Pois é, já andamos por aqui há 19 anos a mandar postas de Chaves e do restante Reino Maravilhoso que nos rodeia, e tal como todos os anos o temos feito, também este ano festejamos o nosso aniversário ou a nossa teimosia de vir aqui todos os dias, nem que seja, e só, com uma imagem, mas também, sempre que nos é possível, vamos dando conta daquilo que se passa lá fora, na rua, com coisas que a natureza nos vai ditando e impondo, tal como os outonos, as névoas, o gelo, a chuva e as cheias do rio, a neve quando cai, a passarada que por aí anda, mas também vamos seguindo a vida cultural da cidade e arredores, e um ou outro evento. Cumprimos sempre a promessa de ir à mesinha do São Sebastião no Barroso de Boticas, assistimos à passagem das procissões (quando as há), e entramos de corpo e alma na grande festa da cidade de Chaves, a Feira dos Santos… Em suma, vamos vivendo a nossa vidinha e fazendo aquilo que podemos, e embora não seja complicado, também não tem sido assim tão fácil, principalmente a cumprir alguns objetivos que impusemos a nós próprios, quem sem os esquecer, vamos adiando. Coisas da vida, e da vida que há também para além do blog e destes andares nas vias da internet.
Mas cá estamos a cumprir o 19º aniversário e por aqui continuaremos, nem o cansaço, daquele que o Álvaro de Campos também tinha, “não disto nem daquilo/Nem sequer de tudo ou de nada:/Cansaço assim mesmo, ele mesmo,/Cansaço. …” nos fará parar.
Nos nossos aniversários costumamos fazer um balanço daquilo que foi acontecendo no blog, e de certa maneira, também íamos fazendo algumas previsões e anunciava-mos alguns projetos para o futuro do blog, pois desta vez não o vamos fazer, nem uma coisa, nem outra, o blog continuará como até aqui, vamos tentar cumprir as nossas promessas, principalmente as que abrangem o nosso mundo rural, e vamos continuar a andar por aí, por cá e pelas terras da nossa vizinhança, continuaremos a subir à croa das serras e montes, a beber água das fontes ou um copo da pipa, onde ele ainda se faz, continuaremos a andar por aí, a parar onde há pastores e gado ou gente no amanhar do campo, continuaremos a sentar-nos nas escaleiras das casas a aprender com os velhos que nelas descansam das suas longas vidas.
Sem balanços e sem previsões, mas tempo para agradecimentos, o primeiro para aqueles que como eu tem a teimosia suficiente para virem por aqui todos os dias, a maioria anónimos, mas alguns que já os conheço desde sempre, quer pelos seus comentários, pelos seus mails, pelas suas crónicas e pelo dizer presente quando ele se exige. Agradecer também aos colaboradores do blog, a todos, os que ainda se mantêm com as suas crónicas, semanais, mensais ou ocasionais, mas também a todos os que já aqui tiveram cónicas habituais e que continuam a ter sempre as portas abertas desta casa. Agradecer também aos três parceiros do costume que me acompanham nas andanças das descobertas e recolha de imagens no mundo rural, serras e montes. E um agradecimento também para todos os flavienses ausentes que vão andando por aqui a matar saudades da terrinha. E é tudo. Obrigado a todos, nós continuaremos por aqui conforme podemos e sabemos.
Por último agradecer também ao SAPO blogs e à sua equipa pela existência deste espaço da blogosfera, pelas ajudas quando necessárias, mas também por alguns destaques de alguns dos nossos post’s que nós apreciamos sempre. Obrigado.
Quanto às imagens de hoje, são apenas repetições de algumas imagens que gostámos de fazer e trazer aqui ao longo do ano de 2023.
Outros afazeres e outras prioridades não nos têm permitido estar aqui aos domingos com as aldeias do Barroso, as aldeias que faltam, e ainda são algumas, não só do concelho de Vieira do Minho, que estamos quase a concluir, mas também as aldeias do Barroso que pertencem ao concelho de Ribeira de Pena, ou seja, as aldeias barrosãs que “saem fora da caixa” dos concelhos de Montalegre e Boticas.
Assim, cá estamos de novo, e desta vez não como habitualmente com uma aldeia, mas com três – Paredinha, Soutelos e Santa Leocádia, todas da freguesia de Ruivães e Campos, do concelho de Vieira do Minho.
São aldeias, tal como as restantes da freguesia, da Serra da Cabreira, na vertente Norte que desce para o rio Rabagão onde se começa a formar mais uma das barragens feita com as suas águas, a terceira desde a sua nascente, sendo a primeira a do Alto Rabagão, vulgarmente conhecida pela barragem dos Pisões, a segunda a da Venda Nova e a confrontar com esta freguesia a barragem de Salamonde.
Tendo as barragens com referência, estas três aldeias de hoje, localizam-se entre a barragem da Venda Nova e a barragem de Salamonde, ficando o rio Rabagão a menos de 500m de Paredinha e Soutelos, mas nenhuma das aldeias tens acessos (caminhos) diretos até ao rio, nem até a Ponte da Misarela, que fica a cerca de 800m de Soutelos. Embora com o rio e a ponto nas proximidades, a inclinação da montanha não é muito convidativa a caminhos.
As três aldeias, relativamente próximas, cabem todas dentro de um circulo com um raio de 800m, ficam à beira da estrada nacional 103, no troço entre Chaves e Braga, aliás, Paredinha e Santa Leocádia são mesmo atravessadas pela estrada nacional, apenas Soutelos, a aldeia do meio, se distancia ligeiramente da estrada, num plano inferior, mas relativamente próxima, a menos de 200m de distância.
Penso que com o que fomos dizendo até aqui estas aldeias já estão localizadas, mesmo assim, deixamos como habitualmente os nossos mapas e os da google para melhor se entender o enquadramento destas três aldeias com o terreno, e o melhor itinerário para lá chegar, itinerário esse que como sempre é feito com partida desde a cidade de Chaves, de onde partimos sempre para estas descobertas das aldeias do Barroso.
Então, uma vez que a N103 atravessa estas três aldeias, bastaria tomarmos esta estrada em Chaves e deixar-nos ir por ela até encontramos Paredinha, mas vamos fazer um atalho, poupamos 7km e alguns minutos de viagem, além de pessoalmente achar que o atalho que se recomenda é mais interessante para quem vai em passeio e à descoberta.
Mapa parcial
Assim, saímos pela N103 mas só até Sapiãos, onde devemos sair em direção a Boticas e aí apanhamos a R311 em direção a Salto. Já nas proximidades de Salto, num entroncamento, aparece sinalizada Salto para a esquerda e Venda Nova para a direita, deveremos seguir em direção à Venda Nova, onde retomamos a N103 em direção a Braga, e logo a seguir, ou quase (a cerca de 7Km e ainda com Padrões pelo caminho)) temos Paredinha, a primeira das nossas três aldeias. Ao todo, entre Chaves e Santa Leocádia (a última aldeia do percurso) são 68 km, cerca de 1h10 de viagem, isto sem paragens e a seguir as regras de trânsito.
Paredinha é a mais pequena das três aldeias, ao todo uma dezena de construções entre casas, armazéns e anexos. Soutelos, fica logo a seguir, atenção à placa de estrada que indica Soutelos, pois a aldeia não é visível desde a estrada. Se vai de Chaves, embora a saída seja à direita, esqueça a placa e ande mais 100m, onde pode fazer inversão de marcha, volte atrás e então sim, saia da N103 e apanhe a estrada para Soutelos, isto porque vindo de Chaves para entrar na estrada para Soutelos teria de fazer uma curva a 360º, sem espaço para manobras. Impossível de fazer em modo de condução normal. Quanto à aldeia, pouco maior é do que Paredinha, talvez mais 4 ou 5 construções.
Por último temos Santa Leocádia, esta sim, já é uma aldeia já com umas dezenas de construções, mas sem chegar à centena. Muito próxima de outra aldeia da freguesia, Botica, não havendo praticamente separação física entre as duas.
Quanto às 3 aldeias, são aldeias de montanha (na vertente da Serra da Cabreira com vistas para a Serra do Gerês), à beira de estrada, com alguns, poucos, terrenos de cultivo, pastagens e alguma floresta, sendo esta última a que ocupa mais área, com carvalhos e alguns castanheiros e pinheiros à mistura.
Estamos a chegar ao fim deste post e chegamos também àquela altura em que nos despedimos e anunciamos o vídeo resumo com todas as imagens que hoje aqui foram publicadas, vídeo que também podem ver no MeoKanal e no nosso canal do YouTube.
