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O nosso destino de hoje de “O Barroso aqui tão perto” é para São Fins, uma das aldeias da margem da Barragem da Venda Nova e também ao lado da EN103.
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Iniciemos pela sua localização e os itinerários para lá chegar, como sempre a partir de Chaves.
Quanto à localização já fomos adiantando estar junta à barragem da Venda Nova, mesmo no início da barragem e também junta à EN103 que liga Chaves a Braga. Tem como aldeias vizinhas e mais próximas a aldeia de Currais (a Norte) do outro lado da barragem e a aldeia de Pondras (a Sul) do outro lado da EN103, ambas a cerca de 700m. Pertence à freguesia de Pondras, ou melhor, à união de freguesias de Venda Nova e Pondras (desde 2013), concelho de Montalegre. Trata-se de uma pequena aldeia com cerca de 30 construções, metades das quais habitações. A rondar os 700m de altitude é rodeada pela barragem e por terrenos agrícolas, todos tratados.
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Quanto ao itinerário recomendado, sendo uma das aldeias à beira da EN103, adivinha-se que seja esta estrada o melhor itinerário, a partir de Chaves, para chegar até São Fins. De facto é esse o itinerário que recomendamos para uma ida direta até esta aldeia, num total de 60.7Km. Mas como alternativa deixamos também o itinerário via S. Caetano/Soutelinho da Raia, com passagem por Montalegre, Sezelhe, S. Pedro, Contim e logo a seguir apanha-se a EN103, junto à barragem dos Pisões, seguindo depois pelo primeiro itinerário até São Fins.
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Deixo o segundo itinerário porque, pessoalmente, se tivesse de ir a São Fins iria via Montalegre e não pela EN103. Não é por uma razão em especial, pois para quem não conhecer a região ou o Barroso, tão interessante é um itinerário como o outro, no entanto, para mim que já conheço a EN103 desde que nasci, têm mais interesse as estradas secundárias que passam por um Barroso menos conhecido.
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De facto, embora flaviense, para além de ter nascido à beirinha da EN103, durante oito anos, mais precisamente entre os meus sete e catorze anos, fiz uma vez por ano (ida e volta) a EN103 entre Chaves e Braga. Era uma estrada que tanto ia apreciando como ia penando. Apreciando pelas vistas lançadas para as barragens, primeiro a dos Pisões, depois a da Venda Nova e por último a de Salamonde.
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Mas não só pelas barragens, aliás as únicas que durante muitos anos conheci, mas também pela imponência e singularidade da Serra do Gerês que ao longo da estrada íamos acompanhando. Igualmente a imponência, imagine-se, dos cornos das vacas e touros da raça barrosã, que curiosamente só começavam a aparecer após a barragem da Venda Nova. Recordo a primeira vez que vi e ouvi falar desta raça, teria os meus oito ou nove anos, deveria eu estar entretido com o meu quilo de bananas, alimento que levava para tão longa viagem, quando o Almor, colega de viagem, chamou a atenção ao irmão mais novo mostrando-lhe as vacas barrosãs, e que eram barrosãs porque tinham os cornos grandes…
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Aprendi a lição com o Almor, que as conhecia bem, suponho que pela sua ligação a Tourém, a sua triste ligação a Tourém, onde em bebé ainda de colo perdeu a mãe, quando estava no seu colo, numa história de loucura, de arrepiar e que Bento da Cruz conta no romance “O Lobo Guerrilheiro”.
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Mas voltemos à EN103 e à interessante, mas penosa viagem entre Chaves e Braga nas carreiras cinzentas do “tio Magalhães”, que paravam em todas as aldeias e demoravam cerca de oito horas, se bem recordo, a vencer o caminho. Paragens interessantes, apenas a do Barracão onde se fazia um descanso de 5 a 10 minutos e depois a paragem da Venda Nova, onde se fazia também uma paragem, mais curta que a do Barracão, mas que dava para sair a terra.
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Como se estas penosas viagens não bastassem, durante anos a fio as minhas habituais deslocações para Montalegre eram sempre feitas pela EN103, pelos menos até inícios dos anos oitenta assim foi, mantinha-se apenas, com o mesmo agrado, a paragem no Barracão. De resto enjoei-a, não com os meus enjoos, mas com os enjoos de quem enjoava. Em suma, hoje em dia poder-se-ia dizer que eram viagens terceiro-mundistas, que então até o eram… mas era o único que tínhamos.
