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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

27
Jan11

Crónicas Ocasionais - Ainda os Resistentes


Ainda a respeito dos nossos resistentes e do comentário de AP ao post de Domingo passado (Imagens dos Resistentes ), o colaborador deste blog, Tupamaro, quis deixar um comentário de resposta a AP, que por ser extenso demais, mo enviou por correio electrónico e que já de seguida será publicado como “crónica ocasional”. A respeito do mesmo assunto, AP, também teve a minha resposta em post, aqui: Quem são os miseráveis!?

 

 

 

 

 

 

 

 

“PROVAVELMENTE”


 

Provavelmente, o leitor-comentador «ap» fez uma leitura apressada do Post(al).


Provavelmente, o leitor-comentador «ap» visita este Blogue em sextas-feira -13,  aos 29 de Fevereiro, no dia de feriado municipal da sua residência ou do local de trabalho, e, por acaso, no domingo passado, dia 24.


Assim, não tem tido oportunidades suficientes para apreender o significado e enorme consolo que este Blogue tem sido para os Normando-Tameganos que vivem longe da «NOSSA TERRA».


Talvez que esgotado pela pressa com que corre para apanhar o transporte para o «emprego»; talvez amargurado pela falta de um justo reconhecimento ao seu esforço profissional;  talvez até amargurado porque o Partido de sua estimação não consegue ter a aceitação que ele entende ser mais que justa e acertada; talvez porque já não vai à terra Há muito tempo; talvez porque, infelizmente, já lá não tem familiares, nem amigos, e, num ambiente duro, difícil, hostil, tem sobrevivido, ou a, até, singrado, sente a falta de, justo e merecido, reconhecimento.


 



Se fosse mais assíduo nas visitas a este Blogue aqui encontraria sinceras palavras de apreço e de consideração, como,  provavelmente, não tem lido ou escutado dos que por aí lhe estão próximo.


Na segunda e terceira interrogações do seu comentário contradiz e confunde o conceito de resistente que o autor do Blogue e nós ( «ausente», e tão “resistente”, pelo menos,  quanto «ap» se julga) perfilhamos.


O autor do Blogue acaba de o esclarecer no texto de hoje, 25 de Janeiro.


«ap» manifesta-se não ser oriundo nem da segunda, nem dos da terceira interrogação.


Não pertencendo aos que «ficaram agarrados aos privilégios….», nem aos «miseráveis ….(por)que nem sequer dinheiro tinham para…»,  faltou à sua asserção a caracterização do grupo social donde lhe proveio  a audácia e a condição de «saudável como pêro».


Partiu para o «campo de batalha» sem retaguarda?


As cartas ou postais, e os telefonemas, que recebia de familiares e amigos; o cabaz com lembranças que, outrora o comboio e hoje a «carreira» (talvez o avião, ou a «carrinha» do vizinho que «faz pela vida» fazendo uns fretes entre os que ainda por  LÀ estão e os que por esse mundo fora andam) lhe entregam  de nada lhe valeram a Si?


Há quanto tempo não vai  à terra donde partiu «audacioso e são como um pêro»?


Vá lá, um dia destes, num qualquer dia de semana ou de mês ou de ano, num Dia de Feira ou num Dia de Festa; chegue-se lá a qualquer hora do dia ou da noite, e verá como AQUELES que tratou na «terceira» interrogação, mesmo sem dinheiro para gastar nos «estudos dos filhos, carta de chamada e passagem da raia a salto» lhe oferecem , «de todo o coração», o conforto de uma cama e de uma lareira, a delícia de um  farto prato de comida, a honra de «botar um copo» e consolar-se com um petisco», numa adega (por mais pequenina que seja, e lhe oferecem, sem nada lhe pedirem ou exigirem em troca, uma felicidade servida na franqueza com que o tratam,  na ternura das palavras que lhe dirigem, na fraternidade dos «modos» que têm para consigo, na alegria de o terem, a si, «ap», entre eles.


