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“(…) Que ao menos o espírito, que vai morrendo no corpo,
tenha assim um vislumbre de ressurreição.”
Miguel Torga, In Diário VII
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Quanto mais aprofundo e me embrenho no Barroso mais convencido fico que na sua criação o Mestre ou estava num dia de especial inspiração ou esqueceu-se de terminar a sua obra, seja como tivesse sido, resultou numa complexa obra de arte digna de ser apreciada, numa apreciação que tal como as grandes obras de arte, têm interpretações complexas que não estão ao alcance de todos os espíritos, sobretudo àqueles que não o abrem à arte das coisas primeiras que a natureza nos dá, mas aqueles que chegam lá de espirito aberto, “vislumbram a ressurreição”, tal como dizia Torga quando andava por estas terras.
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Mas também quanto mais aprofundo e me embrenho no Barroso mais convencido fico que o Mestre sabia bem aquilo que fazia, pois nesta tela chamada Barroso, pintou tudo que era possível pintar. Água com abundância a correr nos rios, ribeiros e rigueiros, a nascer nas fontes ou a descer cascatas. Serras, montanhas, planaltos, chãs e vales, terras altas e terras baixas. Sol, chuva, neblinas, neve, frio e calor. Ora vestiu os campos de verde e de floresta também ela pintada de um verde mais escuro, às vezes avermelhado ou num matiz de verdes, vermelhos, amarelos e castanhos. Deixou serras e montanhas despidas ou cobertas apenas com um manto de carqueja e urze. Salpicou com pinceladas momentos de penedio, esculpindo alguns, deixando outros amontoados. Aqui e ali veste tudo de branco ou ilumina o céu com um azul puro e único.
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No entanto o vislumbre não se fica pelo que a tela do Barroso tem, mas na forma como o tem. Parece às vezes ter sido pintada a terra de ninguém contudo aqui e ali há uma pincelada mestra que nos atrai como que a irradiar luz ou como se fosse um oásis, ou melhor, muitos oásis no meio de um deserto sem fim. Aqui e ali amontoados de penedos como se de um depósito se tratasse. Mas o que mais impressiona é a moldura, não aquela que contorna a tela, mas a moldura humana que tal como as pinceladas mestras do Mestre, souberam com mestria tratar e preservar esta obra de especial inspiração, ou então, indo pela outra hipótese – terminar a obra que o Mestre deixou esquecida.
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É com este espirito aberto de vislumbrar a ressurreição que nos aproximámos e adentramos em Ponteira, onde o Mestre deixou um depósito de monumental penedio ao qual a moldura humana foi adossando as suas casas, abrigos, cortes e demais construções para que por ali a vida também fosse possível.
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É mais uma aldeia singular no meio deste Barroso que vamos descobrindo. Mais uma pincelada de mestre nessa tela do Barroso que à sua maneira é um paraíso feito de muitas belezas, um oásis no Reino Maravilhoso cantado por Torga, mas que deixa ver também que é uma terra difícil de viver, que às vezes chega a doer, dai podermos também falar de uma casta de gente que se chama o Povo barrosão com o mesmo pulsar telúrico de os do Reino Maravilho “(…) estes homens não têm medo senão da pequenez. Medo de ficarem aquém do estalão por onde, desde que o mundo é mundo, se mede à hora da morte o tamanho de uma criatura. (…)”.
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Talvez por estas e por outras desse pulsar telúrico que eu vejo no penedo da foto anterior uma representação de Miguel Torga com o seu boné a dar-lhe sombra aos olhos para melhor poder apreciar a Serra do Gerês. Coisas que nós vemos, tal como na foto seguinte, a pedra da bulideira (porque bole), eu vejo o chapéu de Fernando Pessoa. É assim este Barroso, mal entramos nele tudo se transforma em poesia.
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Vamos lá a Ponteira e à sua localização. Pois uma das referências do Barroso é o Rio Cávado, que nasce na serra do Larouco e vai atravessando o concelho de Montalegre em direção ao concelho de Vieira do Minho. Pois se seguíssemos o Cávado a partir de Montalegre, mais uns quilómetros à frente estaríamos nas imediações de Ponteira, mas seria má ideia segui-lo, pois embora Ponteira fique a cerca de 1,5 quilómetros do Cávado, entre a aldeia e o rio há toda uma montanha de penedio para passar, sem caminhos. Apenas referi o Cávado como uma referência. O melhor mesmo é ir por estrada, localizando-se Ponteira a 23 quilómetros a Sudoeste de Montalegre, tendo como referência a Barragem da Padrela, pois logo a seguir é Ponteira, ( 41º 43’ 34.89” N – 7º 57’ 49.56” O) entre os 900 e os 940 metros de altitude.
