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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

01
Ago24

O Factor Humano

A Vida e um Rio


1600-cab-mcunha-pite

 

Conheci o Fernando Tordo na minha adolescência. Nesse tempo foi algumas vezes a casa dos meus pais. Houve até um dia que nos acompanhou numa pequena caçada… aos tordos.

 

Como grande compositor, Fernando Tordo fez uma notável melodia para a qual o mestre Ary dos Santos fez um poema. A canção ficou imortalizada como “a Estrela da tarde”.

 

Tenho a humilde ousadia de publicar aqui um poema, que também pode ser cantado com a mesma melodia.

 

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A vida e um rio

 

Era um rio sombrio

Que rasgava a noite

Como quem morria.

Desbravando em silêncio

O caminho nas fragas

Que então ninguém via.

Eu sentado, sozinho, lá estava, na margem

À espera do dia.

E um cigarro voando

Da mão para a boca

No escuro luzia.

 

Agora recordando esses tempos passados

Com que nostalgia

Se misturam os cheiros

Das águas com as mágoas

Numa sinfonia.

Labirinto que o fumo por mim inalado

Cá dentro fazia.

E a barragem dos sonhos

Presos como as margens

Ao longo da vida.

 

Manuel Cunha (Pité)

 

 

22
Fev23

Crónicas de assim dizer


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Acto de contrição

 

Não sabíamos que o tempo era limitado

Tínhamos a eternidade por certa

Numa convicção interior

Desde a infância 

Do tempo das cegonhas

 

Acreditávamos no que nos parecia lógico

Óbvio

Com bom senso

Até descobrir que o contrário é que era verdadeiro 

 

Agora sem chão imploramos aos céus 

Por uma remissão sem pecado

Desadequada nos tempos que correm

Onde até Deus se cansou de nós 

É o vazio

 

Meu Deus

Porque não sois sempre bom

Quando dentro dos Homens

De má vontade?

Tenho muita pena…

 

Cristina Pizarro

08
Fev23

Crónicas de assim dizer


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Vistos Gold

 

Tinha uma linha à sua volta

Mais definida que a do horizonte 

Desenhou um círculo

Onde ocupava o epicentro 

Ninguém entrava lá sem ele querer

Exibição de passaporte à entrada

Reconhecimento facial

Leitura de retina

E impressão digital

Vistos Gold

Com critérios bem definidos

 

Conquistou um espaço 

Como o de uma barragem

A água só entrava ou saía 

Se abrisse as comportas

 

E era esse bem-estar

Que lhe iluminava o rosto

Que lhe fazia brilhar os olhos

E lhe esculpia um sorriso rasgado

Não só na boca

Mas no corpo todo 

 

Tinha um poder... 

Domador de leões 

 

Cristina Pizarro

25
Jan23

Crónicas de assim dizer


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Mar Morto

 

 

Vivo

No mar morto

Flutuando na água

Como na superfície da realidade

Ignorando a lama da sua profundidade

Misturando o concreto

Com sonho e ficção

Vencendo a esperança que se impera

Tudo impreciso

No limite da possibilidade

Assim desejaríamos que flutuasse

A verdade e a justiça

A igualdade e a liberdade

A solidariedade

e a bondade dos Homens

Não só palavras

Levando à paz no mundo

 

Cristina Pizarro

 

 

07
Dez22

Crónicas de assim dizer


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Bichos como anjos

 

Tinha as asas tingidas de negro

Mas parecia um anjo

A fala sem voz humana

Emitia apenas sons

Gritos e grunhidos

 

Nada nele dava indícios de anjo

A não ser o querer dela a acreditar que fosse

Com o poder que temos de nos iludir

A mover montanhas

Com a força da alavanca de Arquimedes

 

Dos seus lábios escorria sangue

Achou que fosse tinta

Que era um artista plástico 

A pintar com a boca

 

Nos pés umas sandálias

A imitar Cristo

Mas com picos por baixo

Como correntes de neve

Apropriadas para escalar corpos

De verão e de inverno

 

A pele grossa e áspera

Treinada e calejada

Parecia de um elefante

Não reagia ao toque

Não tinha sensação térmica 

Nem emoções 

Defendia-se sem ser atacado

Agredia para não ser agredido

 

Ao surpreende-lo de noite a deslocar-se

Como uma barata tonta

Assustada e violentada

Escrava e domesticada

Com feridas que não cicatrizam

Soltou um grito da alma sem freio

E conquistou a liberdade

Nascendo naquele momento

Num parto sem dor

De alegria vibrante

 

Cristina Pizarro 

 

 

 

Nota do blog Chaves

 

Cristina Pizarro soma mais um prémio de poesia, precisamente com o poema que hoje fica aqui publicado, desta vez com o Premio Internazionale di Arte Letteraria "Il Canto di Dafne", Montecatini Terme, Italia.

