Chaves e um íssimo cansaço
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Como diria Fernando Pessoa ou Álvaro de Campos, que é a mesma coisa, também eu quero acreditar em:
“O que há em mim é sobretudo cansaço –
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.”
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Mas claro, há também um contrato a cumprir e, lá o vou cumprindo como posso, com as coisas do dia-a-dia, os regressos ao passado, o acreditar ou não acreditar nas coisas, no presente, no futuro. Coisas da contenção da actualidade dos dias ou dos dias actuais onde também os sentimentos e “acreditares” são já comedidos, escurecidos ou enevoados. Tudo isto, quero acreditar, é cansaço. Não só o meu, mas também o que os outros me provocam, sobretudo esse, o dos outros, cansam-me infinitamente, a mim, que tal como ao Pessoa ou ao Álvaro “amo infinitamente o finito,/porque eu desejo impossivelmente o possível, porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,/Ou até se não puder ser…”
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Recorro às mnemónicas para fintar, driblar, persuadir talvez este cansaço de andar cansado, mnemónicas de olhares que nunca enganam, quando muito disfarçam teimosamente o cansaço nesta teimosia constante de saber ou não conjugar alguns verbos: Acreditar/Arrepender - que contrariando a exactidão da geometria de um risco traçado numa recta, acredito que a parvoíce está na inocência, na minha e no cansaço, afinal, de acreditar…
Há dias assim, de cansaço “… só um profundo,/E ah com que felicidade infecundo, cansaço,/um supremíssimo cansaço,/Íssimo, íssimo, íssimo,/Cansaço…”