Aqui fica o vídeo que espero que gostem:
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No próximo domingo vamos tentar trazer aqui mais uma aldeia desta freguesia de Ruivães e Campos do concelho de Vieira do Minho, aliás será uma destas duas aldeias, pois sãos as que faltam para concluirmos a abordagem das aldeias barrosãs deste concelho.
Hoje entramos no Barroso que vai além do concelho de Montalegre e Boticas, vamos até ao concelho de Vieira do Minho, para a freguesia de Ruivães e Campos, com a primeira aldeia desta freguesia, a aldeia de Botica.
Já tivemos oportunidade de explicar aqui o porque desta aldeia, e a freguesia à qual pertence, serem parte integrante do Barroso, quer por razões históricas quer geográficas, e é por isso que aqui estamos hoje para dar continuidade ao Barroso de Montalegre e Boticas.
Iniciemos já pela sua localização que fica na vertente da Serra da Cabreira que descarrega no rio Cávado, onde se começa a formar a barragem de Salamonde. Botica, é assim mesmo o nome da aldeia, embora o este topónimo possa ter a mesma origem que teve a vila de Boticas, fica localizada junto à N103 que liga no troço que liga Chaves a Braga e, mais metro, menos metro, entre as duas aldeias que dão nome à freguesia – Ruivães e Campos.
Para lá chegarmos, como sempre a partir da cidade de Chaves teremos que apanhar a N103 e seguir basta seguir sempre por ela até chegarmos a Botica, que fica imediatamente antes de Ruivães (a 2Km). Este é o itinerário que recomendamos para ir até lá, são 76,9 km, mais ou menos 1H20 de caminho.
Como repararam atrás deixámos dois itinerários, que por sinal está numerado como itinerário 2, mas a ordem é indiferente tal como é indiferente tomarmos um ou outro, pelo menos no tempo que se demora, embora em quilómetros o itinerário 1 seja mais curto, com 65,6Km, mas também é, a meu ver, o mais interessante para quem vai em passeio, e com menos movimento, este é via Boticas e depois pela R311 até à proximidade de Salto, ou seja, no cruzamento onde aparece indicado Salto e Venda Nova, deverá seguir em frente e deixar ambas as localidades de lado, depois é só seguir em direção a Borralha, Linharelhos, Lamalonga, Campos e logo a seguir fica Botica.
Para rematar a localização e os itinerários, se estiver interessado em ir até Botica e ficar na dúvida entre os dois itinerário, vá por um e venha por outro e assim o passeio será bem mais interessante.
Quanto à aldeia, embora pertença ao Barroso, temos que nos lembrar que também pertence ao Alto Minho, e Minho é sinónimo de terras verdes, e esta não é exceção, aliás por aqui há muito que o Barroso já é verde, mesmo no concelho de Montalegre nas freguesias de Cabril que se prolonga até à freguesia de Salto. Estamos no Barroso verde.
Quanto ao predomínio arquitetónico da aldeia, também é muito deferente daquilo que encontramos no Alto Barroso onde predomina o granito à vista. É também uma aldeia, como todas na sua condição, que tem influência de se localizar junto a uma estrada principal e um cruzamento, mas o que impressiona mesmo em termos visuais e mesmo a quantidade de fios de alta tensão que atravessam a aldeia…
De resto encontrámos por lá um conjunto de moinhos em série, pelo menos três seguido mesmo à beira da estrada que liga à aldeia de Campos, e num largo próximo, a capela e a torre sineira, bem separada da capela e bem mais interessante.
Também de realçar um outro largo, mais no interior da aldeia e afastado das estradas, com um interessante cruzeiro rodeado com 3 degraus de acesso à sua volta e mais afastado, em círculo, um conjunto de 4 bancos de granito e duas oliveiras. Cruzeiro e largo bem interessantes.
E agora chegamos àquela altura em que nos despedimos e anunciamos o vídeo resumo com todas as imagens que hoje aqui foram publicadas, vídeo que também podem ver no MeoKanal e no nosso canal do YouTube.
Aqui fica:
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Tal como vem sendo habitual na abordagem que este blog tem feito ao concelho de Boticas, após passarem por aqui todas as aldeias de cada freguesia, fazemos um resumo para essa mesma freguesia. Hoje chegou a vez de fazermos o resumo da última freguesia do concelho de Boticas, que por sinal é a freguesia de Boticas e Granja.
Boticas e Granja que até há relativamente pouco tempo eram duas freguesias distintas, a primeira composta por Boticas, Eiró e Sangunhedo, e a segunda composta pela Granja e Ventuzelos. Ora já a pensar no post de hoje, isto para ele não ficasse tão longo e maçudo, na abordagem que fizemos à aldeia da Granja, a mesma foi feita como se a Granja ainda se tratasse de uma freguesia, deixando lá toda a informação que tínhamos disponível sobre a aldeia e a antiga freguesia. Assim hoje, embora a nível de imagens seja o resumo da atual freguesia de Boticas e Granja, ao nível da abordagem histórica será apenas abordada a antiga freguesia de Boticas, mesmo porque dada a juventude desta nova freguesia, a história que prevalece é a das duas freguesias separadas.
Também com este resumo da freguesia de Boticas e Granja pomos ponto final à abordagem das aldeias do concelho de Boticas, pois já todas passaram por este blog, mas embora a freguesia tenha hoje aqui o seu post e encerremos a abordagem das aldeias e freguesias do concelho, falta ainda o post dedicado à vila de Boticas, tal como faltou o da vila de Montalegre, isto porque queremos fazer essa abordagem a ambas as sedes de concelho quando terminarmos a abordagem de todas as aldeias do Barroso, e pese o facto de as aldeias de ambas as vilas já terem sido aqui abordadas, falta ainda abordar as aldeias barrosãs que pertencem ao concelho de Vieira do Minho e Ribeira que farão aqui entrada a partir do próximo domingo.
Vamos então ao resumo da freguesia de Boticas e Granja cuja abordagem histórica será feita com base naquilo que está expresso no caderno da freguesia de Boticas da monografia da “Preservação dos hábitos comunitários nas aldeias do concelho de Boticas” que desde já fica o aviso de que se trata de uma publicação datada de maio de 2006, pelo que alguns dados sobre a população, economia e sociedade poderão não corresponder à realidade atual.
E sem mais rodeios passamos já áquilo que se diz na “Preservação dos hábitos comunitários nas aldeias do concelho de Boticas” mais precisamente no Caderno da freguesia de Boticas. As imagens que vão ficando ao longo do texto resultam de uma seleção das que foram publicadas nas respetivas abordagens das aldeias da freguesia, para as quais ficará no final deste post um link para cada uma dessas abordagens.
A FREGUESIA DE BOTICAS: GEOGRAFIA E PERSPECTIVA HISTÓRICA
A freguesia de Boticas é constituída pela vila de Boticas, sede do concelho, à qual deu o nome, e as aldeias de Eiró e Sangunhedo.
Eiró e Sangunhedo encontram-se dispostas na encosta da serra do Leiranco, Boticas, encontra-se localizada na zona do vale. Confronta com quatro freguesias: a Norte com Cervos, do concelho de Montalegre, a Este com a Granja, a Sul com Pinho e a Sudoeste com Beça, todas do concelho de Boticas. Ocupa uma área total de 13,9 km”.
Eiró
1 – POPULAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE
Num concelho em que a evolução da população, nas diversas freguesias, se caracteriza por uma diminuição progressiva, com uma pirâmide etária invertida, onde os grupos etários mais baixos são diminutos e a população envelhecida aumenta, Boticas é a freguesia mais densamente povoada, actualmente conta com cerca de 1065 residentes, e aquela que ao longo dos últimos 40 anos menos população residente perdeu (apenas 1,5%).
Granja
Esta freguesia, em especial a vila de Boticas enquanto sede do concelho, afirma-se cada vez mais como um pólo urbano centralizador, concentrando serviços e investimentos. Funciona simultaneamente como pólo de atracção, quer em termos de investimentos públicos e privados, quer em termos de mão-de-obra das freguesias, atraída pelas oportunidades de emprego que esses investimentos suscitaram, captando assim uma parte significativa dos recursos humanos qualificados.
Criaram-se assim as condições propicias para que esta freguesia conseguisse manter a sua população, salvo O decréscimo que se registou nos anos 80 devido à intensificação dos fluxos migratórios. Nas décadas seguintes, contrariando a tendência regressiva da população, assistiu-se ao crescimento e manutenção da população, em parte devido a fixação de nova população atraída pelas ofertas de emprego, dado que grande parte das pessoas que trabalham nesta freguesia, especialmente as das aldeias mais distantes, optam por comprar casa nesta freguesia ou nas freguesias limítrofes, como por exemplo Beça.
