Crónicas Ocasionais - Ainda os Resistentes
Ainda a respeito dos nossos resistentes e do comentário de AP ao post de Domingo passado (Imagens dos Resistentes ), o colaborador deste blog, Tupamaro, quis deixar um comentário de resposta a AP, que por ser extenso demais, mo enviou por correio electrónico e que já de seguida será publicado como “crónica ocasional”. A respeito do mesmo assunto, AP, também teve a minha resposta em post, aqui: Quem são os miseráveis!?
“PROVAVELMENTE”
Provavelmente, o leitor-comentador «ap» fez uma leitura apressada do Post(al).
Provavelmente, o leitor-comentador «ap» visita este Blogue em sextas-feira -13, aos 29 de Fevereiro, no dia de feriado municipal da sua residência ou do local de trabalho, e, por acaso, no domingo passado, dia 24.
Assim, não tem tido oportunidades suficientes para apreender o significado e enorme consolo que este Blogue tem sido para os Normando-Tameganos que vivem longe da «NOSSA TERRA».
Talvez que esgotado pela pressa com que corre para apanhar o transporte para o «emprego»; talvez amargurado pela falta de um justo reconhecimento ao seu esforço profissional; talvez até amargurado porque o Partido de sua estimação não consegue ter a aceitação que ele entende ser mais que justa e acertada; talvez porque já não vai à terra Há muito tempo; talvez porque, infelizmente, já lá não tem familiares, nem amigos, e, num ambiente duro, difícil, hostil, tem sobrevivido, ou a, até, singrado, sente a falta de, justo e merecido, reconhecimento.
Se fosse mais assíduo nas visitas a este Blogue aqui encontraria sinceras palavras de apreço e de consideração, como, provavelmente, não tem lido ou escutado dos que por aí lhe estão próximo.
Na segunda e terceira interrogações do seu comentário contradiz e confunde o conceito de resistente que o autor do Blogue e nós ( «ausente», e tão “resistente”, pelo menos, quanto «ap» se julga) perfilhamos.
O autor do Blogue acaba de o esclarecer no texto de hoje, 25 de Janeiro.
«ap» manifesta-se não ser oriundo nem da segunda, nem dos da terceira interrogação.
Não pertencendo aos que «ficaram agarrados aos privilégios….», nem aos «miseráveis ….(por)que nem sequer dinheiro tinham para…», faltou à sua asserção a caracterização do grupo social donde lhe proveio a audácia e a condição de «saudável como pêro».
Partiu para o «campo de batalha» sem retaguarda?
As cartas ou postais, e os telefonemas, que recebia de familiares e amigos; o cabaz com lembranças que, outrora o comboio e hoje a «carreira» (talvez o avião, ou a «carrinha» do vizinho que «faz pela vida» fazendo uns fretes entre os que ainda por LÀ estão e os que por esse mundo fora andam) lhe entregam de nada lhe valeram a Si?
Há quanto tempo não vai à terra donde partiu «audacioso e são como um pêro»?
Vá lá, um dia destes, num qualquer dia de semana ou de mês ou de ano, num Dia de Feira ou num Dia de Festa; chegue-se lá a qualquer hora do dia ou da noite, e verá como AQUELES que tratou na «terceira» interrogação, mesmo sem dinheiro para gastar nos «estudos dos filhos, carta de chamada e passagem da raia a salto» lhe oferecem , «de todo o coração», o conforto de uma cama e de uma lareira, a delícia de um farto prato de comida, a honra de «botar um copo» e consolar-se com um petisco», numa adega (por mais pequenina que seja, e lhe oferecem, sem nada lhe pedirem ou exigirem em troca, uma felicidade servida na franqueza com que o tratam, na ternura das palavras que lhe dirigem, na fraternidade dos «modos» que têm para consigo, na alegria de o terem, a si, «ap», entre eles.
Saiba que AQUELES da «terceira» (interrogação) são aqueles para quem a PALAVRA – a palavra de honra - vale mais do que uma escritura; e que na Vida cometem mais heroísmos do que o «ap» e nós.
Os «resistentes» caracterizados pelo autor do Blogue são aqueles a quem do pouco que têm ou colhem sobra sempre, SEMPRE, para pessoas como VOCÊ, «ap», e como NÓS.
Louvamos-lhe a franqueza do seu comentário.
Estamos certo que, mesmo logo após o ter feito, hoje sentirá vontade de fazer outro mais esclarecedor quanto à «segunda» e menos injusto para os de «terceira».
Ainda vai a tempo de gostar da «NOSSA TERRA» - das GENTES aqui louvadas.
Se VOCÊ, «ap», é que se considera um herói, AQUELES «resistentes» são Santos!
Tupamaro
Ainda a respeito do mesmo comentário de AP, Graça Gomes, também em comentário, deixou um põem em jeito de resposta. Poema que embora já divulgado na blogosfera da região, tem grandeza em demasia para ficar escondido apenas na caixa de comentários deste blog, merecendo a luz de um post. Aqui fica ele com o devido agradecimento a Graça Gomes por o ter partilhado connosco e também ao seu autor por tê-lo escrito e por tão bem nos conhecer e compreender:
Há gente ilustre,
Aos montes,
Lá na minha terra de Trás-os-Montes.
Há-os Doutores, Médicos e Legistas,
Professores, Mentores, Catedráticos e Juristas,
Empresários, Engenheiros, Poetas, Padres, Romancistas,
Artesãos que modelam pensamento e arte com as mãos.
Também há Generais,
E mais, muitos mais,
Cujos nomes são atracção
Nas enciclopédias, nos dicionários
E nos anais
Da Nação.
Mas o Transmontano mais nobre
Não tem nome, porque é pobre,
Porque mistura as mãos, a carne,
O sangue, a alma, o ser, à agua, ao ar, à terra
Que o fez nascer;
Que devolve à terra, graciosamente,
Os filhos que gerou com dor
E amor no ventre.
O mais ilustre transmontano
Não vem nos anuais, Diários, Semanários,
Nem telejornais.
É conhecido, Ignorado,
Por vezes, vaiado,
Porque a sua esperança
Não vai muito para lá
Do horizonte
Que o seu olhar alcança.
O mais ilustre transmontano
Finca os pés no torrão agreste recusando a Tentação do ir,
Junta o dia a- noite, a noite ao dia
E faz da sua vida,
Sem hesitação,
Uma oblação continua de dor e agonia.
E grita,
Grita que fica,
Agarrado,
Alapado as raízes da sua terra.
E jura,
Jura, por Deus,
Sobre a campa dos seus,
Que não vai embora
Por esse mundo fora,
Que não desiste,
Que resiste,
Porque sabe que é graças a ele
Que Trás-os-Montes existe.
Armando Jorge e Silva