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O Padre Lourenço Fontes numa listagem com as sete maravilhas do Barroso, inclui ponteira em duas maravilhas. Uma é a do miradouro de Ponteira, que sim, é verdade, confirmo. Um miradouro natural lançado sobre a Serra do Gerês e suponho que mais além sobre terras de Vieira do Minho. A outra maravilhas é a dos penedo de bulir, que também o vi e até está devidamente assinalada como Pedra da Bolideira, é a tal que atrás me refiro como me parecendo o chapéu de Fernando Pessoa. Para os flavienses que conhecem a nossa Pedra da Bolideira, esta barrosa é parecida, só que de menores dimensões.
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Pedra da Bolideira
Todos nascemos iguais, mas há sempre uns que são mais iguais que outros, e outros ainda que se distinguem. No livro Montalegre de José Dias Batista a este respeito encontrámos o seguinte:
“Há criaturas que pelas suas qualidades únicas servem de modelo aos comuns mortais e servem de título às diferentes páginas da História dos povos. Barroso também as tem. Dentre umas boas dezenas sobressaem os que aqui elencamos:
(…)
Justiniano da Silva Fidalgo (séc. XIX), filho de um almocreve, nasceu a de Outubro de 188, na típica aldeia de Ponteira, freguesia de Paradela do Rio. Entregaria bem longe a alma ao Criador: faleceu na cidade de Ludlow ( Massachussets, EUA) ,em 3 de Novembro de 194. Homem possante, ganhou fama na aldeia e nas terras em redor, graças a proezas atléticas que o levariam até Lisboa, onde continuou a exibir-se em façanhas de grande exigência física. O atlético barrosão embarcaria, então, para os Estados Unidos da América, país em que a sua vocação ganhou asas, a ponto de se tornar campeão de luta livre (catch-as-catchcan), passeando a sua classe de lutador indomável pelas três Américas."
In “Montalegre terras de Barroso” de Manuel Dias.
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Nas nossas pesquisas sobre as aldeias do Barroso de Montalegre, passamos sempre pela página oficial da web do Município de Montalegre. Pois bem, raramente encontrámos matéria de interesse sobre as aldeias. Certo que a referida página tem um espaço destinado a todas as freguesias onde constam as suas características (área, densidade populacional, população presente, Orago, pontos turísticos, lugares da freguesia, contactos e constituição dos órgãos da freguesia). Embora seja alguma informação, a respeito dos pontos turísticos deixa muito a desejar. Por exemplo a nossa aldeia de hoje, Ponteira, que para mim e muita gente, dadas as suas características, é uma das mais interessantes do concelho de Montalegre, na listagem dos pontos turísticos nem sequer é mencionada, apenas a referência “Bolideira” mas nem sequer diz onde se localiza, tal como no texto de apresentação da freguesia, Ponteira também não é mencionada, e temos pena, pois tal como eu há muita gentinha à descoberta do Barroso que deixa por descobrir muitos pontos de interesse porque não são mencionados em nenhum lugar, pelo menos naqueles em que deveriam ser.
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Contudo na tal página oficial da WEB do Município de Montalegre existe um mapa turístico onde aí sim, há um ponto de interesse assinalado em Ponteira : Ponto 63 – Roca da Ponteira. Mais nada. Assim tivemos de alargar as nossas pesquisas para saber e deixar aqui mais qualquer coisinha sobre Ponteira e desta vez tivemos sorte, graças a um blog de auto caravanistas de onde retirámos alguma informação:
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“A Aldeia Granítica de Ponteira pertencente à União de Freguesias de Paradela do Rio, Contim, e Fiães do Rio. São agora, 7, os lugares desta União de Freguesias: Paradela, Ponteira, Contim, São Pedro, Vilaça, Fiães do Rio e Loivos.
Na minha opinião, Ponteira é a aldeia mais visitável desta rica e vasta região de Montalegre, a mais interessante do ponto de vista das origens rurais que a caracterizam. Não fosse os arranjos das ruas com o empedrado e o saneamento básico, e era seguramente uma viagem no tempo e às origens para quem a visitasse.