No que se refere à idade dos residentes, esta freguesia, apesar de também registar uma gradual tendência para o envelhecimento, é aquela que concentra a maior percentagem de indivíduos em idade activa, 50% dos 1065 residentes têm 25 e 64 anos, e a mais baixa percentagem de idosos (22%). Relativamente aos níveis de instrução desta população, Boticas apresenta diferenças relativamente à generalidade das freguesias do concelho, registando uma menor taxa de residentes sem qualquer nível de instrução (14%), constituida essencialmente por idosos, bem como uma maior percentagem de pessoas com ensino universitário (8%), dados que indiciam uma cultura mais cosmopolita. Quando comparada com as restantes freguesias nota-se um claro investimento na educação.
Eiró
No que se refere à área de actividade económica da população local, esta divide-se entre o urbano, ao centro (na vila de Boticas) e o rural das localidades que lhe são periféricas (Eiró e Sangunhedo). Na vila de Boticas, as actividades económicas são predominantemente a área dos serviços, comércio e cafetaria e restauração, concentrando um grande número de mão-de-obra. A agricultura desempenha um papel secundário, como complemento para as economias familiares. Em Eiró e Sangunhedo, anexas à vila de Boticas, a população, beneficiando dessa proximidade, encontrou aí novas oportunidades de emprego. Todavia, uma parte da população local continua a dedicar-se à agricultura e à pecuária. Algumas famílias continuam a actividade tradicional de criação de gado, produção de batata, milho, e algum centeio, os produtos que melhor se desenvolvem e produzem nesta região de Barroso, com elevados níveis de qualidade e sabor. Também a produção artesanal de mel e fumeiro se encontra em franco desenvolvimento, funcionando como um complemento no rendimento das famílias. Esta freguesia é também conhecida pela produção do famoso “Vinho dos Mortos”, para o qual está a ser construído um repositório (em Granja), onde os visitantes poderão conhecer melhor a história deste afamado vinho.
Granja
Todavia, a tendência aponta para a evolução do sector secundário e terciário. A concentração dos serviços públicos (Câmara Municipal, Escola EB 2/3, Cartório Notarial, Tribunal, Finanças, Centro de Saúde, RESAT, entre outros) e o crescente investimento privado na área da indústria (EURONETE, S.A.), serviços, comércio e restauração, tem desempenhado um papel preponderante nesta dinâmica. Assiste-se simultaneamente ao gradual abandono da agricultura como principal fonte de subsistência dos agregados familiares, passando a ser praticada a tempo parcial, cultivando-se pequenas parcelas, as que se encontra mais perto das localidades (hortas e nabais), como complemento de subsistência.
No que se refere à sociedade, esta comunidade caracteriza-se pela existência de alguns contrastes. A par das famílias de lavradores e pequenos proprietários de terras que (ainda) desenvolvem actividades agro-pecuárias, existem famílias de empresários, gestores, comerciantes e quadros médios que exercem actividade no ensino e na vida administrativa local.
Em termos associativos existem na freguesia de Boticas múltiplas e variadas associações, tais como: a Associação Recreativa e Cultural “Fórum Boticas”, à qual pertence o Grupo de Danças e Cantares Regionais de Boticas e a Rádio Fórum Boticas, o Agrupamento de Escuteiros 1148 Boticas e o Grupo Desportivo de Boticas.
Sangunhedo
A vila de Boticas dispõe dos mais diversos equipamentos culturais, educacionais e recreativos, entre os quais se destacam os seguintes: Auditório Municipal Dr. José S. Fernandes, Biblioteca Municipal, Museu Rural de Boticas, Escola Municipal de Educação Rodoviária, Complexo de Piscinas Municipais. Para além destes espaços, possui também os parques de lazer do Noro e da Presa do Padre Pedro.
Os visitantes dispõem ainda de uma variedade de espaços onde ficar. Dependendo dos gostos a oferta vai desde o Turismo Rural (TR), às residenciais e ao parque de campismo para os mais aventureiros, um parque bem equipado que para além dos espaços para as tendas e roulottes dispõe também de cinco Bungalows capazes de proporcionarem todo o conforto e comodidade, indispensáveis a umas agradáveis e reconfortantes férias.
Ventuzelos
Com o Verão, vêm as férias e os emigrantes e a vida das comunidades ganha um novo fulgor. As noites quentes convidam ao lazer e são vários os eventos culturais promovidos pela autarquia durante esta época. De Julho a Agosto decorrem as “Quintas-feiras Culturais” a cujo palco sobem os mais variados espectáculos, com especial destaque para o folclore e os cantares tradicionais, a cargo dos grupos culturais e recreativos do Concelho, o teatro, o fado e os arraiais populares.
Paralelamente, nas primeiras semanas de Agosto decorre também o Boticas Rock, no âmbito do qual se organizam múltiplos e variados espectáculos como o concurso de karaoke, música ao ar livre, animação de rua, desportos radicais, entre outros.
Granja
Mensalmente realizam-se duas feiras em Boticas, nos dias 10 e 20, excepto quando estes dias coincidem com o fimde-semana ou feriado, passando então a realizar-se no dia útil imediatamente a seguir. Existe um espaço criado para o efeito, localmente designado como “Campo da Feira”, de fáceis acessos e com variados locais de estacionamento nas zonas envolventes.
Para além das feiras mensais, realiza-se todos os anos, no dia 10 de Novembro, em Boticas, a Feira dos Santos. Esta é a maior feira do ano, quer em termos do número de comerciantes/vendedores que nela participam, quer em termos de afluência de pessoas.
Eiró
2 - MARCAS DO SEU PASSADO
Como já atrás referimos, muitas das aldeias e povoados do Norte de Portugal e também desta região de Barroso, tiveram origem muito antiga, como os inúmeros castros conhecidos o testemunham. Os castros de que hoje apenas encontramos vestígios de ruínas, são vulgarmente conhecidos por citânias, mas também castelos, cercas e cividades. É o caso do castro de Giestosa que é também conhecido e identificado como cividade da Giestosa.
Os castros conhecidos nesta região indicam ser do tempo da II Idade do Ferro isto é pelos séculos III e II antes de Cristo. Muitos deles foram abandonados com a invasão dos povos romanos sobretudo os feitos de uma nova civilização e desenvolvimento técnico.
Sangunhedo
São estes vestígios arqueológicos associados a coutos de mineração como é o caso bem conhecido do poço das Freitas que informam da presença de outras civilizações muito antigas. Sabemos que estes castros foram abandonados, mas é provável que a presença humana, designadamente a partir da invasão dos romanos tenha continuado. Certo é que, a partir da fundação de Portugal se dá um movimento de ocupação e povoamento como as inúmeras cartas de povoamento o revelam[i] .
Granja
2.1 - EIRÓ/BOTICAS NAS ORIGENS DO CONCELHO
Boticas ou Boticas de Barroso, era no passado, até há pelo menos 150 anos atrás, uma humilde povoação da paróquia de Eiró. Em 1530, no numeramento de D. João III, O seu topónimo nem aparece, talvez porque a aldeia ainda não existisse enquanto tal. De facto, neste documento que enumera todas as povoações de Barroso com os seus moradores, apenas Eiró e Sangunhedo vêm referidas com 32 moradores, cabeças de casal, isto é, perto de 130 pessoas. Mais tarde, no ano de 1758, já Boticas aparece no conjunto das três aldeias que compõem a paróquia de Eiró.
Ventuzelos
Ao tempo, a paróquia era conhecida por Eiró ou São Salvador de Eiró. Efectivamente, a igreja matriz encontrava-se dentro do lugar de Eiró, constituindo por isso a paróquia e dando nome ao conjunto das três povoações que a compunham - Eiró, Sangunhedo e Boticas de Barroso. A partir de 1836, com a constituição do concelho de Boticas a partir da desanexação de freguesias do concelho de Montalegre, da extinção do Couto de Dornelas e ainda de uma freguesia do concelho de Chaves, a freguesia de Eiró passou a designar-se por freguesia de Boticas, que deu o nome ao concelho, passando por isso a ser vila e sede do concelho de Boticas.
Granja
O concelho de Boticas é uma criação do Liberalismo Português do século XIX, surgindo no âmbito da reforma Liberal de 1836, na sequência das grandes reformas da administração e da divisão territorial portuguesa, delineadas por Mouzinho da Silveira, desencadeadas na chamada Segunda Revolução Liberal de 1832.
