O Factor Humano
A Vida e um Rio
Conheci o Fernando Tordo na minha adolescência. Nesse tempo foi algumas vezes a casa dos meus pais. Houve até um dia que nos acompanhou numa pequena caçada… aos tordos.
Como grande compositor, Fernando Tordo fez uma notável melodia para a qual o mestre Ary dos Santos fez um poema. A canção ficou imortalizada como “a Estrela da tarde”.
Tenho a humilde ousadia de publicar aqui um poema, que também pode ser cantado com a mesma melodia.
A vida e um rio
Era um rio sombrio
Que rasgava a noite
Como quem morria.
Desbravando em silêncio
O caminho nas fragas
Que então ninguém via.
Eu sentado, sozinho, lá estava, na margem
À espera do dia.
E um cigarro voando
Da mão para a boca
No escuro luzia.
Agora recordando esses tempos passados
Com que nostalgia
Se misturam os cheiros
Das águas com as mágoas
Numa sinfonia.
Labirinto que o fumo por mim inalado
Cá dentro fazia.
E a barragem dos sonhos
Presos como as margens
Ao longo da vida.
Manuel Cunha (Pité)