 

IMG_20221203_120338.jpg

 

Sezione E: Per dire NO alla violenza sulle donne in memoria di "Anna Maria Marino".

Premio di Merito Voci dal Mondo Autori Stranieri: 2º Premio, Cristina Pizarro.

 

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Marina Pratici (Presidente del Premio), Jacqueline Monica Magi (Presidente della Giuria) e Rita Innocenti (Direzione Artistica).

 

 

23
Nov22

Crónicas de assim dizer


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No mar alto

 

Como um barco à deriva

Procurava no teu corpo 

Encontrar pedaços do meu

E tu

Como um barco à deriva

A teimar que o farol estava perto

Com a luz apagada

Perguntavas-me

Não sentes?

E eu que sim

A dizer que não

E o farol ausente

Distante

Ao sentir a proximidade

De dois barcos perdidos

Acende a luz

Por causa do nevoeiro

E os barcos à deriva 

A acreditar no por acaso

 

Cristina Pizarro 

02
Nov22

Crónicas de assim dizer


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No berço

 

O mundo estava ali aos gritos

Sozinho

Eu a querer acudir-lhe

Sem força capaz

Quis pô-lo no berço

Pesado que era

Caímos os dois

Consegui levantar-me

Mas ele redondo coitado 

Patinhava no chão molhado

Sem braços nem pernas

Olhava para mim sem falar

Mas com o olhar a implorar

A dizer pega-me ao colo

E eu de novo a tentar

E outra vez a cair

Dei-lhe a mão

Rolámos pelo espaço

Fugimos dos buracos negros

No céu minado

E rimos à gargalhada

Adormeci depois sem querer

Exausta no berço também

Acordei com ele

De novo aos gritos

Em cima de mim redondo pesado

E eu sem colete salva-vidas

Naufraguei

Sem pernas nem braços

Redonda pesada

E ele nem sequer me deu a mão

 

Cristina Pizarro

 

Nota do Blog:

 

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Hoje além deste poema que atrás ficou da Cristina Pizarro, temos outro poema da autora, intitulado “Maths” com o qual ganhou mais um prémio para a sua coleção, neste caso uma Menção de Mérito na Secção S: Poesia em Língua estrangeira do Prémio Académico Internacional de Literatura Contemporânea Lucius Annaeus Seneca,VI Edição, da Academia da Arte e da Ciência Filosófica, Bari, Itália.

 

IMG_20221016_204213.jpg

 

A Cerimónia de entrega dos prémios decorreu no 15 de Outubro 2022, na Sala delle Scuderie, Castello Normanno-Svevo, Sannicandro di Bari.

 

IMG_20221015_164859.jpg

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Participara autores de 28 países, 1300 componentes.

 

Mais uma vez, parabéns Cristina por este prémio, mais um!

 

 

Maths

 

Era tão imperceptível

E ao mesmo tempo indelével 

Um grão de areia

Na imensidão da praia

Que fazia diferença

 

Não se sentia a presença do todo

Mas a ausência da parte

Menos um raio de sol no céu azul

Uma estrela a menos na escuridão da noite 

 

Era preciso estar atento

Saber contar

E sentir que entre o menos 

E o mais infinito

Faltava um número pelo meio

Um número pelo menos 

 

Ainda que fosse o zero

Era um número 

Fazia diferença 

Estivesse à esquerda ou à direita

Era da sua ausência 

Que eu sentia a falta

 

Do vazio preenchido 

O buraco negro 

Num Universo insondável 

Tu

A fada-madrinha 

 

Cristina Pizarro

 

 

 

12
Out22

Crónicas de assim dizer


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Um não poema

 

Querias um poema

Uma frase ou um verso

Não me sai nada

Cavaste na distância o silêncio 

O fantasma que engole palavras

Um caminho para o sem destino

Um muro alto sem comunicação 

Transformaste a ausência

Num acordo tácito

Unilateral

Fizeste da esperança de hoje

A esperança do amanhã

Infértil

E depois vens como um gato

Miar ao dono da casa que é dele

Não se percebe nada

Mas continuas a querer o poema

A frase ou o verso

E eu só tenho palavras

Que não te servem

Palavras que te não posso dar

Porque não são minhas

E tu querias que fossem

Insistes nisso

E eu não as tenho

O gato deixou de miar

E o dono vendeu a casa

 

Cristina Pizarro

 

 

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