A reforma da administração local e municipal portuguesa é uma matéria que atravessa profundamente a Sociedade Portuguesa da última etapa da Monarquia absoluta e apresenta-se como uma forte aspiração dos administrados — descontentes e agravados com as instituições existentes — mas também de largos sectores da nossa administração pública e política, entre elas a própria Coroa que, como se referiu em 1790, desencadeia um programa de estudos com vista à reforma administrativa do reino[ii].
Boticas e Sangunhedo vistas desde Eiró
Tais estudos não resultaram na reforma pensada, ainda que aqui e acolá algumas propostas feitas para a reforma da divisão das novas comarcas e da nova carta de concelhos tivesse algum acolhimento e na prática fossem adoptadas algumas das medidas propostas pelos Juízes nomeados para essa tarefa, a nova demarcação das comarcas e concelhos.
A Revolução Liberal de 24 de Agosto de 1820 inscreverá como um dos seus principais objectivos à reforma administrativa, através da qual ela se propunha realizar o projecto político e social da instauração do novo governo, das novas instituições e da nova sociedade liberal.
Efectivamente, a Constituição de 1822 e a Carta Constitucional de 1826 inscrevem nos seus textos a necessidade de reformar a administração vinda do Antigo Regime, assim como promover um novo desenho dos concelhos.
Granja
Esta ideia de reforma do Estado não foi levada a cabo logo com a revolução de 1820 devido à forte movimentação e agitação política e social local e nacional em volta da instalação dos novos poderes das instituições e autoridades.
Foi mesmo interrompida e suspensa, anulando-se algumas das medidas com a reacção absolutista conduzida por D. Miguel desde 1823 instaladas as autoridades e as leis do Absolutismo em definitivo com o governo absolutista de D. Miguel desde 1826, após a morte de D. João VI, que suspende todo o ordenamento liberal e constitucional e a Constituição de 1822 e a Carta Constitucional de 1826.
Só no quadro da 2ª Revolução Liberal e da vitória definitiva do liberalismo sobre a Usurpação absolutista — D. Pedro contra D. Miguel — é que foi possível realizar com mais desenvolvimento e sem retomo a reforma da administração portuguesa, suas Instituições e carta territorial.
Após a tentativa de reforma seguindo o chamado modelo francês, aliás, de curta vigência, logo em 1833, Rodrigo da Fonseca Magalhães, introduz uma nova remodelação nesta organização administrativa, criando os Distritos, levando a cabo a mais drástica amputação dos concelhos portugueses que reduz a cerca de metade. É nesse contexto que virá a surgir o concelho de Boticas.
Sangunhedo
A reforma da carta concelhia e com ela a redefinição das áreas e limites dos concelhos reformados, extinção de muitos, cerca de metade das unidades existentes e criação de algumas novas unidades foi, de facto, uma decisão muito arrojada e a sua implementação revelar-se-ia, obviamente, muito difícil e penosa.
Na Província Transmontana, a nova legislação criará os Distritos de Vila Real e Bragança, divisão que em grande parte assume em termos territoriais o do ordenamento espacial que no Antigo Regime era desempenhado pelas comarcas.
Ventuzelos
A proposta de Columbano, de 1790, de criar uma nova comarca para à região presidida por Chaves — que corresponde, em grande medida, à parte ocidental da comarca de Bragança — não vingaria naquela proposta de reforma e também não vingará na criação de um distrito para Chaves, embora esta reivindicação estivesse então também presente e tivesse eco. Esta região transmontana ocidental viria a ser integrada no distrito de Vila Real.
Do ponto de vista da divisão concelhia, o facto mais assinalável na reformulação da casta dos concelhos desta banda da Província é, sem dúvida, a criação e institucionalização do concelho de Boticas, que vem no elenco do decreto de 6 de Novembro de 1536.
Eiró
Trata-se, em grande medica, de uma criação inesperada, pelo menos a quem acompanha a documentação e os projectos de reformas anteriores para esta orla transmontana. Com efeito, de um modo geral, a criação de novos concelhos em 1835/36 após o resultado de uma longa luta de reivindicação autonómica, assente em fundamentos que os mentores da criação sempre vão apresentando aos poderes políticos e assentes muitas vezes em actos de rebeldia mais ou menos activas ou positivas relativamente às unidades administrativas de que se querem separar. Nela emergirá o concelho de Boticas, com todas as instituições, poderes e competências que agora compõem e são entregues aos concelhos integrados no quadro das instituições distritais instituídas pela nova legislação e ordenamento administrativo, este sim destinado a ter uma larga longevidade.
Granja
Nos termos do novo mapa, Boticas integrar-se-á no recém-criado Distrito de Vila Real. O decreto de 6 de Novembro de 1836 que cria o concelho de Boticas integraria então as seguintes 17 paróquias: Eiró, Granja, Cervos, Anelhe, Pinho, Bobadela, Ardãos, Sapiãos, Beça, Vilar de Porro, Canedo, Codeçoso, Curros, Covas, Alturas, Dornelas e Cerdedo.
Depois disso muito mudou com a passagem de paróquias para outros concelhos e a criação de outras freguesias.
Actualmente, o concelho tem 16 freguesias, das quais se destacam Fiães do Tâmega e S. S. de Viveiro, a primeira criada em 1834 que pertenceu por um tempo ao concelho de Ribeira de Pena e a segunda apenas criada em 28 de Janeiro de 1967.
Sangunhedo
2.2 - UM DOCUMENTO DE 1758
No ano de 1758 o Rei D. José, através do seu ministro Marquês de Pombal, desenvolveu um inquérito a todas as paróquias do Reino de Portugal continental que hoje se encontram no IAN/TT.
Este inquérito que foi respondido pelos párocos das freguesias era composto de três partes: a primeira respeitante à paróquia onde se tratava de saber da sua história, produções agrícolas, população, instituições locais, igreja e capelas com suas devoções e romagens, a segunda tratava dos rios e ribeiros que nela existissem, assim como das levadas e represas, moinhos e pisões, e a terceira perguntava pela serra e por todas as suas características, se tinha lagoas e nascentes, monumentos, capelas, caça e árvores.
Ventuzelos
É graças a este inquérito que se pode obter uma visão mais ou menos completa de como era a freguesia de Eiró, nos meados do século XVIII como abaixo se vê. Para uma melhor compreensão o português foi actualizado e foi introduzida alguma pontuação.
Satisfazendo uma ordem que me foi enviada pelo muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral, que aceitei com o devido respeito que se lhe deve, fiz diligência cuja resposta dos interrogatórios é a seguinte:
Granja vista desde Ventuzelos
No que respeita à terra:
É província de Trás-os-Montes, comarca de Chaves, termo da vila de Montalegre, arcebispado de Braga Primaz das Hespanhas. É freguesia de São Salvador de Eiró.
É comenda do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Marquês de Marialva.
Tem cento e dois fogos ou vizinhos e trezentas e trinta e três pessoas pouco mais ou menos.
Está situada a igreja no lugar do Eiró, a ela pertencente em lajes quase todas fimes. Nela se não descobre povoação alguma.
Termo tem só o que ocupa a mesma freguesia.
A paróquia está dentro do mesmo lugar de Eiró. Tem esta freguesia mais dois lugares que lhe pertencem: o lugar de Sangunhedo e o das Boticas de Barroso.
É orago o São Salvador do Eiró. [A igreja] tem três altares: o altar-mor onde está encerrado o Santíssimo Sacramento no Sacrário e dois colaterais, o da parte direita da invocação de Nossa Senhora das Candeias e o da parte esquerda do Santo Menino Deus. Não tem naves, a dita igreja, nem irmandades.
O pároco é vigário colado, é aprezentação in solidum do Reverendo Reitor de São Pedro de Sapiãos. Poderá render anualmente oitenta e tal mil réis.
Não tem beneficiado algum.
Não tem conventos alguns.
Não tem hospital nenhum.
Não tem casa de Misericórdia.
Tem esta freguesia três ermidas: uma no lugar de Sangunhedo dessa freguesia, tem a invocação de Santo Aleixo e é administrada pelos moradores do mesmo povo; outra nas Boticas, invocação de São Francisco, é particular, do Doutor João Batista e é administrada por ele. Outra no Eiró invocação de Nossa Senhora das Necessidades, é particular, de João Careiro Vieira é administrada por ele. Todas estão dentro dos ditos povos.
São romagens de pouca continuação excepto nos seus dias e [peracidens] em alguns mais dias festivos.
Os frutos que dá a terra são: centeio, milho, vinho verde, castanhas e centeio em mais abundância.
