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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

03
Fev16

Chá de Urze com Flores de Torga - 116


1600-torga

 

Na última publicação de “Chá de Urze com Flores de Torga - 115”, dedicada às palavras que Torga deixou escritas no seu diário após a visita a Curral de Vacas, à Pedra da Pitorca, além de transcrever o que Torga escreveu sobre o assunto, nós acrescentámos alguns apontamentos sobre a importância do local e mencionámos os achados feitos no local em 1980 (?) de um anel em ouro em espiral e um machado de bronze. Pois a nossa curiosidade levou-nos até esse anel e machado que estão patentes ao público no Museu da Região Flaviense, com o achado datado de 1990 (?).

 

1600-achados (5)

 

Isto da data do achado são coisas da História e de como ela é abordada e por quem. Todos os documentos a que tive acesso (de especialistas na matéria) apontam os achados para 1980, inícios dos anos 80, no entanto no Museu Municipal a data que consta é de 1990. A diferença destes 10 anos até nem tem importância para o caso e só vem dar razão àquilo que eu penso da História e da sua exatidão ou credibilidade, coisa sem importância neste caso que até eu, um leigo da História, facilmente poderei averiguar e chegar à data exata, mas é só um pequeno apontamento para demonstrar que quase sempre só temos acesso à História de quem a escreveu e não à verdadeira, que às vezes pode coincidir ou não. Claro que me vem à lembrança o caso Silveira/Pizarro das 2ªs Invasões Francesas… mas isso são contas de outro rosário que não está encerrado aqui no blog.

 

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Com isto quero dizer que hoje vamos outra vez até Curral de Vacas e de novo até à Pitorc(ga), com imagens do anel, do machado, do parque de penedos que acompanham a dita cuja, mas também com um apontamento que o nosso amigo Luís Fernandes, colaborador deste blog, teceu após a leitura do de “Chá de Urze com Flores de Torga - 115”, que passamos a transcrever:

 

πORGA”

 

O POST(al) de  4ª feira, 27 de Janeiro de 2016, do BLOGUE “CHAVES” – Olhares sobre a cidade, para além do regalo para a vista das esplêndidas fotografias e da sempre bem-vinda transcrição das palavras de MIGUEL TORGA, causou-me cá um formigueirinho na papila gustativa da molécula da memória!

 

O "Chá de urze" activou a minha circulação imaginativa.

 

A Pitorca de Curral de Vacas começou a dançar uma valsa com a Pitorga do Nando.

 

Apanhei-lhes a cadência e solfejei umas diatribes comentaristas.

 

Pitorga daqui, Pitorca d’acolá, lembrei-me da paixão assolapada que alguns pedantes intelectuais, uns tantos consagrados intelectuais e uns entusiasmados «curiosos» pelo conhecimento têm mostrado pelas “PEDRAS”.

 

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Bem, aqui ponho de fora os «derretidamente apaixonados» pelas “Pedras” gasosas, convenientes e oportunas em tantas circunstâncias, as mais famosas do que os «pedantes intelectuais», tão famosas e conhecidas tanto (ou quase tanto) como os “consagrados intelectuais” tão afeiçoadas às “Pedras” e a proclamarem-lhes o seu imorredoiro amor.

 

E deixo de fora as «preciosas», não vão ficar algumas Preciosas e Diamantinas engalfinhadas comigo por eu preferir a Esmeralda, a Ágata … e o topázio.

 

A ele se acolhiam os primitivos habitantes da região, assediados por ursos, lobos, javalis e outros inimigos. Nele se refugiaram foragidos da Inquisição e da sanha miguelista e liberal, e perseguidos da Guerra Civil espanhola, que a raia não defendia da raiva nacionalista. Labirinto granítico oculto num matagal de giestas e carvalhas, nele me apeteceu resguardar também a dignidade de poeta neste tempo sem poesia que me coube”.

 

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Ora aqui está o segredo pré-histórico e contemporâneo a ser revelado!

 

Já nem precisamos de ir a DELFOS, visitar e sentarmo-nos na ônfala deixada por Zeus, (aquele meu amigo muito especial de quem já vos tenho falado em “Conversas” … fiadas) para cantarmos hossanas a uma «Pedra»: “O Torga” revelou-nos uma “πTORGA”, na NOSSA TERRA, neste Blogue “CHAVES” muito bem divulgada.

 

A Pitorca de Curral de Vacas, tal como o “pedregulho” de Outeiro Machado, ou as «crastas» (de que me falaram lá) de CARVELA- NOGUEIRA da MONTANHA, da NOSSA TERRA, aí estão, à mão de semear… ou de colher, como «locus consecratus» onde os simples mortais podem comunicar harmoniosamente entre si, com o mundo dos mortos ou com a(s) divindade(s).

 

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A «pedra», ensina-nos Eckhart de Hochheim, é sinónimo de conhecimento.

 

E quem «ama o conhecimento» tem mesmo de «amar as pedras».

 

E este amor não vem de ontem nem de hoje: vem do tempo … das “Pitorcas” e, provavelmente só depois, das ônfalas!....

 

Pedantes intelectuais “exitistas”, contemporâneos, porque um dia escreveram duas linhas ou fizeram três rimas em louvor do amor às «pedras», não querem consentir que outros, do seu tempo, quanto mais os «doutros tempos» amem as pedras. E ai de quem delas falar: ladrões, que lhe roubam a sentença e o sentimento!

 

Os “Salomés” cantaram:

Eu hei-de amar uma pedra
deixar o teu coração
uma pedra sempre é mais firme
tu és falsa e sem razão.

