso, envia-lhe, religiosamente, “dez contos” sempre que alguém vai lá. Questionei-a sobre a necessidade da Nossa Senhora receber esse dinheiro: “Acha que lhe faz falta?” Ela respondeu séria e convicta: “Pois sim, se não como eles iam fazer aqueles prédios todos, lá em Fátima?”

 

Nunca foi lá. Mas não sente falta. Ninguém a visita, mas também não lhe faz falta, sempre viveu a contar apenas consigo mesma. Não fosse estar velha e as doenças… mas da vesicula ficou bem.

 

Que mais tem para me contar? Absolutamente mais nada, mas eu que faça as perguntas que eu é que sou a entendida. Assim o entende ela.

 

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Antigamente? Antigamente não havia absolutamente nada: crianças descalças na rua, batatas e couves cozidas no pote e carne gorda grelhada no lume. Havia crianças? Havia, ter muitos filhos era ter muita mão-de-obra. Havia muitos rebanhos, havia vacas, colhiam-se batatas para vender… vendiam-se cordeiros na sua época. O cordeiro assado era presença assídua nos banquetes, todos o mencionam.

 

“Tenho forno, sim senhora”, diz-me na sua habitual segurança, “coze?” [pergunto se coze pão], já não coze, mas assou cordeiro há uns tempos, no Natal, quando teve cá a família. “Não, não cozo, mas não vou deitar o forno abaixo.”

 

Certamente.

 

As aldeias são assim, povoados fantasmagóricos de gente e histórias. Não se vê ninguém, pouco passa das 17:30, em pouco tempo já todos jantaram. Sai fumo de algumas chaminés e o resto são ruinas. Havia um pombal… imaginamos um magnifico quiosque, um posto de venda de souvenires… nós somos assim: sonhadores.

 

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 “E a menina a mor de quê faz tantas perguntas?” Achei que não tinha escutado bem, peço para repetir e, por fim, admito a minha ignorância e digo que não percebo nem conheço a expressão. Já ganhei o dia, penso feliz: apropriei-me da expressão, como uma menina de uma caixinha de música.

 

Gesticula muito e fala alto. Dá pancadinhas no braço e às tantas dou com ele a apertar-me a mão num passou bem demorado. Tusso e preciso da mão direita. É uma personagem interessante, muito requisitado em todas as áreas. Poderia dizer-se que é daqueles que nascem para mexer e movimentar. O homem movimentou, fez e aconteceu. No dia seguinte conta-nos para além das informações necessárias “a mor” do meu trabalho, pergunta se vimos “a pedra” – foi graças a ele que não a deitaram a baixo. Vai-nos buscar o livro. Então entendi.

 

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 Fotografia de Emanuel  Teixeira

 

É mais uma das tantas aldeias, mas uma das que vejo e calcorreio. Calcorreamos em desespero. Olhamos para as coisas, vemos potencial e não entendemos porque outros não o viram.

 

Apetecia-me morar naquela casa e “tu” podias morar na outra ao lado, têm uma varanda- ponte, há cada coisa tão engraçada!

 

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Fotografia de Emanuel Teixeira

 

Mas o desânimo, o desgaste e desilusão são tão grandes que me apertam o coração – estragado de um mau jeito de amor a causas, talvez. Quando isso acontece, tenho dificuldades em fugir ao que sinto e olhar de frente essa realidade de abandono.

 

As pessoas precisaram de ir embora, à procura de melhor vida… à procura de vida! Trabalhar em quê? Os terrenos são férteis, podiam-se ter feito projetos agrícolas interessantes … e dá-se-me um nó na garganta e uma dor nas articulações dos dedos que teclam. A seu tempo, serei concisa.