Tem somente juiz espadanio, que govena a mesma freguesia e está sob a alçada do juiz de fora e câmara da vila de Montalegre.
Não é couto, nem cabeça de concelho.
Não há memória de que nesta freguesia haja ou houvesse, homens com as qualidades que diz o interrogatório.
Não se faz nesta freguesia feira alguma.
Não há correio, servem-se do correio da vila de Chaves, que dista desta freguesia três léguas.
Dista esta freguesia da cidade de Lisboa, setenta e duas.
Tem esta freguesia o privilégio de reguengueiros.
Não há fonte nem lagoa célebre.
Não é porto marítimo.
Não é murada.
Não sofreu nenhuma ruína no terramto do ano de 1755.
Não há coisa alguma a que se possa fazer menção.
Sangunhedo
No que se respeita à serra é o seguinte:
Chama-se a serra do Fontão. Terá de comprimento três quartos de légua.
Em comprido no que pertence ao termo da freguesia, que a dita serra começa num lugar a que chamam Castelãos, da freguesia de Calvão onde se divide a Estremadura de Portugal e Galiza que é continuada; compreendendo várias freguesias que lhe ficam no circuito até chegar ao Douro ocupará uma extensão até vinte léguas.
Os nomes da dita serra, mais conhecidos, no termo desta freguesia são Fontão e as Escadas de baixo e de cima.
Dentro do circuito desta freguesia não nasce rio algum, apenas alguns regatos que vêm de fontes pequenas e todas juntas desaguam num rio chamado Terva, que passa pelo termo desta freguesia por onde discorre quase um quarto de légua.
Não há vila nem lugares na dita serra nem ao longo dela além dos da freguesia já nomeados.
Não há fonte alguma de propriedades especiais na área da dita serra.
Não há memória de que na dita serra tenha havido minas, nem canteiros de pedra, nem de outros materiais de que se possa fazer menção.
O fruto da dita serra são umas cepas que as suas plantas são urzes de que ela é bem povoada. Não consta que tenha ervas com virtudes particulares.
A dita serra não contém em si mosteiro, igreja de romagem nem imagens milagrosas.
A qualidade da sua temperatura é frigidíssima de tal maneira que este ano teve neve mais de trinta dias sem derreter.
Não há nela criação de gados, apenas algum que os mesmos moradores levam a pastar nela, tomando conta deles por temerem os lobos que nela muitas vezes se criam. Criam-se também nela coelhos, perdizes e raposas.
Não há na dita serra lagoa nem nenhum fojo notável.
Não tem mais coisa alguma de que se possa fazer memória.
Ventuzelos
No que respeita aos rios, é o seguinte:
O rio que discorre por esta freguesia chama-se rio Terva. É pequeno o sítio da sua origem, na freguesia de Calvão.
As suas nascentes são fontezinhas pequenas, corre todo o ano mas no Verão em pouca quantidade.
Não desagua nele nenhum rio até chegar ao sítio desta freguesia, apenas alguns regatozinhos sem importância.
Não é navegável, nem tem embarcações algumas.
Corre manso e pacificamente excepto em algumas cheias.
Corre do Norte para o Sul.
Criam-se nele peixes a que chamam trutas e outra espécie deles a que chamam bogas e também alguns eirozes, tudo em pequena quantidade.
Não há pescarias nele.
Não há pescarias no dito rio nem também senhorio delas.
Não tem margens que hajam de se cultivar. Tem algum arvoredo e em partes alguns castanheiros e outras silvestres.
Não consta que as suas águas tenham virtude alguma.
Tem conservado e conserva sempre o mesmo nome.
Desagua este rio no rio chamado Tâmega e nele se mete no termo de Mosteirão.
Não há nele cachoeira, represa nem levada, apenas alguns açudes de alguns moinhos, que nele há, que estas lhe embarace o ser navegável por não ser capaz disso.
Em todo este rio não há mais que uma ponte de cantaria que fica no distrito do lugar de Sapelos, na freguesia de São Pedro de Sapiãos, chamada a ponte Pedrinha e no distrito desta freguesia tem uma [ponte] de pau a que chamam Requeixo.
Não tem lagar de azeite, pisão, nem nora. Apenas alguns moinhos.
Não consta que em tempo algum se tirasse ouro das suas áreas.
Não me consta que esta freguesia, nem os povos que a ela comarcãos se sirvam das águas deste rio para a cultura dos seus campos.
Poderá ter o dito rio desde o seu nascente até onde finaliza mais de quatro léguas. É o seu curso por onde passe atravessando a freguesia de Alvão, Ardãos, Bobadela, Sapiãos e Granja, até criar nesta minha e dela para baixo a freguesia de Beça, Curros e Pinho.
Não há coisa mais notável de que se possa fazer apresentação que pertença à este interrogatório.
Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral em cumprimento da ordem de vossemecê que aceitei com todo O devido respeito, fiz diligência respondendo aos interrogatórios que me mandava, para o que ainda perguntei algumas advertências a várias pessoas desta freguesia, que não sabia para melhor me capacitar. O que vai e tudo na verdade sem breve nem coisa que divida faça, o que juro in verbo sacerdotis e por verdade assino e o Reverendo Domingos Gonçalves, Reitor de São Pedro de Sapiãos e o Reverendo João Gonçalves Vigário de Santa Maria da Granja. Eiró, 11 de Março de 1758.
Reitor de Sapiãos Domingos Gonçalves
O Vigário João Gonçalves
O Vigário padre Manuel Diogo
Granja
E estamos a chegar ao final deste post, só falta mesmo deixar o vídeo resumo deste post com as imagens de hoje e mais algumas, após o qual deixaremos um link para todas as aldeias da freguesia cada uma também com o seu vídeo. Vídeos que também pode ver no nossa canal de MeoKanal e do YouTube, também com link no final do post .
Aqui fica o vídeo, espero que gostem:
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Links para as aldeias da freguesia de Boticas e Granja
[i] Ver BARREIROS, Fernando, 1919, Monumentos Históricos de Barroso, I, Montalegre, Tipografia Santos & Morais.
[ii] É neste âmbito que se deve observar o projecto de descrição de Trás-os-Montes nos finais do século XVIII levado a cabo pelo magistrado régio Columbano Pinto Ribeiro de Castro em 1796 onde faz um retrato da provícia transmontana nas suas vertentes económica, social e administrativa culminando com uma proposta de reforma territorial e administrativa onde se propõe a extinção de inúmeros concelhos e a reorganização territorial dos existentes com a consequente criação de outros. Ver José Maria Amado Mendes, Trás-os-Montes nos fins do séc. XVIII segundo um manuscrito de 1796, INIC, Coimbra, 1995, (2ª ed.)
Iniciamos hoje a abordagem da última aldeia da freguesia de Boticas-Granja, a aldeia de VENTUZELOS, que até a última reorganização de freguesias pertencia à freguesia da Granja.
Deslizemos então o garabelho e entremos em Ventuzelos.
Ao contrário do que nos aconteceu com duas das aldeias aqui abordadas, que também pertencem a esta freguesia, mais precisamente a aldeia de Eiró e Sangunhedo, que para as descobrirmos, ou melhor, para as distinguirmos da Vila de Boticas, tivemos de pedir ajuda, com Ventuzelos, depois de sabermos da sua existência, não tivemos qualquer problema com a sua localização, demos com ela à primeira… bastou seguir a placa indicativa que está na estrada, um pouco antes de se entrar em Boticas.
A descoberta não foi complicada porque sabíamos ser próxima da Granja e a aldeia está isolada de outras construções, ou seja, é uma pequena aldeia concentrada que não tem mais que vegetação à volta. Aliás no post que dedicámos à aldeia da Granja, na referência e transcrição que fizemos de um documento de 1758, um inquérito que Marques de Pombal enviou para todas as paróquias, já tínhamos abordado a sua localização, que é bem curiosa, pelo que a sito aqui de novo – “Está a igreja no meio do lugar e anexo a ela um lugarejo chamado Ventuzelos, que consta tão somente de oito fogos já supra numerados, e ficará a uma distância de um tiro de mosquete.”