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O gado vai sozinho para os currais, os caminhos estão cobertos de vestígios da passagem sistemática e diária do gado de pasto, seja bovino ou caprino, algumas casas mantêm as lareiras diretas sem chaminé para os fumeiros, as paredes pretas, e a telha à vista, são um retrato fiel e original das aldeias tradicionais Portuguesas em todo o seu esplendor. Uma das aldeias mais emblemáticas que visitei. Destaco também uma visita à pedra bolideira, que constatei in-loco, que até uma criança faz movimentar este enorme penedo. Uma Aldeia Tradicional e genuína a visitar. Recomendada pelo Portal AuToCaRaVaNiStA.
Anexa á Freguesia de Paradela do Rio, goza de paisagens deslumbrantes, um povoado implantado em penedias fragosas (com uma “pedra bolideira” no Castro), até às margens da barragem. Este pequeno povoado (Ponteira) terá sido o primitivo assento da paróquia. Nesta freguesia existe um alto monte, conhecido por “Rocha da Ponteira”, onde, em tempos idos, se fez a extracção de ametistas.
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Data do século III ou IV antes de Cristo a ocupação humana destas terras, como o atestam achados de três colares de ouro que foram encontrados próximos da albufeira, na margem esquerda do rio Cávado. A sua origem remonta aos Celtas, sendo usados pelos chefes guerreiros como insígnias. A existência destas três peças permite concluir o quão perfeita era já a indústria joalheira no período hispano-céltico, e a existência da exploração mineira de ouro antes do domínio romano. D. Afonso III, em 1258, concedeu carta de aforamento de um casal a Pedro Durando e sua mulher, Maior Pelágio.
(…)
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E ainda antes de terminarmos e passarmos aos habituais links, ainda há tempo para uma última imagem, mais uma vista geral sobre Ponteira, onde é bem visível a relação do casario com o penedio, bem como a envolvência da aldeia. A fotografia foi tomada desde a aldeia vizinha de S. Bento de Sexta Freita com o estradão que liga as duas aldeias, uma alternativa mais “selvagem” à estrada municipal que também liga as duas aldeias.
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E agora sim, as referências e links:
Bibliografia:
- Livro Montalegre, de José Dias Baptista, Ed. da Câmara Municipal de Montalegre, 2006.
Na WEB:
- http://www.cm-montalegre.pt/
- http://autocaravanista.blogspot.pt/2009/04/ponteira-montalegre.html
Referências do blog a localidades e temas do Barroso:
A Água - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-a-agua-1371257
Amiar - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-amiar-1395724
Bagulhão - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-bagulhao-1469670
Cepeda - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-cepeda-1406958
Cervos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-cervos-1473196
Donões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-donoes-1446125
Fervidelas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-fervidelas-1429294
Fiães do Rio - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-fiaes-do-1432619
Fírvidas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-firvidas-1466833
Frades do Rio - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-frades-do-1440288
Gralhas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-gralhas-1374100
Lapela - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-lapela-1435209
Meixedo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-meixedo-1377262
O colorido selvagem da primavera http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-o-colorido-1390557
Olhando para e desde o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-olhando-1426886
Padornelos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padornelos-1381152
Padroso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padroso-1384428
Paio Afonso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-paio-afonso-1451464
Parafita: http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-parafita-1443308
Paredes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-paredes-1448799
Pedrário - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-pedrario-1398344
Pomar da Rainha - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-pomar-da-1415405
Roteiro para um dia de visita – 1ª paragem - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-roteiro-1104214
Roteiro para um dia de visita – 2ª paragem - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-roteiro-1104590
Roteiro para um dia de visita – 3ª paragem - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-roteiro-1105061
Roteiro para um dia de visita – 4ª paragem - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-roteiro-1105355
Roteiro para um dia de visita – 5ª paragem, ou não! - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-roteiro-1105510
Sendim - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sendim-1387765
Solveira - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-solveira-1364977
Stº André - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sto-andre-1368302
Tabuadela - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-tabuadela-1424376
Telhado - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-telhado-1403979
Travassos da Chã - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-travassos-1418417
Um olhar sobre o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/2016/06/19/
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Xertelo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-xertelo-1458784