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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

05
Jul16

História da Pesca contadas em fotografia de António Tedim


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A partir de hoje e durante todo o mês de julho a Adega do Faustino, em Chaves, abre as suas portas à fotografia de António Tedim, com “Histórias de Pesca”.

 

António Tedim é fotógrafo amador, natural da Maia, tem participado em diversas exposições coletivas e individuais e é um dos fotógrafos amadores portugueses mais premiados em diversos concursos nacionais e estrageiros.

 

Esta é a segunda vez que expõe em Chaves. A primeira no ano de 2012 a convite da Lumbudus – Associação de Fotografia e Gravura, com uma exposição intitulada a “Rapa das Bestas”, documentando uma tradição galega com mais de 400 anos. Desta vez traz até nós “Histórias da Pesca”, contadas e imagem, com histórias da arte xávega, do mar e da ria.

 

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Mas, como sempre, mais vale uma imagem do que mil palavras e nem há como passar pela Adega do Faustino para ver esta exposição, para apreciar a arte de registar e perpetuar momentos únicos em fotografia.

 

Em palavras, há tempo ainda para reproduzir aqui o que António Tedim deixa registado no catálogo da exposição:

 

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HISTÓRIA DE PESCA

 

Escrever com os olhos é a melhor forma de sentir a ria, a laguna, as gentes, as artes, os alvores, os entardeceres e tanta, tanta beleza, que em tão pouco espaço nos deslumbra.

 

Esta exposição conta histórias de pesca da ria e do mar de Aveiro porque penso que a fotografia é uma das melhores maneiras de contar histórias.

 

A  PESCA  DO SÁVEL E DA LAMPREIA

 

O Murtoseiro que já tinha casa de tijolo no Tejo, quando lá chegaram os avieiros, e ali pescava o sável, a fataça e a eirós; a Murtoseira que, mais tarde, percorria a pé os caminhos que a levavam à Azambuja, carregando as redes feitas na terra e que ia vender aos do Tejo; o Murtoseiro é povo de muitas artes mas as de pesca são as suas preferidas.

 

Subam as lampreias e os sáveis as águas mais doces que de inverno escorrem na ria, e é vê-lo com novas redes, artes velhas, colhendo esses peixes que a norte e a sul são tão apreciados e caros, e tão mal pagos aqui, onde eles desde sempre as apanham.

 

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A  APANHA  DA  AMÊIJOA

É deste Murtoseiro que outro homem, o francês François Dennis, dirá que lavra o mar. Esse era o Murtoseiro do tempo dos bois nas artes do mar, na xávega. O Murtoseiro de hoje lavra a ria, na mais dura arte com que nela se trabalha, a cabrita. A arte da apanha da amêijoa, a arte onde os homens e as mulheres esfacelam rótulas, rasgam ombros, gingam dentro de água, se contorcem na dança mais estranha, dobram-se ao peso das massas brutas das cabritas.

 

A arte onde, por vezes, homens e mulheres parecem caminhar sobre as águas. A  arte que hoje é mãe do pão para tanto desempregado. É impossível imaginar a sobrevivência do pescador e de muitas das famílias ribeirinhas, sem a apanha da ameijoa.

 

Quanta fome a ameijoa mata? E quantos corpos lentamente destrói?

 

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A  ARTE  DA  PEIXEIRA  OU SALTADOIRO

 

Peixeira é aqui nome de arte, saltadoiro também lhe chamam, e é a tainha o peixe que busca. A peixeira do Ti Manel Viola, que já não pesca, e que o filho Alfredo herdou. A peixeira que ainda trabalha lá para os lados da Bestida, é uma arte em vias de extinção. Só o Alfredo a pratica.

 

A arte das redes, sempre por detrás das artes da pesca, artes que fizeram da ria mãe e que hoje é quase madrasta dos que dela vivem.

 

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As artes da ria. São artes de homens que resistem desde sempre e que comem pão salgado a cada dia, que vivem com o relógio das marés, que partem e regressam para tornar a partir.

 

É uma arte viver das artes da ria.

 

António Tedim

 

Para ficar a conhecer mais sobre António Tedim, nem há como acompanhá-lo no Facebook em:

https://www.facebook.com/antonio.tedim.7?fref=ts

 

Esta exposição é organizada pelo Blog Chaves, apoiada pela Adega do Faustino e a Lumbudus – Associação de Fotografia e Gravura e tem como Media Partner a Sinal TV.