 

Há uma escola – o edifício. Reparo que nunca vejo crianças. Em tempos houve crianças, as tais que corriam descalças, as tais que eram uma mão-de-obra fundamental para as famílias. Houve um tempo que foi preciso construir uma escola e depois veio outro tempo em que foi preciso fechar a escola. Uma vez ouvi-te dizer: “Ó minha linda, claro que fizemos bem fechar as escolas… aquelas criancinhas infelizes sozinhas uma professora e uma criancinha… coitadinha… Ah numa escola grande com mais crianças, isso sim! Até ficou mais feliz!” Claro que me revoltei e disse tudo aquilo que penso quando a na maior parte do tempo estou calada e a fazer cálculos no fígado. Agora explica-me como pode alguém querer voltar para uma aldeia onde não há escola, onde não há transportes… e tudo se justifica porque já não há gente.

 

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Se calhar a lógica é essa: não haver gente em lado nenhum. Talvez o que se pretenda mesmo seja não haver música, nem risos, nem palavras de amor. A lógica é vestir a albarda e pôr o açaimo enfiar as palas e puxar. Com o tempo eu moldo-me à cadeira, ao frio e o frio a mim.

 

Mas ele continuou a explicar as façanhas e as aventuras. Dá uma imagem dele mesmo como um indivíduo perseverante e fazedor do bem comum. Aprendi com alguém que devemos evitar o “eu” em algumas circunstâncias discursivas. Fico a saber, ao fim de algumas conversas que houve um tempo em que se faziam trocas sem moedas. Aos galegos levavam castanhas e de lá traziam ovos, por exemplo. Há algumas anedotas que se vão repetindo nas conversas como aquela de alguém que “comeu os ovos antes que os guardas a apanhassem”.

 

E no meio do cenário fantasmagórico, ali está ela: “a pedra” que ele “salvou”. Graças a ele não derrubaram a pedra. Mas a Sinagoga foi-se.

 

Em 1998 foi editado um livro por um grupo de pessoas empenhadas em fazer um levantamento do património histórico e cultural da zona, a fotografia e a explanação evidenciam essa preocupação e esse interesse em preservar as coisas importantes. Mas porque será que o levantamento e registo desses roteiros não surtiram outro efeito? Seria preciso que alguém mais percebesse o valor das coisas e a “pertinácia da informação” dos livros exclusivos para pessoas exclusivas… seria preciso que as pessoas do concelho percebessem a importância dada às coisas importantes da sua terra, tipo o efeito espelho: “Que bonita a minha terra no livro!”, “Que bonita a minha terra na televisão!” . E, depois era preciso alguém a fazer com que se visitassem esses sítios, e para que alguém visitasse os sítios era preciso haver que ver nos sítios, que comer e onde comer e maneiras fáceis de ir. E depois era preciso “insistir”, “insistir muito”, coisa que nós transmontanos sabemos fazer, ou pelo menos aprendemos a fazer ou vimos fazer: “não querem comer nada?”, “ora comam!” e foi assim que eu, então lá peguei nos doces e meti ao bolso e disse muito obrigada. Eu habituei-me a pensar que é de má educação aceitar, mas também aprendi uma vez que é ofensivo recusar o que nos oferecem insistentemente. Já fiz outros trabalhos em que é preciso fazer preguntas “a mor” de qualquer coisa, mas nunca me senti como se andasse a cantar os reis. Venho com os bolsos cheios de tangerinas, surtidos… chocolates e até uma madalena. Eu adoro madalenas, são doces flor.

 

Pergunto-me e pergunto-vos como é possível? Pelos vistos deve haver algo errado comigo por ficar tão indignada. Mas, por muito que me esforce não consigo ficar indiferente e seguir em frente sem primeiro espernear um pouco. E se calhar é muito pouco e devia ser mais.

 

Uma vez perguntei: “Mas como é que essas casas antigas com relógios de sol, outras com brasões, com histórias… como é que estão a cair?” a resposta foi óbvia: os donos.

 

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As casas são dos herdeiros. Os herdeiros moram e trabalham longe. Às vezes as nossas vidas fazem-nos quebrar laços, há zangas e desamores com as famílias, nas famílias… somos do mesmo sangue, talvez, mas de almas diferentes e, por isso, há entendimentos que são impossíveis e roturas para sempre. As roturas dolorosas exigem distância, das pessoas do passado e desprendimento das coisas. As casas abandonadas escondem também esses dramas e esses segredos. Ficam histórias por contar e as histórias são importantes por serem por si só ensinamentos. As casas nunca são vendidas, nunca são recuperadas. Não se vendem porque não há entendimento, não se vendem porque se pedem preços impossíveis… seria justo haver uma lei que desse ao Estado a tutela dos bens que se deixam ao abandono, sempre que sejam considerados de interesse histórico cultural e identitário? Não sei. Era preciso confiar nos órgãos decisores.