Saiba que AQUELES da «terceira» (interrogação) são  aqueles para quem a PALAVRA – a palavra de honra  -   vale mais do que uma escritura;  e que na Vida cometem mais heroísmos do que o «ap» e nós.


Os «resistentes» caracterizados pelo autor do Blogue são aqueles a quem do pouco que têm ou colhem sobra sempre, SEMPRE, para pessoas como VOCÊ, «ap», e como NÓS.


Louvamos-lhe a franqueza do seu comentário.


Estamos certo que, mesmo logo após o ter feito, hoje sentirá vontade de fazer outro mais esclarecedor quanto à «segunda» e menos injusto para os de «terceira».


Ainda vai a tempo de gostar da «NOSSA TERRA»   - das GENTES aqui louvadas.


Se VOCÊ, «ap», é que se considera um herói, AQUELES «resistentes» são Santos!

 

Tupamaro


 

 

 

 

 

Ainda a respeito do mesmo comentário de AP, Graça Gomes, também em comentário, deixou um põem em jeito de resposta. Poema que embora já divulgado na blogosfera da região, tem grandeza em demasia para ficar escondido apenas na caixa de comentários deste blog, merecendo a luz de um post.  Aqui fica ele com o devido agradecimento a Graça Gomes por o ter partilhado connosco e também ao seu autor por tê-lo escrito e por tão bem nos conhecer e compreender:


 

Há gente ilustre,
Aos montes,
Lá na minha terra de Trás-os-Montes.
Há-os Doutores, Médicos e Legistas,
Professores, Mentores, Catedráticos e Juristas,
Empresários, Engenheiros, Poetas, Padres, Romancistas,
Artesãos que modelam pensamento e arte com as mãos.

Também há Generais,
E mais, muitos mais,
Cujos nomes são atracção
Nas enciclopédias, nos dicionários
E nos anais
Da Nação.

Mas o Transmontano mais nobre
Não tem nome, porque é pobre,
Porque mistura as mãos, a carne,
O sangue, a alma, o ser, à agua, ao ar, à terra
Que o fez nascer;
Que devolve à terra, graciosamente,
Os filhos que gerou com dor
E amor no ventre.

O mais ilustre transmontano
Não vem nos anuais, Diários, Semanários,
Nem telejornais.
É conhecido, Ignorado,
Por vezes, vaiado,
Porque a sua esperança
Não vai muito para lá
Do horizonte
Que o seu olhar alcança.

O mais ilustre transmontano
Finca os pés no torrão agreste recusando a Tentação do ir,
Junta o dia a- noite, a noite ao dia
E faz da sua vida,
Sem hesitação,
Uma oblação continua de dor e agonia.

E grita,
Grita que fica,
Agarrado,
Alapado as raízes da sua terra.

E jura,
Jura, por Deus,
Sobre a campa dos seus,
Que não vai embora
Por esse mundo fora,

Que não desiste,
Que resiste,
Porque sabe que é graças a ele
Que Trás-os-Montes existe.



Armando Jorge e Silva

 


25
Jan11

Quem são os Miseráveis!?


 

 

 

 

 

 

Neste Domingo passado (dia 23) publiquei um post que intitulei  ”Imagens de Resistentes” . Esse post recebeu um comentário assinado por AP que não poderia ficar sem resposta da minha parte.

 

Aqui fica o comentário:

 

“A atribuição de "resistente", com conotação romântica e heróica, a quem não debandou da sua terra para o litoral ou para o estrangeiro, é abusiva e merecedora da minha indignação. São resistentes os possidentes de bens materiais que não quiseram correr o risco de ir parar a qualquer bidonville? Serão resistentes por terem ficado agarrados aos privilégios decorrentes da posse da terra e aos ofícios que lhes permitiam preservar o status de pessoas de bem? Serão resistentes os miseráveis que só não abalaram porque nem sequer dinheiro tinham para pagar estudos aos filhos, carta de chamada e passagem da raia a salto? Os audaciosos partiram, saudáveis como pêros, na esperança de fora da terra madrasta poderem usufruir de uma vida digna. Esses, sim, se sobreviveram, pelo percurso que efetuaram, são os únicos resistentes aos grilhões da miséria oferecida pela terra madrasta. Esses é que são os agentes da mudança social, não os que ficaram, agarrados a privilégios ou prisioneiros da secular letargia de deixar andar como está.”