 

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19
Nov15

O Factor Humano - Equilíbrios entre rio e mente


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Equilíbrios entre rio e mente

 

Quando acaba a pesca, gosto de imaginar o rio Mente a correr, ignorando normas e datas. Estabiliza-me saber ele está lá, constante na sua corrente. Revejo-me na sua persistência de não desistir. Poucas coisas me perturbariam tanto como se um dia o visse seco, ou destruído por uma barragem assassina.

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Rio Mente, em Segirei

Por isso me custam tanto as últimas idas à pesca, na estiagem do Julho, quando o caudal está triste e sumido. Disfarçam-se os cenários pescando ao nascer do sol, quando o orvalho e a temperatura nos iludem da tristeza que se está a anunciar. Outras vezes muda-se a técnica de pescar, procurando nos recantos das sombras, nas águas paradas, ensinar um saltão a dançar e chamar a truta para o baile.

 

É verdade que o mês de Julho funciona como um desmame que nos prepara para um interregno extenso, sem pesca, sem trutas e sem rio.

 

Para mim as primeiras chuvas do outono marcam o fim da etapa mais difícil. Mais do que a pesca, é o rio que me faz falta. As suas águas movem-nos a ambos, estabilizando-nos nos nossos ciclos.

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Rio Mente, em S.Gonçalo

Ao longo dos anos, fui semeando músicas nas margens do rio Mente. Cantor a cantor, canção a canção, fui substituindo as culturas abandonadas, da beira do rio, por poemas que saberia voltar a encontrar no ano seguinte, diferentes como as árvores, diferentes como a água do rio.

 

Com respeito por todos os outros, acho que o rio Mente é meu. Mas estão sempre convidados, por ele, para me visitarem.

 

Manuel Cunha (Pité)

 

 

 

19
Fev15

Factor Humano, por Manuel Cunha (Pité)


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O recomeço do mundo

 

Aproxima-se o recomeço do mundo. Dia 1 de março vou voltar a pescar trutas. Parece que sobrevivi a mais um interregno de 212 eternidades diárias.

 

Será que há muitas ou poucas? E quais serão os melhores rios este ano? E nesses rios quais os melhores troços? E os que têm trutas maiores?

 

Tantas questões essenciais que devem ser entusiasticamente estudadas e esclarecidas.

 

E como coordenar ritmos de trabalho, cada vez mais intensos, com tempo disponível para os rios e os risos?

Ainda bem que vivo em Trás-os-Montes.

 

O essencial da pesca à truta, o que explica o fascínio profundo que ela exerce sobre nós, … é de uma complexidade feita de coisas simples…

 

A impossibilidade de estabelecer teorias, a obrigatoriedade de contactar a natureza e nela nos integrar. O retorno aos mesmos lugares, aos mesmos cheiros, aos mesmos sons. As subtis mudanças dos rios.

 

A pesca é o desporto essencial. Não é contra ninguém. O resultado não é o mais importante. O prazer pode nascer de adivinharmos uma truta num sítio provável ou improvável. Não importa se a pescamos, ou sequer se a chegamos a tentar com a amostra. Toleramos se se solta, mesmo quando é grande. Fica a sensação e a memória.

 

A pesca são os amigos e os retornos. É uma vida solitária, em que se pode, de vez enquanto compartilhar. Mas não com qualquer um.

 

A pesca são as merendas, os salpicões, a marmeladinha, um copo em companhia, com o rio sempre a correr ao nosso lado. E nós a querermos que ele corresse dentro de nós.

 

A pesca é outras vezes o desespero, a chuva, o cair ao rio, as “ gajas” nem se verem. As longas caminhadas de retorno ao carro.

 

A pesca é o inverno, a primavera, o verão. O frio e o calor, a cheia e a estiagem. Os mosquitos e as moscas, as silvas e as urtigas, os espirros e o suor nos olhos. Os tombos e as escaladas.

 

E às vezes há uma raposa a caçar grilos, um javali a beber água, as lontras a namorarem, uma corça a nadar no rio.

 

Para mim, também a pesca é uma família que foi nascendo nos rios ou que a eles foi retornando, nem sempre todos com a cana na mão. Mas sempre sabendo que os verdadeiros rios nunca secam para sempre.

 

Manuel Cunha (Pité)

 

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