 

Sou precisamente assaltada por esse pensamento quando vejo a placa torta na estrada – até parece que alguém a torceu de propósito! Sou assaltada e aos saltos, porque tenho a sensação há uns tempos para cá que todos os sítios onde vou estão cheios de buracos, não há um asfalto direito.

 

Paro. Saio e vou ver. “ON OPERAÇÃO NORTE”, “Designação do projeto: Saneamento básico XXXXXX”

 

Tiro fotografia.

 

O céu está negro, cheio de nuvens, e o Sol, com esforço procura projetar alguns laivos de luz. Acho que o sol está a ficar cansado pelo esforço que faz em iluminar os homens.

 

Saneamento básico? Estamos em 2018, tiramos escolas, reduzimos transportes, não tornamos os sítios atrativos… e ainda estamos a tratar de saneamento básico!? Já vem tarde, não é?  Os emigrantes fizeram casas bonitas conforme os gostos. Foram sonhos construídos no deserto, por vários motivos, mas um deles tem a ver com o facto que ninguém orientou essa construção. Uma construção de sonhos arrancados do sacrifício – eu sei, eu entendo. Se calhar agora o saneamento não vai ser útil, há casas e fossas feitas a cotas diferentes… há casas que nunca vão ligar os esgotos à rede pública… e há sítios onde afinal nunca foi concretizado o tal projeto de saneamento básico… mas isso fica para outro dia.

 

Eu, e peço desculpa por não dizer nós, continuo a viagem, porque agora vou sozinha. Se calhar vou de carroça, não oiço os eixes chiar por causa da carga que levo, nem as rodas de ferro a fazer barulho… mas este raio de trupitar das estradas está dar-me cabo da paciência: buraco… buraco… buraco.

 

Continuo a achar que há uma solução, e peço desculpa por rimar, mas eu acho sempre que é a educação. Ainda continuo a acreditar no desenvolvimento e no crescimento do ser Humano e na “pertinácia da informação”. Não sei porquê, mas acho que deve ser Amor.

 Lúcia Pereira da Cunha

 

 

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18
Jan18

A Pertinácia


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De caminho para Chaves começo a pensar: porquê morar em Chaves?

 

É terça-feira, um dia normal da semana, mas com a rotina matinal um pouco alterada. Já fiz parte das tarefas, mas ainda preciso de passar pela pastelaria e de meter combustível. Dou a volta ao quarteirão e paro mesmo em frente à pastelaria: “meia dúzia de pastéis de Chaves”. Aos 18 anos percebi que os tais pastéis com carne picada, que eu até nem apreciava muito, eram uma iguaria singular e típica da minha terra. O chamado “doutor”, que não era mais que um colega de curso mais velho, virou-se para mim e disse: “Caloira, sabe o que é um Chaves?” e eu pensei: “Cromo, os habitantes de Chaves são flavienses.” E pus a minha expressão típica de quem diz com uma abominável impaciência e saturação: “Lá vem mais do mesmo”. Então percebi que os “Chaves” eram os vulgos pastéis de carne. O bom de ir ao Hospital de Sto António, no Porto, é que passo à beira do antigo edifício da faculdade de ciências, onde tenho boas memórias. Bem que podia gastar o dinheiro que me vai custar a ida ao Porto para fazer algo mais prazeroso. Vejámos. Vou ao Porto ao hospital de Sto António, a uma consulta, mas tenho um hospital a dois passos da casa onde moro, contudo não tenho aí todos os recursos necessários para resolver o meu problema. Assim, tenho que faltar um dia inteiro ao trabalho, o que é desagradável para mim, para os patrões e para os colegas. Se fosse ali ao lado de minha casa, na pior das hipóteses, perderia apenas parte da manhã ou da tarde ─ mal menor. Depois, desgasto o meu carro, gasto gasolina e pago portagens… Fico cansada. A primeira vez perguntei ao médico que para lá me encaminhou: Sr. Dr. mas se vou fazer uma cirurgia ao Porto… há transporte? Há alguma comparticipação? Não havia, e podia ter ficado por ali com a conversa. Mas eu explanei bem o meu ponto de vista, argumentei, dissequei o problema e, uma vez que ele concluiu que era uma injustiça e a sua resolução estava para lá do seu alcance, decidiu que era inútil pensar em embrenhar-se no sistema e alterar decisões administrativas e burocráticas… decisões politicas… e soltou então esta pérola: “Ó menina, sabe que lhe digo: arranje um namorado – não lhe deve ser difícil – e que lhe dê boleia!”. Ora era o que mais faltava! Fiquei duplamente revoltada.

