Cidade de Chaves - Rua das Longras
Olhares e Reflexos
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Hoje faço o regresso à cidade por uma rua, por onde fiz regressos à cidade durante alguns anos, quase tal e qual como está agora,mas só neste lado visível da foto, quando em frente ainda existia um mercado que tinha umas muralhas de fundo, muito movimento no mercado e na rua, gente nas casas, à porta, à janela. Depois chegou a era do b€tão, e embora este lado da rua se mantivesse, talvez porque pouco apetecível, quiçá por serem muitos os proprietários, o poder do b€tão virou-se para o lado mais fácil, que embora fosse de quase 50000 proprietários, só tinha de convencer o administrador que mandava e decidia por todos os outros, e o administrador vendeu o mercado, as muralhas, a vida de uma rua e um ex-libris da cidade, cantado até por Miguel Torga nos seus diários. Em vez disso tudo, o b€tão subiu em direção ao céu, quanto quis. Assim, vivam estas resistentes da imagem, que de verão, até ganharam com a sombra do b€tão, mas de inverno, o mesmo b€tão as transforma numa tristonha, escura e fria rua da cidade…mas há esperança. Se a moda do referendo pegar, pode ser que alguém se lembre de referendar se queremos o b€tão ou o mercado e as muralhas de volta.
Rua das Longras
Já foi uma das ruas mais movimentada da cidade, soalheira e com o encanto que os mercados e feiras lhe davam. Hoje, não há mercado e a rua vive na sombra de um mamarracho e nem o néctar das tascas, fosse ele do Dionísios ou do Baco lhe conseguiram apagar as mágoas do desencanto e também elas desistiram de existir.
Triste sina a desta rua que nem na toponímia consegue ter um pouco de glória, apenas havendo uma referência à sua localização, limites e pouco mais. Fomos até à vizinha Canelha, também ela de apelido Longras, à procura de luz para este topónimo, e aqui também a luz não se fez sobre as “Longras” mas ficámos a saber muito sobre os porcos flavienses do início do século passado e finais do Séc. XIX, até com algumas curiosidades. Pois a respeito da canelha (das Longras), a alturas tantas diz-se na Toponímia Flaviense:
Na sua entrada tentou dar-se-lhe um aspecto de dignidade, com início de uma rua ampla, para ser continuada.
Porém, até agora [i] , não tem passado de um plano de intenções, para vergonha da cidade.
Aliás, o problema vem de longe. Na sessão da Câmara de 23-1-1863, sobre a presidência de Augusto César de Morais Campilho, esta, deliberou mais por unanimidade, que a contar desde dia primeiro do próximo mês de Fevereiro em diante ficasse proibida a vadiagem dos porcos pelas ruas desta Vila em todos os Domingos e dias santificados, sob pena de 200 reis de multa por cada um que for encontrado nas ruas nos ditos dias.
Em suma, os porcos só podiam vadiar pelas ruas da Vila durante a semana, incluindo os sábados, a não ser que fosse santificado, mas o que a mim me intriga é como se multava um porco vadio? Com o quê e como o porco pagava? E se não pagasse, se era detido? Identificado? Levado a tribunal? ou simplificavam a coisa e passavam-no a alheiras, chouriças e presuntos?. Se calha até foi aí que nasceu o famoso presunto de Chaves que acabou por se extinguir, ou anda desaparecido, desde que extinguiram a vadiagem dos porcos pela Vila, hoje cidade de Chaves sem porcos. Será!? Perdão, seria!?
Conclusão fiquei foi sem saber afinal qual a origem e significado de “longras” e a única explicação que encontrei, acabou por ser na infopédia:
Longra
Do latim vulgar longula, 'alongada'. Deriva de Lôngara, de origem pré-romana e de sentido arqueológico. É comum no Norte de Portugal e na Galiza. Tem o derivado Longras.[ii]
Alongadas, portanto!
Confesso que estou um pouco confuso... Até amanhã!
[i] A nota é nossa e só para dizer que o “agora” continua atual.
[ii] Longra in Dicionário infopédia de Toponímia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2018. [consult. 2018-10-16 23:25:58]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/dicionarios/toponimia/Longra
Hoje vamos fazer uma breve passagem pela Rua das Longras, sem grandes comentários, apenas dizer que é uma das ruas que hoje vive na sombra da cidade.
Talvez os mais jovens não entendam as minhas palavras, mas os da minha geração e mais velhos, pela certa que as entendem. Uma rua cortada a meio pela modernidade, onde a metade resistente, é apenas uma das vítimas do betão que entrou pela cidade histórica adentro sem sequer pedir licença.
Até há uns trinta e tal anos atrás, o casario do lado esquerdo da foto era o limite do centro histórico de Chaves. Por trás dele apenas existiam as famosas hortas das Longras que ao atravessar a rua, forneciam de hortaliças o mercado municipal que nascera encostado às muralhas seiscentistas, depois de ter sido transferido desde o Largo do Arrabalde para desimpedir o acesso e vistas ao edifício do tribunal. Após o 25 de abril, com a descolonização, adivinhava-se que a cidade crescesse, tal como veio a acontecer. Claro que os centros das cidades sempre foram apetecíveis para empreendimentos e na conveniente falta de planos urbanísticos e planos diretores municipais, ocuparam-se os espaços vazios da cidade histórica com o maior volume possível de construção, vulgo mamarrachos, e onde não havia espaços vazios particulares, os públicos também foram cedidos para o betão, tal como aconteceu com o mercado municipal, sem sequer se respeitar a muralha seiscentista existente e as construções de um, dois ou três pisos das Rua das Longras, que hoje vivem na sombra do betão. Continuando a rua em direção à avenida 5 de Outubro, é mais do mesmo, para pior, e já agora, seguindo para o Arrabalde, a estupidez do betão ainda hoje continua, mas enfim, os flavienses indiferentes apenas têm aquilo que merecem, e espante-se – alguns até gostam.
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Foto interessante e a preservar! Parabéns.
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Um excelente texto, amigo João Madureira. Os meus ...