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Presunto a Chegar ao Osso
Depois de ter escrito a última crónica num estado de ressaca, e em que metade dela nem foi escrita por mim, hoje volto ao tema do presunto. É só para acabar com a discussão do tema, embora não garanta que não volte a pegar nele.
Uma das coisas que mais gostei na crónica sobre o presunto e optimismo foi a participação dos comentadores, com quem tenho aprendido uma coisas. É que eu não sei grande coisa sobre o presunto, nem sobre o fumeiro, não sou produtor nem estou metido em politiquices que envolvam o assunto, limito-me a dar, aqui, a minha opinião. Claro que já matei uns recos e já ajudei na feitura destas coisas, calminha, já comi muitas arrobas de presunto, também não sou assim tão ignorante, mas não estou bem a par de certas coisas, só que como o pessoal que sabe do tema não se mete a escrever e a dar ideias eu venho aqui faze-lo.
Gostei de ler os comentários das pessoas que vivem (ou viveram) nos EUA e que disseram coisas como:
De Está muito bem:
Está muito bem, mas na costa leste dos EUA os portuguesinhos já podem comprar, e compram, há muitos anos, presunto português.
Presuntinho produzido ali ao lado, no Canadá, de acordo com os preceitos portugueses.
Logo, português e comercializado como tal!
Só aqui é que ninguém se "alembra" desses empreendedorismos.
E
De Julieta Carneiro Lopes:
Concordo que o porco e um animal essencial para o desenvolvimento da região de Chaves. O que falta ao nosso povo e inovaçao. Aqui em Nova York temos a venda presunto e fumeiro feito por métodos tradicionais, que não deixa nada a dever ao da região de Chaves. Uma das razoes que alguns dos produtos portugueses não tem grande saída no estrangeiro e que são oferecidos ao publico a preços muito baixos . O consumidor quase sempre associa preço com qualidade.
Eu não sabia que nos EUA havia esses produtos à venda, apesar de ter amigos no Canadá que me tinham contado que fazem, lá, a matança e fumeiro como se faz nas nossas terras. Não sabia é que estas coisas já eram comercializadas. Mas é natural que assim seja, se as pessoas sentem a falta deste produtos e se nós não os fazemos para exportar eles desenrascam-se. Bem, estou a falar de cor, não sei se será fácil exportar estes produtos para os EUA, não sei que tipo de taxas teriam que se pagar, etc. Mas sei que o presunto espanhol se vende pelo mundo fora e por isso penso que nós não vendemos também porque não nos metemos no negócio.
Há outros comentadores que duvidam que um porco dê lucro de 1300 euros, que lhes parece muito. Eu já disse obtive a informação de fonte credível. E há outro comentador que disse:
De ricardo:
isto é tudo muito giro, mas também falta dizer uma coisa: lei da oferta e da procura.
António Chaves, se por acaso toda a gente em Barroso se pusesse assim a criar porcos, nunca mais na vida iam fazer 1300 euros por cabeça. quanto mais carne houvesse no mercado, mais baixos seriam os preços. e depois a qualidade ressentia-se. quando todos se poem a fazer a mesma coisa, uns fazem bem e outros nem por isso, armados em xico espertos e lá se ia a fama do presunto de chaves.
mas é bom sonhar...é preciso é ter ideias! muitas ideias!!
A este último comentário, respondi assim:
Só para teres uma ideia, vou mandar-te um link onde podes saber que a Espanha produz um total de 41.527.500 de patas, incluindo as da frente, mas se contar-mos só os presuntos são cerca de 40 milhões.
O que me parece dos comentários, em que se desconfia que um porco possa dar 1300 euros limpos de lucro e de que se houver muitas pessoas a fazer presunto o negócio acaba, é que eles revelam a nossa falta de iniciativa e o medo de nos metermos nos negócios (sem ofensas aos comentadores).
Mas a prova mais que provada de que as pessoas não têm iniciativa nem visão comercial, aliás, têm uma coisa que se pode chamar visão comercial negativa, ou seja, acreditam e teimam em perder dinheiro, é uma coisa que se pode encontrar no site da Câmara de Montalegre e que conta um bocadinho a história da feira do fumeiro. Vou pôr aqui um bocadinho para vocês apreciarem:
A Feira do Fumeiro e Presunto de Barroso é o maior cartaz turístico e cultural do concelho de Montalegre. Nasceu, timidamente, em 1992.