 

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Já estou de regresso, de uma das já inumeraveis idas aquela instituição, onde também os especialistas técnicos e todos se queixam da inadequação e ausência de recursos e ferramentas de trabalho, mas onde, mesmo assim, em comparação com o nosso hospital é tudo mais sofisticado e a vontade de investigar e estudar é motivada pela proximidade com a ciência e com a tecnologia, com os centros de investigação e com as universidades.

 

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Ligo o rádio. Está a ser transmitido o primeiro debate quinzenal de 2018 com o primeiro-ministro. Ao fim de algum tempo já estou saturada de ouvir Hugo Soares do PSD. O homem dá-lhe com o mesmo assunto, uma e outra vez: que Francisca Van Dunem disse, em entrevista, sobre a Constituição prever um mandato longo e um mandato único para a procuradora-geral da República Joana Marques. Será impressão minha ou estes indivíduos não sabem o que dizer? Pouco mais e já parece uma Assembleia-Municipal qualquer… fico farta, revoltada, às vezes os assuntos são tratados com uma leviandade como se qualquer um pudesse fazer política.

 

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Estou no Alvão, é agora a intervenção da Catarina Martins, do nosso Bloco de Esquerda. Este é o ponto mais alto da viagem. Como de costume, o Bloco fez o seu trabalho de casa: estudou investigou, traz números e observações pertinentes. Vem falar dos problemas que afetam os portugueses no momento – oportunidade. As pessoas estão doentes e estão doentes porque têm frio. Há problemas na saúde, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não está bem e a EDP está praticar preços exorbitantes… as pessoas não podem ligar aquecimento, além disso a EDP anunciou que não pretendia pagar os 69 milhões de euros, devidos em 2017, pela Contribuição Extraordinária Sobre a Energia.

 

O Bloco fala com oportunidade e tráz dados. Fala das rendas excessivas da EDP e dos 385 milhões que o governo podia e não investiu no SNS. Eles sabem que o valor não foi investido e estudaram todas as fórmulas das finanças e economia que relacionam o défice a dívida e resultado: -  eram possíveis as duas coisas, investir no SNS e melhorar esses indices. É o que importa esclarecer.

 

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Costa responde. Costa diz que estamos no caminho. Costa diz que o mal vem de trás, que diabo, o mal vem sempre por trás ou de trás. Depois, já foi feito muito, contrataram-se técnicos, enfermeiros… Catarina disse que há os especialistas necessários para entrar mas estão à espera do ok das finanças. O Costa fala de décimas… e o meu carro deu-me o sinal cor de laranja, se a minha filha estivesse aqui até ela sabia: “Mamã tens que meter gasolina”.

