O Factor Humano
1 centímetro de inteligência...
A dimensão mínima de uma truta para, depois de pescada, poder ser recolhida no cesto de pesca, é agora de 20 cm.
Desde que me lembro, o tamanho exigido, medido da ponta do focinho até à bifurcação da barbatana caudal, era de 19cm. Por isso nunca me ocorreu questionar o porquê desses 19cm. Sempre tinha sido assim.
Ora, este ano, "as autoridades" decidiram acrescentar 1cm aos antiquíssimos e até aqui imutáveis 19cm.
É verdade que tudo isto é pouco importante, embora inexplicável. Porquê mudar? Qual a razão profunda? Porquê aumentar 1cm e não 2 ou 3cm?
Tantos aspectos sérios em relação às trutas, que não são abordados e, portanto, não são modificados ou resolvidos. Por isso a mim me irritou tanto esta decisão.
Nenhum plano para identificar pontos de contaminação de ribeiras ou de rios. Nenhum plano de renovação ou recuperação das nossas trutas autóctones. Nenhum plano para a limpeza ou para reconstrução das pequenas represas.
Desta vez não vou falar do meu rio Mente. Mas sim da ribeira do Mousse, que separa os termos de São Vicente, na margem esquerda, dos termos de Argemil e Roriz na margem direita. Esta ribeira está abandonada em quase toda a sua extensão. Apenas a represa do Castelo do Mau Vizinho foi recuperada e está em boas condições. Pesco nesta ribeira há mais de 40 anos e assisti à degradação das suas margens e das suas represas. Mesmo assim, ela mantém um potencial notável em termos das minhas amigas trutas.
Rio Mousse, em São Gonçalo
A autarquia assobia para o lado, o Ministério do Ambiente, que nem sequer sabe que esta ribeira existe, assobia para o outro. Assim vamos empobrecendo, mesmo antes das alterações climáticas pelas quais os habitantes da região têm poucas ou nenhumas responsabilidades, acabarem de vez com as trutas e com a ribeira do Mousse.
Talvez nessa altura venha um sábio do governo explicar-me a questão do tal centímetro, que tanto me irritou.
Manuel Cunha (pité)