 

AP

 

 

 

Pois meu caro AP tem todo direito à sua indignação mas não deturpe aquilo que neste blog se diz nem tão pouco o seu sentido e o respeito que sempre tive por quem quer envolver e excluir com o seu comentário, pois lá diz o povo que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Tem direito à sua indignação, claro que tem, agora ofender os resistentes, os que ficaram… alto aí e para o baile!

 

Já por várias vezes tive oportunidade de dizer aqui, que este blog foi e é feito a pensar nos flavienses ausentes, feito para aqueles que por uma ou outra razão voluntariamente partiram ou para aqueles que por uma ou outra razão foram obrigados a partir, mas que, tanto uns como outros, levaram Chaves ou a sua aldeia no coração, que partiram com bilhete de ida e volta ou, como em poesia ficou escrito pelo poeta Edgar Carneiro (um flaviense que também partiu com Chaves no coração):


 

Nunca digas adeus

Sem saber se tens contigo

A chave do regresso


 

 

Nunca aqui no blog me ouviu dizer ou viu escrever fosse o que fosse contra aqueles que ousaram partir ou contra os seus “audaciosos” (aqui concordou consigo): “Os audaciosos partiram, saudáveis como pêros, na esperança de fora da terra madrasta poderem usufruir de uma vida digna”. Sempre elogiei a ousadia e coragem de quem partiu e continua a partir, mas, tenho pena e lamento profundamente, isso sim, que o tivessem feito ou façam porque foram ou são obrigados a tal e, por não conseguirem ter na sua terra, na terra que os viu nascer, onde têm o seu passado, amigos, família e raízes, uma vida digna à qual tinham ou têm direito, se essa for a sua opção. Lamento profundamente que não se possa ter uma vida digna e ser feliz na terra onde se nasce, que é afinal a nossa grande casa. Mas esses, meu caro, os que partiram, não são resistentes, são antes a raça marinheira e aventureira do ser português, a mesma das descobertas do mundo que partiu em naus, mas que também sempre voltou…  são os nossos marinheiros que sempre respeitei e respeitarei.

 

Mais uma vez, tal como diz o povo “Quem vai, vai; quem fica, fica.”  Mas “Quem vai e volta, faz boa viagem.” O povo tem sempre palavras sábias para todos os momentos.

 

Agora, chamar  “miseráveis” aos que ficaram, aos resistentes, é de puro mau gosto e indigno para quem ficou, mesmo, e principalmente, se foi por razões de miséria e de pobreza que ficaram. É cruel demais, meu caro, porque podem ser pobres mas têm direito às suas opções e dignidade humana, podem ser pobres, mas têm toda a riqueza do mundo em amor, valores e humildade, podem ser pobres e terem o direito de viver onde querem viver e até (imagine) são felizes, mesmo sendo pobres. Podem ser pobres mas têm sempre a porta aberta para dar o que têm e até o que não têm. Miseráveis são os que nada fazem e nunca fizeram por este povo rural, interior, os que lhe roubaram os filhos para as cidades porque “sãos como peros” tinham muito trabalho para dar a troco de quase nada e os “guetavam” nos tais “bidonville” onde a felicidade e liberdade nunca foi possível. Miseráveis e criminosos até, são os que permitiram que os nossos partissem para esses (sub)mundos e passassem noites a fio a chorar sendo escravos da sua própria escravidão. Que fizeram os verdadeiros miseráveis quando viram todo um povo a partir para viverem nessas condições e nada fizeram para o impedir!? Que fazem os miseráveis que vêem as aldeias a ficar despovoadas e nada fazem para o contrariar?

 

Quem são os MISERÁVEIS afinal!?