 

A gasolina aumentou. Lá vou eu abastecer novamente – tenho a mania de abastecer pouco de cada vez, é que me dá a sensação que gasto menos… e penso: miséria, sou uma rapariga miserável! E pelos vistos a única solução era … “arranje mas é um namorado!”. O Costa, não se importa com esta rapariga miserável, mas eu tenho dignidade e respeito por mim mesma, eu mereço essa dignidade, como merecem os doentes que estão nas urgências, como merecem os profissionais de saúde, enfermeiros que não veem os filhos crescer, médicos nas urgências com mais de 60 doentes para antender… merecem dignidade os que morrem em casa isolados nas aldeias, idosos, sozinhos, porque os filhos têm que ir para fora trabalhar, porque os filhos não têm tempo; merecem respeito os que querem morar onde são felizes mas não têm os meios necessários que teriam noutros sitios! Merecem dignidade as grávidas que têm que se deslocar a Guimarães, porque é aí que há o melhor equipamento de obstetrícia, o melhor em pediatria e neonatologia… mas onde aí faltam técnicos, onde aí todos correm para atender a todas e pelos vistos: chove…

 

É a vez do PCP. Visualizo o sinal “perigo de nevoeiro”. Esta parte da viagem é assombrada pela neblina. Neblina e passado andam sempre juntos no meu imaginário. Algo terá de Sebastianismo. Tenho pressa de chegar. O homem comete um ato falhado diz “campas” em vez de “camas”. O assunto é a mesma Saúde. Eu acho que o Jerónimo está rouco, pode estar doente.

 

Agora vem a Cristas do CDS. A senhora parece que esteve a ouvir a Catarina com atenção. Na escola, talvez na primária havia colegas que repetiam as respostas dos outros: “O que gostavas de fazer nas férias?”, e os menos criativos e mais preguiçosos respondiam “Também quero brincar, como o Carlinhos.” E pelos vistos o Costa acha o mesmo que eu.

 

Paro para meter gasolina. É esta a melhor altura.

 

Volto à estrada. A Heloísa Apolónia, diz algo que eu tenho repetido inúmeras vezes: os edifícios não estão construídos de forma adequada. Sim, cara Apolónia, devia haver outro tipo de exigências na construção e incentivos para remodelar as casas. Ela fala de incentivos para por “janelas duplas” – e instintivamente corrijo em voz alta “vidros duplos”. “Estou a ficar velha” penso. Continuo a ouvir a Heloísa. Eu não entendo como é possível vivermos numa região tão fria e as casas, tão caras para comprar ou com rendas tão altas comparativamente ao que ganhamos, terem piores condições que as casas tradicionais! Pelo menos as casas antigas, entre outras coisas, pensadas para proteger do tempo rigoroso, tinham lareiras e ficavam sobre os estábulos dos animais o que sempre dava algum calor.

 

Mas nem as casas particulares nem os edifícios públicos, e “há escolas onde chove e onde as crianças levam cobertores paras as salas”… a Heloísa já não tem tempo de explicar tudo e enumerar os diversos exemplos, “acabou o seu tempo senhora deputada”.

 

E eu tenho pressa de chegar ao fim, porque tenho pouco tempo para chegar.

 

Fui ao Porto e vim. Gastei imenso dinheiro para fazer a viagem, isso custa no meu orçamento. Se quero ser bem cuidada, como estou a ser devo continuar a fazer isso. Não devia ser necessário deslocar-me. Mas há quem diga que não tenho muito de que me queixar e que podia ser pior, ou então a conversa termina com um: “A menina devia arranjar um namorado que lhe desse boleia!”

 

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Entretanto o debate quinzenal com o primeiro-ministro está quase a chegar ao fim, falaram mais alguns, não ouvi, o rádio não estava bem sintonizado. O PAN falava das suiniculturas que poluem o Liz, e dos boletins de voto em braille…

 

Não podemos nascer pobres, nem cegos, nem surdos… nem longe não sei de onde.

 

Estou quase a chegar e no cenário de desgraça solto uma gargalhada. O Costa diz qualquer coisa do género, a propósito da intervenção do PSD: “os senhores levantam-se de manhã e pensam: o que vamos perguntar? Então dão uma vista de olhos aos jornais, vêm o noticiário, vão as redes sociais…”

 

Pois, o problema é que é mesmo assim que acontece.

 

E porque havia de morar em Chaves? Eu acho que deve ser amor.

 

Lúcia Pereira da Cunha

 

 

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