Portanto já sabíamos que Ventuzelos ficava a um tiro de mosquete da Granja, o problema aqui apenas o de saber qual o alcance em metros de um tiro de mosquete. Claro que não há conversor de tiros de mosquete para metros, mas há a história do mosquete, e num documento que encontrei, dizia por lá que o alcance máximo de um tiro de mosquete era de 90 a 100m. Ora o vigário Manuel Dias que respondeu ao inquérito do Marques de Pombal não se enganou por muito, isto se considerarmos o mosquete original, e depois o vigário não o afirma com certeza, foi bem claro “ficará”, e para o entendimento comum, é bem mais fácil compreender uma distância dada por uma “imagem” do que a entender por uma distância em metros, ou km, que na altura até as distância até se mediam em léguas, que no Barroso tinha duas medidas, as das léguas, e as “léguas que a velha mediu” e que António Granjo ficou a conhecer bem na subida que fez de Boticas até à Serra das Alturas. Se tiver alguma curiosidade em conhecer a lenda das “léguas que a velha mediu” fica um link no final deste post para a crónica de António Granjo, em que a mesma é referida.
Ventuzelos já está mais que localizada, e em relação à aldeia da Granja, é só atravessar a estrada que liga Sapiãos a Boticas e do outro começa-se logo a subir para Ventuzelos, já agora, o tal tiro de mosquete, na realidade hoje medida, será de uns 400m (mais metro, menos metro) desde o largo da igreja da Granja até ao início da aldeia de Ventuzelos.
Como vem sendo habitual também hoje deixamos aqui o itinerário recomendado, o nosso mapa com a localização e os mapas e imagens do Google maps e earth. Desde já fica o aviso que o itinerário que recomendamos não é o mais rápido nem o de menor distância, mas é o mais interessante para quem vai de passeio, e no final, vistas bem as coisas, são apenas mais 4km, ou 10 minutos de viagem que valem bem pelo que recebe em troca.
Pois desta vez não vamos sair de Chaves pela N103, vamos antes sair por Casas dos Montes e depois seguimos por Valdanta, Soutelo, Seara Velha, Ardãos, Nogueira e Bobadela, depois sim, entramos na N103 até Sapiãos e logo a seguir a Granja, quando chegar a esta última, que fica ao lado esquerdo, fique atento a uma placa e saída que vai aparecer à direita, que diz precisamente Ventuzelos, é por aí que deve ir e logo a seguir encontrará a aldeia. Não estranhe se não vir desde a estrada ou desvio, pois ela só se deixa ver quando entramos mesmo nela.
E agora que já sabemos como chegar até Ventuzelos, entremos então na sua intimidade que, depois de termos percorrido todas as aldeias do Barroso, já vamos sabendo o que nos espera, o mesmo que acontece nas aldeias de Chaves e nas de Vila Pouca de Aguiar por onde temos andado ultimamente, mas o mesmo vai acontecendo por todas as aldeias de Trás-os-Montes, das Beiras e todo o interior, os números não mentem, basta ver para onde evoluem os números dos últimos CENSOS da população e a linha de tendência a partir dos CENSOS de 1960.
Visitámos Ventuzelos no feriado de 5 de outubro de 2018, segundo o calendário já em dia de outono, mas ainda a saber a verão, num dia lindo de sol e recordo que ainda quente, já passava do meio dia, mais próximo até da 1 da tarde, hora de almoço e má para conversas com quem quer que seja, pois o despertador da barriguinha já começou a tocar, mas também não encontrámos ninguém com quem conversar ou sequer, ó menos, para cumprimentar. Apenas um cão em jeito de sentinela se abeirou do que restava de uma construção, bem lá no alto, no sítio que costuma ser dos gatos, mas este era diferente, nem sequer ladrou, apenas nos observava com se fosse um sentinela verdadeiro, mas cá para mim estranhou apenas o ruido na rua e, apenas curioso, veio espreitar quem era, e eramos nós. E troco sempre umas palavras com eles porque sei que eles nos entendem, pelo menos entendem se vamos por bem ou por mal, e como nós vamos sempre por bem, não custa nada dar dois dedos de conversa, às vezes, depois, até nos acompanham na visita, outras vezes não. No caso, ficou onde estava, em silêncio e nós lá fomos, sempre com um olhar atento de encaixilhar momentos.
Sem conversas, fica mais tempo para os pormenores e embora não veja ninguém, vejo as coisas que fizeram, as casas que construíram com as próprias mãos, pedra sobre pedra, as ruas, os canastros, mas são os pormenores os que mais me atraem e as soluções construtivas que engendram, nos acrescentos das casas, nas curiosas soluções que encontram para resolver problemas, porque sempre houve artistas nas aldeias e até mestres, principalmente no que tocava a madeiras, pedra e ferro, saberes feitos de experiência que passavam de geração em geração, e às vezes, o mais estranho, é ver que estes engendros funcionam.
Já atrás dissemos que a nossa visita foi em hora imprópria para conversas e a certo momento a barriguinha também começou a falar mais alto que a nossa curiosidade e olhares, depois os parceiros que me acompanham, nestas horas, também começam a reclamar, por tudo e por nada, assim , mais vale ficarmos pelo suficiente desde que nele tenhamos o essencial, o resto são pormenores que até podem dar jeito e servir de desculpa para um dia, com tempo, passarmos por lá com outro olhar e com sorte, até com outra luz, que parecendo que não, até pode fazer a diferença.
E chegou a hora de partir, deixar a aldeia, fechar as cancelas das hortas e as portas, só nos resta deixar por aqui o nosso vídeo resumo com todas as imagens que hoje aqui foram publicadas, vídeo que agora também podem ver no MeoKanal e no nosso canal do YouTube.
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Fica também o link para a lenda das léguas que a velha mediu e que atrás referimos: aqui
No próximo domingo teremos aqui o resumo da freguesia de Boticas-Granja.
Continuamos na freguesia de Boticas/Granja, com a terceira das suas cinco povoações – Sangunhedo, ficando por abordar apenas a aldeia de Ventuzelos, uma vez que e a vila de Boticas, será abordada em tempo oportuno, quando todas as aldeias do Barroso tiverem passado por aqui.
Tal como aconteceu com a povoação de Eiró, também Sangunhedo foi absorvida pelo crescimento da Vila de Boticas, sendo hoje um todo, no entanto ainda existem algumas das antigas construções deixando ver um pouco daquilo que era a sua identidade original.
Vamos então até Sangunhedo, iniciando pelo itinerário para chegar até lá, como sempre a partir da cidade de Chaves e a sua localização, que como já atrás dissemos, hoje em dia, já fica dentro da vila de Boticas.
Quanto ao itinerário basta seguir em direção a Boticas, como quem diz, saída de Chaves pela N103 (estrada de Braga) até Sapiãos, aí deixa-se a N103 em direção a Boticas que será um pouco mais à frente, a menos de 3Km e imediatamente a seguir à Granja
Já em Boticas, o melhor é seguir até a R311, estrada que nos leva até a Carreira da Lebre, Carvalhelhos, Salto, Ribeira de Pena, entre outras, e após a rotunda localizada junto ao Centro de Artes Nadir Afonso, sair na 3ª saída à direita da R311, ou seja pela Rua João de Deus até passar as instalações da Santa Casa da Misericórdia, aí já estará em Sangunhedo. É um bocado confuso conseguir distinguir a povoação da vila de Boticas, mas o casario mais antigo pode ajudar, tal como a capela de Santo Aleixo, cuja imagem ficou atrás, bem como as restantes imagens que aqui deixamos.
Dadas as circunstâncias, de Sangunhedo atual pouco há a dizer, mas mesmo assim podemos realçar o casario antigo sobrevivente, com alguns exemplares ainda dignos de registo, como uma casa mais senhorial com jardins anexos e uma outra recuperada para alojamento local
Outra construção a realçar, esta de cariz religioso, é a capela de Santo aleixo, que segundo reza em alguns documentos, foi construída nos princípios do século XVII e restaurada em 1758, estando esta última data inscrita na padieira da porta de entrada.
Mais dois edifícios a merecerem destaque, um com uma inscrição de 1792 na padieira de uma porta carral e o destaque não é pela sua arquitetura exterior ( a única que vimos) mas pelo que a construção contém no seu interior, a julgar pela placa colocada junto à entrada, uma “Adega de Vinho dos Mortos”.
A segunda construção a merecer destaque, este sim pela sua arquitetura mas também pela sua utilização como EcoMuseu do Barroso – Museu Rural, que não visitámos o seu interior porque na altura do nosso levantamento fotográfico estava fechado, mas a visitar numa próxima oportunidade.
Não conhecemos a história deste edifício que hoje se destina ao EcoMuseu do Barroso, notoriamente uma construção antiga que em tempos nos parece-nos ter tido outras funções, provavelmente de habitação, mas não temos qualquer documento que o comprovem, embora não deva ser difícil apurar qual o seu passado. Quando formo por lá de visita vamos tentar saber.