 

Mas foi quando um dos «consagrados intelectuais» titulou uma das suas obras com o primeiro verso desta cantilena um dos pedantes intelectuais “exitistas” fez de virgem ofendida!

 

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Como se as «Pedras» num tivessem estado na moda, desde a criação do mundo!

 

Desde essa altura, a pedra era, para o Homem, a residência de Deus.

 

A “Pedra do Destino”, serviu para a «sagração dos reis da Irlanda, da Escócia e da Inglaterra».

 

AS «pedras erguidas» e as «pedras de chuva» são, por igual, símbolos da fertilidade. Não admira que os invejosos Pedantes-intelectuais-“exitistas” queiram ser só eles a falar no «amor pelas pedras».

 

Quem não me deixará pensar que as «grandezas e pequenezas da vida» transportadas na «Jangada de pedra» foram «colhidas» pelo “Zé d’Azinhaga” num «oubir» falar dessa «Pitorca de Curral de Vacas”?!

 

Quanto a mim, bem que lá terei de meter a mão por uma «pedra furada», não vá o diabo tecê-las e mandar que me sejam atiradas mais sete pedras por algum «homo siliceus» com «calculus»!

 

Quem tem pedra no sapato?!

 

“Crominho”!

 

M., 28 de Janeiro de 2016

Luís Henrique Fernandes

 

 

27
Jan16

Chá de Urze com Flores de Torga - 115


1600-torga

 

Curral de Vacas, Chaves, 4 de Setembro de 1991

 

Com metade da povoação a guiar-me, visita penosa à Pedra Pitorga, um abrigo pré-histórico gigantesco que deu segurança através dos tempos a sucessivas aflições. A ele se acolhiam os primitivos habitantes da região, assediados por ursos, lobos, javalis e outros inimigos. Nele se refugiaram foragidos da Inquisição e da sanha miguelista e liberal, e perseguidos da Guerra Civil espanhola, que a raia não defendia da raiva nacionalista. Labirinto granítico oculto num matagal de giestas e carvalhas, nele me apeteceu resguardar também a dignidade de poeta neste tempo sem poesia que me coube.

Mas o homem já não sabe identificar-se no seio da natureza. Nem mesmo os candidatos à santidade se retiram nos cenóbios e nos desertos para conhecer na solidão os limites da alma, e meditar na hipocrisia humana. Cépticos também, procuram compungidos no seio escancarado das multidões e justificação da farsa da sua medular incredulidade. Os poetas, esse serão sempre presenças por si próprias devassadas em todos os recônditos do mundo. Em nenhum sítio real ou imaginário se podem evadir dos seus demónios interiores e da incompreensão demoníaca dos outros

Miguel Torga, in Diário XVI

 

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Menos penosa que a visita de Torga à pedra da Pitorga ou Pitorca, também eu fui conhecer a dita cuja, mas sem povoação ao qualquer guia a guiar-me. Assim, só da segunda vez que fui por lá é que a encontrei, e pensei que só à terceira é que era de vez. Acontece que acertei com a fotografia na Pitorc(g)a, pelo menos a julgar pela imagem reproduzida na Revista Aquae Flaviae nº41. Acertei com a fotografia mas foi impossível chegar perto dela. O mato não deixa. Pena que aquele campo de penedio não tenha qualquer indicação para se chegar até lá e que a Pedra da Pitorc(g)a não esteja assinalada e limpa de mato à sua volta. Como fica lá para o meio do monte, não interessa… embora arqueólogos e historiadores não pense o mesmo. Aliás a única informação que há sobre este achado é mesmo dos especialistas e profissionais do tema.

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Pela minha parte agradeço a Miguel Torga a descoberta pois até ao momento em que a conheci no seu diário nunca tinha ouvido falar da Pitorc(g)a, mesmo aquando dos achados em 1980 a fiquei a conhecer, talvez por na altura andar preocupado com outros interesses que não estes de conhecer a minha terra.

 

Fica para todos aprendermos mais um bocadinho sobre a Pitorc(g)a o que Alexandra Vieira escreve sobre a mesma e o local. De salientar que popularmente na aldeia de Curral de Vacas se referem a pedra da Pitorga, talvez por isso Miguel Torga assim se refira a ela. Nos estudos dos profissionais todos grafam a pedra como Pitorca. Apenas um pormenor, ou então é o Poeta forçou a grafia de modo a ir de encontro ao seu apelido Pi(Torga) – Isto já sou eu a inventar.

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Algumas rochas na envolvência do abrigo (Pitorca)

 

“ O Fragão da Pitorca consiste “num aglomerado de formações graníticas que conferem ao local uma posição destacada na paisagem. O conjunto dos rochedos gera promontório que descai em forma de penedia sobre o seu sector ocidental.” Foi neste abrigo de médias dimensões, que nos inícios dos anos oitenta do séc. XX foi encontrada uma espiral em ouro (Portal do Aqueólogo, em linha). Armbruster e Parreira (1993:25) referem-se ao achado como “ (…) um anel espiralado de ouro [que] estava associado a um machado plano de cobre e a cerâmica (…) Ana M. S. Bettencourt refere que neste sítio arqueológico teriam sido realizados enterramentos “provavelmente, desde o Calcolítico até ao Bronze Inicial. Aqui, a par de ossadas humanas, apareceram cerâmicas lisas e decoradas, assim como uma espiral em ouro e um machado Plano, ainda com rebardas de fundição” (Bettencourt, 2009:18).

 

Alexandra Vieira

“Alguns dados para o estudo da Idade do Bronze no Norte de Portugal”

In Antrope – A Idade do Bronze em Portugal: os dados e os problemas. 2014

 

 

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