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Mas regressemos a São Fins, onde nessas viagens passei algumas vezes, mas sem dar pela aldeia, pois o meu sentido já estava na paragem da Venda Nova. Pois trata-se de uma pequena aldeia, mas tem tudo que as grandes aldeias têm e com um toque especial, principalmente vista à distância. Rodeada de bons terrenos agrícolas onde o verde domina, rodeada pela barragem onde o azul do céu se vai refletindo. Tem igreja, cemitério, meia dúzia de canastros e alguma vida. Para a nossa recolha fotográfica, estivemos lá duas vezes, há dois anos e há um ano, de ambas as vezes encontrámos gente na sua lide diária. Gostámos do que vimos, de estar lá e de conversar um pouco, não muito, pois não queríamos incomodar quem trabalhava, num dia de verão, por sinal bem quente. Mas já a pensar no inverno.
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Nas nossas pesquisas, sobre São Fins encontrámos no livro Montalegre:
Ocorre evidente discrepância sobre o hagiotopónimo desta freguesia. As inquirições de 1258 tratam-na, e bem, por Santo Fins; o Catálogo de todas as Igrejas, 1320, (reinado de D. Dinis) chamam-lhe, e mal, São Félix. Mais recentemente, voltámos, e bem, ao chamadouro correcto que é São Pedro Fins de Pondras. É provável que a confusão derive do tratamento dado na arquidiocese ao problema de São Pedro de Rates, dito primeiro bispo-fundador da Igreja de Braga, ou a D. Pedro, primeiro bispo-refundador da Igreja de Braga. De todo o modo, em Pondras, fazem festa ao príncipe dos Apóstolos, em 29 de Junho. É um caso significativo o modo de povoamento verificado visto que as principais povoações da freguesia, Pondras e Ormeche estão algo distantes do local da Igreja, por acaso (ou talvez não) junto do outeiro que foi um castro e onde demora a povoação de São Fins. (é esta a verdadeira grafia do hagiotopónimo que dá nome ao lugar onde se situa a igreja).
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Na Toponímia de Barroso encontrámos o seguinte:
É outro São Pedro, ou antes, São Félix e, ao contrário do que por aí se diz, já era orago da freguesia de Pondras no reinado de D. Dinis.
Acontece que o culto ao mártir de Gerona São Félix, do latino Felice > Feiz > Fiiz > Fins levou o povo a festeja-lo justamente no dia em que se festeja na igreja de São Pedro in Vinculis, em Roma, as cadeiras de ferro que agrilhoavam São Pedro após a perseguição de Herodes Agripa. A ignorância redundou na convicção de que se tratava de um só Santo. E daí o São Pedro Fins, orago da freguesia de Pondras. O hagiotopónimo deve, portanto, escrever-se São Fins! E não Sanfins.
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Na Toponímia Alegre, uma quadra:
Os de Reigoso não prestam,
Os de Currais para lá vão:
E vivam os de São Fins,
Que ainda vão tendo mão.
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Aproveitando a deixa, também Lourenço Fontes, na Etnografia Transmontana I, nas alcunhas das aldeias faz uma referência a São Fins, igualmente numa quadra:
Chinos de Currais
Chuços de Reigoso,
Laregos de S. Fins,
Bichos de Ormeche.
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E bem queria deixar por aqui mais um bocadinho sobre São Fins, mas como aldeia pequena, também a informação disponível é pequena, ou pouca. Bem tentámos e procurámos em toda a documentação que temos, o mesmo na internet, mas nada. Ficamos então por aqui, também com as imagens possíveis.
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E ficamos por aqui. Ficam ainda as habituais referências às nossas consultas e dizer-vos que as abordagens que já fizemos às aldeias e temas de Barroso estão agora no menu do topo do blog, mas também nos links da barra lateral. Se a sua aldeia não está lá, em breve passará por aqui num domingo próximo, e se não tem muito tempo para verificar se o blog tem alguma coisa de interesse, basta deixar o seu mail na caixa lateral do blog onde diz “Subscrever por e-mail”, que a SAPO encarregar-se-á de lhe mandar um mail por dia com o resumo das publicações, com toda a confidencialidade possível, pois nem nós teremos acesso ao vosso mail.
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BIBLIOGRAFIA
BAPTISTA, José Dias, Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre, 2006.
BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014.
FONTES, Lourenço, Etnografia Transmontana I – Crenças e Tradições de Barroso, edição do autor, Montalegre, 1974.