E é tudo que podemos dizer sobre Sangunhedo embora seja uma povoação secular, tal como o testemunham alguns inscrições de datas nas padieiras das portas de algumas construções, incluindo a da capela que como já atrás de mencionou foi construída nos inícios do século XVII, mas também porque a povoação é também mencionada como no inquérito paroquial de 1758 como sendo uma povoação da freguesia de Eiró.
E estamos mesmo no final deste post, só falta mesmo o vídeo final com todas as imagens hoje aqui publicadas, ao qual passamos de seguida. Espero que gostem.
Aqui fica:
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No próximo domingo teremos aqui a aldeia da Ventuzelos.
Aos domingos vem sendo hábito neste blog dar uma volta, nem que seja virtual ou em imagens, por localidades que nos são próximas. Temos andado pelo Barroso e embora já tivéssemos trazido aqui umas dezenas de aldeias barrosãs, entre as quais todas as aldeias do concelho de Montalegre e quase a totalidade de Boticas, e ainda nos falta abordar tantinhas do concelho de Vieira do Minho e de Ribeira de Pena que também fazem parte do território barrosão, mas para hoje tínhamos prometido trazer aqui mais uma aldeia de Boticas, a Granja, que é uma das três aldeias de Boticas que nos falta abordar, mas não tivemos tempo de selecionar e preparar as imagens e reunir a documentação sobre a aldeia, acontece que também há vida para lá deste blog e às vezes termos outros afazeres urgentes e inadiáveis que ocupam o nosso tempo, no entanto arranja-se sempre algum para uma imagem deste Barroso que nos fica aqui tão perto e que bem merece um passeio, nem que seja feito num pulinho até Montalegre, por exemplo, onde não faltam motivos interessantes, como alguns que hoje ficam em imagem, com a igreja da misericórdia em primeiro plano e o castelo lá ao fundo, onde ao lado poderá apreciar outra igreja bem interessante e lançar vistas privilegiadas sobre o Larouco. Se hoje não tem nada que fazer hoje à tarde e lhe apetece dar um passeio, pode ir até lá, principalmente se ainda não conhecer. Verá que não se vai arrepender.
Resto de um bom domingo e até amanhã, de regresso à cidade.
Iniciamos hoje a abordagem de mais uma freguesia do concelho de Boticas, a freguesia de Sapiãos, constituída por duas aldeias, a de Sapiãos que é sede de freguesia e a de Sapelos, ambas localizadas no vale do Rio Terva, a primeira na sua margem direita e a segunda na sua margem esquerda do rio que no vale vai descendo a caminho do Rio Tâmega, entre as serras do Leiranco à qual Sapiãos se encosta, e a serra do Facho encostada a Sapelos.
Iniciemos já pelo resto da localização de Sapiãos e o melhor itinerário para lá chegar. E tal como vai sendo habitual para irmos à descoberta de terras de Boticas, exceto paras as freguesias de Ardãos/Bobadela e Pinho, a estrada a seguir para sair de Chaves é a EN103 (Estrada de Braga), e no presente caso não há nada a saber, pois a freguesia de Sapiãos é atravessada a meio por esta estrada, tendo logo à saída do concelho de Chaves (entrada no de Boticas) a aldeia de Sapelos, sendo a aldeia seguinte a de Sapiãos, o nosso destino de hoje. Sapiãos que fica precisamente no entroncamento da N103 com a N312, ou seja onde se saí da N103 para ir em direção a Boticas. Em contas redondas, de Chaves até Sapiãos são 20 Km ou, se preferir, 20 minutos de viagem. Fica o nosso mapa e os da goolge para melhor se entenderem as palavras.
E agora chegamos àquela parte em que os flavienses estão a dizer – "Ah! Sapiãos, conheço, já passei por lá…”. Pois, também eu passei por lá muitas vezes e também conhecia assim Sapiãos, ou seja, conhecia a aldeia, apenas pela sua aparência, por aquilo que se via da estrada, e também pensava conhecê-la, mas estava bem longe de a conhecer e só dei conta disso quando desci à sua intimidade, aí sim, posso dizer que a conheci e que fiquei agradavelmente agradado com o que, mas já lá vamos.
Vamos então até Sapiãos que podemos dividir em três partes:
- Uma com um núcleo antigo composto de casario concentrado, ganhando uma forma arredondada, atravessado por uma rua principal para onde convergem as ruas secundárias, que foi crescendo naturalmente do centro para a periferia conforme as necessidades de crescimento.
- Outra parte com um povoamento disperso, mais recente, que nasceu ao longo das estradas N103 e N312 e também entre elas, é a aldeia que ficamos a conhecer quando passamos nessas duas estradas.
- Por último, uma parte nova, aparentemente loteada e infraestruturada, com vivendas unifamiliares construídas em lotes, esta parte toda acima da N103, já na encosta da serra.
Pois sem desprezarmos a aldeia mais recente, vamos realçar em imagens a aldeia mais antiga, aquela com o casario mais antigo, onde temos a igreja paroquial e as capelas, os cruzeiros e a alma da aldeia, ficando de fora deste conjunto apenas três apontamentos dignos de realce, como o é a Igreja do Cemitério, o Calvário e as sepulturas Antropomórficas, estas três fora do perímetro da aldeia mais antiga.
Os dois cruzeiros da aldeia, o do largo do cruzeiro mais imponente e o outro um pouco menos e muito mal-acompanhado. Aliás já é costume as companhias de eletricidade e telecomunicações não terem nenhum respeito por aquilo que as rodeia, às vezes era só um jeitinho em afastar os seus postes destes motivos de interesse, mas pelo que nós pagamos e pelos lucos que essas companhias têm, vem podiam nestes núcleos históricos das aldeias com interesse público e turístico, fazer estas infraestruturas enterradas. Fica uma imagem com o que temos e, com um pouco de Photoshop, como deveria ser e gostaria de ver.
Claro que os nossos olhos ficaram deliciados com as duas capelas, a capela de Nossa Senhora dos Anjos e ainda mais com a da Nossa Senhora da Conceição, pena esta última estar tão degradada. A Igreja Paroquial de São Pedro também mereceu a nossa atenção, não só pela própria igreja e torre sineira, mas também pelo arranjo feliz do largo onde se encontra implantada. Também o casario em geral e algum em particular mereceu a nossa atenção, tal como aconteceu com Casa dos Queirogas.
Assim, e ainda antes de passarmos ao que se diz na documentação disponível dobre a aldeia, fica a nossa apreciação geral sobre a mesma. Uma aldeia que manteve o seu núcleo antigo sem grandes disparates pelo meio, e com muitos pormenores e motivos de interesse, com as partes novas que cresceram para onde tinham de crescer, sem interferir com o núcleo antigo. Uma aldeia ainda com muita vida e movimento e que, sem qualquer dúvida, é de visita obrigatória porque é uma das mais interessantes do concelho de Boticas.
E agora vamos ao que nos dizem os documentos sobre a aldeia de Sapiãos, nomeadamente os que vêm na “Preservação doa Hábitos Comunitários das Aldeias do Concelho de Boticas”, uma edição da Câmara Municipal de Boticas de 2006, e aqui a data é importante porque passados 16 anos da sua edição, embora seja pouco tempo, pode significar muito em termos de perdas de hábitos comunitários e outras tradições, principalmente devido ao sucessivo despovoamento das nossas aldeias por parte da população mais jovem, que afinal são os que cumprem hábitos e tradições e lhes dão continuidade. Daí, que alguns dos hábitos comunitários de Sapiãos que a seguir serão transcritos, poderão não existir atualmente.
Assim, segundo o que consta no documento atrás referenciado temos quanto a:
Património Arqueológico
- Castro do Muro ou Casas dos Mouros (Sapiãos)
- Povoado do Cemitério de Sapiãos
- Sepulturas Antropomórficas
- Sepulturas de Pássaros (Necrópole)
Património Edificado
- Alminhas
- Cruzeiros (Sapiãos)
- Forno do Povo de Sapiãos
- Igreja Paroquial de São Pedro
- Igreja Românica de Sapiãos - Património Classificado
- Capela particular do séc. XVIII
Marcas da História Antiga
Castro do Muro ou Casas dos Mouros
Designação: Castro do Muro / Casas dos Mouros/ Muro
Localização: Sapiãos
Descrição: o Castro do Muro fica ao lado e acima da EN 103, sentido Braga a Chaves, cerca de 400 m adiante de Sapiãos.
