Hoje não faço o habitual regresso à cidade. Vou ficar em casa e como tal, a também habitual imagem de entrada na cidade não vai ser da cidade, mas de uma aldeia, ou talvez não, pois dá-se o caso de hoje em dia ser mais um bairro da periferia da cidade que propriamente uma aldeia, pelo menos a julgar pela definição que ainda ontem deixei aqui para reflexão, mas continua a ser aldeia pelo menos quanto à sua comunidade e ao seu núcleo histórico, aquele que se desenvolve sempre à volta de uma igreja ou nas suas proximidades.
Pois hoje vamos deixar aqui a celebração do Corpo de Deus em Vilar de Nantes, celebração que aconteceu ontem num nítido desrespeito pela tradição de séculos, isto, só para que se pudesse cumprir a tradição. Mas já de seguida explico melhor isto que parece ser uma contradição, mas onde não há qualquer contradição.
Então é assim: O Corpo de Deus, o Corpus Chisti do latim, é uma festa que celebra o sacramento da Eucaristia, instituído na última ceia, na quinta-feira santa, e daí o Corpo de Deus assinalar-se sempre numa quinta-feira, 60 dias depois da Páscoa. A origem desta festa é secular, instituída pelo Papa Urbano VI, desde logo ganhou a adesão popular, principalmente com a realização de uma processão que em Portugal se foi fazendo com as ruas decoradas com flores e as varandas e janelas com colchas e toalhas, do mais fino que as casas têm, havendo ainda algumas localidades que colocam tapetes florais no chão das ruas por onde a processão passa, como é o caso de Vilar de Nantes.
Em Portugal sempre se cumpriu a tradição com muitas localidades a realizarem procissões ou pelo menos uma missa e, como dia santo que é, até 2012 era também feriado nacional para que a população pudesse celebrar este dia, no entanto já sabemos que o atual governo de tão preocupado que anda com o Portugal europeu, ou a pretexto disso, vai sacrificando os portugueses e as sua tradições seculares, e lá se foi o feriado e a festa de uma quinta-feira santa.
Daí o desrespeito pela tradição e a procissão que deveria ter acontecido na quinta-feira santa passada passou a acontecer domingo e tal como diria Torga “Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo, negam-lhe tudo, e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão” … mas isto são contas de outro rosário, pois o que quero mesmo trazer aqui hoje é mesmo a procissão e a tal comunidade que existe nas aldeias que neste caso, Vilar de Nantes, é uma das que bota toalhas e colchas nas varandas e janelas e colocam tapetes florais no chão.
Procissão que, confesso, foi a primeira vez que assisti em Vilar de Nantes, e quase por mero acaso, não fosse um colega e amigo ter-se oferecido para me tratar das heras do jardim e das pétalas das rosas para atapetar um troço de rua e eu continuaria a descer à cidade para ver uma procissão que acontece aqui tão perto e bem mais enfeitada.
Pois já que a tinha descoberto resolvi ir até lá atempadamente, assistir a azáfama do decorar das ruas, onde os vizinhos de cada rua quer fazer melhor e mais bonito que as ruas vizinhas, tudo a bem do conjunto e até há, quem não tendo rua com passagem de procissão se voluntaria para decorar uma rua mais abandonada de vizinhos, e depois também quis ir ver as minhas heras e pétalas das rosas a fazer bonito, e foi bonito, sim senhor.
Certo que algumas ruas foram mais prendadas que outras, com colorido e desenhos de atrair o olhar e a apreciação, e os vizinhos sentem-se orgulhosos na apreciação, mas no final o que vale mesmo é o conjunto e que não haja troço de rua onde a procissão passar que fique sem tapete florido.
E tudo é feito com amor à tradição e à procissão, pois só assim se entende que se faça uma obra de arte para ser completamente destruída com a passagem da procissão que faz com que todo o trabalho, porque sou testemunha dá trabalho, não seja trabalho inglório, e para o ano, ainda há de ser mais bonito, assim haja flores e verdes à mão.
Pois por aqui em imagem tento deixar o trabalhar de cada rua, as obras de arte e a procissão. Transpirei a bom transpirar para o conseguir, tanto mais que o calor convidada a transpirar mas também a refrescar, e lá vamos nós outra vez para a tal comunidade de aldeia onde se mata sempre a sede a quem a tem, pois há sempre uma porte que se abre e que nos convida ao refrescar e já há muito que aprendi que é de má educação recusar. Eu nunca recuso.
E prontos. Sei que não é lá muito correto este remate do “prontos”. Os puristas da língua olham para ele de lado, mas dá jeito para rematar e depois estamos a falar de tradições e aldeias, onde não há caganças dessas, e as pessoas se vão entendendo com o português popular, com ou sem acordo ortográfico…
Ficam então as imagens, algumas das muitas que por lá tomámos, imagens que queremos repetir e que podem servir de convite para quem não tem nada que fazer neste domingo que agora também do Corpo de Deus, pelo menos até 2017, foi a promessa, mas como já estamos habituados a que as promessas não sejam cumpridas pelos políticos, vamos lá ver se será ou não que 2017 terá de regresso o Corpo de Deus de regresso ao seu dia, na primeira quinta-feira passados que são 60 dias após a Páscoa.
Fica então a imagem da passagem da procissão na última rua do percurso
E a entrada na igreja de Vilar de Nantes, onde termina a procissão e se passa à missa do Corpo de Deus.
Por nós, até para o ano.