Hoje em Chaves é dia de feijoada, mas para quem não gosta, arranja-se sempre uma vitela assada, cabrito ou até leitão e, já se sabe, bacalhau há sempre, mesmo que demore mais um bocadinho… comeres à parte, vamos lá ao post de hoje, também para dois gostos, mas aqui a música já é outra e, até pode ser servida em andamentos.
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Primeiro andamento, Allegro, presto e/mas poético
Sempre que posso, dou uma espreitadela aos jornais antigos cá da terrinha, por simples curiosidade ou ao encontro de alguma história de Chaves e, de vez em quando, tropeço com autênticas preciosidades vertidas em prosa, em publicidade e em poesia.
Hoje deixo-vos com um poema que encontrei na edição do “O Comércio de Chaves”, de Sábado, 5 de Setembro de 1942, de autoria de Maria Clara:
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Da minha janela
Da minha janela,
Vejo rios, vejo fontes,
Vejo campos, vejo montes,
Numa doce confusão;
E de manhãzinha,
Vejo, no céu, muitas aves,
A cantar hinos a Chaves,
Quási numa confissão
Vejo o sol e vejo a lua,
Deslizando quási nua,
Lá no seu mar prateado;
Vejo um cantinho singelo
E lá longe há um castelo,
Que nos fala do passado.
Durante as tardes serenas,
Passam loiras e morenas
De semblante risonho;
Chaves, terra encantadora,
És rainha, és senhora
Dum incomparável sonho.
Da minha janela,
Vejo um parque e uma taça,
Para dizer a quem passa
Que Chaves é o ideal;
E sem hesitar,
Eu afirmo ao Mundo inteiro
Que és o mais lindo canteiro
Dos jardins de Portugal
Maria Clara
Como sempre, estes andamentos são breves.
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Segundo andamento, Grave, gravíssimo
Portugal sempre teve jeito para as anedotas e, seja qual for a situação ou o acontecimento, há sempre uma anedota para a/o descrever que em jeito de notícia, e actual, corre à velocidade da luz. Mas a anedota é também o meio disfarçado de o povo a brincar, ir dizendo algumas verdades da actualidade.
Hoje, na minha caixa de correio electrónico, como todos os dias, tinha uma que demonstra bem o Portugal da anedota, do Chico-esperto e do nacional porreirismo…
Empreitada – proposta honesta
Um autarca queria construir uma ponte e chamou três engenheiros:
Um alemão, um americano e um português.
- Faço por 3 milhões - disse o alemão :
- Um pela mão-de-obra,
- Um pelo material e
- Um para meu lucro.
- Faço por 6 milhões - propôs o americano :
- Dois pela mão-de-obra,
- Dois pelo material e
- Dois para mim.
- Mas o serviço é de primeira.
- Faço por 9 milhões - disse o português.
- Nove?!? - Espantou-se o autarca:
- É demais!!! Por quê?!?
- Três para mim,
- Três para si,
- E três para o alemão fazer a obra...
- Adjudicada !!!
Continuando o andamento, deixemos a anedota-anedota de parte e passemos para algumas anedotas a sério, em jeito de Repórter de Serviço:
A Estrada Nacional 212, Chaves – Valpaços
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Li em tempos que a nova ligação entre Valpaços e Mirandela foi mais barata que as obras da estrada entre Chaves e Valpaços e com a agravante de entre Valpaços e Mirandela se ter feito uma ligação digna e moderna enquanto que na ligação entre Chaves e Valpaços tudo continuou na mesma ou pior, sem qualquer melhoramento significativo.
Vergonhosamente levantaram-se passeios e lancis ainda em muito bom estado para colocar outros novos, mas iguais. Com a sinalização o mesmo. Retirou-se toda a sinalização existente, em muito bom estado e com bons materiais, para colocar uma nova, mais frágil e deficientemente suportada, de tal forma, que a maioria vai virando conforme sopram os ventos.
Também esta obra merecia uma fiscalização de fundo, não à obra em si, mas ao porquê dela ter sido feita nas condições em que foi, aos valores reais nela envolvida, quem foram os actores da obra e no final, colocar nos pratos da balança, num o valor investido e no outro, os benefícios que resultaram desse investimento… Uma vergonha e descarada. Mas isso já é coisa do passado, não é!?
Outra das anedotas nacionais, é tudo aquilo que se prende com as preocupações com ambiente. Ainda há dias uma reportagem da SIC denunciava vários aterros de resíduos perigosos que o jornalista, mesmo com todas as portas fechadas à sua descoberta, descobriu. A pergunta impunha-se: Então se o jornalista com todas as barreiras descobriu esses aterros, as autoridades, mesmo com denúncias, não as descobrem. Mas mais grave ainda é o que se prende com o licenciamento e a fiscalização da origem desses resíduos, que aí, pela certa, não se trata de empresas clandestinas.
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Ainda ontem, também nas notícias de uma das televisões, vinha à baila as barragens que vão ser construídas no Douro e no Tâmega, para serem construídas em nome do ambiente, quando os próprios ambientalistas põem em causa o ambiente com a sua construção. O ambiente e a qualidade da água, do Tâmega.
Do ponto de vista económico, essas barragens vão com certeza dar muito jeito, quer a quem as constrói, quer a quem vai ficar a gerir (leia-se criação de bons empregos que em linguagem comum se conhece por “tachos” para meia dúzia de políticos reformados ou especialistas em gestão do dinheiro público.
Para já, também ainda só saiu à rua os benefícios dessas barragens, pois ainda não vi por aí os malefícios que essas barragens vão causar…mas é tudo em nome do progresso e da modernidade e depois, para quê nos preocuparmos com a saúde e qualidade das águas do Tâmega se elas já hoje estão doentes e são poluídas diariamente à vista de todos. Não tarda aí, com a barragem de Vidago, deixamos de ter um rio para ter um charco de águas apodrecidas, onde Trás-os-Montes, finalmente, vai começar a cheirar naquilo em que o estão a transformar, desde Lisboa e desde os altos gabinetes…
Onde está afinal o Tâmega da minha geração, da galinheira, do tronco, do açude, da praia de Vidago, da águas limpas, transparentes e cristalinas… e qual a razão porque hoje está como está!? Doente!
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Todos o sabem, mas pouco se faz pelo Tâmega, começando logo do lado de lá, em Espanha, e por aí abaixo, está à vista.
Ao longo do tempo de existência deste blog, fui recebendo alguns mail’s anónimos a denunciar aterros junto ao rio e descargas poluentes e mal cheirosas, todas a montante de Chaves. Quis ver com os meus olhos e vi. Certo que não serão resíduos industrias muito perigosos, mas certo também que são resíduos industriais perigosos que poluem e que contribuem para a falta de qualidade da água do Tâmega e que fazem dele um colector residual
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a céu aberto e, a procissão ainda não saiu do adro, pois algumas dessas descargas estão a ser feitas precisamente no novo parque industrial, onde só agora se começaram a instalar as primeiras indústrias. Curiosamente, uma delas é feita e produz em nome da reciclagem e do ambiente, com o chamado bio-diesel, a outra, trata-se de uma destilaria que já era conhecida do rio e
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que agora está instalada no novo parque industrial, apenas com uma diferença que resulta da sua deslocação para montante, agora tem um “tanque de decantação público”, mesmo junto à entrada do parque industrial e junto ao novo nó da auto-estrada, ou melhor, entre os dois. Sem dúvida alguma um bom cartão-de-visita e boas-vindas para a vista e para os cheiros de quem por aí entrar em Chaves. Não é invenção minha, está lá, à vista e ao cheiro de todos.
Até amanhã!