O “Muro” de Sapiãos é um castro de encosta, quase assente na base da ladeira do monte fundeiro do Leiranco. O perímetro da muralha é de 270 m. Nalguns sítios vêem-se os paramentos externo e interno da muralha que tem 3,50 m de largura. Na sua maior parte está derruida e é assinalada por fiada de pedras em amontoado caótico. A maior parte do recinto intra muralha é, por assim dizer, penedia. Distinguem-se dois pequenos terreiros sem penedia, um na base e outro a meio. A eira dos mouros é um espaço quadrilátero com quase 40 m de comprimento na linha E/W, e de contorno subtrapeziodal, que vai alargando de cima para baixo. No alto tem 16 m de largura, a meio 21 m e quase no fundo 26 m de largura. No local do castro foram encontrados restos de cerâmica.
Em geral, a população rural ainda é muito religiosa e crente, e a julgar pelo número de capelas, igrejas, cruzeiros e calvário que existe em Sapiãos, esta aldeia não será uma exceção e é na fé e as crenças que muitas vezes se apoiam na sua proteção mas também para a proteção das suas colheitas agrícolas e animais, assim acontece com o Porquinho de Santo António, que em Sapiãos é (ou era), alimentado por toda a aldeia, inicialmente andava de casa em casa, mais tarde passou a ter uma corte própria e era alimentado por todos os agregados familiares, num sistema de rotatividade pelas casas da aldeia. Por altura das matanças, era vendido e o dinheiro revertia para a Igreja, a favor do Santo António, para que protegesse os gados da aldeia.
Em Sapiãos, as pessoas ainda têm o hábito de colocar um lareiro junto à fornalha do forno, sinal que indica que alguém vai aquecer o forno e cozer. Normalmente, quando alguém coze, as outras pessoas aproveitam a quentura do forno e cozem a seguir, pois desta forma já não gastam tanta lenha
O Cantar dos Reis, dia 5 de janeiro à noite
Em Sapiãos, costumam cantar:
Aqui estão os Reis à porta
Dispostos p’ra se cantar
Se o Senhor nos der licença
Os Reis vamos começar
Aqui vimos, aqui estamos
Hoje é dia de alegria
Viva o senhor desta casa
E a sua companhia
Se nos querem dar os Reis
Venham-nos os dar com tempo
Estamos com os pés à geada
Corre um arzinho de vento
Se nos querem dar os Reis
Não nos mande a sua criada
Qu’ela tem a mão pequena
Parte pequena talhada
Se o presunto está duro
E a faca não quer cortar
Faça-lhe um frrum, frrum, frrum
Nas beiças do alguidar
As Festas do Corpo de Deus
O Corpo de Deus em Sapiãos
Nesse dia, as mulheres enfeitam as principais ruas da aldeia, onde mais tarde irá passar a procissão, com um tapete formado por rosmaninho, giestas e pétalas de flores.
Assinala-se este dia com uma missa, sermão e procissão com o “Corpo de Deus”, acompanhada por uma banda de música.
Para além desta componente religiosa, a festa tem também uma componente profana com conjuntos que animam a noite num arraial popular, a que não falta também o tradicional festival de fogo de artifício.
Casamento
Em Sapiãos, onde, no dia antes do casamento, o noivo ia com os seus amigos fazer uma serenata à noiva:
(…)
S’estás a dormir, acorda
Vem ouvir a serenata
Guitarras com cordas d’ouro
Trilhadas por mãos de prata
Dáva-te o meu coração
Se o pudesse arrancar
Arrancando sei que morro
Morto não te posso amar
(…)
No dia do casamento as famílias iam ter a casa de cada um dos noivos. Depois, o noivo e a sua família iam a casa da noiva buscá-la para irem para a igreja. As raparigas que fossem ainda virgens para o casamento, consideradas pela comunidade como puras, levavam nesse dia um arco branco a acompanhá-las, os rapazes eram acompanhados por arcos de folhas verdes. Colocavam-se também arcos pela rua, desde a casa da noiva até à entrada da igreja. Depois, seguiam em cortejo pela rua até à igreja, como nos descreveu um informante: “À frente ia a noiva com o padrinho debaixo do arco de flores brancas. A seguir, ia o noivo com a madrinha debaixo de um arco verde feito de arbustos e flores e atrás iam os restantes convidados. Entravam na igreja também por essa ordem, a noiva primeiro.”
E como não há casamentos sem namoro
O Namoro
Quando um rapaz de fora namorava com uma rapariga da aldeia tinha que pagar o vinho aos da terra, como indemnização simbólica por “roubar” a rapariga, considerada “propriedade” da aldeia. Se em algumas aldeias apenas pagavam remeias de vinho, noutras além do vinho tinham que pagar também o equivalente à sua altura em pão e bacalhau; ou então, em vez de pagar o vinho, levavam-no até junto de um tanque e obrigavam-no a beber sete chapéus de água. Quem se recusasse a pagar o vinho, metiam-no na corte com o Boi do Povo como castigo, ou atiravam-no a um tanque da aldeia.
E com estas de casamentos e namoros, vamos dando por terminado este post, apenas nos falta deixar aqui o vídeo com todas as imagens publicadas neste post.
Aqui fica, espero que gostem:
Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607
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E quanto a aldeias de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a aldeia de Sapelos.
De vez em quando convém darmos uma voltinha pelo nosso Reino Maravilhoso para ver se tudo está no sítio, e não estando, para ver o que se ganhou ou perdeu, sem tirar conclusões, ilações ou outros ões, apenas para ver, registar e ficar a saber, começando por aquilo que temos mais próximo.
No último post vídeo dedicado às aldeias do Barroso de Montalegre dizia que, dado que todas as aldeias de Montalegre já tinham o seu vídeo, estava na altura de passar a outra fase, mas fui adiantando que pelo meio poderia haver uma falha, um lapso, e aconteceu mesmo, pois pela ordem alfabética a seguir ao X de Xertelo (a última aldeia que aqui trouxemos) ainda existe o Z de Zebral, que eu pensava já ter vídeo, mas não tinha, por isso aqui fica hoje.
Zebral que recordo ter sido uma agradável descoberta, com gente na rua e simpática, onde deu para fotografar algumas relíquias, conversar um pouco e até recordar algumas estórias vividas na primeira pessoa por um dos nossos companheiros destas andanças pelo Barroso, que por sinal tinha sido professor em Zebral.
E se demorou o termos ido por lá a primeira vez, a partir de aí as nossas passagens por Zebral começaram a ser frequentes, pois a aldeia tornou-se num ponto de passagem, ou atalho, para outros itinerários, e em boa hora o descobrimos, pois esse troço/atalho, é um dos mais interessantes do Barroso e simultaneamente pode poupar-nos uns bons quilómetros de trajeto.
Como chegar a Zebral a partir, como sempre, da cidade de Chaves? Ora é muito fácil, mesmo porque Zebral fica a cerca de 27km, meia hora de viagem, isto se formos pelo itinerário que recomendamos, ou seja via estrada de São Caetano, Soutelinho da Raia e logo a seguir, em Meixide, após a aldeia, na bifurcação da estrada, tomarmos a opção da esquerda, para Pedrário e Sarraquinhos. Em Sarraquinhos, devemos entrar e atravessar a aldeia´, sempre pela rua principal até terminarem as casas e termos de novo estrada aberta, a partir de aí é seguir sempre por essa estrada até encontrarmos a primeira aldeia que já será Zebral. Mas para melhor entender a localização de Zebral, fica em mapa o itinerário por nós recomendado e fotografias aéreas do google Earth com algumas anotações.
Em Zebral demore-se o tempo que for necessário, sem pressas, mesmo porque a aldeia não é assim tão grande para nela se poder demorar uma eternidade, mas com o tempo necessário para apreciar os pormenores, o casario, a vida no campo, conversar com as pessoas, beber a água das fontes, tendo sempre em conta aquilo que nos dizia Torga a respeito destes reinos maravilhoso “ O que é preciso para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração”.
Mas como hoje estamos aqui pelo vídeo que ZEBRAL não teve aquando do seu post completo, para o qual fica link no final deste, vamos passar de imediato para esse vídeo, com todas as fotos da aldeia publicadas até hoje neste blog. Espero que gostem.
Aqui fica:
Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607
Como todas as aldeias de Montalegre já têm o seu vídeo é tempo de passarmos a uma segunda fase de abordagem ao Barroso de Montalegre. Para já, nas próximas semanas iremos andar pela vila, sede de concelho, com imagens e algumas estórias e sempre que possível também com a sua História, depois, com o tempo, logo se verá. Certeza, sem ser necessário prometer, é que o Barroso vai continuar a ter lugar neste blog, sempre.