O certame é organizado pela Câmara Municipal de Montalegre desde o seu arranque. Porém, desde 2002 que a organização é feita em conjunto com a Associação dos Produtores de Fumeiro da Terra Fria Barrosã.
Na primeira edição, o evento contou com 35 produtores e 1.226 kg de produto vendido. Nesse ano, em 1992, visitaram a vila de Montalegre 2.500 pessoas.
Estava dado o mote. Todavia, o início foi muito difícil. Tudo porque, tradicionalmente, só os “pobres” vendiam os presuntos e as chouriças produzidas em casa, na maioria das vezes de forma escondida. Os produtores que poderiam dispensar fumeiro para venda sentiam-se envergonhados em fazê-lo publicamente. Estrategicamente, a Comissão Organizadora redesenhou um novo modelo do projecto: ia a casa dos produtores buscar os produtos que eram pesados e preçados, vendia-os sem referência ao nome do seu produtor, apenas com um código que só ela própria conhecia e, posteriormente, entregava ao produtor o dinheiro resultante da venda.
Este modelo vingou durante os dois primeiros anos. A partir do terceiro ano alguns produtores começaram a permitir que o seu nome fosse colocado nos rótulos dos produtos.
Contudo, a partir do quinto ano de edição alguns produtores mostraram-se disponíveis para estarem presentes na Feira do Fumeiro a fim de eles próprios venderem o seu fumeiro, ao mesmo tempo que, em espaço diferenciado, a Câmara de Montalegre continuava a vender o fumeiro daqueles que continuavam a não querer assumir a venda.
Só a partir do ano de 1999 foi possível organizar uma Feira do Fumeiro onde todos os produtores estivessem presentes.
A verdade é que desde a primeira edição, até à última, os valores de venda e de visitas tiveram uma subida quase exponencial. Por exemplo, na edição de 2006 a Feira do Fumeiro contou com 130 produtores, 65.000 kg de produto transaccionado e visitaram Montalegre mais de 65 mil pessoas.
Vá lá foda-se os barrosões, é preciso ser-se teimoso, só depois de 7 anos é que todos perderam a vergonha para aparecer numa feira a vender o fumeiro! (Isto não é para ofender nenhum barrosão, porque senão estou tramado, é que um gajo não se pode meter muito com eles senão vem-me já aí uma espera e alguma sacholada atrás da minha orelha. Calminha que eu tenho costados barrosões e tenho grande amor pelo Barroso!)
Lá está, as pessoas tinham vergonha de vender um dos melhores fumeiros do mundo. Isto mostra a falta de confiança nos produtos, ignorância sobre o que se faz no resto do mundo, e uma falta total de visão comercial. Se não fosse o pessoal da câmara a apertar com eles ainda hoje não se vendia fumeiro. É uma pena a câmara de Chaves ter andado atrasada, independentemente dos partidos que tenham lá estado. Parece que só agora estão a acordar.
É o que eu digo, é preciso convencer as pessoas a mudarem radicalmente a sua maneira de pensar, porque este é um bom negócio mas as pessoas não se querem convencer disso. Eu, no outro ano, ouvi ao vivo, nas feiras do fumeiro de Barroso, produtores que se escandalizam com os preços a que lhe obrigam a vender o fumeiro, que dizem ser muito caro! Eu só me apetecia rir com a bondade e a simplicidade deles. É que há aí produtos industriais espanhóis, que nem se comparam com os nossos, a serem vendidos muito mais caros.
Ah, houve houve outro comentador que me pôs o preço do presunto de Chaves no Continente, nem sei quem o faz, e que se vende lá a 39 euros o quilo. Fui ver os preços dos outros e descobri que há um presunto pata negra que se vende a 157 euros o quilo! Gostava de ver a cara de alguns produtores de Barroso ao saber esta...
Por estas coisas todas, vamos lá pessoal, vamo-nos dedicar mais ao presunto e ao fumeiro, é um negócio altamente lucrativo e há muito mercado para explorar. Os 130 produtores de Montalegre, mesmo que tenham uma média de 10 porcos, fazem menos do que 3000 presuntos para venda, os espanhóis fazem 40 milhões.
Vamos lá, mãos à obra, é que o Fernando já anda aí todo triste, diz que já nem sabe o que há-se dizer, que as aldeias estão a ficar desertas e que ninguém faz nada. Deixai de emigrar para Franças e Suiças para ir ganhar uns mil e tais euros, olhai que o negócio dos porcos dá mais nota do que isso.
Até à próxima!