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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

29
Abr12

O GRANDE PROBLEMA DO PAIS É A MORTE DAS ALDEIAS


Ainda no post de ontem referia que era angustiante entrar nas aldeias e não ver vivalma. Desde o início deste blog que tenho alertado para o despovoamento das aldeias e aponto o dedo bem apontado aos senhores de Lisboa e aos que na província os imitam – leia-se políticos. Ontem, sem querer, deparei com um artigo na NET com um título que de imediato sugeria a leitura, não só pelo título mas também pelo nome que dava origem ao mesmo ser uma entidade na matéria. Li e não resisti em partilhá-lo aqui no blog, pois penso que por todas as verdades que contém, merece ser lido e divulgado. O artigo já é de fevereiro deste ano, mas continua e continuará atual. As fotos que ilustram o post são nossas, à exceção da foto de Ribeiro Teles, que foi retirada do artigo em questão.


 

 

 

Ribeiro Telles - «O grande problema do país é a morte das aldeias»


Numa conversa que decorreu nos jardins da Fundação Calouste Gulbekian, o arquitecto paisagista falou sobre o país, os problemas de planeamento das grandes urbes, a desertificação das aldeias. Para o antigo ministro da Qualidade de Vida, os governantes conhecem mal o país, o território e, em especial, o mundo rural. «É preciso que os responsáveis pensem mais no país, menos nas finanças e reflictam na economia do planeamento para o desenvolvimento das gentes». De acordo com Gonçalo Ribeiro Telles há que recuperar a «autenticidade das coisas».

 

Num momento em que Portugal vive uma crise económica e social, o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, que completa 90 anos em Maio deste ano, começa por dizer que o principal problema do país «é a falta de informação e a cultura das pessoas, transversal na sociedade portuguesa».

 

«Desde as camadas superiores, mais intelectualizadas até às mais profundas, de ligação à terra e aos lugares, essa falta de cultura continua à vista», argumenta, recordando que Portugal «vive uma crise de valores».

Refere que o fosso entre o Litoral e o Interior continua a aumentar. «A quem se deve o desaparecimento e a degradação das aldeias?», questiona, sublinhando, em seguida, que tal se deve «a toda uma política de organização do desenvolvimento planeada para a destruição do país e à preocupação em considerar a ruralidade como qualquer coisa do passado sem futuro».

«Criámos uma ruína. É preciso que os responsáveis pensem mais no país e menos nas finanças. Que reflictam mais na economia do planeamento para desenvolvimento das gentes, das potencialidades e da nossa posição quanto ao mundo», apela Gonçalo Ribeiro Telles.

 


E considera que «se estão a construir cidades só por construir e a criar não o vazio do espaço, mas o vazio do espaço construído». Sobre o interior, salienta que as aldeias «não podem despovoar-se como está a acontecer» e frisa que «dentro de pouco tempo, isto é um país de velhos, de asilos urbanos». Por isso defende que a recuperação das aldeias «tem de passar pelo restabelecimento da agricultura local».

E não tem dúvidas: «hoje, o grande problema do país é a morte das aldeias, que é também um problema de cidades».

E explica porquê: «o aglomerado urbano, que vive do abrigo, do encontro das pessoas, do tecto, do ambiente é a cidade. Mas isso também existe e tem de existir na aldeia. A dimensão é que é diferente. O que está aqui em causa não é a cidade, que dentro de pouco tempo terá 80% da população a viver nela. As aldeias não podem despovoar-se como está a acontecer».

O arquitecto recorda que com os actuais modelos de Planos Directores Municipais (PDM’s) não há recuperação urbana das aldeias para as pessoas mas apenas «a recuperação de algumas aldeias para o turismo».

«Mas não há turismo sem aldeões. Estamos completamente errados. A recuperação das aldeias passa pelo restabelecimento da agricultura local. E isso é o que não se quer», afirma.

 


Para Ribeiro Telles, o crescimento urbano deu-se baseado na ideia de um enriquecimento a curto prazo. «Ninguém apostou, por exemplo, na agricultura. E grande parte da industrialização deu-se também devido a isso. As políticas não eram autênticas em função das gentes. Onde é que está a funcionar a agricultura em termos nacionais? E o povoamento do território? Não está nem nos programas dos partidos nem dos governos. Tem apenas os limites de um jogo financeiro», frisa.

Para o arquitecto, o chamado «regresso à terra», «não é um regresso para férias nem para fazer agricultura de recreio», mas tem de ser uma «aposta no investimento das escolas, que estão a fechar, na circulação de todo o movimento que se tem de fazer em qualquer região».

 

 

Para isso, vinca, «é preciso criar gradualmente as condições. Se não for possível, temos o caos. Não conhece os subúrbios das cidades? Aí está o exemplo de caos», diz.

«Temos utilizado mal os nossos recursos»:


Sobre a Reserva Agrícola Nacional (RAN), a Reserva Ecológica Nacional (REN) e os PDM’s, que Ribeiro Telles impulsionou no início dos anos 80 do século passado, o também engenheiro agrónomo, realça que os dois primeiros diplomas «tiveram uma má aplicação, muitas vezes, por incompetência de quem fazia o planeamento e incompreendida pela maior parte dos autarcas, que não viam naqueles diplomas uma vitória eleitoral a curto prazo, em parte, pela pressão do investimento que os bancos realizavam para determinadas entidades, e deu no que deu».

 

 

«O mal está à vista. Continuamos a falar da floresta, da expansão urbana, do crescimento das cidades. Mas isso não se vê», salienta.

E prossegue, dizendo que «não há uma planificação global em face das possibilidades e virtudes do território. E não há povoamento».

 

Sobre a utilização dos PDM’s, Ribeiro Telles refere que estes instrumentos foram criados como «algo necessário para a defesa dos melhores solos agrícolas de que depende a existência do povoamento e a existência do país».

«Mas foi muito desvirtuada por muitos políticos e programas, porque não viam o essencial na autenticidade do país. Além disso, o PDM não servia a rápida expansão urbana nos sítios mais fáceis, mais planos e nos lugares mais urbanos», acrescenta.

A juntar a tudo isto, o arquitecto garante que «temos utilizado mal os nossos recursos». E os exemplos de má utilização são muitos, de norte a sul do país, e principalmente, «têm-se acelerado a má utilização dos recursos porque não se acredita nas «gentes», que estão – ou deviam estar – ao serviço da Humanidade e com uma identidade própria».

 

 

Recorda que «todas as coisas no nosso mundo têm uma autenticidade e que é sempre possível recuperar». «Uma coisa autêntica é aquela que tem um passado, que tem alicerces e que tem também um presente que se vê, que se sente. Não há presença nem autenticidade sem futuro», avisa.

E lembra que há três elementos fundamentais para os países, incluindo Portugal, se manterem como tal: «os lugares, as potencialidades e os recursos que nos dá a Terra-mãe e as suas gentes. Havendo estas três condições há lugar à autenticidade e à criação».

 

 

Ana Clara | quinta-feira, 23 de Fevereiro de 2012

 

O artigo foi retirado de:

 

http://www.cafeportugal.net/pages/noticias_artigo.aspx?id=4526

 

 

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