Quem conta um ponto....
675 - Pérolas e Diamantes: Disto e daquilo
Um falso amigo é um Judas. E um falso Judas será um amigo? Tanto no seminário como no quartel, a regra é idêntica: “Don’t ask. Don’t tell.” Por vezes sentimos a ausência do tempo e nem é preciso estarmos drogados ou bêbados. São coisas da vida. Por vezes os dias duram alguns minutos. Noutras ocasiões os minutos parecem horas, ou dias. Tudo é relativo. A verdade também nos pode pôr doentes. Há pessoas de quem precisamos, por causa da sua amizade, mas a quem dispensamos os conselhos e outras de quem não conseguimos ser amigos, mas que nos dão conselhos acertados. Claro que também há amigos que nos dão bons conselhos e ex-amigos que, bem, passemos à frente. São coisas da vida. Diz quem estuda estas coisas que o puro intelecto, por si só, pode ser muito perigoso, pois costuma significar poder e, como todos sabemos, o poder tem tendência para a corrupção. Mas, quando as coisas são bem orientadas, o puro intelecto pode exercer sobre a sociedade uma influência civilizadora. Ou seja, tanto pode dar para o mal como fazer brotar o bem. O puro intelecto, bem utilizado, pode poupar muito tempo e dinheiro. O que não é despiciendo neste tempo de vacas magras e lucros chorudos para a banca e negócios correlativos. O problema é que os génios têm tendência a perderem toda a noção de realidade. Mas os entendidos também dizem que o grande problema está na forma de lhes ganhar a confiança. Quem tem amigos nos serviços secretos sabe muito bem como são estas coisas. A realidade é mesmo assim. Só que há gente que não suporta demasiada realidade. Ou seja, ainda há muito romântico por aí. Claro que se magoam, mas não é por mal. O melhor, mesmo, é esperarem sentados pelas melhoras. Ou então que alguém utilize pozinhos de perlimpimpim. Neste mundo em aceleração permanente, todos somos confrontados com abundantes doses de brutalidade onde as virtudes tradicionais, que nos eram tão caras, são afastadas. O dever, a deferência, a honra e a justiça estão a desaparecer a olhos vistos ou estão em conflito entre si. A crença no desenvolvimento ininterrupto e na própria justiça já teve melhores dias. E as teorias sobre o igualitarismo continuam ordinárias, sendo mais um motivo de desilusão. Claro que o país já esteve para falir várias vezes. E isso apenas não aconteceu porque as velhas instituições não podem falir. The show must go on. O que seria do mundo se assim não fosse? E lá nos vamos vendendo a nós próprios. O que não tem sido fácil. Até a água canalizada começa a ser mercantilizada por empresas privadas. Qualquer dia é o ar e, um pouco mais lá para diante, a mesmíssima luz do sol. A própria perceção do tempo, e de nós próprios, tem mudado muito. Portugal já se assemelha mais a um serviço financeiro do que a um Estado. A sensação que tenho é de ter frio e de estar sentado de pernas afastadas em frente a uma lareira vazia. O conhecimento é uma coisa benéfica, mas tem alguns efeitos secundários que podem ser perigosos, pois, à medida que o conhecimento se torna mais amplo e consistente, as pessoas têm tendência para ficarem mais sensíveis. Mas o que está feito, feito está e não vale arrependimento. O momento mais delicado, e saboroso para alguns, é quando se descobrem as técnicas da provocação. Depois do fingimento chega o momento supremo da aceitação das certezas. Para ser madrugada, o céu tem de ir ficando mais claro. Estamos todos numa situação de interregno e o sol está a demorar a romper a linha do horizonte. Quando podemos entregar a autoridade e o poder a um homem ou a uma mulher em quem se pode confiar, começamos então a sentir uma confortável sensação de liberdade. Mas, convém também lembrar que, muita dessa boa gente passou muito do seu tempo em cerimónias maçónicas, nas quais as pessoas insignificantes se escondem atrás dos títulos. Já os fulanos do Opus preferem usar a fonte da sua dor masoquista debaixo das calças, ou das saias, ou mesmo das batinas. Afinal, são insondáveis os caminhos do Senhor. Alguns dos mais afoitos revelam um leve e brincalhão tom de autocrítica. Já os outros rezam com tal ardor que ficam com os lábios a arder. Entre ambos, venha o velho e gozão Belzebu e escolha. Se for capaz. E por aqui andamos todos, uns a fazerem isto e outros aquilo. Aquilo e isto. Sobretudo isto, mas também um pouco de aquilo. Faz parte da vida.
João Madureira