 

Infelizmente, muitos dos miseráveis de hoje passeiam fatiotas pelos corredores do poder, e até são filhos e netos dos que ficaram, filhos e netos sem memória, filhos e netos que rasgaram o bilhete de volta e atiraram com as chaves do regresso, mas que, curiosamente, quando caem na merda voltam sempre até aos “miseráveis” que deixaram esquecidos na terrinha e, curiosamente também, os pobres “miseráveis” que cá ficaram, recebem-nos de braços abertos com todo o amor e carinho que este mundo tem…

 

Mas, lembre-se meu caro AP, que há também os resistentes que ficaram por opção, por amor e para lutar por uma terra melhor e mais justa para todos, que não se demitiram, que nunca se demitem dos seus deveres e continuam a lutar pela sua terra, pela sua grande casa e pela felicidade dos que ficaram e dos seus que querem de volta.

 

Para terminar e quanto aos senhores que  “ficaram agarrados aos privilégios decorrentes da posse da terra e aos ofícios que lhes permitiam preservar o status de pessoas de bem”, aqui, meu caro AP, deve estar mal informado, pois esses senhores foram os primeiros miseráveis a dar de frosques deixando ao abandono as suas propriedades, as casas senhoriais que hoje estão todas em ruínas. Levaram o ouro, as jóias e os anéis, deixaram apenas pedras,  abandono e sobretudo, ingratos, partiram sem se preocuparem minimamente com aqueles que para eles trabalharam toda a vida e os enriqueceram.

 

   

 

 

E termino com um soneto de Maria João Brito de Sousa que se ajeita na perfeição à conversa:

 

 

OS RESISTENTES

 

Embora nós não fossemos ninguém,

Embora nenhum mundo nos quisesse,

Embora nem um de entre nós tivesse

O domínio do Mal, a luz do Bem,

 

Embora neutros, homens como os outros,

Passíveis de fraquezas e paixões,

Embora uns tantos mais entre milhões,

Lúcidos quanto baste, embora loucos...

 

Embora apenas meio construídos

Na busca inabalável dos sentidos

Que nos prendem aqui e nos comandam,

 

Embora estranhos barros imperfeitos

Nós somos - quem diria? - esses eleitos

Que insistem, que não vergam nem debandam.

 

Maria João Brito de Sousa

 

 

 

Não, não somos miseráveis. Somos resistentes. Miseráveis são os que nos vêem com os seus olhos…

30
Mai10

Guerrilheiros resistentes


As imagens de hoje bem poderiam ser uma descrição do Portugal actual: Enferrujado, roto, mal remendado e com  bicas e bebedouros secos… mas não, é uma pura coincidência…

 

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Ou talvez a coincidência não seja tão pura assim, pois se as imagens até podem transmitir um pouco de romantismo e o bucólico que as nossas aldeias têm, também transmitem dificuldades, vidas difíceis, a velhice e o abandono. Realidades bem reais de hoje mas também de sempre que convidaram (para ser brando) ou obrigou (para ser real) os seus filhos a abandonar a terra mãe.

 

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Resistem apenas os resistentes, autênticos guerrilheiros numa luta desigual contra tudo e contra todos, contra um poder distante que tanto os oprime como ignora, numa luta que sabem nunca vencer,  porque a única arma que têm, é o amor à terra pela qual irão morrer para nela serem sepultados.

 

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Pelos guerrilheiros resistentes, pelo carinho que lhes tenho, ficam três imagens em jeito de homenagem. Esqueço e nego-me a ver a ferrugem das placas, o reboco quebrado, as paredes descoradas e os seus remendos, as bicas e bebedouros secos. Em seu lugar, vejo as rugas de rostos envelhecidos que impõem o respeito da idade, os momentos de toda uma vida e olhos cansados que sem força para chorar, resistem, apenas… em suma, vejo a arte com que os guerrilheiros resistentes enganam e ultrapassam os dias.


 

As imagens de hoje são de S.Vicente da Raia, a descrição e texto, são de uma qualquer aldeia de montanha do nosso concelho de Chaves ou, se quisermos alargar o território, são do interior Norte e transmontano de um país que se chama Portugal Desigual.

 

 

 


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